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5 ASPECTOS MACROSSOCIAIS: SALVANDO A LAVOURA ENTRE OS

5.6 De Escola Superior à Universidade Rural

Nova fase se inicia em Viçosa, em novembro de 1948, com a transformação da ESAV em Universidade Estadual Rural de Minas Gerais (UREMG). Joaquim Fernandes Braga, ex-aluno da primeira turma do curso médio e presente naquela primeira aula do Prof. Diogo Alves Mello, assume a direção da UREMG como o primeiro Reitor em Viçosa, no dia 07 de setembro de 1949, em pleno feriado nacional.

Natural de Visconde do Rio Branco, cidade vizinha a Viçosa, conclui o curso médio em 1928 e o curso de Agronomia em 1932, na ESAV. Segundo o Informativo UREMG, de 18 de abril de 1965, ainda como estudante participa, em 1929, da criação da Semana do Fazendeiro. Com a colaboração do servidor da Silvicultura, José Coelho da Silva, e do fazendeiro Jacintho Soares de Souza Lima, encaminha a sugestão para o diretor, João Carlos Bello Lisboa, que prontamente a aceita. Atuou na universidade de 1932 a 1956, na área de zootecnia. Desenvolveu seus estudos de pós-graduação na Universidade Estadual de Iowa e na Universidade de Cornell. Durante sua gestão, é criada, em 1950, a Capelania no campus da UREMG, tendo como primeiro capelão o Padre Antônio Mendes, que exerceu suas funções até 1985. Ainda em 1950, é iniciada a construção da Vila dos Professores, atual Vila Giannetti. Em 1953, têm início as aulas do curso Técnico de Agricultura; em 1955, inicia-se o Programa de Pesquisa do Feijão.

Enquanto Reitor organiza a Universidade, modernizando a estrutura universitária e criando a Escola Superior de Ciências Domésticas, a primeira do gênero no país, com o curso técnico Administração do Lar e, em 1954, o curso superior de Ciências Domésticas. No ano de 1955, a UREMG incorpora a Escola Média de Agricultura de Florestal (EMAF), que fora criada por Benedito Valadares e Getúlio Vargas, em abril de 1939, antigos adversários políticos de Bernardes.

Joaquim Fernandes Braga falece em Belo Horizonte, em 1963. Naquela ocasião, teve sua cabeça apoiada num pequeno travesseiro, feito com painas da árvore símbolo da ESAV-UREMG, a velha Paineira, próxima à Reitoria.

O segundo Reitor da UREMG, Lourenço Menicucci, natural de Lavras, professor de Solos e Adubos, dirige a universidade de 1957 a 1959. Na sua gestão, é estabelecido o ETA – projeto 39. O convênio foi firmado em julho de 1957, entre a UREMG, por meio do Escritório Técnico de Agricultura (ETA), a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR), a Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR) e a Associação de Crédito Rural do Espírito Santo (ACARES). Já em 1958, as associações participantes criam o Centro de Ensino de Extensão (CEE); em 1959, a UREMG encerra as atividades do curso médio agrotécnico, que funcionava desde 1926, por razão de curso similar na Escola Média de Agricultura de Florestal.

Durante o seu reitorado, a UREMG é escolhida pela Universidade de Purdue para estabelecer um importante projeto de cooperação, que marcou o desenvolvimento acadêmico e científico em Viçosa. A chegada de professores, especialistas e consultores altamente qualificados e, posteriormente, o treinamento de docentes de Viçosa nos Estados Unidos resultaram no aperfeiçoamento da experimentação e da pesquisa de maneira significativa, o que possibilitou o nascimento dos primeiros programas de pós-graduação em ciências agrárias do Brasil, em 1961.

Além desse pioneirismo, também transformou a pós-graduação no país, visto que o governo brasileiro adotou o modelo estadunidense implantado em Viçosa para as demais universidades. Esse modelo consistia em uma organização didático-científica com créditos e de defesas de teses. Cabe ressaltar que os programas de pós-graduação existentes no Brasil, até então, seguiam o modelo europeu.

O quarto Reitor da UREMG, Geraldo Oscar Domingues Machado, era mineiro da cidade vizinha de Ponte Nova, ex-aluno da ESAV, formado em 1934, em Agronomia, e muito ligado à área de extensão rural. Durante sua gestão, de 1959 a 1962, o governo federal instala, no dia 05 de março de 1960, a Escola Nacional de Florestas que, sediada na UREMG, oferece, pioneiramente, o curso de Engenharia Florestal no país e aí permanece até 14 de novembro de 1963, quando foi transferida para a Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Essa mudança ocorreu por divergências entre alemães e estadunidenses, além da influência de técnicos da FAO, que defendiam a continuidade do curso em uma cidade mais centralizada e de fácil acesso.

Imediatamente, em 21 de fevereiro do ano seguinte, pelo Decreto Estadual nº 7419, foi criada a Escola Superior de Florestas e, uma vez instalada, deu início às aulas no dia 03 de março de 1964, com os cinco estudantes remanescentes da Escola Nacional de Florestas, que se recusaram a mudar para Curitiba. Ainda hoje, há cinco árvores em círculo, no setor de Silvicultura da universidade, na fazenda do Xaxá, que foram plantadas em homenagem aos cincos estudantes, uma prática comum em Viçosa, em homenagens, datas comemorativas e formaturas.

Entre 1960 e 1962 foram criados os cursos de pós-graduação em nível de mestrado do Instituto de Economia Rural e do Departamento de Horticultura (Fitotecnia). Ainda nesse período, ocorre o lançamento de mais uma revista científica, a Experientiae.

Em julho de 1962, o professor Flamarion Ferreira assume a Reitoria e dirige a universidade até outubro de 1964. Nesse ínterim, dá-se continuidade à oferta de cursos de mestrado nas áreas de Agronomia e Zootecnia e o país passa por mudanças políticas com o golpe de Estado civil-militar, em 31 de março de 1964. Os militares o justificaram, alegando que existiam ameaças comunistas no país. Segundo Ayerbe (2002), o golpe teve o apoio de parte do segmento da sociedade, sobretudo de grandes proprietários rurais e da classe industrial paulista. O novo regime foi caracterizado pela centralização do poder, dando início a uma ditatura que permaneceu por 20 anos.

O Prof. Flamarion falece em Belo Horizonte, em janeiro de 2011, e, por sua grande ligação com a universidade, faz um último pedido à família, segundo UFV Notícias de janeiro de 2011: ser sepultado com o terno de sua posse como Reitor da Universidade.

Antes da federalização, faz-se necessário ressaltar que a UREMG passou por um processo de transformação e disciplina que impactou na maneira de se conduzir a pesquisa, com reflexos na própria dinâmica dos processos administrativos na instituição. Segundo relato de um servidor, era comum encontrar os professores em suas salas de trabalho apontando lápis naquele apontador estadunidense, daqueles modernos, elétricos, e fazendo cálculos estatísticos. Os professores ou ficavam o dia inteiro fazendo cálculos ou nos experimentos no campo, dado os comuns recados nos gabinetes, estou nas terraças. (Figura 11).

Figura 11 - Terraças campus ESAV.

Fonte: ACH – UFV (2015).

Essa é uma herança que vem desde o período fundacional da ESAV, do espírito esaviano o qual, segundo vários relatos, muitos servidores afirmam ainda existir, apesar da expansão da universidade e dos novos servidores. Também de acordo com o mesmo entrevistado, por ocasião de sua experiência no doutorado na UFRJ, ao procurar a orientadora com o relatório semestral da UFV para ser preenchido, ela, mesmo com vasta experiência internacional nos Estados Unidos, questionou: “o que é isto?” Isso é um relatório semestral que eu tenho que preencher, eu tenho que prestar conta lá na universidade. Ela falou, “nossa que coisa extraordinária!” A UFRJ podia implementar este

procedimento”. “Isso é UFV! Muitas pessoas falam, nossa, mas a UFV é

burocratizada demais! Bom, você pode pensar em modernizar, racionalizar processos internos é uma coisa, agora se eles sempre existiram, dependendo de estarem assim defasados ou não, há uma cultura, tá. Então, assim há uma coisa que liga essas duas fotos aqui que perpetuado no tempo, sociologicamente, é um ethos, é um ethos, na verdade é um ethos... é uma forma de encarar o mundo!

E8

Ao finalizar, o servidor ainda expõe que os procedimentos adotados pela UREMG estão bem representados no lema das quatro pilastras, estudar e agir. O

agir na UREMG era fundamental para uma pesquisa mais hard, ciência dura, as conquistas de genética, diferente da época do Diogo Mello, em que os trabalhos eram mais experimentais do que propriamente baseados em modelos sofisticados. O trabalho de Economia da década de 1930, realizado pelo doutor Edson Potsch na ESAV, fala da influência do negro na agricultura brasileira, bem ao estilo do sociólogo Gilberto Freyre. Depois, a Economia Rural no período UREMG passou a trabalhar modelos matemáticos. Em boa parte do tempo as características e influências estadunidenses, desde os fundadores até os especialistas do Projeto Purdue, preservaram uma cultura de racionalidade e planejamento. E conclui “a própria organização do campus é bem assim, os prédios estão organizados de tal forma, um projeto das ruas, todas feitas em

curva de nível não sei pra onde e tudo, você vê o recanto das cigarras, curva de nível, não cavaram o morro a toa!” E8

Outro servidor ainda pontuou sobre o bom planejamento do campus: “o campo de futebol era muito bem feito tinha uma drenagem perfeita! Ali chovia, acabava a chuva não tinha água nenhuma no campo não! Um negócio

impressionante!”E42