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4. METODOLOGIA

5.1 EDUCAÇÃO MUSICAL E CIDADANIA

As atividades desenvolvidas no Programa de Criança visavam à construção e o exercício da cidadania, com ações organizadas, discutidas, analisadas, planejadas e realizadas para este fim. Segundo Galvão (1999, p. 01), “a cidadania é entendida como o acesso aos bens materiais e culturais produzidos pela sociedade, e ainda significa o exercício pleno dos direitos e deveres previstos pela Constituição da República”.

Dentre as atividades realizadas, destacamos as ações pedagógicas: Construtores da paz, tomando como base os quatro pilares da educação voltada para a formação integral do ser humano e para construção da cidadania: aprendendo a conhecer, aprendendo a fazer, aprendendo a conviver e aprendendo a ser. Vale ressaltar que os Quatro Pilares da Educação são conceitos que fundamentam a educação, tomando como base o Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors (2000).

Com base em Galvão, as ações desenvolvidas pelo Programa de Criança, tinham como meta a mudança na forma de vida das crianças, partindo do pressuposto de que não seria possível uma educação de fato, sem que os meios para sobrevivência não fossem ensinados e estimulados. Ainda segundo o autor, “muito embora a educação tenha um papel relevante na transformação da sociedade, não se fará plena a cidadania de um povo sem que sejam alteradas as condições materiais geradoras da extrema desigualdade econômica nacional” (GALVÃO, 2007, p. 70).

Neste sentido, várias iniciativas vêm se desenvolvendo com vistas à inclusão de jovens marginalizados dos direitos inerentes à cidadania, a exemplo dos projetos sociais desenvolvidos por empresas e ONGs, em várias partes do País.

Constatamos, nas entrevistas realizadas com os egressos, que essa meta foi alcançada, ao encontrarmos ex-alunos economicamente equilibrados, pois no período em que participaram do Projeto estavam inseridos na linha de pobreza (a seleção para o ingresso no Projeto tinha o critério socioeconômico como critério de avaliação, que consistia na divisão do salário mínimo vigente por número de membros da família).

De acordo com as questões trazidas por Delors (2000), a educação é concebida como um processo de transmissão de consciência que conduz o homem a compreender a sua realidade. Essa concepção é de igual forma assumida por autores como Brandão (1982), Barreto (2009) e Pinto (2005). Demo também traz sua contribuição quando assinala que

[...] a educação se relaciona com os fins da vida em sociedade, com os seus valores, afetos, concepções de cidadania e direitos humanos. Uma educação emancipatória busca também uma cidadania emancipada, capaz de projeto próprio, de garantir condições iguais de luta aos marginalizados, configurando-se como a principal instrumentalização, produção e veiculação do conhecimento (DEMO, 2000, p. 40).

Para Cunha e Vilarinho (2009, p. 138), a visão emancipatória em Demo (2000) está relacionada intimamente com o exercício da cidadania, baseada no conhecimento, e no papel assumido pelo professor, como mediador de informações, possibilitando o desenvolvimento de uma visão crítica e emancipatória, viabilizando a “capacidade de confronto, quebra da ordem vigente considerada impositiva e injusta”.

Galvão (2007, p. 1), afirma que “a educação para a cidadania pretende fazer de cada pessoa um agente de transformação”, tendo em vista o que afirmam três documentos oficiais quanto à construção e o exercício da cidadania mediante processos educacionais:

Na Constituição Federal do Brasil (1988), o art. 205 afirma que,

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988, p. 195).

Na Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional n.º 9.394 de 20 de Dezembro de 1996, estabelece no seu art. 2º que:

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, p. 1).

Continuando nesta mesma linha de reflexão, a Lei de n.º 8.069 de 13 de Junho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelece em seu art. 4º:

É dever da família, da comunidade, da sociedade, em geral, e do Poder Público, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1990, p. 12).

Portanto, está assegurada a educação como a fonte primeira para a formação da pessoa humana e seu preparo para a cidadania. Paula (2010, p. 1) afirma que “a educação, como direito e bem fundamental da vida, é um dos atributos da própria cidadania, fazendo parte de sua própria essência”.

Segundo Rodrigues (2009, p. 1),

[...] para mudar nossa história e lograr conquistas, precisamos ousar em cortar as cordas que impedem o próprio crescimento, exercitar a cidadania plena, aprender a usar o poder da visão crítica, entender o contexto desse

mundo, ser o ator da própria história, cultivar o sentimento de solidariedade, lutar por uma sociedade mais justa e solidária e, acima de tudo, acreditar sempre no poder transformador da educação (RODRIGUES, 2009, p. 1). Do ponto de vista musical, o exercício da cidadania foi estimulado e largamente propagado com a prática do Canto Orfeônico, proposto para ser implantado em todo território nacional no âmbito das escolas brasileiras.

No governo de Fernando Henrique Cardoso, é promulgada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº 9.394/96, que traz a obrigatoriedade do ensino de Arte. No seu Art. 26 §2º - “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (BRASIL, 1996, p. 11). E, mais tarde, foi incorporado o parágrafo 6º. no Artigo 26 que, estabelecendo que “[...] A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular [...] Arte”.

A produção científica que discorre sobre o tema está em vasto crescimento como também as discussões que movem os encontros regionais e nacionais da Associação Brasileira de Educação Musical/ABEM, além de mobilizações e articulações em âmbito nacional para o cumprimento do parágrafo 6º da LDB n.º 9.394/96.

Apesar de todas essas dificuldades, o momento é de mudanças, sendo propícia a retomada da música nas escolas, em virtude da filosofia humanística que orienta os Parâmetros Curriculares Nacionais/PCN:

[...] as oportunidades de aprendizagem de arte, dentro e fora da escola, mobilizam a expressão e a comunicação pessoal e ampliam a formação do estudante como cidadão, principalmente por intensificar as relações dos indivíduos tanto com seu mundo interior como com o exterior (BRASIL, 1998, p. 19).

A caminhada da educação musical deve estar centrada no ser humano, na afetividade, na importância da arte e do sagrado, numa escuta ativa do mundo ao redor, percepção ampliada que vai além do ensino sistemático da música, apontando para o novo momento vivido pela humanidade. Sob esse aspecto, a música tem papel fundamental na formação global do ser humano, tomando como base questões culturais que consolidam o exercício da cidadania e a prática de valores humanos diversos.