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QUADRO 1 – DISTRIBUIÇÃO DAS PRESENÇAS DE COLECTORES E TRABALHADORES EM PORTO COVO (1879) Nome C

2.2. A acção dos colectores

As funções dos colectores são de extrema versatilidade: se António Mendes dirige os trabalhos, também ajuda a encher os baldes de terra da escavação. No início, Joaquim Scola cozinha para todos, de manhã, mas à tarde já está na gruta. José Carreira enche baldes (cuvos, por cubos, como no castelhano actual) e Miguel Pedroso puxa-os (transporta-os), naturalmente para fora da gruta.

António Mendes é o indiscutível chefe da operação, mas surgem trabalhos específicos cla- ramente indicados, de que se ocupa, e percalços, como uma doença inesperada, que o afasta da gruta por cinco dias (de 18 a 22 de Fevereiro) e o mantém a descansar outros dois (24 e 25 de Fevereiro). Dos 23 dias restantes, um é passado exclusivamente na direcção dos trabalhos, três são passados a ajudar a encher os baldes com terra, um a explorar a gruta, 15 a desentulhar, três «furando» (provavelmente retirando terra para escavar os sedimentos), e um a procurar ossos nas terras removidas do interior da gruta.

Os outros colectores têm diferentes funções.

Joaquim Scola cozinha para o grupo de manhã e trabalha à tarde, de 29 de Janeiro a 1 de Feve- reiro, mas deve ter protestado pela acumulação de serviços (ou sido mais necessário no terreno) e se de 2 a 14 de Fevereiro apenas está registada a sua participação culinária, a seguir, e até ao fim, passa a escavar e nenhuma referência à sua anterior actividade na cozinha é feita no quadro. Passa dois dias a escavar, sem outra especificação (17 e 18 de Fevereiro), cinco a escavar com pica- reta (15, 16, 19, 20 e 23 de Fevereiro), dois a encher baldes (21 e 22 de Fevereiro) e finalmente, já no fim da sua participação, passa um dia a procurar ossos (26 de Fevereiro), retirando de seguida por ordem de Carlos Ribeiro. A menção de «faser comer» é atribuída a um dos trabalhadores do grupo menos qualificado (José Isidoro) de 14 a 22 de Fevereiro. Vai então «passar o Entrudo à terra» e não torna a ser referido, a não ser a 27, por cessação efectiva de serviço.

José Carreira é o colector mais constante nas suas actividades: de 29 de Janeiro a 20 de Feve- reiro apenas enche os baldes, a 21 e 22 escava mesmo e a 23 torna a encher baldes para entrar de repouso até ao fim dos trabalhos.

Miguel Pedroso puxa baldes durante 12 dias, abre um caminho para o carrinho de mão passar durante um dia, escava e enche baldes durante quatro dias, parte pedra durante um dia, cava com picareta durante quatro, procura ossos durante um.

António Monteiro, que chega à escavação a 3 de Fevereiro, retira-se a 9 para Belas, para voltar a 13. Substitui na direcção dos trabalhos António Mendes, quando este adoece. As suas actividades são muitas vezes idênticas às de António Mendes, de quem parece ser o segundo em comando. Em Fevereiro, de 3 a 8, as suas actividades são exactamente as mesmas que as de António Men- des. De 13 a 16, de novo se repete a mesma situação. A 17, está na «formiga» humana que trans- porta pedra para o exterior. De 18 a 22, substitui António Mendes, doente, «derigindo o trabalho». Quando ele regressa, a 23, encontramo-lo a transportar pedra para junto dos baldes. A 24 e 25 descansa, tal como António Mendes, e a 26, de novo como António Mendes, procura «…ossos no desentulho 50m a SE da C[aver]na g[ran]de».

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VICTOR S. GONÇALVES A UTILIZAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DA GRUTA DE PORTO COVO (CASCAIS). UMA REVISÃO E ALGUMAS NOVIDADES

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 FIGS. 1-13 a 1-25. Mapa diário, inédito, referindo a distribuição de serviço dos colectores e trabalhadores afectos à escavação de Porto Covo, redigido por António Mendes (Arquivo IGM). António Fonteireira chega a Porto Covo a 10 de Fevereiro e começa por ajudar a encher os bal- des, tarefa que continuará no dia seguinte. A 12, escava e enche baldes, e as suas ocupações são praticamente as mesmas até 22, sendo admissível pouca diferença haver entre «escavar e encher baldes» e «ajudar a encher baldes»…Ao princípio da tarde de 23 «…ao meio dia foi passar o Entrudo à terra» e já não regressa.

Podemos resumir a assiduidade de campo da seguinte forma, à parte 24 e 25 de Fevereiro, em que descansam ou vão de férias de Entrudo, os colectores registam um muito elevado grau de assiduidade no campo.

António Mendes está presente 23+5 dias (estes últimos doente) e dois a descansar, logo seguido por Joaquim Scola e José Carreira, com 27, Miguel Pedroso, com 26,5, António Monteiro, com 19 e, finalmente, António Fonteireira com 13,5. De 13 a 17 de Fevereiro, a equipa está mesmo em campo no seu pleno, tal como na manhã de 23.

O mínimo de presenças em campo, não contando a confusa fase final, com férias de Entrudo e encerramento dos trabalhos, nunca tem menos de quatro colectores, e localiza-se nos cinco primeiros dias de trabalho.

Basicamente, os «colectores» dirigem os trabalhos (como vimos, António Monteiro substitui António Mendes quando este adoece), cozinham (um deles), exploram a gruta, alargam as passa- gens («partir pedra»), transportam as pedras de entulho «em formiga» para o exterior, escavam com picareta, enchem ou ajudam a encher os baldes, puxam-nos para o exterior, «fazem furos», procuram ossos entre as terras escavadas.

Os «trabalhadores» puxam os baldes, cavam com picareta, transportam equipamento, partem pedra, e um deles cozinha após o abandono dessa actividade por Scola. São sobretudo trabalhos não especializados aqueles de que são incumbidos.

Que fiabilidade tem este documento? Alguma, sem dúvida, bastante, mesmo. Mas, céptico como sou por natureza, não queria deixar de salientar que se trata de um Quadro, um «Mappa», onde se compreenderia a tendência para mecanizar a escrita e encontrar fórmulas repetitivas, de algum modo normalizadas e burocratizadas. Não regista a totalidade e a diversidade das acções realmente efectuadas, mas assinala os pontos principais, de referência. Não é um Caderno de Campo, aproximando-se mais de um formulário. Mas sendo o que nos resta, não é legítimo ocul- tar o nosso contentamento por dele podermos dispor…

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