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1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA O ESTUDO DAS

2.2 TRIBUTO — SUA SIGNIFICAÇÃO

O estudo de toda e qualquer espécie tributária, não tem como prosperar, se não se atentar para a necessidade de buscar a conceituação do que seja tributo, enquanto elemento nuclear e noção centralizadora para a exata compreensão, até mesmo, do próprio direito tributário.

Oportuno, porém, lembrar a precisa observação de Paulo de Barros Carvalho no sentido de que,

O vocábulo tributo experimenta nada menos que seis significações diversas, quando utilizado nos textos do direito positivo, nas lições da doutrina e nas manifestações da jurisprudência. São elas: “quantia em dinheiro”, “prestação correspondente ao dever jurídico do sujeito passivo”, “direito subjetivo de que é titular o sujeito ativo”, “sinônimo de relação jurídica tributária”, “norma jurídica tributária” e “norma, fato e relação jurídica”92.

Não bastasse a diversidade de significações, depara-se ainda, com a corrente dissensão doutrinária na conceituação de tributo, sendo atualmente, muitas formulações inaceitáveis, as quais, porém na sua grande maioria, trouxeram inestimável contribuição ao estudo cientifico do direito tributário.

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Assim, autores como Amílcar de Araújo Falcão93, Rubens Gomes de Sousa94 e Héctor B. Villegas95 adicionavam nas suas conceituações de tributo, a finalidade da receita arrecadada, a qual, via de regra, objetiva a realização das finalidades próprias do Estado.

Outros autores, como Aliomar Baleeiro96, Celso Ribeiro Bastos97 e Sacha Calmon Navarro Côelho98 ativeram-se, principalmente, ao estudo do artigo 3º, do Código Tributário Nacional, para conceituar tributo, identificando, este último, os “elementos” ou “estipulações que armam o conceito jurídico-positivo de tributo”, nas precisas lições, respectivamente, de Geraldo Ataliba99 e Paulo de Barros Carvalho100, como “notas de conceito”, entendendo que, toda relação jurídica que contiver as cinco há de ser necessariamente tributária.

Posteriormente, tendo como precursor o mestre Geraldo Ataliba101, autores como Aires Barreto102, Roque Antonio Carrazza103, Régis Fernandes de Oliveira104 e José Artur Lima Gonçalves105, dentre outros, têm sido unânimes em reconhecer que o tributo encontra-se delineado na Constituição, consoante as finalidades e competências outorgadas às pessoas jurídicas de direito público.

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Introdução ao direito tributário, p. 17.

94

Compêndio de legislação tributária, p. 39.

95

Curso de direito tributário, p. 3.

96

Uma introdução à ciência das finanças, p. 145. Também Direito tributário brasileiro, p. 62.

97

Curso de direito financeiro e direito tributário, p. 137-140.

98

Comentários à Constituição de 1988, p. 30.

99

Hipótese de incidência tributária, p. 33.

100

Curso de direito tributário, p. 24.

101

Hipótese de incidência tributária, p. 31.

102

Base de cálculo, alíquota e princípios constitucionais, p. 26.

103

Curso de direito constitucional tributário, p. 352.

104

Taxas de polícia, p.14.

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Impende ressaltar que, o fato da receita obtida através de tributos propiciar recursos ao Estado para fazer frente às despesas decorrentes do atendimento de suas finalidades essenciais, não caracteriza o tributo, porque as demais receitas auferidas pelo Estado igualmente são destinadas ao cumprimento das suas atividades fins.

Deve-se observar ainda que, embora o sistema constitucional tributário brasileiro encontre sua disciplina expressa no Texto Constitucional, tornando imprescindível para conceituar tributo a análise dos postulados constitucionais, a Constituição Federal não cria tributos, porém, atribuindo competência às diversas pessoas políticas para instituí-los, declinando para tanto as mais diversas materialidades, permite distingui-los dos demais ingressos no patrimônio público, constituindo-se a compulsoriedade, no sentido da obrigatoriedade do particular carrear dinheiro aos cofres públicos, em característica essencial do tributo.

A compulsoriedade, por conter uma índole coativa, que independe até mesmo da vontade da pessoa que promove a realização do fato jurídico tributário ou participa do seu acontecimento, permitindo que esta pessoa, em termos de capacidade civil seja incapaz, como acontece com o menor enquanto proprietário de bens imóveis, em relação aos impostos sobre a propriedade, denota ser traço característico do tributo, havendo que se observar, porém, como adverte Paulo de Barros Carvalho:

O legislador das regras tributárias está credenciado a descrever o fato que bem lhe aprouver, dentro dos parâmetros constitucionalmente previstos, mas com o objetivo específico de a eles ligar efeitos

tributários.

Tudo isso, no entanto, é valido e tem visos de inequívoca procedência, para o efeito de talhar a fisionomia e o desenho estrutural do fato que dará oportunidade ao nascimento da obrigação tributária. Não se aplica, de forma alguma, à prescrição genérica da relação jurídica, estatuída no conseqüente normativo106.

Impende observar ainda que, embora seja função primordial da doutrina conceituar tributo, a Constituição Federal prestigiou uma noção geral de tributo, permitindo que, através de suas regras e princípios é possível identificá-lo, assim como distingui-lo das demais obrigações, identificando, ainda, a caracterização de cada uma das espécies tributárias.

Por adequar-se perfeitamente aos traços constitucionais107

considera-se o artigo 3º, do Código Tributário Nacional, suficiente para determinar o que seja tributo, por expressar toda a fenomenologia da incidência que vai desde a previsão da hipótese em lei, ou conforme o ensinamento de Paulo de Barros Carvalho, “desde a norma instituidora, passando pelo evento concreto, nela descrito, até o liame obrigacional que surde à luz com a ocorrência daquele fato”108.

Contrariamente a posição de Héctor B. Villegas109 e Celso Ribeiro Bastos110, de que a prestação possa ser in natura, consistindo até mesmo em trabalho humano, o tributo há de ser sempre em dinheiro, isto é, prestação pecuniária, admitindo-se apenas coeficientes de fácil conversão em valores correspondentes à moeda corrente111 quando, na lição de Paulo de Barros

106

Curso de direito tributário, p. 312. (grifo do autor).

107 Para Paulo Ayres Barreto “o Texto Constitucional de 1988 incorporou o conceito de tributo preexistente”.

(As contribuições e a destinação do produto da arrecadação, tese de doutorado, inédita, PUC/SP, 2005, p. 48).

108

Curso de direito tributário, p. 24.

109

Curso de direito tributário, p. 3.

110

Curso de direito financeiro e de direito tributário, p. 139.

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Carvalho112, ter-se-á a extinção da “relação jurídica de conteúdo patrimonial, conhecida por obrigação tributária”, ou seja, o prestar algo, o dar, em dinheiro.

Além da compulsoriedade que caracteriza fundamentalmente o tributo, sua instituição deve observância tanto ao princípio geral da legalidade como ao da estrita legalidade tributária como previsto, respectivamente, no art. 5º, II e art. 150, I, ambos da Constituição Federal, além da própria dicção do art. 3º do Código Tributário Nacional que ao definir tributo, deve fiel observância à Constituição, pelo fato de fundamentar-se necessariamente nesta e por tratar-se de norma hierarquicamente superior a norma infraconstitucional.

Neste sentido, observa Humberto Ávila:

A leitura da Constituição conduz ao entendimento de que o tributo é prestação pecuniária decorrente de lei, e não da vontade, ainda que fictícia (preço), que não constitui sanção de ato ilícito (multa) nem indenização pelo uso de bens públicos (compensação financeira). A leitura do Código Tributário Nacional enquadra-se nesse conceito especificando-o ainda mais (art. 3º)113.

Há que se ressaltar ainda a relevância de que referida prestação não deva constituir sanção de ato ilícito para que não ocorra confusão com as prestações oriundas de indenização ou as relações jurídicas que objetivam aplicar penalidades pelo descumprimento de deveres que embora tributários não se constituem em tributos.

Ao exigir determinada conduta por parte do administrador como forma de dispensar o mesmo tratamento aos sujeitos passivos que se encontram em idênticas situações, o artigo 3º do Código Tributário Nacional ao

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prescrever que a prestação deva ser cobrada mediante atividade plenamente vinculada prestigiou, em última análise, em termos tributários, o princípio constitucional da isonomia.

Por derradeiro, há que se perquirir a relevância da destinação constitucionalmente atribuída ao produto da arrecadação que, nos casos específicos, passa a determinar a espécie tributária, de maneira que Paulo Aires Barreto sob o prisma da natureza tributária das contribuições formula um nova acepção de tributo como “montante arrecadado coativamente, tendo em vista o atendimento de uma finalidade constitucional”114.

Diante de tal, referido autor lança-se o desafio de examinar a teoria das causas em matéria tributária, em especial, a aplicabilidade daquelas aplicáveis às relações obrigacionais de cunho privado às relações tributárias115.

Examinando as principais objeções à teoria das causas divide- as naqueles que a refutam independentemente de sua formulação e os que a rechaçam partindo de inconsistências na formulação interna da teoria, identificando como objeções do primeiro grupo:

a) às obrigações que resultam diretamente da lei não se aplicaria a teoria da causa, uma vez que a vontade, elemento das obrigações negociais, não estaria presente;

b) perquirir sobre a causa da obrigação tributária implica extravazar os

113

As contribuições no sistema tributário brasileiro, in As contribuições no sistema tributário brasileiro, p. 315.

114

As contribuições e a destinação do produto da arrecadação, tese inédita, PUC/SP, 2005, p. 48.

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domínios do próprio direito, ensejando análise pré-jurídica, dado que, posta a lei, descabe cogitar das razões que a motivaram116.

Paulo Ayres Barreto destaca ainda entre as manifestações daqueles que se opõem com ênfase nas inconsistências internas das proposições elaboradas: “se a causa da obrigação é a contrapartida de benefícios, vantagens ou serviços que o contribuinte recebe do Estado, a prova de não ter havido tal contrapartida infirmaria a obrigação tributária”117.

Após fixar algumas premissas que reputa importantes, acaba por admitir que: “Se considerarmos a causa nos tributos como nexo lógico entre o motivo da instituição do tributo e seu estrutura normativa em função da finalidade a ser atingida, com o objetivo de avaliarmos o atendimento de pressupostos para o exercício da competência impositiva, a aplicação da teoria das causas pode revelar-se importante”118.

Concluindo pela pertinência do exame da aplicabilidade diante do sistema constitucional tributário brasileiro para permitir a avaliação do atendimento de pressupostos para o exercício da competência impositiva, aduz que:

Se o que se visa é o atendimento das necessidades gerais da coletividade, só há autorização constitucional para a instituição de imposto. Nessa hipótese, descabe cogitar-se da possibilidade de se cobrar tributo de outra natureza. Diversamente, a prestação de serviços públicos específicos e divisíveis e o exercício do poder de polícia só poderão ser remunerados por intermédio de taxas. Por sua vez, a realização de obra pública, de que decorra valorização

116 As contribuições e a destinação do produto da arrecadação, tese inédita, PUC/SP, 2005, p. 54. 117

imobiliária, permitirá apenas a exigência de contribuição de melhoria. Por fim, em face da atividade estatal para atendimento de finalidades constitucionalmente definidas e, portanto, com previsão de destinação do produto da arrecadação a órgão, fundo ou despesa, só há autorização constitucional para a instituição de contribuições119.

Partindo do pressuposto que o próprio texto constitucional permite caracterizar as diferentes espécies tributárias, adentrar-se-á na árdua tarefa de classificar os tributos.