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As práticas de letramento e o objetivo do ensino de língua materna

2 RELAÇÕES ENTRE FALA E ESCRITA

2.3 Letramento e Alfabetização

2.3.3 As práticas de letramento e o objetivo do ensino de língua materna

A escola, enquanto instituição social que visa desenvolver habilidades e capacidades no aluno durante o processo de ensino- aprendizagem, tem como principais objetivos saber o que se deve ensinar e como ensinar. A primeira questão detém-se no âmbito dos conteúdos, enquanto que a segunda, no âmbito da metodologia.

Os conteúdos devem ser ensinados numa perspectiva contextualizada e significativa, isto é, devem ser selecionados de forma que

não fiquem isolados da realidade do aluno, devem ter relevância e poder contribuir para desenvolver as capacidades especificadas. Neste sentido, devem-se evitar os reducionismos, o que significa dizer que os conteúdos devem ser ensinados, mas não devem ser o foco do processo de ensino- aprendizagem.

A metodologia consiste na forma como devem ser transmitidos os conteúdos de modo a serem assimilados ou construídos com eficácia. Método é o caminho para se chegar a um fim determinado, portanto, o método pode ser múltiplo, desde que alcance o seu objetivo.

Neste contexto institucional escolar, em que se faz necessário pensar o ensino da língua materna, levando em consideração conteúdos e metodologia, é necessário que se pergunte: qual deve ser o objetivo do ensino da língua? Conteúdos e metodologias devem estar subordinados ao objetivo definido para se atingir quando se ensina uma língua ao aluno.

Ao pensar nestes objetivos, o professor tem que estar ciente das novas modalidades e formas de relação do aluno com a linguagem, isto é, deve-se pensar também na linguagem virtual, no ciberespaço, no internetês. Neste contexto, as práticas de letramentos devem permear todo o processo de desenvolvimento da capacidade de uso da leitura e escrita que envolve os domínios tradicionais da língua e os novos domínios derivados do advento da informática.

Segundo Bagno (2002, p. 52), deve-se propor, então, um ensino de língua que tenha o objetivo de direcionar o aluno a adquirir um grau de

letramento cada vez mais elevado, isto é, desenvolver nele um conjunto de

habilidades e comportamentos de leitura e escrita que lhe permitam o maior e mais eficiente uso possível das capacidades técnicas de ler e escrever.

O ensino de língua na contemporaneidade não pode mais se respaldar somente no ensino de gramática, pois este paradigma já foi rompido com o desenvolvimento dos estudos pragmáticos da língua. O paradigma atual

é a língua em uso, ou seja, a análise linguística deve focar seus estudos na língua em funcionamento, considerando a apropriação que o falante faz do sistema linguístico e da forma como ele utiliza esse sistema na sua interação social em contextos reais de comunicação.

O conceito de letramento como prática de uso da leitura e escrita se justifica na nova forma de se pensar o ensino da língua, que visa ao uso social da linguagem em situação real de comunicação. Sendo, desta forma, a concepção adotada para as análises neste trabalho: O que se quer afirmar é o fato de a linguagem se realizar em qualquer espaço e suporte, embora, o contexto, o espaço, o suporte sejam importantes para o funcionamento linguístico.

Uma situação que exija um grau maior de formalidade, mais tensa, requer uma prática de letramento para esse ambiente social. Em contrapartida, o contexto menos formal e menos tenso já exigirá outra prática de letramento. O importante é desenvolver as capacidades e habilidades de leitura e escrita para uso em diferentes contextos sócio-comunicativos.

Os conteúdos devem estar subordinados aos objetivos do ensino que tem como base o desenvolvimento das capacidades e habilidades de ler e escrever, isto é, as práticas de letramento em contextos reais. Por isso, não se admite que as seleções dos conteúdos levem apenas em consideração as teorias gramaticais tradicionais que apregoavam que o ensino da língua devia se basear nos conteúdos das gramáticas normativas. Com isso, não se está afirmando que o ensino da gramática normativa é inútil, mas que precisa ser revisado de forma que se articule com as situações comunicativas reais.

Os conteúdos devem ser pensados também em uma perspectiva pragmática, isto é, devem ser selecionados tendo como critério contextos diversificados de uso da língua, fato que descarta o conteúdo de ensino da língua na perspectiva formal como o único meio válido e que, portanto, deve ser ensinado nas escolas.

Conteúdos de situações informais de comunicação social devem também ser aproveitados pela escola, uma vez que o letramento não é delimitado exclusivamente em ambientes formais, mas está presente nos informais. Por isso, devem-se utilizar/abordar conteúdos como linguagem coloquial, diferenças dialetais, gírias, lexias regionais. Nesse contexto, os chats são veículos de comunicação possíveis e válidos de trabalhar em sala de aula para explorar questões linguísticas que envolvem práticas de escrita dos alunos. O ambiente escolar precisa valorizar e trazer para efeito de benefícios na aprendizagem a realidade do aluno moderno. Sabemos que mesmo aqueles que não tem acesso a um computador em casa, podem encontrar na escola espaços para a utilização dessa mídia.

No que tange à metodologia aplicada ao ensino de língua que visa ao desenvolvimento de práticas de letramentos, ela tem que viabilizar o processo de uso da língua em contextos reais de produção. Neste sentido, a interação social em sala de aula entre docente e discente adquire uma importância fundamental, pois permite que o aluno utilize a fala e a escrita para dialogar e expressar sua opinião e construir, na discussão, sua concepção de mundo e sua postura sociopolítica em relação à realidade. Portanto, a metodologia deve pautar-se no uso efetivo da língua em práticas de letramento que possibilitem o desenvolvimento de comportamentos sociolinguísticos diversificados para contextos diferentes.