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ACEPÇÕES DO VOCÁBULO “CONTRIBUIÇÕES”

1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA O ESTUDO DAS

3.1 ACEPÇÕES DO VOCÁBULO “CONTRIBUIÇÕES”

Para se perscrutar um conceito, necessário se faz, antes de qualquer outra atividade, conhecer o significado dos símbolos e signos que o compõem, sob os aspectos sintático, semântico e pragmático, quer na sua utilização na elaboração do texto, quer no contexto que estão a inserir-se.

Todo aquele que se dispuser a analisar o direito positivo, deve por meio de uma atividade cognoscente, utilizando método interpretativo, buscar eliminar as imprecisões e construir/revelar o sentido e o alcance dos símbolos colocados nos textos das leis.

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Se, ao delimitarmos o tema, consignamos que “o universo cultural é essencialmente simbólico, tendo na linguagem seu requisito essencial”327 e, se então observamos, que o direito é um objeto cultural,

haveremos de prestigiar a lição de Paulo de Barros Carvalho: “o direito oferece o dado da linguagem como seu integrante constitutivo. [...] interpretar é atribuir valores aos símbolos, isto é, adjudicar-lhes significações e, por meio dessas, referências a objetos”328.

No senso comum, o vocábulo “contribuição” vem referido como: “ato ou efeito de contribuir; quinhão, cota, tributo; parte pertencente a cada um nas despesas do Estado, ou numa despesa comum; subsídio moral, social, literário ou científico para algum fim”329.

Em acepção jurídica, De Plácido e Silva refere a significação do vocábulo “contribuição” como sendo:

Derivado do latim contributio, de contribuere (dar para o monte, fornecer sua parte), na terminologia jurídica, não possui sentido diverso daquele que lhe vem do latim: entende-se a parte que se atribui a uma pessoa ou a participação que deve ter para formação de qualquer acervo ou cumprimento de qualquer obrigação.

A contribuição, em sentido comum, pode ser voluntária. A pessoa

contribui com sua parte, porque espontaneamente quer.

Mas, na esfera jurídica, em regra, a contribuição, resultante de obrigação ou de imposição legal, é obrigatória, seja tomada no sentido fiscal, ou seja tida no conceito do Direito Civil ou Comercial. 326

TOMÉ, Fabiana Del Padre. Contribuições para a seguridade social: à luz da Constituição Federal, p. 29.

327

Cf. página 23.

328

Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência, p. 57. (grifo do autor).

No conceito fiscal, a contribuição é o imposto: é a parte a que está sujeito o cidadão, para que contribua para a formação de fundos necessários ao custeio das despesas públicas [...]330.

Paulo Ayres Barreto, analisando o uso do signo “contribuição”, no direito positivo brasileiro, na doutrina e na jurisprudência, no contexto tributário, observou quase duas dezenas de significações, a saber:

“como espécie do gênero tributo”; “como imposto de escopo”; “como tributo vinculado a uma atuação estatal, descrita no antecedente da regra-matriz de incidência”; “como tributo vinculado a uma atividade estatal, que é causa de sua instituição, mas não vem referida no antecedente da regra-matriz de incidência tributária”; “como tributo cujo critério material é o resultado de uma atuação estatal mais uma circunstância intermediária”; “como tributo cujo critério material é uma situação independente de qualquer atividade estatal específica ao contribuinte, cujo produto da arrecadação é destinado a uma atividade estatal”; “como tributo cujo pagamento é contrapartida de uma vantagem ou benefício ao contribuinte, decorrente de uma atividade estatal”; “como tributo que tem como causa para a sua instituição uma atividade estatal, da qual decorra uma vantagem ou benefício ao contribuinte”; “como tributo que tem como causa para a sua instituição uma atividade estatal, independentemente de tal atividade estatal vir a gerar vantagem ou benefício ao contribuinte”; “como tributo devido em face da realização de obra pública de que decorra valorização imobiliária”; “como tributo devido por força de valorização imobiliária, gerada por obra pública”; “como vocábulo equivalente a tributo”; “como quantia em dinheiro proveniente do pagamento de tributo”; “como quantia em dinheiro destinada a uma finalidade específica, que deu causa a instituição do tributo”; “como

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espécie de tributo de validação finalística”; “como tributo causal”; “como figura ‘sui generis’” e “como exigência não tributária”331.

Impende observar que, em termos jurídicos, inauguralmente se atribuía, num sentido bastante abrangente, a designação “contribuição” a todos os encargos impostos pelo Estado para fazer frente as suas despesas.

Num momento posterior, o referido vocábulo passou a ser utilizado no sentido de “tributo”, demonstrando assim que, resulta do consentimento do próprio povo, de quem dimana o poder e em nome de quem há de ser exercido, o que estaria a justificar que a maioria dos Estados que instituíram um regime constitucional substituíram o conceito de imposto pelo de contribuição332.

Adotando o método interpretativo sistemático, por razões adrede elencadas333 e considerando o contexto em nível constitucional, para a

análise do vocábulo, observamos que a Constituição Federal de 1988 não mais utilizou “contribuição” como sinônimo de “tributo”, para indicar os encargos impostos pelo Estado para o atendimento de suas despesas, mas, sim, para indicar uma espécie própria, diversa de impostos ou taxas, apresentando natureza jurídica tributária.

Por conseguinte, há que se observar que o Texto Constitucional contemplou duas categorias distintas de contribuição: a de melhoria (art. 145, III) e as demais — sociais, interventivas e corporativas (arts. 149 e 195), cujo tratamento passaremos a examinar.

331

As contribuições e a destinação do produto da arrecadação, tese de doutorado inédita, PUC/SP, 2005, p. 106-108.

332

BORGES, José Souto Maior. Contribuições — caráter tributário, in Revista de Direito Tributário, n. 34, p. 121.