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4.3 A RELAÇÃO DE INTEGRAÇÃO/FRAGMENTAÇÃO ENTRE OS SABERES

4.4.1 O saber e a rede de relações sociais

Outro ponto de destaque é que quase todos os jovens ouvidos já participaram de alguma programação do MST. Sendo que a influência para a participação partiu de pais, parentes e amigos que também residem no assentamento e fazem parte do círculo de convivência dos jovens. Conseguimos extrair essa categoria, a rede de relações, onde a integração aos saberes sociais se faz presente quando o sujeito estiver mais próximo de alguém, que faz parte ou já fez parte em algum momento do movimento, como por exemplo, os pais de alguns jovens.

Desse modo, a categoria rede de relações sociais, surgiu no momento de analisarmos as falas dos sujeitos, e nesse sentido compreendemos, segundo Gonçalves (2013) que é a visão analítica se foca nas relações entre indivíduos, na ênfase nos relacionamentos humanos como tema preferencial de análise, ou seja, “uma rede social é basicamente pensada como o conjunto real de vínculos de todos os tipos no interior de um conjunto de indivíduos”.

Ou seja, por meio da rede de relações os jovens estabeleceram o elo com o movimento e significativamente se apropriaram de alguns saberes sociais resultado dessas relações. Grzybowki (1986) e Damasceno (1995) citam a questão das relações sociais como atividade primordial para a difusão dos saberes sociais, pois é por meio delas que os saberes são apropriados, socializados e tomam caráter educativo também. Vejamos:

Primeiro porque meu pai, sim meus pais fizeram parte disso, eu lembro que ela sempre fala que quando eles se juntaram pra limpar aqui as ruas pra marcar os lotes, mãe era uma das cozinheiras, ela ficava cozinhando pra eles e meu pai foi um dos que ajudou a separar os lotes, que foi às casas, porque separaram os lugares onde ia ser cada uma casa e aí foi o sorteio, eu moro ali praticamente na rua principal que a rua que passa carro essas coisas e também tem livros né, só que eu não leio muito livro, porque a gente já sabe a história pelas pessoas (A2). Pelo fato de minha tia ser, fazer parte do movimento e ter vários de livros várias histórias pra contar também sobre movimento, sobre o assentamento eu obtive conhecimento através dela (A4).

Agora no ensino médio que não falam que os professores são de fora, mas da quinta para a oitava se falava muito né. Sobre a história, como foi que começou, porque devido a gente nascer aqui, a gente não sabe de tudo né. Aí sempre falavam sobre a gente, o professor passava pra gente fazer texto, redação sobre o MST (A1).

Nesse sentido, mesmo com os relatos que a identidade com o movimento se forma também durante o ensino fundamental, o que se percebe é que a maior parte dessa relação se dá em contato com pessoas próximas que participam ou participaram do movimento em algum momento. Ou seja, a escola representa a densa teia de relações na qual esta está inserida e que garantem o seu significado e sentido perante as demandas da comunidade e do MST como um movimento social. Por isso, a escola, em especial o ensino fundamental, é influenciada e influencia a construção do Saber Social que garante ao movimento as condições de legitimidade para o protagonismo na luta por direitos.

Quer dizer, o saber social e' um saber gestado no cotidiano da vida, do trabalho e da luta diária, é a expressão concreta da consciência de um grupo social, um saber que é útil ao trabalho, aos enfrentamentos vividos cotidianamente por estes atores sociais (DAMASCENO, 1995, p.5).

Neste processo de novas adesões ao movimento, os movimentos de formação das crianças e dos jovens assentados se mostram muito efetivos. A3, em duas falas, mostra como a imersão nos valores do MST através de momentos de formação é importante para a filiação do jovem ao movimento. Diz ele:

Teve uma pesquisa que a gente fez pra dentro das roças, pra pesquisar quem fez, aí comecei a conversar com os meninos e o pessoal daqui, começaram a falar da curva do S, do acampamento que tinha lá, uma semana acampados lá, aí ficou lá, aí a gente foi e começou a pegar amizade com eles, aí foi falei com minha mãe, a mamãe deixou eu entra aí comecei (A3).

Esse vínculo permitiu aos jovens alcançarem considerações significativas para se manterem integrados na construção do saber social, que por eles fora aqui citado. Primeiro, observamos jovens que mantêm sua visão sobre a importância que apresentam as lutas, habilidades e valores do movimento para a comunidade, e estas considerações são providas de redes de relações que “é uma estratégia social voltada para as relações entre os indivíduos em grupo” (GONÇALVEZ, 2013, p.9).

Durante as reuniões e formações as amizades feitas na vizinhança são fortalecidas e novas são formadas. A5 afirma que foi à reunião do movimento convidada por uma vizinha. Ela diz:

Eu conheci uma amiga que é a Vangela, minha vizinha, ai ela participava, ai dela eu conheci o Pablo que é tipo um dos líderes daqui, ai através deles eu fui conhecendo novas pessoas, ai me apaixonei ( A5).

No segundo momento observamos, a rede de relações sociais refletiu nos jovens, aqui citamos no pensamento e na ação, a participação e não participação dos mesmos nas atividades do grupo social, ou seja, essas relações são de suma importância para conduzir ao sentido da transformação, pois, é a partir “das relações e ações que realiza o homem age sobre o mundo e sobre si mesmo” (DAMASCENO, 1995, p. 2).

Ou seja, quando o jovem por meio das relações estabelece vínculos com as atividades do movimento, ele se modifica à medida que ele também transforma e todo o conjunto das relações da qual ele é o ponto central ( Ibidem, 1995, p.2).