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Ref Designação Figura Estado Peso Alt GDm Lep Lpm Epm Lgm Lmx Ep Fcs Gb Sc Ed Ggm Egm Acb MP

GPC- 5 Machado 2-22, 2-23, 2-24 1 502,76 14,97 M-4 1,26 3,97 5,16 3,19 4,05 32 2+2 47 2 1 2-S 1 18 A GPC- 6 Machado 2-25, 2-26, 2-27 2*34 333,17* 13,24 M-4 NO 4,07 3,00 4,39 4,69 32* 12 2 2 1 2-S 1 18 A GPC- 7 Machado 2-28, 2-29 1 198,19 8,71 M-2 1,78 3,83 3,10 4,27 4,41 2 2+2 47 2 1 2-A 1 18 A GPC- 8 Machado 2-30, 2-31 1 233,74 9,42 M-2 2,52 4,32 3,11 4,69 4,85 5 2+2 23* 6 1 2-S 1 1 A GPC- 9 Machado 2-32, 2-33, 2-34 1 273,42 11,44 M-3 1,44 3,44 3,61 3,64 4,12 4 3+1 47 7* 1* 2-S 1 18 A GPC- 10 Machado 2-35, 2-36 23+4* 241,62* 9,62* M-2 1,90 3,89 3,94 3,06* 4,29 32 2+2 47 3 1 NO 2* 26 A GPC- 11 Machadinho 2-37 1 25,90 3,00 M-1 3,22 3,67 1,27 3,57 3,68 1* 2+2 47 2 1 2-S 1 1A FBR Nota: todas as medidas referentes aos machados foram expressas em centímetros, o peso em gramas.

Ref. (referência) indica o número de registo actual do artefacto (toda a série no Museu do Instituto Geológico e Mineiro); peso medido aos centésimos de grama, com um asterisco (*) indicando que o artefacto se encontra fragmentado e que o seu peso actual não corresponde ao de origem; Alt: altura; GDm: «Grupo de dimensão» ; Lep: largura da extremidade proximal, o talão; Lpm: largura num ponto médio; Lgm: largura do gume; Lmx: largura máxima; Epm: espessura num ponto médio; Ep: extremidade proximal; Fcs: caracterização das faces; Gb: geometria dos bordos; Sc: secção ; Ed: extremidade distal; Ggm: geometria do gume; Egm: estado do gume; Acb: acabamento.

Observações anexas ao quadro supra

GPC-5 – MACHADO – este machado, que para além da marcação tem ainda escrito a tinta da

china negra «Porto Covo GPC-5», com grafia moderna, oferece muito interessantes paralelos com o machado de Poço Velho IGM-247 e CCG-218. Basicamente, trata-se de uma forma bem conhecida no Alto Alentejo, sendo exemplo a Anta dos Penedos de São Miguel, Crato. A forma geral caracteriza-se por faces alongadas com larguras máximas em torno aos quatro centíme- tros, mas uma espessura no ponto central que ultrapassa os cinco, produzindo assim uma secção subrectangular vertical e não horizontal como é costume. Tratando-se de uma peça simbólica, e conhecendo-se mal o seu correspondente no mundo real, deveríamos analisar cautelosamente estes dados, mas nunca se verificaram grandes diferenças entre os machados votivos e os do mundo real. É uma peça extremamente robusta, com o acabamento dos bordos, da área mesial e da proximal, incompleto, o que permitiria um encabamento mais seguro. Este tipo de arte- factos, em consequência das suas dimensões, apresenta normalmente pesos elevados. Toda a extremidade distal é cuidadosamente polida, sendo a proximal polida de forma incompleta ou algo tosca. Lida de uma forma tradicional, a extremidade proximal é claramente um 32 mas se a lêssemos de perfil, com qualquer dos bordos como plano, teríamos um 5 indiscutível.

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GPC-6 – MACHADO – um típico machado de secção rectangular, comum em contextos do 3.º milé-

nio. O polimento dos bordos não eliminou as irregularidades do talhe, mas, quando processado sobre as antigas arestas, produziu um boleamento elevado. Ambas faces foram trabalhadas no sentido de provocar depressões rugosas para facilitar o encabamento. Numa delas a área afectada tem 5,56 cm de altura e na outra 7,04, o que a coloca numa área que quase atinge a extre- midade proximal. O esquirolamento de um dos lados do gume foi atribuído a fenómenos pós- deposicionais. Apesar de parte do talão ter sido suprimida, observa-se ainda uma área sobre- vivente da sua forma original, pelo que na altura da peça não se indicou asterisco de reserva.

GPC-7 – MACHADO – este pequeno machado suscita apenas um comentário quanto à ligeira

depressão numa das faces que configura uma situação similar à de GPC-9, ainda que em muito menor escala.

GPC-8 – MACHADO – conserva ainda uma etiqueta que diz «Quinta do Porto Covo, /junto ao

forno de cal/(Serra de Cintra)». Uma das faces apresenta-se muito concrecionada, mas parece em tudo similar à outra.

GPC-9 – MACHADO – nesta peça verifica-se uma situação aparentemente contraditória: é um

machado e não uma enxó, mas uma das superfícies é aplanada e outra convexa. Se se tratasse de uma peça funcional, ou o seu encabamento seria idêntico ao de uma enxó ou o negativo da área de topo do encabamento teria um plano assimétrico, idêntico ao de um quadrado com um dos lados abrindo em arco para o exterior. Muito significativamente, em apoio da primeira hipótese, na face inferior deste machado foi «escavada» uma área deprimida rugosa que lhe dá alguma concavidade.

GPC-10 – MACHADO – apesar de se tratar de um típico machado de gume polido e corpo pico-

tado, há que registar neste artefacto um encurvamento que o torna assimétrico. Estando ausente o gume de que se conserva apenas uma parte milimétrica (1,5 mm) numa das extre- midades, muito provavelmente tratar-se-ia de um gume convexo tornado assimétrico pelo eixo vertical da peça. O picotamento está presente praticamente por todo o lado nas duas faces, ainda que mais reduzido na área proximal de uma delas, e apenas numa delas na extre- midade proximal está ausente. O talão está ligeiramente fracturado. A fractura do gume pode resultar de um fenómeno pós-deposicional, até mesmo de um acidente de escavação.

GPC-11 – MACHADINHO – existem várias características curiosas em relação a este artefacto.

Em primeiro lugar, a classificação como machado resulta da convexidade convergente das faces e da consequente leitura da extremidade distal como sendo um bisel duplo simétrico. Mas o polimento integral, com o elevado nível técnico permitido pela fibrolite, poderia justifi- car a ausência da aresta definidora do golpe de enxó. Poderia ainda tratar-se de uma peça fragmentada, sendo o que restaria actualmente do artefacto talvez correspondente a um terço da sua dimensão original. No entanto, o polimento das duas faces prolonga-se nitidamente em contínuo pelo talão, sem que seja visível qualquer indício de se tratar de um repolimento. Fica-nos assim a convicção de se tratar de um machadinho obtido a partir de uma pequena lasca de fibrolite.

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6.3. Algumas considerações sobre a pedra polida de Porto Covo

Em termos gerais, o estado dos artefactos de pedra polida da Gruta de Porto Covo pode ser considerado muito bom. Quatro das cinco enxós estão completas, quatro dos seis machados estão em excelente estado de conservação, tal como o machadinho GPC-11. Tal produz, para os doze artefactos, uma relação de 9\12 com a categoria 1. Os outros artefactos registam perdas menores, quer no gume (um deles), quer na extremidade proximal, o talão. Este facto tem naturalmente que ver com a situação isolada da necrópole, afastada de qualquer centro urbano, e de, algum modo, também com a natureza das matérias-primas, como se verá adiante.

Quando observamos o peso dos artefactos, verificamos que ele oscila entre os 25,90 gramas do machadinho, ou se quisermos apertar as categorias, os 108,07 gramas da enxó GPC-14 e os 502,76 g. do machado GPC-5. Estes valores genéricos podem ser corrigidos, se observarmos sepa- radamente as duas categorias, a dos machados e a das enxós. No que diz respeito às enxós, os pesos variam, concretamente, entre os 108,07 g. da enxó GPC-14 e os 223,47 g. de GPC-15. Quanto aos machados, o seu peso varia entre os 198,19 g. de GPC-7 e os 502,76 g. de GPC-5.

A totalidade do peso dos machados, considerando à partida que a ligeira fragmentação de alguns torna este número impreciso, é de 2620,21 g. o que significa que mais de 2 quilos e meio de rochas duras foram importados para a produção destes artefactos. Estes números devem ser cor- rigidos com a natureza das matérias-primas actualizada, sendo o xisto anfibólico menos denso que o anfibolito, e o basalto filoniano alterado ainda menos denso. Se quisermos fazer ainda a comparação entre o peso das enxós e o dos machados, deixando de fora da contagem o machadi- nho, por razões óbvias, observaríamos o seguinte:

1. que o peso das enxós é de 811,59 g. o que dá uma média por artefacto de cerca de 162 g.; 2. que o peso dos machados é de 1782,9 g. o que dá uma média por artefacto de 297,15 g.; 3. que a diferença de pesos evidente entre as duas categorias de artefactos se explica basica- mente não só pelo seu eixo vertical, mas sobretudo pela espessura e pela geometria diferen- ciada de ambos.

Ao analisarmos a altura destes artefactos, e mais uma vez excluindo o machadinho, temos dimensões que, nas enxós, variam de 10,43 a 16 cm e nos machados de 8,71 a 14,97 cm. As propor- ções entre estes números e a largura no ponto médio explicam também esta situação. A espes- sura própria das duas categorias é também muito diferente, oscilando num ponto médio das enxós entre 1,22 e 1,80 cm. Quanto aos machados, a oscilação vai de 3,00 a 5,16 cm.

Foram criados para as enxós dois grupos de dimensão e quatro para os machados.

Para as enxós, o Grupo 1 engloba GPC-14, -13 e -12, com alturas num ponto central entre 10,43 e 11,33 cm. O Grupo 2 (GPC-16 e -15) regista alturas entre 14,55 e 16,00 cm.

Para os machados, o Grupo 1 corresponde ao machadinho GPC-11, com uma altura de 3 cm. O Grupo 2 engloba GPC-7, -8 e -10, com alturas entre 8,71 e 9,62 cm.

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O Grupo 3 corresponde a GPC-9, com 11,44 cm de altura.

O Grupo 4 engloba GPC-6 e -5, com alturas de 13,24 e 14,97 cm, respectivamente. Estes Grupos, correspondem, em termos gerais:

1. no caso das enxós, o Grupo 1 aos Grupos 3 e 4 de Poço Velho e o Grupo 2 ao Grupo PCV-E-5; 2. no que se refere aos machados, o Grupo 1 corresponde ao Grupo 1 de Poço Velho; o Grupo 2 aos Grupos PCV-M-3 e 4; o Grupo 3 ao Grupo 5 de Poço Velho e o Grupo 4 genericamente ao Grupo PCV-M-6.

Para as enxós de Poço Velho, tinham sido reconhecidos os seguintes 5 grupos: Grupo 1 – altura < 6,35 cm, sem correspondência em GPC;

Grupo 2 – altura entre 6,83 e 8,40 cm, sem correspondência em GPC; Grupo 3 – altura entre 8,86 e 10,88 cm, Grupo 1 de GPC;

Grupo 4 – altura entre 11,09 e 13,70 cm, Grupo 1 de GPC; Grupo 5 – altura entre 13,96 e 18 cm, Grupo 2 de GPC.

Para os machados de Poço Velho, tinham sido definidos 6 grupos: Grupo 1 – altura < 5,90 cm, Grupo 1 de GPC;

Grupo 2 – altura entre 6,55 e 6,93 cm, sem correspondência em GPC; Grupo 3 – altura entre 7,50 e 8,75 cm, Grupo 2 de GPC;

Grupo 4 – altura entre 8,98 e 9,94 cm, Grupo 2 de GPC; Grupo 5 – altura entre 10,03 e 11,60 cm, Grupo 3 de GPC;

Grupo 6 – altura entre 13,72 e 14,70 cm, Grupo 4 de GPC se alargarmos ligeiramente os parâme- tros inferior e superior.

As conclusões possíveis, e os comentários a esta situação, foram avançadas na monografia de Poço Velho.

A extremidade proximal das enxós divide-se em três de tipo 1 (truncada) e duas de tipo 5 (convexa). Quanto aos machados, a situação é um pouco mais diversificada, registando-se dois de tipo 32 (ponta boleada), um de tipo 32* (ponta boleada fragmentada) e um exemplar para cada uma das categorias 2 (arredondada), 5 (convexa) e 4 (aplanada). A geometria dos bordos abrange uma categoria maioritária para machados e enxós, a 47 (bordos convexos, convergen- tes), de que se registaram oito ocorrências, sendo as restantes, nas enxós, 3+32 (e 1+4 e nos machados 2,23*).

As secções são habitualmente usadas para caracterizar as «fases evolutivas» dos machados, uma vez que, no caso das enxós, a sua secção é normalmente, ou rectangular alongada, ou elipsoidal.

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Para os machados, temos, no que respeita à secção, uma sua distribuição por categorias diver- sas: três machados têm uma secção de tipo 2 (subrectangular), um de tipo 3 (elipsoidal), um de tipo 6 (trapezoidal), um de tipo 7 (quadrangular). Isto permite concluir, para os machados, um escasso domínio das secções subrectangulares, mas pouco mais que isso.

Quanto à geografia dos gumes, ela mostra-nos uma situação muito curiosa: no caso das enxós, temos dois 2-A (gume convexo assimétrico), dois 2-S (gume convexo simétrico), e um 1 (rectilíneo, ainda que com ligeiro encurvamento). Já no que se refere aos machados, temos quatro 2-S, um 2-A (um dos artefactos tem o gume destruído, impossibilitando a leitura).

Os acabamentos são, para as enxós, três com polimento integral e dois também de polimento integral, ainda que mantendo superfícies irregulares. No caso dos machados, temos quatro de categoria 18 (polimento integral, ainda que com superfícies irregulares) e um para cada uma das outras categorias, polimento integral e polimento na extremidade distal e corpo picotado.

A matéria-prima das enxós é o anfibolito num dos casos, o xisto anfibólico em dois, o basalto filoniano alterado em dois. Quanto aos machados, são todos de anfibolito.

Na conclusão das análises da pedra polida, não é possível passar em claro uma das caracterís- ticas distintivas das enxós: o golpe de enxó, um plano de polimento especial, intencionalmente destinado a preparar a área de gume e a melhor diferenciá-la do corpo da enxó, ou melhor: da sua face inferior. Com efeito, se os perfis das enxós acabam por variar, ainda que ligeiramente, a morfologia dos golpes de enxó traduzem ou uma deliberada vontade do artesão ou decorrem de uma técnica específica, que corrige a morfologia da peça graças a um super-polimento. Assim, teremos, em Porto Covo, de acordo com as enxós, diferentes morfologias dessa área considerada a sua linha inferior de definição, uma vez que a superior corresponde à geometria do gume:

QUADRO 4 – COMPARAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE FIOS DE GUME (GEOMETRIA DO GUME)