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4. O CIBERESPAÇO COMO UM NOVO ESPAÇO DE COMUNICAÇÃO

4.4 A escrita no Ciberespaço

4.4.1 Abreviação

A abreviação é um fenômeno linguístico muito comum na sociedade, estando presente nos mais diversos canais e meios de comunicação. Percebe- se a sua presença em livros, revistas, jornais, enciclopédias, internet, etc., sendo, deste modo, um importante recurso linguístico empregado desde tempos remotos, razão por que faz-se necessário compreender a sua natureza e ocorrência como fenômeno linguístico.

A abreviação é uma redução de um vocábulo. Essa mudança ocorre na sequência dos grafemas que representam os fonemas, sendo que uma parte daqueles é alterada por redução, gerando uma nova sequência menor do que a original.

Como exemplos, temos:

• Anarq. < anarquismo (ocorreu a redução com a eliminação da sequência uismo);

• Antrop. < antropologia (eliminação de ologia); • Ap. < apartamento (eliminação de artamento);

• AAA - Alcoólicos Anônimos (eliminação de quase toda a sequência de grafemas da palavra, restando só as iniciais

AA).

No último exemplo, há uma ocorrência de sigla, que é a abreviatura constituída pelas letras e/ou sílabas iniciais dos termos componentes (DUBOIS et al., 2004).

O que justifica esse processo, segundo a definição é a comodidade expressiva, a saber, expressão da palavra de forma mais prática e viável em

situações linguísticas que exijam o registro do vocábulo de forma mais rápida e inteligível.

Henriques (2007) diz ainda que, eventualmente, a abreviação ocorre mediante um processo de acomodação ou deturpação fonética. Como, por exemplo, em Bonsuça (< Bom Sucesso), o nome primário é constituído por duas palavras bom e sucesso, é um nome extenso e que produz um certo incômodo na sua realização oral, fato que leva naturalmente a um processo de redução para uma acomodação na fala e sua posterior representação escrita (Bonsuça). Aqui o fato oral tem prevalência sobre o escrito no processo de redução, a grafia constitui-se apenas como uma representação de um fenômeno que ocorreu naturalmente na fala.

O autor também fala de uma deturpação fonética. Acreditamos que o termo “deturpação” não cabe bem para explicar a realização do fenômeno, uma vez que deturpação é um termo pejorativo, sugerindo que ocorre uma corrupção na língua. E a abreviação não se constitui como um processo de corrupção linguística, mas sim como uma ocorrência natural no âmbito da fala e da escrita. Não busca corromper, mas sim acomodar, facilitar e viabilizar de forma mais prática determinadas situações comunicativas; em outras palavras ocorre uma transformação e não uma deturpação.

Para Azeredo (2008, p. 467), a abreviação consiste em “criar lexemas mediante a redução da forma de uma construção que funciona como uma unidade lexical.” Nesse caso, então, a abreviação é compreendida como um processo de criação de lexemas. O lexema, no sentido geral, é uma unidade lexical de duas faces, uma relacionada à forma e outra ao conteúdo, podendo ser também entendido como um signo de natureza não gramatical. Ele constitui-se como a unidade de base do léxico, numa oposição léxico/vocabulário, em que o léxico se situa em relação à língua e o vocabulário à fala.

o O autor ainda afirma que existem três modelos principais de abreviação (2008, p.30-34):

1) Por redução, geralmente ao primeiro elemento, da forma lexicalmente complexa. • foto < fotografia • quilo < quilograma • lipo < lipoaspiração • moto < motocicleta • video < videocassete

Nesses casos, a palavra é formada por composição mediante justaposição, isto é, dois elementos que se unem formando uma palavra, gerando o que o autor chama de forma lexicalmente complexa. Esta, por sua vez, sofre o processo de abreviação, em que é eliminado o segundo elemento, ficando a forma reduzida constituída somente pelo primeiro (foto; quilo; lipo;

moto; video).

A redução também pode afetar palavras formadas por prefixação, como: • pré < pré-natal ou pré-vestibular • pós < pós-graduação • micro < microcomputador • vice < vice-presidente • ex < ex-namorado • tetra < tetracampeão • mini < minissaia • extra < extraordinário

Nos casos ilustrados acima, a abreviação ocorreu por um processo inverso ao de formação prefixal, isto é, ocorre uma supressão da palavra primitiva, ficando somente o prefixo (pré; pós; micro) para designar as palavras. Não há alteração de significado, somente na forma da palavra, pois o que antes era prefixo incorpora o sentido total do lexema original.

2) Supressão de uma sequência fonética, inicial ou final, sem significado próprio.

• Mengo < Flamengo (foi supressa a sequência fonética Fla); • Flu < Fluminense (foi supressa a sequência fonética minense); • Bete < Elisabete (foi supressa a sequência fonética Elisa); • Zé < José (foi supressa a sequência fonética Jo).

3) Representação de um nome composto ou de uma expressão por meio de unidades iniciais (fonemas, sílabas ou, até mesmo, os nomes das letras). Processo também conhecido como siglagem ou acronímia.

• CD < Compact Disk;

• CEP < Código de Endereçamento Postal;

• DETRAN < Departamento Estadual de Trânsito;

• EMBRATEL < Empresa Brasileira de Telecomunicações; • FUNAI < Fundação Nacional do Índio;

• FUVEST < Fundação Universitária para o Vestibular; • IBGE < Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;

• IBOPE < Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística; • IGPM < Índice Geral de Preços do Mercado;

• IOF < Imposto sobre Operações de Crédito; • INSS < Instituto Nacional de Segurança Social;

• IPI < Imposto sobre Produtos Industrializados; • IR < Imposto de Renda;

• ISV < Imposto sobre veículo;

• ONU < Organização das Nações Unidas; • PT < Partido dos Trabalhadores;

• PMDB < Partido do Movimento Democrático Brasileiro; • PIS < Programa de Integração Social;

• PASEP < Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público;

• SENAC < Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial; • SENAI < Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial; • USP < Universidade de São Paulo;

• SPC < Serviço de Proteção ao Crédito;

• S.O.S < Save our souls (mensagem de socorro);

Sandmann (1991, p. 51- 52) ressalta que a abreviação é um tipo de formação de palavras bastante produtivo - ela [a abreviação] é parte da vida moderna, com sua complexidade burocrática, administrativa, técnica e econômica, colaborando para a brevidade e densidade da comunicação linguística.

A modernidade impõe ao homem uma vida de velocidade no processo de comunicação e interação social, no trabalho, no processo de ensino-aprendizagem, em suma, em todos os processos cognitivos e sociais, exigindo que o falante seja rápido e inteligível na produção da fala e da escrita. Neste contexto, surge o processo de abreviação como recurso linguístico para realização do textos orais e escritos em menos tempo, mas que comunica a mesma ideia da palavra que a derivou e, que, com isso torna a comunicação em determinados contextos, que exijam menos tempo para comunicar pensamentos, mais veloz e eficiente.

É justamente nesse tipo de reflexão que se baseia a afirmação de Monteiro (1991) de que a abreviação, por fundamentar-se no princípio da economia da linguagem, viabiliza e facilita o emprego de parte de um vocábulo em lugar de vocábulo inteiro. A formação se dá, como vimos, pela substituição da parte pelo todo, por exemplo, acúst. < acústica, adjet. < adjetivamente, adm.

< administração. Utiliza-se aqui o conceito de economia da linguagem, que é

um princípio linguístico que gera várias mudanças na língua. A economia da linguagem consiste na acomodação de determinada ocorrência linguística para facilitar e viabilizar com mais clareza e simplicidade determinado fenômeno linguístico. No entanto, deixemos claro que o princípio da economia não significa que o falante sempre busca aperfeiçoar a língua, mas busca adaptações abreviadas e simplificadas de escrita para o rápido fluxo de comunicação.

Cunha (2007, p. 130) chama a atenção para os limites do processo: a abreviação ocorre com a “redução de frases e palavras até limites que não prejudiquem a compreensão.” Por exemplo, a palavra pneumático só pode ser reduzida até pneu, a supressão de mais um fonema, no caso o u, poderia comprometer o sentido da palavra, que ficaria pne; o mesmo sucede com a palavra quilograma, que se reduz até quilo, retirar o fonema o, poderia comprometer seu sentido (quil).

Alves (1994, p. 68) fala de um outro processo muito produtivo, denominado “truncação”: “ a formação de palavras pelo processo de truncação constitui um tipo de abreviação em que uma parte da sequência lexical, geralmente a final, é eliminada.” Guardadas as devidas proporções é o que acontece com a ‘redução”, conforme Azeredo (2008). Ela diz ainda que os colunistas sociais, ao primarem pelo emprego de expressões apelativas, utilizam a forma resultante do processo de truncação como, por exemplo, coq <

(4.1) • flagrante > flágra • jabuticaba > jabú • neurose > nêura • palhaço > pálha • professor > prófi • bijuteria > bijú • responsabilidade > respónsa