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Não podemos negar também que o MST foi e é protagonista de grandes momentos de luta e resistência social..., além do que é um dos maiores movimentos da América Latina, que tem, entre seus objetivos de luta a reforma agrária popular “por sintetizar, na sua concretização, a conquista de outras lutas, tais como o direito social e subjetivo ao trabalho, à educação, à saúde, à cultura, ao lazer” (CALDART e ALANTEJANO, 2014).

Para Frigotto (2014), o conhecimento que interessa para a classe trabalhadora é aquele que ajuda a mostrar as formas preponderantes de DOMINAÇÃO e alienação e se constitui em guia da práxis transformadora das estruturas sociais, as quais produzem a alienação e a exploração, ou seja, o conhecimento crítico assinalado por Arroyo como aquele que acontece um momento da práxis social, enquanto fazer humano de classes sociais contraditórias, na produção do saber e da cultura.

Imbuídos por essa ideia, buscamos a investigação qualitativa, que segundo Minayo (2007, p. 299) trata do estudo da realidade concreta e em “primeiro lugar, deve proceder a uma superação da sociologia ingênua e do empirismo, visando a penetração

nos significados que os atores sociais compartilham na vivência de sua realidade”, isto é, uma pesquisa que trabalha na investigação heurística que pressupõe a descoberta da pesquisa, a qual se objetiva.

Baseados em Bogdan e Biklen (1994 p. 47-51) compreendemos que a investigação qualitativa é aquela em que o investigador mantém uma aproximação maior com as experiências dos sujeitos investigados e que leva em consideração o meio em que o sujeito está inserido e, para além disso, atribui estratégias e procedimentos que permitam ao entrevistador considerar as experiências do ponto de vista do informador.

O processo de condução de investigação qualitativa reflete uma espécie de diálogo entre os investigadores e os respectivos sujeitos, dado estes não serem abordados por aqueles de uma forma neutra.

Outro ponto que justifica a pesquisa qualitativa nesse trabalho é, pois, a intencionalidade na pesquisa social, uma vez que a investigação foi direcionada ao estudo de caso na escola Crescendo na Prática, que exigirá um tratamento qualitativo para a interpretação do material coletado, com a flexibilidade quanto aos objetos de estudo, por conta das modificações entre seus elementos (LUDKE e ANDRE, 1986).

Apresenta a descrição para abordar o fenômeno pesquisado, obtido no contato direto do pesquisador com a situação estudada, feita de forma minuciosa, interessando mais o processo da investigação do que simplesmente os próprios resultados e produtos.

O processo de análise dos dados é como um funil: as coisas estão abertas de início (ou no topo) e vão-se tornando mais fechados e específicos no extremo. O investigador qualitativo planeia utilizar parte do estudo para perceber quais são as questões mais importantes (BOGDAN, 1994, p.16).

Além disso, a fonte direta dos dados foi o ambiente natural. Como nos afirmam Ludke e André (1986, p.11) a “pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra com o trabalho intensivo de campo”, disso decorre a nossa ida à escola - Crescendo na Prática -, onde buscamos considerar situações em que se manifesta o fenômeno da proposta dessa pesquisa. Na abordagem qualitativa, buscamos considerar os indivíduos em seu contexto, no sentido de, observando-os, analisar os gestos, as palavras, ouvindo-os no seu local de formação, as vozes, os seus discursosreferentes ao conhecimento escolar e aos saberes sociais que estão direcionadas aos jovens do Ensino Médio. Conforme Chizzotti (1991, p. 79), compreendemos que:

A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; O sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado.

Desse modo, vivenciamos por uma semana a rotina de alguns alunos do 3º terceiro ano do Ensino Médio, na escola Crescendo na Prática. Esta série foi escolhida por tratar-se da última turma de Ensino Médio, pelo tempo de experiência, reunindo condições que foram significativas para enriquecer a pesquisa.

Ouvir e analisar as falas desses sujeitos, certamente, nos possibilitou entender como o Ensino Médio estava posto a eles e, em especial, a relação com o nosso objeto de pesquisa.

Outra questão a destacar que, independentemente da posição que tome o investigador, na análise qualitativa ele/ela deve estar ciente das questões metodológicas e teóricas. Trata-se, pois, de uma investigação do real16 onde irá ocorrer a descrição e análise desse ambiente. Desse modo, concordamos com Araújo (2012, p. 178) quando o autor afirma que:

Compreendemos o adjetivo qualitativo sob duas perspectivas, primeiro por valorizar a ação do sujeito pesquisador no processo de análise e interpretação dos dados coletados; segundo como um tipo de pesquisa que, utilizando procedimentos próprios (entrevistas, observações, estudo de caso etc.) reconhece a impossibilidade de métodos quantitativos revelarem a essência do fenômeno.

Assim, adentramos a escola do assentamento do MST, Palmares II, não apenas com a intenção de descrever o processo de relação entre saber social e conhecimento escolar, mas também compreender o processo de luta política nesse espaço, pois estamos falando em uma perspectiva de luta de classes, onde os interesseemergentes interior dessa escola revelam a contradição dos interesses de classe.

Desse modo discutimos, para análise dessa pesquisa, os saberes sociais como resultantes de um conjunto de ações do movimento MST implementadas desde a educação fundamental na escola Crescendo na Prática, onde os alunos têm contato com a história do movimento, do assentamento, experimentam atividades que valorizam a

16“[...] Todavia, o mundo que se manifesta ao homem na práxis fetichizada, no tráfico e na manipulação,

não é o mundo real, embora tenha a consciência e a “validez” do mundo real: é “o mundo da aparência”(Marx). (FRIGOTTO, 1994, p.19)

identidade do movimento, mesmo sabendo que essas ações foram mais acentuadas no ensino fundamental. Quanto ao ao Ensino Médio essas atividades estiveram mais ligadas à proximidade do alunos ao Movimento, pois assumia-se na escola o ensino modular, o que dificultavaa realização das atividades com os alunos.

Chizzotti (1991) destaca ainda que a pesquisa qualitativa dá ênfase à análise dos significados que os indivíduos dão às suas ações, às suas relações, à compreensão do sentido dos atos e das decisões dos atores sociais, ou mesmo aos vínculos indissociáveis das ações particulares com o contexto social em que estas se dão.

Desse modo, reafirmamos que, no caminhar desta pesquisa, o que nos interessou foi a fala, os gestos e os atos dos sujeitos que, por meio das entrevistas semi-estruturas e observação participante, fora, fundamentais para a análised que esses sujeitos acreditam, vivem e experimentam, de modo a considerarmos a essência do fenômeno que resulta da opção teórica do pesquisador.