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1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA O ESTUDO DAS

2.1 NOTAS INTRODUTÓRIAS

Inicialmente há que se esboçar uma caracterização daquilo que informa e tipifica um conjunto de normas, cujas peculiaridades conferem o arcabouço a cada uma das espécies tributárias, permitindo se lhes reconheça uma identidade própria.

Partindo do pressuposto que o objeto do jurista é um sistema de normas e o tema específico do estudioso do Direito Tributário são as regras e princípios que perfazem em sua unidade o direito tributário, a primeira tarefa que se lhe impõe é a conceituação do elemento aglutinador — o tributo.

Este é o procedimento para uma visão menos viciada dos vários institutos do direito tributário, evitando assim, as tão costumeiras incursões entre os fatores jurídicos e extrajurídicos.

Neste sentido, é a lição de Celso Antonio Bandeira de Mello ao discorrer sobre o regime jurídico-administrativo em contrapartida ao sistema constitucional tributário:

Não há como formular adequadamente um conceito jurídico fora deste rigor metodológico. Com efeito, se o conceito formulado não se cinge rigorosamente ao propósito de captar um determinado regime — cuja composição admite apenas as normas editadas pelo Direito Positivo e

os princípios acolhidos na sistemática dele —, será desconforme com sua própria razão de ser (identificação da disciplina que preside um dado instituto).

Esta deformação sucederá sempre que se agreguem ao conceito traços metajurídicos, isto é, quaisquer ingredientes ou conotações que não sejam imediatamente derivados das próprias normas ou dos princípios por elas encampados86.

Destarte, perante o direito será tributo de determinada espécie, na exclusiva dependência do que houver decidido a Constituição e a lei infraconstitucional tributária ao conformar, configurar, a consistência do aspecto material da hipótese de incidência: portanto, unicamente em função do regime que as disciplina.

Celso Antonio Bandeira de Mello alerta ainda, quanto ao risco dos conceitos jurídicos perderem sua operatividade em sendo compreendido de outro modo o problema, além da necessidade de, forçosamente, estabelecer-se cabal dissociação entre as noções substanciais, que em nível pré-jurídico informam o legislador, e as que correspondem a realidades próprias do Direito, definindo-se estas como regimes jurídicos, complexos de princípios e normas87.

Há que se atentar ainda, que as normas, por serem regras expressas, encontram-se à imediata disposição do intérprete e, exatamente por isso, não apresentam qualquer dificuldade em serem localizadas. De extrema importância, porém, é desvendar as regras e os princípios acolhidos no sistema; isto é, os que se encontram vazados nas diversas normas constitucionais, informando as disposições tributárias, embora não se achem formal ou

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categoricamente expressos. Estes, genericamente acolhidos no sistema, presidem toda sua organicidade e, obviamente, podem ter generalidade maior ou menor, aplicando-se, então à totalidade dos institutos ou apenas a alguns deles. São estas regras e princípios que compõem o equilíbrio do sistema e determinam a sua unidade e racionalidade.

Tais regras e princípios, no campo do Direito, são livremente determinados pelo legislador que, no sistema normativo que constrói, contempla aqueles que deseja vigorantes, carregando-os de intensa valoração que, embora inerente a toda e qualquer norma, especificamente nos princípios é intensa e se irradia por vários e vários segmentos desse sistema.

Destarte, ao delinear um dado sistema, o legislador fixa, mesmo que inconscientemente, um conjunto de regras e princípios que, desejando ou não, informarão o sistema, desde que as normas postas traduzam sua acolhida.

Ao jurista interessam apenas as noções qualificadas pelo sistema normativo, não se lhes interessando as realidades substanciais ou infra- estruturais que determinam, em nível pré-jurídico, a opção do legislador, quer constituinte, quer ordinário.

Razão pela qual, de nada adianta recorrer aos conceitos anteriores sobre as quais já incidiu o juízo do legislador, interessando ao intérprete apenas o produto da qualificação legislativa — a lei — havendo que se lembrar que, na teoria de Paulo de Barros Carvalho, o direito apresenta-se em três diferentes planos: o da expressão, o das significações e o das normas

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jurídicas88 e, de conseqüência, como bem alertou Eurico Marcos Diniz de Santi, abriu-se “um dúplice caminho na busca do sentido, que interessa particularmente ao capítulo das fontes dos textos normativos: (i) a análise do texto e o (ii) estudo da enunciação do texto”89.

O autor citado, assegurando ainda que: “[...] a enunciação enunciada consistiria nas referências de tempo, lugar e pessoa que, inscritos no texto legal, propiciam a reconstrução do ato legislativo que deu ensejo à lei”90, observa que, sem os dados da enunciação enunciada impossível seria o controle de constitucionalidade das leis infraconstitucionais.

Cada espécie tributária apresenta peculiaridades no que concerne aos princípios que a norteiam, obedecendo a regras particulares, embora haja também uma estreita afinidade com os princípios genéricos que embasam o sistema tributário como um todo, valendo aqui, a analogia formulada por Celso Antonio Bandeira de Mello:

[...] quando se faz menção a qualquer planeta do sistema solar não há necessidade de explicar minuciosamente o conjunto de leis que regem seu equilíbrio e entrosamento no sistema. Sabe-se, desde logo, que está submetido àquele complexo de leis, liminarmente considerado, isto é, as do sistema solar e planetário, em geral91.

Partindo de tais ponderações se buscará o conceito de tributo, para assim adentramos à análise doutrinária a respeito da sua classificação em espécies.

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Isenções tributárias do IPI, em face do princípio da não-cumulatividade, in Revista Dialética de Direito

Tributário, n. 33, p. 143.

89

Decadência e prescrição no direito tributário, p. 63.

90

Decadência e prescrição no direito tributário, p. 64. (grifo do autor).

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