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ABUSO DO PODER

No documento Código de trânsito brasileiro (páginas 33-37)

2 DIREITO ADMINISTRATIVO

2.4 ABUSO DO PODER

De acordo com Meirelles, “O abuso do poder ocorre quando a autoridade, embora competente para praticar o ato, ultrapassa os limites de suas atribuições ou se desvia das finalidades administrativas.”55 Dessa forma se a autoridade pública legalmente investida pratica um ato não inserido no contexto de sua competência ou, se é competente e excede naquilo que o mandamento legal permite ou, ainda, pratica um ato de seu exclusivo interesse, estará assim cometendo o denominado abuso do poder.

Em determinadas situações o abuso do poder se apresenta ostensivo como a truculência, outras vezes, dissimulado como o estelionato, geralmente encoberto pela aparência ilusória dos atos ilegais.56

O abuso do poder ocorre tanto por ação como por omissão, sendo revestido tanto da forma comissiva como da omissiva. Ocorrendo esta última quando da inércia da autoridade

54Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-á auto de infração, do qual constará: I - tipificação da infração; II - local, data e hora do cometimento da infração; III - caracteres da placa de

identificação do veículo, sua marca e espécie, e outros elementos julgados necessários à sua identificação; IV - o prontuário do condutor, sempre que possível; V - identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou agente autuador ou equipamento que comprovar a infração; VI - assinatura do infrator, sempre que possível, valendo esta como notificação do cometimento da infração. Cf. BRASIL. Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9503.htm> Acesso em: 16 maio 2011. 55MEIRELLES, 2010. p. 102.

administrativa, deixando de executar determinada prestação de serviço a que por lei está obrigada, lesando o patrimônio jurídico individual.57

Para socorrer-se do abuso do poder a Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 5º, LXIX, prevê o mandado de segurança, nomeado por Meirelles como o remédio heróico58, cabível contra qualquer autoridade, in verbis:

Art. 5º [...]

LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou hábeas data, quando o irresponsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.59

A lei 1533/51 é a legislação específica que trata sobre o Mandado de Segurança. A Carta Magna em seu artigo 5º, XXXIV, “a”, ainda estabelece, in verbis:

Art. 5º [...]

XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder.60

Este dispositivo constitucional assegurou a toda pessoa o direito de representação contra o abuso de poder, com a isenção do pagamento das taxas.

A Lei 4.898, de 09 de setembro de 1965, é um complemento para as disposições constitucionais, que regula o direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, contra o agente público autor do abuso de autoridade. Dessa forma, os agentes de trânsito, os quais também são agentes públicos, respondem por abuso de autoridade, desde que ajam com excesso ou desvio de finalidade.61

Assim, o gênero abuso de poder, também conhecido pela doutrina como abuso de autoridade, divide-se em duas espécies bem caracterizadas: o excesso de poder e o desvio de finalidade.

O excesso de poder ocorre quando o administrador age claramente além de sua

competência, sendo embora competente para praticar o ato. O agente público exorbita o permitido no uso de suas faculdades administrativas ou contorna dissimuladamente as

57LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revistas do Tribunal, 1999. p. 35. 58

MEIRELLES, 2010. p. 95.

59BRASIL; PINTO, Antonio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Livia.

CLT Saraiva acadêmica e constituição federal. 8. ed. atual. e aum. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 11.

60

Ibid. p. 8.

61MINAS GERAIS. Polícia Militar de Minas Gerais. O Alferes. Belo Horizonte, v.13, n. 45, p. 120-124, abr.- jun. 1997.

limitações da lei, para arrogar-se dos poderes que lhe são atribuídos legalmente. O excesso de poder torna o ato arbitrário, ilícito e nulo.62

O desvio de finalidade ou de poder ocorre quando a autoridade, atuando no

limite de sua competência, pratica o ato por motivos ou com fins diversos dos objetivados pela lei ou exigido pelo interesse público. É a violação ideológica da lei, ou em outras palavras, a violação moral da lei.63

Há necessidade, porém, de se identificar os indícios e características que revelam a distorção do fim buscado pelo legislador, que levam a produção de objetivo ilegal ou imoral. Cita-se também, o princípio constitucional da proporcionalidade que tem como objetivo evitar que excessos sejam cometidos, como abuso de poder ou desvios de finalidade. É o que aborda Meirelles com o seguinte ensinamento, "a desproporcionalidade do ato de polícia ou seu excesso equivale a abuso de poder e, como tal, tipifica ilegalidade nulificadora da sanção”.64

Já o princípio da legalidade, anteriormente explicado, aqui se revela como uma garantia para os administrados, pois qualquer ato da Administração Pública somente terá validade se respaldado em lei, em sua acepção ampla, representa um limite para o Estado e proteção do administrado em relação ao abuso de poder.

Disserta-se, portanto, que os princípios do direito administrativo: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, somados ao exercício do ato sem abuso de poder são de suma importância para a validade do ato administrativo e devem ser observados em qualquer esfera da administração pública.

Quanto ao poder de polícia, que está inerente a polícia administrativa, pode-se constatar que aquele exerce a função coercitiva da administração, essencial para fazer valer sua vontade, funcionando assim, como mecanismo para a autoexecutoriedade dos atos da administração pública. Porém, tal poder não deve exceder o seu limite previsto em lei, sob pena de ser considerado abuso de poder ou desvio de finalidade, ocasionado um vício em seu ato.

Conhecendo os princípios administrativos, os atos administrativos, seus elementos e vícios, será possível compreender melhor a função e algumas particularidades do Código de Trânsito Brasileiro no que se referem ao Sistema Nacional de Trânsito e suas atribuições, bem

62

MEIRELLES, 2010. p. 104. 63Ibid.

como, quanto às infrações e recursos administrativos na seara de trânsito, que serão objetos de estudo do próximo capítulo.

No documento Código de trânsito brasileiro (páginas 33-37)

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