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5. O COMPORTAMENTO DA ESCRITA NO CIBERESPAÇO: divergências e

5.2 Análise dos dados

5.2.1 O papel dos fatores extralingüísticos

5.2.1.6 Considerações gerais acerca dos resultados obtidos

Ao longo das análises das ocorrências por localidade alguns dados por região nos chamaram atenção. Os dados pontuados em cada região servirão de base, nesta subseção, para destacar evidências que contribuirão para os resultados do que foi proposto neste estudo.

Ao observarmos o quadro 12, abaixo, temos um panorama das regiões estudadas, a partir dos dados divergentes. Nesta análise, podemos

inferir que quanto menos se diverge da escrita padrão, mais conservador é o grupo. .

Resultados divergentes - parâmetros sexo e categorização idade

Florianópolis São Paulo Brasília Belém São Luís

Adolescentes Feminino 22,81% 52,88% 2,73% 9,33% 8,60% Masculino 16,33% 41,73% 6,02% 2,13% 1,07% Adultos Feminino 34,93% 4,73% ,50% 2,57% 0,50% Masculino 44,80% 15,72% 7,73% ,93% 3,81%

Quadro 12 – Divergentes – cidades/idade/sexo

Com base nos índices mostrados no Quadro 12, temos evidências de que as informantes adultas paulistanas são as mais conservadoras de toda a análise feita, seguidas pelas os informantes adultas brasilienses. Na sequência temos os homens adultos belenenses, as mulheres adultas ludovicenses e os informantes adolescentes florianopolitanos do sexo masculino. Um dado que se destaca neste universo é o fato de que na cidade de Florianópolis são os adolescentes do sexo masculino os mais conservadores, o que vai contra uma hipótese geral, comprovada para outros fenômenos em variação, de que os adultos seriam mais resistentes a mudanças.

Por região temos resultados: na cidade de Florianópolis os adolescentes do sexo masculinos são os mais conservadores e os adultos do sexo masculinos os menos conservadores. Na cidade de São Paulo são os adultos do sexo feminino os mais conservadores e os adolescentes do sexo feminino os menos conservadores. Já na cidade de Brasília os mais conservadores são os adultos do sexo feminino e os menos conservadores os adolescentes do sexo feminino. Da mesma forma em São Luís, os adultos do sexo feminino são os mais conservadores e os adolescentes do sexo feminino os menos conservadores. Podemos concluir, então, que nas cidades de São Paulo, Brasília e São Luís as mulheres adultas são as mais conservadoras e as mulheres adolescentes as menos conservadoras. Outra constatação é na cidade de Belém, os adultos do sexo masculino são os mais conservadores e as adolescentes do sexo feminino as menos conservadoras.

Este resultado reforça a visão de Luchesi (2004, p.90) de que: A visão unitária de uma única língua que recobre as diferenças lingüísticas, tanto no plano diastrático das diferenças sociais, quanto no plano diatópico das diferenças regionais, fundamenta-se, para além dos influxos políticos, na perspectiva teórica que focaliza o funcionamento abstrato da língua circunscrito à sua função comunicativa, ou é tributária da teoria de uma competência lingüística que reflete os mecanismos mentais do funcionamento da faculdade da linguagem, abstraídas as condições concretas de uso da língua.

Resultados divergentes - categorização idade

Florianópolis São Paulo Brasília Belém São Luís

Adolescentes 19,57% 47,31% 29,38% 20,73% 44,84%

Adultos 39,87% 10,23% 17,62% 10,75% 27,16%

Reforçando esta informação, oriunda das análises, o Quadro 13 agrega dados condensados por faixa etária, independentemente de sexo: os resultados ressaltam os adolescentes de Florianópolis e os de Belém como os que menos divergem, ou seja, são, no universo das cinco regiões estudadas os mais conservadores.

Ao agregarmos os dados e calcularmos as médias por sexo, verificamos que as mulheres e os homens de Belém são os mais conservadores. Dados que podem ser observados no Quadro 14:.

Resultados divergentes – sexo

Florianópolis São Paulo Brasília Belém São Luís

Feminino 28,87% 28,81% 20,12% 15,95% 29,55%

Masculino 30,57% 28,73% 26,88% 15,53% 42,44%

Quadro 14 – Divergentes – cidades/sexo

O Quadro 15 condensa os resultados por região. As médias apontam que, das cidades estudadas, Belém é a cidade em que os “internautas” são mais conservadores e São Luís em que estão os que mais se divergem. Dado interessante, uma vez que Belém encontra-se na região norte e São Luís na região nordeste, e a proximidade geográfica não foi uma prerrogativa para a proximidade de comportamentos.

Resultados divergentes – Região

Florianópolis São Paulo Brasília Belém São Luís

Média da cidade 29,72% 28,77% 23,50% 15,74% 36%

Quadro 15 – Divergentes –média resultados cidades

Para Freitag e Fonseca (2006, p 39):

O uso da língua em ambientes de comunicações virtuais está indo em direção ao surgimento de um subconjunto da norma padrão – uma espécie de subnormal condicionadas pelas pressões do meio. Cabe salientar que não se trata de mais uma variedade mas sim de um subconjunto da norma pois não podemos fazer a associação entre variedade e região.

Thurlow e Brown (2003) sugerem que para se estabelecer a comunicação em ambientes virtuais é necessário que o internauta domine a norma padrão de sua língua. O internauta que não domina a norma padrão não pode valer-se da reestruturação paralinguística. Segundo os autores:

A recuperação de vogais elididas, por exemplo, só pode ser feita por um internauta que tenha intuições linguísticas aguçadas, tanto para o usuário remetente que codifica, como para o destinatário que decodifica. (THURLOW; BROWN 2003, p. 15 ).

Desta forma podemos constatar a partir dos dados analisados que existem três máximas que devem ser observadas nos ambientes virtuais de comunicação apontadas por Thurlow e Brown (2003):

a) Todas as convenções no âmbito do “internetês” são estabelecidas a partir da norma padrão;

b) Para se comunicar neste ambiente é preciso dominar a norma padrão e as máximas de interação entre os seus usuários;

c) As diferenças dialetais são sempre minimizadas por seus usuários.

Desta forma explica-se que existam situações em que pessoas com mais vivência no uso da norma padrão, seja pelo nível cultural, social, seja pela idade cronológica, nível de escolaridade possam abolir determinadas convenções com a finalidade de estabelecer a comunicação de forma mais próxima à habitual naquele universo. Esta pode ser uma explicação para o caso de Florianópolis com relação aos adultos, que apresentam um índice comparativamente alto de formas divergentes. Podemos inclusive inferir que o uso da internet é um fato recente para os mais idosos, mas para os mais jovens pode se configurar a representação iconográfica de sua existência, pois nasceram em um ambiente em que esta forma de ter acesso a comunicação e de se comunicar é uma realidade.

As dimensões do Brasil e as variações e mudanças linguísticas de cada região não comprometem a comunicação; observamos ao longo desta pesquisa que, independente da faixa etária e do sexo, a comunicação não é comprometida, em sua expressão escrita, mesmo diante das variações existentes em relação à norma padrão, estabelecidas nos ambientes virtuais.

Nesta seção, apresentamos o universo da pesquisa, especificando os procedimentos metodológicos adotados e as descrições e análises dos dados que compõem o corpus desta pesquisa, a comparação entre os usos observados em cada uma das capitais estudadas.