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Usado muitas vezes ou em quase todas as aulas

A análise do gráfico permite inferir que o trabalho pedagógico é fator da maior relevância para a leitura do livro, já que, a depender do professor, na percepção de seus alunos, a porcentagem de uso do livro em leitura variou de 13% a 52%. Essa discrepância de resultados por conta de comando do professor quanto ao uso do LDQ já havia sido apontada em pesquisa anterior (SILLOS et al. 2012).

Observa-se que as professoras P1 e P4 foram as que mais utilizaram o livro em atividades de leitura. Na entrevista feita com a professora P1, ela afirma apreciar bastante a apresentação dos assuntos contextualizados na perspectiva de ciência e sociedade feita no LDQ, mas observa que geralmente os textos são muito extensos, o que inviabiliza a leitura com maior frequência em sala de aula. Cita como exemplos textos sobre lixo, reciclagem, poluição ambiental ou outros que acha interessantes para a leitura em sala, mas cuja leitura e discussão diz que levariam duas aulas. Por esse motivo, diz que “lamentavelmente acabam sendo ‘pulados’; vou depressa para o final do capítulo, onde está o conteúdo em si, pois eu tenho apenas um encontro semanal com os alunos. Então, acabo abrindo mão do que há de melhor no livro, que é a contextualização”. Para não prejudicar muito os alunos, a

P1 reproduz algumas partes do texto ou redige resumos em slides e exibe-os para a

turma no data show, solicitando que mantenham o livro aberto para o acompanhamento.

A professora P4 faz parte da equipe de professores autores do LDQ adotado pelas escolas participantes desta pesquisa. Ela afirmou ter usado mais o LDQ em atividades de leitura nos anos anteriores, já que em 2013 houve uma mudança no ensino médio e o curso passou a ser organizado por semestres. Os professores fizeram então uma “reestruturação nos trabalhos de sala de aula e aí estamos com o livro como sistema de apoio mesmo, usando mais para a resolução de exercícios e, às vezes, discutir um texto”.

Questionada sobre se teria alguma metodologia para encaminhar as atividades de leitura, P4 explica que inicialmente esclarece para os alunos o tema que vai ser trabalhado e qual é o contexto daquele tema, mas que geralmente a estrutura do livro já apresenta algumas perguntas que buscam motivar o aluno a pensar e a se interessar pela leitura. Ademais, diz que as discussões sobre o texto são rápidas, para a atividade não se tornar cansativa. Temos então um indício de mais um fator que pode levar a uma percepção positiva sobre as atividades de

leitura do LDQ, que é a combinação entre a estrutura de apresentação do texto, com questões motivadoras iniciais, e o encaminhamento ágil da atividade, e além disso a

P4 tem a propriedade do texto e uma relação autoral com o LDQ que us

Sendo autora do livro, P4 domina a metodologia que embasa sua produção. Sabe, por exemplo, como explorar as questões que antecedem os textos, com o intuito de motivar os alunos, gerar curiosidade sobre o tema. Como os demais professores provavelmente não tiveram em sua formação acadêmica ou formação continuada o contato com metodologias de leitura, esse artifício das perguntas motivadoras pode não ser eficientemente explorado por eles em sala de aula.

A professora P6 participou da escolha do livro e diz gostar muito dele porque

ele foi feito aqui, (é) do pessoal da UnB, né? E não é uma coisa nova. Desde 1997, 98, começaram a fazer esse livro... Ele vinha em módulos... O que eu acho interessante nele é que não é aquela Química só de números, ele fala... ele tenta contextualizar, ele é um livro mais textualizado. Você vê que ele fala dos problemas. Consumismo e tudo mais... Claro que nem sempre dá para a gente trabalhar dessa forma, que seria o ideal. O aluno que tem interesse, que gosta de ler, ele não vai ver a coisa só com cálculo, só com fórmula. Por isso eu gosto desse livro. Mas não sei se o aluno realmente gosta.

Questionada sobre o método como encaminhava as atividades de leitura dos textos de contextualização, a professora P6 devolve a pergunta: “Por quê? Existe algum jeito? Como deveria ser?” Disse que gostaria de saber melhor como encaminhar as leituras, embora não haja tempo disponível para realizá-las em sala.

Ressalte-se que todos os professores entrevistados afirmaram que nos cursos de Licenciatura e nos de Formação continuada não foi reservado um espaço para a discussão do trabalho pedagógico com a leitura nem sobre como explorar atividades de leitura no ensino de Ciências.

O professor P3, embora 34% de seus alunos tenham informado que o LDQ é usado muitas vezes em leitura, disse que “na sua grande maioria, eles não levam para a sala de aula. Mas quando usam ou levam, isso ocorre em dias de atividades avaliativas ou que valem ponto”.

Em relação às atividades de leitura em grupo, constatou-se a baixa incidência dessa forma de uso do LDQ, como se vê na figura 18. O professor P3 é apontado pelos alunos como o que mais valoriza o uso do LDQ para leitura em grupo. Essa condição foi confirmada por ele em entrevista, ao defender a prática do trabalho interativo em sala de aula, pois considera que os alunos aprendem uns com os outros, e o ambiente da sala torna-se mais agradável para eles.

Figura 18 – Frequência do uso do LDQ em atividades de leitura em grupo

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Fonte: Dados da autora da pesquisa.

A professora P2, ao se manifestar sobre esse tipo de atividade, disse que o aluno do 1º ano brinca muito, não se concentra, e então se torna difícil o trabalho em grupo com eles. “A aula em salas do 1º ano rende pouco, ao contrário das salas de 3º ano, em que há alunos mais maduros”, avalia a P2.

A professora P5, embora tenha sido apontada por um baixo porcentual de alunos como propositora de atividades de leitura em grupo, explicou como usava o livro com essa finalidade: “Eu pegava alguns textos interdisciplinares, que vêm com ele (o LDQ), envolvendo o conteúdo de Química e a sociedade e jogava para os alunos lerem, debaterem, fazerem resuminho”. Em seguida, P5 encaminhava o conteúdo específico da disciplina contextualizando com a realidade da turma. Questionada sobre o procedimento seguido na hora da leitura, disse que geralmente separava os grupos na sala e promovia um debate ente eles. “E aí, os alunos faziam um resumo do texto e preparavam questões para que outro grupo respondesse. Eles se interessavam em participar porque isso valia ponto, e as coisas somente são feitas se estiverem valendo ponto. Isso estimulava os alunos para a leitura”. Ela disse que valorizava essas atividades porque tanto para formular as questões, quanto para respondê-las, o aluno tinha de localizar as informações no texto e, portanto acabava por lê-lo. Esse depoimento reforça a importância da avaliação para os alunos. 20% 16% 35% 20% 14% 14% 7% 80% 84% 65% 80% 86% 86% 93% 0% 20% 40% 60% 80% 100% P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7