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4. METODOLOGIA

6.1 PROJETO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

O Programa de Criança da Petrobras foi criado em 1983, nos municípios onde a empresa atua, com o objetivo de promover a inclusão social, tendo como foco a educação, a garantia de direitos e o exercício da cidadania. O número estimado de crianças atendidas pela empresa é de 41.200 crianças na faixa dos 09 aos 12 anos, que participam de atividades

artísticas, culturais, socioeducativas e esportivas.

Sobre a visão social da empresa e seus projetos de responsabilidade social, Lopes et al (2005) pontuam que:

Os diversos projetos sociais empreendidos pela RLAM estão alinhados à sua visão empresarial, sendo, portanto pertinente à proposta de se verificar junto a uma comunidade atendida, se os objetivos propostos contemplam às expectativas dos moradores e se estas ações estão realmente contribuindo para a afirmação de uma imagem positiva da RLAM enquanto empresa socialmente responsável (p. 8).

Ao mencionar a Refinaria dentro da visão de empresa socialmente responsável, os autores afirmam que a responsabilidade social “neste universo institucional representa um novo aparato e uma nova ferramenta de regulação que vem sendo utilizada com o propósito de contornar e amenizar esta crise” (LOPES et al, 2005, p. 10).

Para os autores, responsabilidade social é vista como:

[...] o compromisso que a empresa tem em desenvolver estratégias que possam contribuir para o desenvolvimento dos seus empregados e ambiente adequado ao trabalho, maior lealdade com o consumidor, participação em projetos ambientais (principalmente na região onde a empresa atua) e atenção aos problemas da comunidade (LOPES et al, 2005, p. 13).

Acrescenta ainda que o termo responsabilidade social,

[...] embora não encontrado em dicionários especializados já pode ser compreendido dentro das empresas e na sociedade, devido à capacidade de mobilização do seu discurso sugerindo uma proposta de desenvolvimento e se destina como viabilizador de benefícios e ganhos para todos (LOPES et

al, 2005, p. 10).

Numa visão mais ampla, para Ashley (2002), o conceito de responsabilidade social representa:

[...] compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, ou a alguma comunidade, agindo pró-ativamente e coerentemente no que tange

4 Nessa estimativa não estão incluídos os alunos do Programa de Criança da RLAM, que somam mil e cem

ao seu papel específico na sociedade e sua prestação de contas para com ela (ASHLEY, 2002, p. 5).

Lopes et al (2005) acrescentam que o termo Responsabilidade Social, é aplicado em algumas situações, na tentativa de promover a solidariedade e a cidadania, como meio de resgatar a humanização dentro do processo capitalista, sendo usado nas últimas décadas na conquista de valores morais e cívicos, tendo como pano de fundo os modelos considerados antigos de voluntariado e filantropia.

No encontro de apresentação da equipe selecionada pelo SESI para representantes da PETROBRAS, o gerente de comunicação da RLAM/ASCOM, na época, Sr. Giovane Moraes pontuou em seu discurso que,

[...] responsabilidade social representa o elo entre a empresa e a

comunidade, quando por meio de investimentos humanos e financeiros, a empresa se aproxima das reais necessidades inerentes às comunidades socialmente vulneráveis, como as que estão no entorno da Refinaria, com projetos sociais como o Programa de Criança em Mataripe, e a Cooperativa de Costureiras no Caípe (Giovane Morais, RLAM, 2001).

Giovane parabenizou o SESI pela formação da equipe, destacando os desafios que teríamos que enfrentar e as expectativas da empresa com um Programa de tamanho significado. Alertou para que as necessidades das crianças fossem prioridade nas ações, sinalizando para que a imagem da empresa fosse preservada enquanto responsável direta pelo Projeto.

Corroborando na discussão, Costa (2005), pontua que,

A Responsabilidade Social Empresarial pode ser definida, em resumo, como gestão administrativa direcionada para a implantação de ações sociais que beneficiem o público interno da empresa (funcionários e dependentes, fornecedores e parceiros dos negócios) e externo (comunidade) (COSTA, 2005, p. 14).

Para o SESI, com relação ao foco externo (comunidade), mencionado por Costa (2005),

Responsabilidade Social aparece no investimento social privado em programas e projetos comunitários que a própria empresa desenvolve, ou naqueles desenvolvidos por meio de parcerias com o governo, com ONGs e com a população organizada de comunidades carentes, além dos programas de voluntariado (SESI, 2008, p. 105).

Com isso concluímos em consonância com Lopes et al (2005), que:

As empresas são agentes importantes de promoção do desenvolvimento econômico, tecnológico e social das comunidades onde operam. Neste sentido, as empresas que adotam um comportamento socialmente responsável tornam-se poderosos agentes de mudança (p. 13).

Dentro dessa perspectiva, o Programa de Criança tem representado a Petrobras/Refinaria Landulfo Alves Mataripe/RLAM, na formação desses agentes de transformação citados ao longo da pesquisa e de tantos outros que levam a bandeira da mudança em diversos contextos.

Como empresa socialmente responsável, a Petrobras se enquadra na visão de agente promotor dessas mudanças no seio de várias comunidades, como as cidades de São Francisco do Conde e Madre de Deus, como afirmam Lopes et al (2005), que:

Diante do quadro de pobreza, dos sérios problemas que vivemos em termos de educação, saúde, desemprego, violência e de ações que destroem o nosso ecossistema, é bastante salutar que as organizações assumam o seu papel social e contribuam eficazmente para o desenvolvimento sustentável e melhoria da qualidade de vida no planeta. E que através deste movimento e do exemplo dos seus líderes contribuam para resgatar a ética no relacionamento humano, nos negócios e por consequência na própria qualidade dos produtos/serviços oferecidos (p. 13).

Na pesquisa de campo realizada pelos autores citados (2005, p. 27), os gráficos de 04 a 08 mencionam respostas dadas pela comunidade investigada, quanto à importância do Projeto, iniciativa da empresa, relevância das atividades realizadas no âmbito do projeto e sua aplicação em outros ambientes, a exemplo da escola, e se o futuro das crianças e/ou sua futura carreira profissional têm mais chances de sucesso quando estas participam do Projeto.

Segundo eles, com base nos dados, 88% dos entrevistados estão satisfeitos com o Programa de Criança, no qual podem vislumbrar que as participantes do Projeto têm maiores possibilidades de serem bem-sucedidas profissionalmente; quanto às escolhas profissionais, a maioria concorda que o futuro das crianças e/ou sua futura carreira profissional têm mais chances de sucesso quando participam do Projeto.

No entanto, foram observadas algumas reivindicações por parte da comunidade quanto à criação de outros projetos que pudessem agregar tanto as crianças que estivessem fora da faixa etária exigida pelo Programa de Criança (seis anos e meio), como também os egressos com 13 anos, algo que fazia parte das discussões realizadas pela equipe gestora e professores do Programa de Criança.

Destaca-se5 como visão do Projeto, “ser reconhecido como uma iniciativa de defesa

dos direitos da criança na área da Educação Social, contribuindo para a formação de cidadãos conscientes, autônomos e felizes”. A missão consiste em “estimular o desenvolvimento integral da criança, a inclusão e a transformação social, com base nos princípios de justiça e

solidariedade”.

A Petrobras mantém outros núcleos do Programa de Criança, funcionando nas cidades de: Alagoinhas, Catu, São Sebastião do Passé, Araçás, Candeias, Cardeal da Silva, Entre Rios, Esplanada e Pojuca, ligados à UO-Ba (Unidade de Operações de Exportação e Produção, desde 1989).

Quanto à pedagogia utilizada no âmbito desses Projetos, busca-se transformar as condições de vulnerabilidade social, por meio de ações coletivas para disseminar conhecimentos e valores humanos, a exemplo do amor, do respeito, da solidariedade, os quais estão em consonância com o proposto pelo Grupo do SESI, no Programa de Criança da RLAM.

Na procura por produção acadêmica sobre o Programa de Criança da RLAM, encontramos uma monografia apresentada à Universidade Federal da Bahia, na Escola de Administração - Núcleo de Pós-Graduação em Administração – NPGA - Programa de Capacitação Profissional Avançada – CPA, de autoria de Cristóvão Lopes, Geraldo Lopes, José Cupertino e Keila Sméra, com o tema: Programa de Criança Refinaria Landulfo Alves: responsabilidade social enquanto instrumento de gestão empresarial no ano de 2005, sob o enfoque de uma visão social, onde a empresa se estabelece como promotora de melhorias na qualidade de vida de várias comunidades.

Na leitura deste documento, percebemos um equívoco geográfico, visto que o Programa de Criança está localizado no Distrito de Mataripe e não no Caípe, conforme mencionado. Destaco também como ausência de informação exata, a formação dos professores, que não era apenas em Artes Visuais, mas em Artes: música, dança, capoeira e teatro. Outra informação equivocada é a de que a capacitação dos professores era realizada pela Assessoria de Comunicação da RLAM, e não pelo SESI, empresa parceira da PETROBRAS nas questões pedagógicas e administrativas. Nesse documento, inclusive, não se faz menção do SESI, como empresa parceira da RLAM, desde 2001, até os dias atuais.

Entretanto, trata-se de um documento que traz como foco do estudo a empresa e sua função social, dentro da perspectiva de ser responsável pelo bem-estar físico e ambiental das comunidades próximas. Nesse estudo, os autores ressaltam que o número de empresas envolvidas direta ou indiretamente com trabalhos sociais é crescente no Brasil. Essas empresas, na sua maioria, não necessitariam materializar essas ações, como as empresas multinacionais ou aquelas com altos faturamentos. No entanto, são empresas que percebem a responsabilidade social como uma forma de gestão empresarial, que envolve a ética em todas as suas atitudes, a exemplo da Petrobras.

As leituras feitas sobre essa temática nos levam a crer que um dos maiores desafios atuais para as empresas, em decorrência das pressões sociais, seja o de vencer aquilo que nos parece contraditório, que é a sobrevivência e o crescimento, em detrimento do cuidado com a humanização do trabalho e valorização da dignidade da pessoa humana, quer seja no plano interno ou com a sociedade onde está inserida, sendo reconhecida como uma empresa ética e socialmente responsável. Nessa direção, verifica-se também que “a tendência nessa nova ordem social é que já não é suficiente ‘não fazer nada errado’. É preciso tornar as preocupações da sociedade suas preocupações: investir no bem-estar, através de apoio ao desenvolvimento da comunidade onde atua” (LOPES et al, 2005, p. 12).

Uma das alternativas mais utilizadas pelas empresas como forma de se diferenciar, destacar e se fortalecer diante do jogo pela sobrevivência, são as ações sociais, exploradas através do marketing social, projetando a imagem da empresa de forma interativa com os anseios e necessidades dos seus produtos, não apenas na sua utilização final, como também ao bem-estar e segurança na sua utilização.