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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.10 Considerações finais da metodologia

As considerações metodológicas atendem às necessidades de não gerar desconfianças em relação às estratégias de pesquisa, às técnicas e às análises dos

dados que foram coletados e gerados. Por isso, procuramos elaborar um relato minucioso dos procedimentos, pois, de acordo com Yin (2009), esses serão preservados na forma de protocolo de como foi conduzida a pesquisa.

As explicitações das regras, das sistematizações, dos pressupostos teóricos e metodológicos que nortearam o trabalho pelas consultas durante a pesquisa documental, a entrevista em profundidade, a pesquisa fotográfica e a observação não participante fazem parte das discussões e resultados que dizem respeito aos critérios de rigor e de confiabilidade adotados na avaliação de pesquisas científicas as quais se utilizam desses recursos com maior regularidade.

Para a primeira fase, antes mesmo da inserção em campo, foram delimitados os objetivos de pesquisa, principalmente no que tange ao contexto em que se situam os sujeitos sociais e a uma constante revisão de literatura que trata a Estratégia como Prática Sóciodiscursiva, requisitos fundamentais que enriqueceram e efetivaram o processo da coleta de dados.

Nesse momento, acreditamos que os fragmentos cumpriram um papel significativo na organização e na operacionalização primária do volume de material empírico para posterior tratamento analítico. Para a ACD, muito do que foi dito é profundamente subjetivo e foi analisado, visto se tratar do modo como aqueles sujeitos observam, vivenciam e analisam seu tempo histórico, seu momento e seu meio social.

Para a transcrição dos dados verbais das entrevistas, foram tomados todos os cuidados necessários. Após cada entrevista, foi processada a conferência de fidedignidade ao se ouvir a gravação, acompanhar e conferir cada frase do texto transcrito em mãos. Cada entrevista realizada foi lida antes de se partir para a próxima, a fim de se corrigir possíveis erros na condução e evitar prováveis falas induzidas dos entrevistados, em decorrência da minha postura, enquanto pesquisador, para, assim, reavaliarmos os rumos da investigação. A

análise final consistiu em dar sentido ao conteúdo do mosaico presente nas falas dos sujeitos apresentados nos fragmentos, tendo, como referência, os objetivos da pesquisa e o contexto em que os depoimentos foram colhidos.

Os dados da pesquisa foram resultantes da ordenação do material empírico coletado e gerado no trabalho de campo. Esses dados passaram pela interpretação dos fragmentos das falas dos entrevistados, falas essas organizadas em torno de práticas contextuais, e pelo cruzamento posterior desse material com as referências teóricas e conceituais, no décimo capítulo – Estratégias como Práticas Sóciodiscursivas, orientadoras deste trabalho. Isso preliminarmente implicou a formação de um novo texto, articulado nas falas dos diferentes informantes, promovendo uma espécie de diálogo artificial, de storytelling entre elas, como também aproximando respostas semelhantes, complementares ou divergentes.

Para melhorar o desenho de pesquisa, Patton (1990) recomenda a combinação de metodologias no estudo do fenômeno, entretanto, Godoi e Balsini (2012) ressaltam que a triangulação metodológica que visa aumentar a validade interna não é uma simples mistura de várias técnicas, o que poderia dificultar o trabalho com o material discursivo. Por isso, a necessidade de combinação ou triangulação de vários materiais empíricos passa a ser uma estratégia que contribuiu para conferir rigor à investigação qualitativa e assegurar uma compreensão, em profundidade, do fenômeno em questão. Assim é possível empregar vários sentidos, o que implica a validade de triangulações também espaciais, sociais, temporais, teóricas e analíticas.

A operacionalização e a triangulação são as soluções ideais para os problemas metodológicos envolvidos nos estudos de questões sensíveis, mais suscetíveis a erros de interpretação (LANG, 2007), de modo que essa triangulação possa aumentar a validade externa, bem como assegurar a consistência interna e a confiabilidade. Isso significa que metodologias devem

ser escolhidas seletivamente para neutralizar as ameaças à validade de cada abordagem.

Em relação à triangulação dos instrumentos metodológicos são necessários, o tempo, a competência e as dificuldades na publicação. O autor afirma que a triangulação requer muito tempo de envolvimento, recursos e esforços, logo os pesquisadores devem desenvolver um conjunto mais amplo de competências. Geralmente, os desafios surgem das restrições existentes, tais como limites de páginas em periódicos. Apesar desses obstáculos, as pesquisas com triangulação têm sido realizadas e publicadas, uma característica fundamental é o seu pluralismo metodológico, o que frequentemente resulta em uma pesquisa superior, se comparada à unidimensional.

A combinação pode proporcionar melhor compreensão dos problemas de pesquisa e dos complexos fenômenos organizacionais, de modo que a flexibilidade e a possibilidade de integração de técnicas enriqueçam o desenvolvimento e os resultados das pesquisas. Consequentemente, a essência da triangulação é sempre a ideia de complementariedade. Embora as análises de Okayama, Gagg e Oliveira (2014) apontaram que 82% das pesquisas com a abordagem da estratégia como prática utilizaram entrevista em profundidade e quase 50% algum tipo de observação, 38% se apoiaram em documentos. Embora, somente 35% fizeram triangulação destas técnicas.

Uma limitação muito comum, neste tipo de pesquisa, é a pouca disponibilidade de participação dos sujeitos de pesquisas, já que a coleta e geração aconteceram no ambiente de trabalho natural dos sujeitos. Entretanto, no caso da UFV, o que observamos foram poucas mudanças do que já estava previamente agendado e apenas dois entrevistados escolheram horários após o expediente de trabalho.

Por se tratar de um estudo de caso, segundo Yin (2009), existe a necessidade de um período de tempo considerável para a coleta e geração de

dados, principalmente ao se considerar os imprevistos e atrasos para essa fase da pesquisa. Contudo, na nossa pesquisa, a demanda maior ficou por conta da duração média dessas interações, de duas horas, o que impossibilitava uma maior frequência e regularidade no agendamento das entrevistas. Consequentemente, o volume de informação gerado foi considerável o que demandou, concomitante, mais tempo para cada transcrição.

Como em um estudo de caso não buscamos a naturalização do mundo social, pois retrata a especificidade de uma realidade que apresentou resultados não generalizáveis, dada a subjetividade nas falas e nos textos e a limitação a um determinado período, por ocasião da coleta e geração de dados. A realidade poderá, muito possivelmente, apresentar diferenças se os dados forem coletados em outro momento, limitação temporal; em outra universidade, limitação espacial, além de, a cada momento, ter-se uma nova leitura e interpretação.

É preciso assumir a pesquisa como processo de mudanças das nossas crenças, pois, conforme Godoi et al. (2012), aprendemos que o melhor caminho para encontrar algo em que acreditar é escutar tantas sugestões e argumentos quantos forem possíveis. Os resultados de uma pesquisa suscitam questões adicionais que se originaram de novas pesquisas para ratificar, refutar ou complementar as visões formadas, possibilitando o acúmulo de experiências e o avanço do conhecimento. Essas considerações corroboram a visão evolutiva dos estudos organizacionais de Motta (2000), embasada no conceito de racionalidade, demonstrada por Ramos (1989). Isso ressalta que a Administração deve resgatar a racionalidade substantiva em sua essência e, assim, superar o domínio da razão instrumental, que tem provocado a degradação do ser humano ao considerá-lo unidimensional.

Essa é uma oportunidade de contribuir na renovação da agenda de pesquisa em Estratégia como Prática, promover a interface com outras áreas do conhecimento das Ciências Sociais e Humanas, bem como dos Estudos

Linguísticos, por novos caminhos ontológicos, epistemológicos e metodológicos, para que a abordagem de pesquisa não se isole. Da mesma forma, a Estratégia como Prática tem muito a oferecer à pesquisa social contemporânea na prática, em suas atividades, nas instituições e no discurso.

O foco da análise das Estratégias, como práticas sóciodiscursivas em uma universidade pública federal, com base nas perspectivas do RC e da ACD, acrescentou a aplicação endereçada a outras questões cruciais nos estudos organizacionais contemporâneos. A partir disso, o imperativo de continuar a pesquisa em estratégia como pratica teórica e empiricamente, para melhor entendimento dessas atividades, processos e práticas que caracterizam a estratégia organizacional e o fazer estratégia.