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4.1 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1.6 Absolvição e condenação no Tribunal de Justiça de Santa Catarina

59% 25% 8% 8% Suficiência de prova Aplicação / substituição de pena Dosimetria Pronúncia

Como já mencionado neste trabalho, (vide item 4.1.3, p. 54), e corroborado conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o que se tem é o sistema de livre convencimento.

Vigora no sistema processual penal brasileiro o princípio do livre-convencimento motivado do juiz, consoante o disposto no artigo 155, caput, do Código de Processo Penal, pelo qual o magistrado pode formar o seu convencimento livremente, ponderando as provas que desejar, valorando-as conforme o seu entendimento, ressalvados os casos de provas tarifadas, desde que o faça fundamentadamente. (STJ, RHC 25.475/SP, 5a T., rel. Min. Jorge Mussi, j. 16-9-2010).

O gráfico 10 representa o número de absolvições e condenações pelo crime de embriaguez ao volante conforme os acórdãos do tribunal de justiça do estado de Santa Catarina. Deste ponto em diante considera-se um total de 93 acórdãos, número este descontado os 7 julgados em que não se recorreu da sentença de primeira instância pelo crime de embriaguez ao volante, conforme gráfico 8 (p. 61).

Gráfico 10. Absolvições e condenações no TJ/SC.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2019.

Pelo gráfico 10 constata-se que nos acórdãos julgados pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, 91 acórdãos (98%) dos processos resultaram em condenação pelo crime de embriaguez ao volante, enquanto 2 (2%) restaram em absolvições.

Em comparação com o gráfico 4 (vide item 4.1.4, pag. 52), pode-se perceber que dos 9 processos em que resultaram absolvição em primeiro grau de jurisdição, em 7 destes, o Tribunal de Justiça entendeu que pela reforma no sentido de condenar o réu pelo crime de embriaguez ao volante.

Impende salientar que desta análise, apenas manteve-se absolvições já declaradas em 1º grau de jurisdição, não se vê aqui, o Tribunal de Justiça absolver alguém que tenha sido condenado em 1º grau de jurisdição.

98%

2%

Condenação Absolvição

4.1.6.1 Meios de prova das absolvições nos acórdãos do TJ/SC

Considerando os acórdãos com sentença absolutória, o gráfico 11 mostra os meios de prova utilizado.

Gráfico 11. Meio de prova nos acórdãos absolutórios.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2019.

Como exposto no gráfico 11, de 2 ( 2% ) dos acórdãos que restaram com sentença absolutória, destes, 1 (50%) tiveram como meio de prova o auto de constatação dos sinais de embriaguez (ACSE) + relatório em pronto atendimento; 1 (50%) dos processos o meio de prova utilizado foi o teste de etilômetro.

No acórdão absolutório -Apelação Criminal n. 0004164-83.2015.8.24.0019 - que teve seu meio de prova o auto de constatação dos sinais de embriaguez confeccionado pela Polícia Rodoviária Federal, juntamente com relatório em pronto atendimento hospitalar, a excelentíssima desembargadora assim descreve seu voto:

Desse modo, considerando as contradições acima expostas, bem como que o réu poderia estar desorientado pelo próprio sinistro, aliado ao fato dos próprios policiais terem descrito no termo de constatação fl. 13 que não havia como atestar a alteração da capacidade psicomotora, não há certeza necessária e imprescindível para se reformar a sentença absolutória. Dito isso, porque a condenação não deve ter alicerce em presunção, mas sim no resultado da prova produzida nos autos, o que, no caso presente, não se mostrou suficiente para condenar o réu. Diante de todos esses elementos há de ser mantida a absolvição do réu apelado, diante da aplicação do princípio do in dubio pro reo, nos termos do artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal. (SANTA CATARINA, 2018, p. 9)

Verifica-se que não se põe em dúvida o meio de prova em si, até porque, também enfatiza que “a própria legislação não exige qualidade especial do agente estatal para ele possa constatar sinais que indiquem a alteração”, mas diante da contradição expressa no documento, e não lembrança da ocorrência, se fez gerar dúvida.

50%

50% ACSE + relatório em pronto

atendimento Etilômetro

No segundo acórdão absolutório - Criminal n. 0007842-89.2014.8.24.0036 – o meio de prova utilizado pela Polícia Militar foi o etilômetro, destacando-se do voto da Excelentíssima Desembargadora:

(...) pelo depoimento das testemunhas arroladas pela acusação, há nítida insuficiência de provas sobre o fato de o acusado ter dirigido veículo automotor embriagado. No caso, a prova produzida em juízo não deixa claro se o acusado realmente era o condutor do veículo ou se estava em seu interior, e se os policiais foram os responsáveis por atender a ocorrência de trânsito e abordar o réu. (...) diante da ausência de prova robusta formulada sobre o crivo do contraditório capaz de condenar o acusado pela prática do delito do art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro, entendo pela manutenção da absolvição do réu, ante o princípio do in dubio pro reo. (SANTA CATARINA, 2018, p. 5)

Portanto nesse caso, a dúvida não se fez ao entorno do meio de prova, mas sim, em relação a elementar do tipo “conduzir veículo automotor”, no que tange à autoria do ilícito.

4.1.6.2 Meios de prova das condenações nos acórdãos do TJ/SC

Considerando os acórdãos com sentença condenatória, o gráfico 12 mostra os meios de prova utilizado, cumulativamente ou isoladamente com outro. Pertinente lembrar que em nosso sistema não existe hierarquia de provas, ou seja, não há, a priori, a determinação de meios de prova mais ou menos relevantes para a resolução das questões controvertidas (MOUGENOT, 2018, p.436).

Como se mostra neste caso, todo o meio de prova legal é apto a embasar uma condenação, o testemunho policial, bem como o auto de constatação dos sinais de embriaguez (ACSE), são os meios de prova que aparecem em maior quantidade nas condenações, de maneira isolada ou cumulada com outro meio de prova, neste sentido o Desembargador do TJSC Dr. Sérgio Rizelo, na apelação criminal n. 0001756-46.2015.8.24.0011 enfatiza que :

(...) o teste do bafômetro, exame de sangue e o auto de constatação são provas equivalentes, capazes de demonstrar a alteração da capacidade psicomotora. Além disso, todas têm a característica da irrepetibilidade. (...) A colheita da prova da embriaguez só pode ser feita imediatamente, uma vez que os efeitos do álcool no organismo humano, como é sabido, esvaem-se com o passar do tempo. Não há como, em Juízo, comprovar a alcoolemia. Do mesmo modo, é impossível realizar novo termo de constatação de sinais visíveis de embriaguez, pois terão desaparecidos os "que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora" (CTB, art. 306, II). (SANTA CATARINA, 2018)

Como se vê, a prova da embriaguez é direta e irrepetível, visto que com o decorrer do tempo a embriaguez e seus sinais desaparecem, não podendo ser novamente produzida em juízo, mas sim, somente naquele momento.

No mesmo sentido, o Desembargador Dr. Roberval Casemiro Belinati, do TJ do Distrito Federal, na apelação criminal 0005311-82.2014.8.07.0010 aduz que “o laudo de exame de embriaguez realizado em sede inquisitorial é prova não repetível em juízo, tratando- se, portanto, de prova apta para fundamentar uma condenação, pois se encontra no rol de exceções elencado na parte final do caput do artigo 155 do CPP” (DISTRITO FEDERAL, 2015) .

Gráfico 12. Meio de prova nos acórdãos condenatórios.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2019.

Como se observa no gráfico 12, em 22 (22%) dos acórdãos condenatórios o meio de prova utilizado foi o etilômetro; 21 (21%) ACSE; 16 (16%) etilômetro + testemunha policial; 12 (12%) ACSE + testemunha policial; 6 (6%) ACSE + confissão + testemunha

22% 21% 2% 6% 12% 5% 16 % Etilômetro ACSE

Etilômetro + testemunha policial ACSE + testemunha policial

ACSE + confissão + testemunha policial Exame clínico

ACSE + confissão

Etilômetro + testemunha

Etilômetro + testemunha policial + confissão Etilômetro + testemunha + confissão Etilômetro + ACSE + testemunha policial ACSE + testemunha

ACSE + testemunha policial + laudo em pronto atendimento + confissão + depoimento da vítima ACSE + testemunha policial + laudo em pronto atendimento + confissão

Exame clínico + testemunha policial Exame clínico + ACSE + tetemunha policial Exame clínico + ACSE + tetemunha policial + confissão

Exame clínico + ACSE + testemunha Exame clínico + ACSE

Exame clínico + ACSE + laudo em pronto atendimento

policial; 5 (5%) exame clinico; 2 (2%) ACSE + confissão. Os demais meios de prova ficaram representados na proporção de 1 (1%) cada, conforme a legenda do gráfico 12.

É visto que, conforme Pacelli (2018, p. 344), se sugere a especificidade da prova, cuja consequência, entretanto, não seria a existência de uma hierarquia.

No tocante à contraprova, no intuito de contrapor as então produzidas, novamente esclarece o Desembargador do TJSC Dr. Sérgio Rizelo, na já citada apelação criminal n. 0001756-46.2015.8.24.0011, que se não for demonstrado que não foi permitido ao apelante produzir contraprova não há ilegalidade, o que é uma faculdade do próprio apelante, sendo seu o ônus probatório, e não uma obrigatoriedade imposta aos Agentes Estatais. Uma vez que se não for solicitada a contraprova não haverá mácula a ser reconhecida. Acaso deseja-se contraditar o auto de constatação e o testemunho dos Policiais Militares, a contraprova é ônus do apelante, e não dos Agentes Estatais. (SANTA CATARINA, 2018)

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