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1 EDUCAÇÃO CIENTÍFICA, LEITURA E LIVRO DIDÁTICO

1.4 O livro didático no Brasil e o PNLD

Neste tópico são discutidos brevemente o edital do PNLD 2012 e o Guia de livros didático do PNLD 2012, e justifica-se o procedimento por eles apresentarem critérios para a avaliação do LD que buscam uma melhoria na qualidade desses materiais, de modo que seu uso por professores e alunos possa contribuir efetivamente para um trabalho pedagógico de sucesso. Além disso, existe uma relação muito forte entre a política pública direcionada ao LD e sua presença na escola, bem como em relação ao currículo sugerido pelas leis e regulamentações, o currículo apresentado no livro e as percepções que os usuários do livro possam ter sobre o currículo.

O Programa Nacional do Livro Didático–PNLD foi criado em 1984, mas seus primórdios remontam a 1929, quando foi fundado com outro nome e abrangência muito menor. Ele é um dos maiores programas públicos de distribuição de livros didáticos do mundo, e o Ministério da Educação justifica esse alto investimento por considerar que “embora vivamos em um tempo em que a oferta de recursos destinados à disseminação do conhecimento seja cada vez maior, no espaço escolar, o livro impresso ainda é o material que melhor atende às necessidades dos professores” (BRASIL, 2012, p. 7).

Um processo de avaliação dos materiais didáticos, iniciado há quase três décadas vem elevando bastante a qualidade dos livros. Como explica Batista (2005b), a avaliação dos livros é feita por meio de três instrumentos principais.

Em primeiro lugar, dos critérios que a sustentam, que incidem sobre as duas dimensões principais do currículo: de um lado, sobre a seleção de conteúdos, por meio dos critérios de natureza conceitual e política; de outro, sobre a transposição didática, por meio dos critérios de natureza metodológica.

Em segundo lugar, para se legitimar, essa avaliação precisa sustentar sua autoridade não apenas em razões de natureza política, mas também de natureza técnica. Assim, a avaliação precisa contar com um corpo de especialistas dotados de um capital de autoridade capaz de não apenas amparar tecnicamente a avaliação, como, também, amparando-a, legitimá- la. [...].

Em terceiro lugar, para atuar junto ao professor – que escolhe e usa o livro – o Estado elegeu como instrumento básico, a elaboração e a divulgação, nas escolas, do Guia do livro didático, com as resenhas dos livros recomendados [...].

O ensino médio foi o último segmento do ensino básico a ser incluído no programa de distribuição de livros. Denominado Plano Nacional do Ensino Médio- PNLEM, foi implantado em 2004. A primeira distribuição de livros ocorre para as três séries no final de 2005, contemplando as disciplinas Português e Matemática, e restringindo-se a alguns estados considerados prioritários.

A partir daí, o programa vem assegurando a todos os alunos do ensino médio o recebimento de livros didáticos para todas as disciplinas, o que evidencia a importância atribuída a esse recurso didático por parte das autoridades educacionais e dos professores.

Na área específica de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, o edital do PNLD 2012 ressalta o papel fundamental da linguagem como constitutiva do pensamento científico e materializada em códigos próprios de cada disciplina, como símbolos, nomes científicos, diagramas e imagens, e dispõe-se a comprar LDs para o ensino médio adequados a uma situação em que

a sociedade contemporânea, cada vez mais, é marcada por dinâmicas sociais definidas a partir de suas relações com a ciência e a tecnologia, essa área, no contexto escolar, assume papel específico na formação de jovens aptos para o pleno exercício da cidadania. (BRASIL, 2009, p. 35).

O edital faz então uma série de recomendações para autores, editores e especialistas responsáveis pela avaliação dos livros, ressaltando, entre elas,

o papel fundamental da linguagem como constitutiva do pensamento científico e materializada em códigos próprios de cada disciplina, símbolos, nomes científicos, diagramas e imagens. [...] é imprescindível que a obra didática estimule o aluno para que desenvolva habilidades de comunicação científica, inclusive na forma oral, propiciando leitura e produção de textos diversificados, bem como, gráficos, tabelas, mapas, cartazes etc. O desenvolvimento de tais habilidades, relacionadas com a aquisição da linguagem científica e seus significados, por parte dos alunos, contribui essencialmente ao pleno exercício da cidadania. (BRASIL, 2009, p. 35).

Vislumbrar o livro didático com essas atribuições nos dá a dimensão das expectativas do MEC em torno do papel do LDQ na educação científica, o que justifica o alto investimento governamental para colocar esse recurso em todas as escolas e alerta para a necessidade de ele ser bem aproveitado. A exploração do potencial dos livros no trabalho pedagógico torna-se altamente desejável num cenário educacional em que, segundo apontam exames de avaliação em larga

escala, como o Exame Nacional do Ensino Médio-Enem e o Pisa8, nas áreas das

disciplinas de ciências naturais os alunos brasileiros vêm alcançando resultados insatisfatórios.

Deve-se considerar também que o LD constitui uma mercadoria, um objeto a ser consumido. Assim, ao mesmo tempo em que precisam atender ao requerido nos editais do PNLD, as editoras estão atentas ao que querem os professores, gerando uma tensão que dificulta a produção de materiais inovadores, tanto na metodologia de ensino quanto no currículo. Trata-se de um contexto com imbricações entre interesses do Estado, dos professores, dos pais e das empresas editoriais, envolvendo intersecções, contradições e ajustamentos entre políticas educacionais, mercantilização da educação e práticas pedagógicas cotidianas na escola.

Para além dessa problemática, a eficácia do uso do livro pelo aluno decorre ainda de outras variáveis. Por exemplo, seu uso ocorre de forma distinta em cada escola, no âmbito das interações estabelecidas entre os alunos e os professores.

O que dá a um livro o seu caráter e qualidade didático-pedagógicos é, mais que uma forma própria de organização interna, o tipo de uso que se faz dele; e os bons resultados também dependem diretamente desse uso. Logo, convém não esquecer: um livro, entendido como objeto, é apenas um livro. O que pode torná-lo atraente é o uso adequado à situação particular de cada escola. Podemos exigir – e obter – bastante de um livro, desde que conheçamos bem nossas necessidades e sejamos capazes de entender os limites do livro didático e ir além deles. Por isso mesmo, o melhor, em todo e qualquer livro, está nas oportunidades que ele oferece de acesso ao mundo da escrita e à cultura letrada [...]. (BRASIL, 2009, p. 11).

Uma tendência colocada hoje em dia é a possibilidade de substituição do livro didático impresso por livros digitais compostos com objetos educacionais e a entrega de tablets para os alunos, o que já vem ocorrendo por enquanto em pequena escala.

Em relação a equipamentos e softwares que estão chegando às escolas públicas e são determinantes para o futuro dos LDs, Chopin (2004) afirma perceber "relações de concorrência ou de complementaridade” que influem necessariamente em suas funções e usos" (2004, p. 553). Segundo ele, nessas situações o LD “não tem mais existência independente, mas torna-se um elemento constitutivo de um conjunto multimídia” (p. 553).

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O Programa Internacional de Avaliação de Alunos–Pisa é um sistema de avaliação internacional aplicado a cada três anos a estudantes de 15 anos de países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Em Ciências, no exame de 2012 o Brasil obteve o 59° lugar do

Tendo em vista que para o ensino médio brasileiro os LDs acompanhados por objetos digitais de aprendizagem começarão a ser distribuídos em 2016, nossa expectativa é a de que professor e aluno tenham maior entusiasmo para utilizar esses recursos em suas práticas escolares.