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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.2 Abordagem qualitativa

O delineamento da pesquisa quanto aos seus meios e fins é a abordagem qualitativa e a estratégia de pesquisa – um estudo de caso histórico de inspiração longitudinal. Detalhamos os procedimentos que foram utilizados: as consultas processadas pela pesquisa documental, as técnicas de entrevista em profundidade não estruturada com a foto elucidação e o processo de observação não participante. Trazemos, também, algumas considerações da ACD utilizada para a análise de dados, e finalizamos com a exposição das considerações metodológicas.

Utilizamos técnicas de pesquisa qualitativas interdisciplinares que pudessem inovar os estudos das práticas estratégicas cotidianas no contexto da UFV, conforme recomendação de pesquisadores como Chia e Mackay (2007),

que abordam a necessidade de se romper com comprometimentos filosóficos e metodológicos e com as unidades de análise das pesquisas tradicionais que são aplicadas nos estudos da Estratégia como Prática. Para os referidos autores, o que vem ocorrendo são somente pequenas mudanças na maneira de explicar e comunicar os resultados das pesquisas, mais como uma continuidade do que como uma alteração da perspectiva de Pettigrew (1990) a disseminação no uso das técnicas qualitativas de pesquisa tradicionais. Desse modo, Chia e Mackay (2007) recomendam inovações na forma de conduzir as pesquisas nesse campo, esse foi o nosso desafio metodológico dado à concepção da estratégia como emergente e não deliberadamente formulada. Por isso, Rasche (2005, p. 14) já afirmava que o processo de fazer estratégia significa “pensar dentro da ação”. Portanto, não haveria uma distinção entre decisão e implementação e, com isso, foi indispensável que apresentássemos o nosso posicionamento ontológico para que a estratégia pudesse ser compreendida como uma “estruturação linguística da realidade”, que a constitui pelas “performative speech acts” (RASCHE, 2005, p. 17).

A defesa da necessidade de estudar estratégia considerando sua formação é apresentada por Samra-Fredericks (2004), que ressalta, também, a questão do discurso na estratégia, a sua preocupação em analisar como o uso da linguagem forma e obtém sentido e, além dos caminhos em que os sujeitos a utilizam para desenvolver um discurso da estratégia. É por meio das interações conversacionais que, informalmente, muitos estrategistas estabelecem e negociam significados, moldando as percepções e legitimando os juízos de valor individuais e coletivos, de modo que a estratégia é um objeto social formado por meio do discurso e da fala dos diversos membros da comunidade acadêmica da UFV, servidores: docentes, técnicos administrativos e operacionais que participam das atividades cotidianas onde as estratégias são pensadas, discutidas e formadas.

A necessidade de argumentação e sistematização bem delineadas nas pesquisas em estratégia, conforme recomendação de Teixeira e Albuquerque Filho (2011), enriquece a operacionalização de pesquisa e aprimora a capacidade de retratar a realidade. Porém, segundo os autores, o que se verifica, na realidade brasileira, são pesquisas carentes e mal sucedidas que deveriam ser rejeitadas, não pela base qualitativa, mas pela ausência de rigor compatível com os padrões adotados pelos canais de comunicação científicos que disseminam as produções acadêmico-científicas.

Ademais, os autores ressaltam, principalmente, os novos trabalhos com direcionamentos nas dimensões, os quais abordam a Estratégia como Prática e que, por ora, apresentam-se posicionados na centralidade da discussão atual no campo de estudos em estratégia.

Os autores recorrem às conclusões de Vergara e Caldas (2007), que acreditam que a predominância funcionalista nas epistemologias de pesquisas brasileiras é fruto do processo educacional no país. Este influenciado em parte pela formação management de nossos docentes, pelos consultores educacionais estadunidenses que atuaram na elaboração da Reforma Universitária de 1968 e introduziram a adoção de modelos que focam a produtividade e competividade nas organizações. Os quais formam docentes e resulta em gerações de pesquisadores em estudos organizacionais que pouco incentivam a receptividade para a utilização de abordagens de análises alternativas, o que acaba por restringir os estudos numa perspectiva subjetiva. Por mais que a abordagem tenha se desenvolvido, nem sempre a mentalidade das pesquisas acompanha o mesmo ritmo. Nesse mesma perspectiva, Guba e Lincoln (1994) afirmam que a pesquisa delineada pela subjetividade, em função de uma base de pressupostos ontológicos e epistemológicos, difere, naturalmente, das aplicações e noções tradicionais de validade e confiabilidade. Por conseguinte, esta breve discussão nos alerta para a necessária e vigilante sistematização para assegurar a solidez e

a consistência metodológicas nos trabalhos de investigação em Estratégia como Prática. Ao fazer a escolha pela pesquisa qualitativa interpretacionista, já está elaborando determinadas pressuposições filosóficas as quais consistem em seu posicionamento ontológico, epistemológico, axiológico, retórico e metodológico.

Para melhorar o nosso conhecimento da estratégia, como fenômeno organizacional, é necessário nos apropriar do conhecimento dos diferentes métodos e técnicas de coleta e análise de dados. Segundo Teixeira e Albuquerque Filho (2011), seja qual for a abordagem, uma preocupação comum deve ser capaz de justificar as reivindicações de conhecimento que compomos quando os utilizamos nas pesquisas. Essa perspectiva tem se projetado no meio acadêmico europeu pela proposta diferenciada que representa em relação às perspectivas tradicionais, sobretudo estadunidenses, as quais proferiram pouco ou nenhum destaque ao cotidiano das atividades organizacionais que formam as estratégias.

Na proposta inicial dos estudos nesse campo, Whittington (1996) chamava atenção para a questão ao buscar um novo direcionamento do pensamento de estratégia, o qual envolveria a comunidade universitária, os praticantes e o próprio ensino de estratégia. A Estratégia como Prática representa concepção relativamente nova de se estudar estratégia por mediação de princípios qualitativos. Nesse sentido, Jarzabkowski e Fenton (2006) mencionam a comunidade internacional virtual Strategy as Practice, as conferências ocorridas na Europa, Canadá e Austrália, com o contínuo crescimento no número de publicações em journals, com fator de impacto, por ilustrarem a relevância dessa linha de pesquisa. No entanto, mesmo em franca expansão, diante da carência, no campo de estratégia, de uma compreensão mais detalhada sobre as ações e práticas cotidianas as quais constituem o processo estratégico, Teixeira e Albuquerque Filho (2011) acreditam que mais aparatos

possam ser desenvolvidos, a fim de destacar novas opções de como lidar com o fenômeno estratégico ou reforçar a perspectiva da Estratégia como Prática.

O delineamento analítico da Estratégia como Prática deve se concentrar, segundo Jarzabkowski (2005), com ênfase na formação das estratégias do que as mudanças organizacionais; é imperativo, pois, compreender melhor as interações pelas quais a estratégia se revela ao longo do tempo. Por isso, nesta pesquisa, a adoção dos pressupostos ontológicos do RC e do arcabouço teórico- metodológico da ACD possibilitaram a leitura da realidade, a qual nos conduziu a maior riqueza de dados scoletados e gerados que resultaram no sentido pretendido de explicar e compreender o fenômeno estratégico no contexto da UFV.