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ACARAJÉS DE “GRIFE”

No documento Acarajé: tradição e modernidade (páginas 47-49)

CAPITULO II MERCADO DO ACARAJÉ VENDEDORAS E VENDEDORES DE ACARAJÉS

ACARAJÉS DE “GRIFE”

Segundo Aurélio Buarque de Holanda, a palavra grife ou griffe, é um termo originário da área de marketing que significa: “marca comercial de produtos ou de linhas de produtos sofisticados, usada com o nome de pessoa famosa”. Em Salvador alguns acarajés também se tornaram produto de grife.Os bolinhos de grife mais conhecidos são: “Acarajé do Gregório”, localizado na entrada do Shopping Barra, “Acarajé da Cira”, “Acarajé da Dinha” e “Acarajé da Regina” todos no bairro do Rio Vermelho e a mais recente “Acarajé da Loira”, no Horto Florestal em Brotas, são considerados produtos autênticos e de qualidade, que servem de referencia em certas ocasiões, como representação da cultura local baiana, dentro e fora do Brasil.

Os empresários do acarajé dispõem de uma infra-estrutura montada com capacidade para produzir em grande escala. Além de uma cozinha industrial, existe uma equipe de funcionários voltados para confecção das iguarias. Nesse contexto o dono da marca, é o administrador, e algumas vezes ele está presente em contato com o publico durante a comercialização. Sua presença atrás do tabuleiro é um marketing necessário para reativar a memória dos consumidores em relação à identidade daquele produto.

No livro de crônicas “O trancelim da baiana” (2002) de Tasso Franco, publicado em 2002, o autor descreveu de forma um tanto poética a rotina de trabalho de Dinha do acarajé . Segundo ele, era ela que orientava o trato com o feijão, selecionava os produtos, negociava com os fornecedores e cuidava pessoalmente das finanças

Esse é um bom exemplo, do modo como as empresarias do acarajé administram seus empreendimentos. Para Tânia Dias a relação de trabalho entre a baiana de acarajé, e seus colaboradores é singular, porque foge do modelo formal e traz como referência a formação familiar.(DIAS,1996,29):

A empresa de acarajé é na realidade uma estrutura lucrativa, geradora de renda e de agregação familiar, o que suscita dos seus membros, patrões e empregados, um forte sentimento de participar e pertencer, favorecendo a construção de um ideal coletivo, o que nos leva a afirmar que a “baiana” consegue ser o elemento motivador para o trabalho de equipe, e o desenvolvimento individual dos que a ele se agregam..”(DIAS, 1996,29)

Acredito que este modo de organização e gerenciamento, percebido pela autora se restrinja às pequenas vendedoras de acarajé, pois constatei que as empresárias do acarajé mantêm com seus colaboradores uma relação de prestação de serviços estabelecida nas normas da lei, ou seja, eles são contratados com carteira assinada. Nesse contexto é duvidoso fazer referencia a “ideal coletivo” e “desenvolvimento individual”, visto que existe uma relação de trabalho institucionalizada. Só para ilustrar, cito como referencia a frase que ouvi de uma das funcionárias de Cira do acarajé, no Rio Vermelho, quando uma turista euforicamente pediu para pegar um camarão na panela: “A senhora quer me desempregar? Se a mulher ai vê, eu tô na rua.”.

Quanto à administração das finanças é comum que pessoas (filhos, sobrinhos, irmãos) com laços próximos de parentesco estejam à frente do negócio controlando todo o movimento de vendas.Para facilitar esse controle, otimizar o atendimento, e também uma questão de higiene adotou-se um sistema, onde o dinheiro é trocado por fichas coloridas, cada uma delas com cores distintas equivalem a um produto: acarajé com camarão - ficha vermelha, acarajé sem camarão – ficha azul, bolinho de estudante - ficha amarela etc. Constatei que esse sistema é adotado por todo tabuleiro (de grife ou não) que tem um fluxo considerável de clientes.

Conseqüentemente, a estrutura montada para gerar um produto de grife com grande demanda de mercado tem um custo, e isso, reflete no produto final.O preço do acarajé de grife, é alto. Ele, completo, custa em média R$ 3,50.Comparando o preço desses acarajés com os demais, pode-se constatar que a diferença entre eles, em alguns casos, chega a 250 %; por exemplo, um acarajé completo com camarão, no Centro da cidade, pode ser comprado por R$ 1,00, enquanto em Cira de acarajé no Largo da Mariquita, no Rio Vermelho custa R$ 3,50.

Contudo, vale ressaltar, que o valor elevado da iguaria, não assusta nem afasta os clientes, prova disso é a imensa fila que se forma, diariamente, de pessoas à espera da iguaria. Recentemente, enquanto aguardava na fila à espera do acarajé quentinho, escutei o

comentário de uma turista que aguardava ansiosa pelo quitute.Ela disse que só de pensar naquela delicia frita no dendê e nos imensos camarões dava “água na boca”.

A grife segundo a analise feita por Márcia Rios no seu artigo “Quem botou grife no meu acarajé ? Uma reflexão sobre identidade nacional”, publicada em 1999, é uma estratégia de visibilidade adotada pelas baianas de acarajés “que renova prestigio desse prato da chamada culinária baiana, reinando como signo de identidade local desse cadinho do Ocidente que é “promessa de felicidade” e curtição e desejos- a Bahia(RIOS,1999,45).Ela destaca que alguns sites ou baianas de acarajés se auto - elegem capazes de representar a cultura baiana, num mundo globalizado.

Na minha opinião, a grife talvez atenda ao desejo das elites (até da classe média) em consumir um prato “identitário” servido nos moldes tradicionais, porém referendado como “o melhor”, “mais autentico”, o mais caro, e o mais renomado produto do gênero. Quanto ao investimento, me refiro à publicidade em jornais e revistas de veiculação nacional. Nelas, essas empresárias (empresários) são consideradas produtoras dos mais saborosos acarajés, por isso, servem como referencia de qualidade para aqueles que visitam a cidade.

No documento Acarajé: tradição e modernidade (páginas 47-49)