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RECURSOS ADMINISTRATIVOS QUANTO AS MULTAS DE TRÂNSITO

No documento Código de trânsito brasileiro (páginas 46-51)

3 CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO

3.6 RECURSOS ADMINISTRATIVOS QUANTO AS MULTAS DE TRÂNSITO

Recursos administrativos são utilizados como meio de defesa quando a parte litigante não concorda com determinado ato da administração que lhe possa causar prejuízo, ou percebe que não foram cumpridos os requisitos legais. Tal instrumento é uma garantia constitucional, inserida no art. 5, inciso LV da CF42, em favor do cidadão, para se opor caso não se conforme diante de uma decisão ou ato do Estado.

Assim, esclarece Di Pietro que: a reclamação administrativa é o ato pelo qual o administrado, seja particular ou servidor público, deduz uma pretensão perante a Administração Pública, visando obter o reconhecimento de um direito ou a correção de um ato que lhe cause lesão ou ameaça de lesão.43

40BOLDORI, 2008. p. 42. 41

Art. 281, parágrafo único, inciso I. O auto de infração será arquivado e seu registro julgado insubsistente: se considerado inconsistente ou irregular. Cf. BRASIL. Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9503.htm > Acesso em: 16 maio 2011.

42Art. 5, LV. Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. Cf. BRASIL. Constituição Federal. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm > Acesso em: 24 maio 2011.

Com relação às infrações de trânsito, recurso é o meio de defesa e reclamação utilizado pelo autuado perante a administração, objetivando a revisão de uma decisão a que imputa irregularidades ou falhas.

O direito de recurso, em matéria de trânsito, tem assentamento constitucional no art. 5, XXXIV, letra “a”, e art. 5, LV que diz:

Art.5.Omissis; [...]

XXXIV – São a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos poderes públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidades ou abuso de poder.

[...]

LV. Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. 44

Com o amparo constitucional, fica assegurado ao infrator o direito de ter seu recurso apreciado na esfera administrativa, por meio do qual apontará as irregularidades ou falhas da sanção aplicada, como é a função da defesa prévia. Esta funciona como o direito daquele que foi autuado por infração de trânsito de apresentar defesa antes de se ver penalizado.

O CONTRAN editou a Resolução 149/03 tratando da defesa prévia estabelecendo em seu art. 3, §2 o seu prazo:

Da Notificação da Autuação constará a data do término do prazo para a apresentação da Defesa da Autuação pelo proprietário do veículo ou pelo condutor infrator devidamente identificado, que não será inferior a 15 (quinze) dias, contados a partir da data da notificação da autuação.45

A manifestação do autuado, antecedendo-se ao ato punitivo da autoridade, antes de tudo, visa diminuir o cometimento de injustiças contra o cidadão e, também, fornecer elementos capazes de tornar os fatos mais claros para o julgador que terá uma visão mais abrangente, o que conduz ao acertamento da decisão. O julgador poderá manter a autuação caso entenda que não houve abuso de poder, falta de motivo ou de preenchimento adequado dos requisitos legais.

Porém, a decisão desta autoridade não é soberana, podendo ser revista pela JARI, que passaremos a explicar.

44

BRASIL; PINTO, A; WINDT, M; CÉSPEDES, L, 2010. p. 8. 45BRASIL. Resolução n. 149 de 2003 CONTRAN. Disponível em: <

3.6.1 Junta Administrativa de Recursos de Infração de Trânsito – JARI

O próprio CTB dispõe expressamente em seu art. 1646, que cada órgão ou entidade executiva de trânsito ou rodoviária devem criar e instalar o que a legislação cognominou de JARI.

Desta forma, segundo Di Pietro, “a junta, como o próprio nome sugere, se constituirá num colegiado que ficará responsável pelo julgamento dos recursos interpostos contra as penalidades impostas pela autoridade de trânsito que se vincular”.47

O recurso em matéria de trânsito deve ser interposto dentro do prazo estabelecido pelo CTB, que é de no mínimo 30 dias, de acordo com art.282, §448. Uma vez escoado o prazo estipulado, torna-se precluso, para o autuado, o direito de recorrer.

Estabelece o art. 282, caput, e seus §§ 4º e 5º, CTB:

Art. 282. Aplicada a penalidade, será expedida notificação ao proprietário do veículo ou ao infrator, por remessa postal ou por qualquer outro meio tecnológico hábil, que assegure a ciência da imposição da penalidade.

[...]

§ 4º Da notificação deverá constar a data do término do prazo para apresentação de recurso pelo responsável pela infração, que não será inferior a trinta dias contados da data da notificação da penalidade.

§ 5º No caso de penalidade de multa, a data estabelecida no parágrafo anterior será a data para o recolhimento de seu valor.49

Portanto, o recurso a ser interposto pelo autuado terá um prazo não inferior a 30 (trinta) dias contado a partir da data da notificação da penalidade e, julgado, ainda estão sujeitas a revisão, conforme veremos a seguir.

46Art. 16. Junto a cada órgão ou entidade executivos de trânsito ou rodoviário funcionarão Juntas

Administrativas de Recursos de Infrações - JARI, órgãos colegiados responsáveis pelo julgamento dos recursos interpostos contra penalidades por eles impostas. Cf. BRASIL. Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9503.htm > Acesso em: 16 maio 2011.

47DI PIETRO, 2005. p. 138.

48Art. 282, §4. Da notificação deverá constar a data do término do prazo para apresentação de recurso pelo responsável pela infração, que não será inferior a trinta dias contados da data da notificação da penalidade. Cf. BRASIL. Loc. cit.

3.6.2 Recurso em 2ª instância – CETRAN

Julgada a defesa interposta na JARI, ainda em decorrência dos princípios da ampla defesa e contraditório (art. 5, LV da CF), não é definitiva, e pode ser atacada mediante recurso ao respectivo CETRAN.

Dispõe o art. 288, do CTB, que:

Art. 288. Das decisões da JARI cabe recurso a ser interposto, na forma do artigo seguinte, no prazo de trinta dias contado da publicação ou da notificação da decisão.50

Da decisão da JARI, conforme Silva, “deve ser notificada ao recorrente, para que, se querendo, possa interpor recurso junto ao CETRAN. O recurso é analisado, em 2ª instância, pelo Conselho Estadual de Trânsito (CETRAN ou CONTRADINFE)”.51

Assim sendo, em caso de indeferimento do recurso pela JARI, haverá a possibilidade de reanálise pelo CETRAN, que confere segurança ao autuado.

Está assim disposto no CTB:

Art. 14. Compete aos Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e ao Conselho de Trânsito do Distrito Federal - CONTRANDIFE:

[...]

V - julgar os recursos interpostos contra decisões: a) das JARI.52

No caso de penalidade de multa, para que o recurso seja admitido, com seu conteúdo de mérito analisado, não há mais necessidade da comprovação do recolhimento de seu valor, conforme estabelecido no art. 288, §2º do CTB53, pois este foi revogado pela lei nº 12.249 de 2010.

A exigência de depósito prévio para a interposição de recurso era conhecida juridicamente como garantia de instância.54

50PORTÃO, 2009.

51SILVA, José Geraldo da; SOPHI, Roberta Ceriolo. Dos Recursos em matéria de trânsito. 6ª ed. Campinas:2003. p. 40.

52PORTÃO, 2009.

53Art. 288, §2 No caso de penalidade de multa, o recurso interposto pelo responsável pela infração somente será admitido comprovado o recolhimento de seu valor. Cf. BRASIL. Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9503.htm > Acesso em: 16 maio 2011.

Desta forma, não sendo mais necessário o depósito prévio do valor da multa, o CETRAN deverá examinar as razões em que se funda o recurso independentemente do pagamento da multa, garantindo assim ao autuado o efetivo acesso ao duplo grau, ampla defesa e contraditório.

Contudo, foi abordado neste capítulo o Sistema Nacional de Trânsito, apontando seus entes e órgãos, a quem compete à administração do trânsito, as suas atribuições e a circulação com o objetivo de proporcionar ao administrado um trânsito seguro e com maior fluidez.

Apontamos, também, as diversas sanções de trânsito, incluindo o documento formal de sua imposição, que devem observar os princípios da administração pública, assim como seus requisitos formais, para que possam ser considerados consistentes.

Com a inobservância dos princípios estudados no capítulo anterior e os requisitos expostos neste capítulo, é direito do autuado interpor recurso, na esfera administrativa, quanto a infração.

Em primeiro momento, exercendo a defesa quanto à autuação, cabe o recurso denominado defesa prévia, que é amparada pelo princípio constitucional do direito de petição. Se ainda, descontente de seu julgamento, é de pleno direito interpor novo recurso a JARI que, contudo, de sua decisão ainda cabe recurso ao CETRAN, com intuito de exercer o duplo grau de jurisdição, esgotando assim, as esferas recursais no âmbito administrativo.

Requisito indispensável para a interposição da autuação de trânsito é a competência do agente autuador, que passaremos a discorrer no capítulo seguinte.

No documento Código de trânsito brasileiro (páginas 46-51)

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