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4. METODOLOGIA

4.2 A ABORDAGEM QUALITATIVA DESCRITIVA

Optamos pela pesquisa qualitativa por se aplicar diretamente aos objetivos propostos para esta investigação, tendo em autores como Freire (2010) o suporte que precisamos, pela afirmação de que, “a pesquisa qualitativa também busca uma compreensão mais totalizante daquilo que está sendo investigado” (p. 22).

Ainda segundo a autora,

[...] alguns pressupostos que regem a pesquisa qualitativa dizem respeito ao conceito de realidade (e, consequentemente, da realidade que é investigada), uma vez que a abordagem qualitativa considera a realidade como uma instância em interação dialética com o sujeito ou mesmo como resultante da percepção do sujeito e não como um fenômeno “em si” (FREIRE, 2010, p. 21).

Como adotamos a pesquisa descritiva nesse estudo, tomamos como referência alguns passos adotados por Pereira (1991), os quais estão em consonância com nossa busca e objetivos:

[...] seleção ou desenvolvimento de instrumentos de medida (testes, questionários ou entrevistas); identificação da população (alunos de música, docentes ou documentos musicais); esquema de processo a ser adotado na coleta de dados; análise dos dados obtidos; preparo do relatório com os resultados, conclusões e recomendações (p. 79).

A partir de uma abordagem fundamentalmente qualitativa e de aspectos importantes da pesquisa quantitativa, foi possível realizar uma investigação ampla e contextualizada com a realidade estudada, tendo em vista que

[...] a pesquisa qualitativa privilegia abordagens mais abertas e flexíveis, como a da observação participante e da descrição etnográfica e privilegia a interpretação do fenômeno, sem procurar chegar a conclusões “verdadeiras”, mesmo que leve em conta informações objetivas ou quantitativas sobre ele (FREIRE, 2010, p. 29).

Para a autora, a característica essencial da observação na pesquisa qualitativa “é que ela não busca ser uma observação neutra nem gerar uma descrição neutra”. Ao contrário, diz a autora, “ela assume que toda observação é necessariamente subjetiva e impregnada da ideologia subjacente ao pesquisador e dos demais indivíduos envolvidos no estudo, portanto não busca um distanciamento no qual não acredita” (FREIRE, 2010, p. 29).

Para isso foi realizada pesquisa de campo que, de acordo com Ruiz (2009), consiste na observação dos fatos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados e no registro de variáveis presumivelmente relevantes para ulteriores análises.

Nesse sentido, para Freire (2010),

[...] a observação nas pesquisas qualitativas, mesmo sendo conduzida com flexibilidade e não sendo necessariamente totalmente pré-definida, não dispensa cuidados metodológicos, tais como a efetivação de registros cuidadosos e sistemáticos (escritos, sonoros, visuais e outros) e a elaboração constante de um caderno de campo (p. 33).

Partindo dos passos apresentados por Pereira (2011), quanto à pesquisa descritiva, nos quais, a entrevista é um importante instrumento para coleta de dados, Gaskell aponta passos para que essas entrevistas sejam eficientes.

Nessa busca, a identificação da população a ser investigada foi de fundamental importância para a delimitação do campo de estudo, ao tempo em que permitiu uma inserção na realidade a ser estudada e um retorno ao local investigado, suscitando diversas emoções e lembranças.

Como atuamos durante cinco anos no Programa de Criança, voltar como pesquisadora validou a nossa experiência como educadora musical, ao constatarmos que fizemos parte da construção histórica de tantos alunos que hoje vemos por meio dos registros fotográficos existentes no Projeto e tantos outros, como resultados positivos da nossa passagem em tal período.

Sob esse prisma, Freire (2010), sinaliza que “a abordagem qualitativa ou subjetivista não preconiza o afastamento do sujeito em relação a um objeto que seria externo a ele, como forma de conferir ‘cientificidade’ à pesquisa, pois acredita na profunda e inevitável interação sujeito-objeto” (p. 22).

Numa visão mais ampla, Cesar (2006, p. 2) [...] afirma que “a abordagem qualitativa tem sido frequentemente utilizada em estudos voltados para a compreensão da vida humana em grupos, em campos como sociologia, antropologia, psicologia, dentre outros das ciências sociais”. Encontramos ainda em César (2006), suporte para o nosso estudo na busca de dados que alicercem a nossa escolha:

[...] pesquisas de natureza qualitativa envolvem uma grande variedade de materiais empíricos, que podem ser estudos de caso, experiências pessoais, histórias de vida, relatos de introspecções, produções e artefatos culturais, interações, enfim, materiais que descrevam a rotina e os significados da vida humana em grupos (CÉSAR, 2006, p. 2).

Ainda sobre o método escolhido, ancoramos tal escolha em autores como Duarte e Barros (2006) ao afirmarem que, apesar dos riscos e dificuldades, revela-se sempre um empreendimento profundamente instigante, agradável e desafiador.

Para Freire (2010, p. 14), a abordagem qualitativa desloca o foco central do “objeto” para o “sujeito”. Consideramos essa abordagem adequada para a pesquisa, pois:

[...] enfatiza aspectos subjetivos do comportamento humano e preconiza que é preciso penetrar no universo conceitual dos sujeitos para entender como e que tipo de sentido eles dão aos acontecimentos e interações sociais que ocorrem em sua vida diária (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 18).

Pelo exposto, nossa preocupação residiu no fato de que o método e abordagens escolhidos estivessem alinhados com os objetivos propostos, formulação do problema e elaboração da hipótese, assim como na finalização desse estudo poder suscitar e manter diálogos diversos sobre a temática escolhida.

Pelo exposto nesse capítulo, percebemos que a pesquisa ganha condições bibliográficas e metodológicas fundamentadas nesses diversos autores, ao tempo em que caminhos e direções múltiplas descortinam-se à nossa frente, instigando-nos a dar continuidade àquilo que tem se tornado algo ainda mais apaixonante para nós.

5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesse capítulo dialogamos com os autores que abordam o tema em questão, dentre os quais citamos: Freire (1982); Demo (2000); Touraine (1977), Melucci (2001), Galvão (2007), Dias (2009), Rodrigues (2009), Gonh (2010), Boudens (2000), Brasil (2010), Morais; Oliveira (2006), Trindade (2008); Barbosa (2011); Almeida (2013), dentre outros. Com base nestes autores, refletimos sobre educação, exercício da cidadania, movimentos sociais, leis que regulam o Terceiro Setor e, por fim, o ensino de música baseado na Abordagem Musical CLATEC (TRINDADE, 2008), como alicerce para algumas atividades no Programa de Criança, nos anos de 2005 a 2006.

Abordamos as leis que regulamentaram o ensino de Arte na educação básica enfatizando a obrigatoriedade também do ensino da linguagem música, discorrendo sobre as conquistas, desafios e possibilidades nesse atual momento de reflexão e intensa produção científica sobre as práticas musicais nos espaços escolares.

Ressaltamos sobre o surgimento dos movimentos sociais sob o enfoque dado por Melucci (2001), Castells (2002) e Touraine (2003), Jesine; Almeida (2007), Gonh (2010), Dias (2012), pontuando alguns fatores educacionais que perpassaram pelas lutas de alguns grupos organizados, ao tempo em que apresentamos o Terceiro Setor e seu funcionamento frente a uma nova ordem social emergente.

Neste primeiro momento, ainda na pesquisa bibliográfica, foi providencial a leitura específica sobre a educação musical brasileira, entendida nesse estudo como área de conhecimento, com o objetivo de discutir como as investigações teóricas poderiam apoiar a educação musical na atualidade.

Os pesquisadores da área da música, em especial aqueles que discorrem sobre a prática musical em ambientes não formais do ensino de música (KLEBER, 2009; CANÇADO, 2011, TRINDADE, 2008; ALMEIDA, 2009), nos possibilitaram relacionar os acontecimentos relevantes no contexto social com a realidade atual desse ensino em projetos sociais, uma das interfaces foco deste estudo.

Ainda nesse capítulo refletimos, resumidamente, sobre a prática musical em seis projetos sociais e os saberes advindos de tal experiência, com ênfase na aprendizagem significativa, conforme estudos de Ausubel (1968), Moreira; Massini (1978), finalizando com a Abordagem Musical CLATEC (TRINDADE, 2008), e sua contribuição teórico/prática nas atividades desenvolvidas no Programa de Criança/Oficinas de Música: Canto Coral e Flauta Doce, alvo desse estudo, nos anos de 2004 a 2006.