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Acesso ao campo, seleção e estudo dos prontuários:

3.3. Exclusão Social e Famílias em Contexto de Vulnerabilidade

4.4.1. Acesso ao campo, seleção e estudo dos prontuários:

O acesso ao campo se deu com minha participação no Grupo Multifamiliar realizado pela aluna de Pós-Graduação do Instituto de Psicologia, Cláudia Cantelmo, com famílias que tinham vivenciado situação de abuso sexual com suas crianças no primeiro semestre de 2008 na Ceilândia.

Esta experiência me aproximou do campo de pesquisa e desde já comecei a estudar prontuários de famílias que haviam recebido medida protetiva e socioeducativa de LA. Nessa época, selecionei o prontuário de uma adolescente e comecei a estudá-lo detalhadamente, o que possibilitou a elaboração do instrumento (Anexo 1) que me auxiliou na leitura dos prontuários sujeitos deste estudo. Contudo, em função do Grupo Multifamiliar e outras atribuições profissionais que tive que assumir no segundo semestre de 2008, me distanciei do campo de pesquisa, retornando somente no primeiro semestre de 2009.

Ao retomar o prontuário da adolescente acima mencionada, fui informada que a mesma encontrava-se na Colméia (presídio feminino do Distrito Federal) e que, portanto, não cumpria mais a medida LA. Nesse momento, tive a constatação da importância do meu objeto de estudo, no sentido de analisar a trajetória que esses adolescentes estão traçando junto às instituições pelas quais passam, bem como percebi que se quisesse contato com os adolescentes, era necessário correr contra o tempo, senão não mais conseguiria encontrá-los para realizar as entrevistas.

Dessa forma, solicitei à equipe do NUMA que me informasse quais adolescentes acompanhados tinham tido a medida protetiva aplicada anteriormente à medida socioeducativa. Nessa oportunidade, fui informada que não havia um registro oficial com tal informação. No entanto, as agentes sociais, servidoras mais antigas do referido

Núcleo, relataram se recordar de alguns adolescentes que acompanharam antes do desmembramento do CDS, quando tanto as medidas socioeducativas quanto as protetivas eram executadas por este Centro.

Essas servidoras me informaram, ainda, que só há registro quando o adolescente tem ambas as medidas aplicadas concomitantemente pelo juiz. Diante disso, solicitei à equipe do CREAS informações sobre os adolescentes que tinham MP aplicada e receberam a MSE de LA. Eles também não tinham esses dados e relataram que eu deveria fazer uma busca em mais 1.000 nomes, pois sequer eles tinham registro atualizado de desligamento da MP pelo motivo do adolescente ter completado 18 anos.

Frente a este quadro, solicitei ao NUMA o nome dos adolescentes que tinham registro de MP aplicada pelo juiz, concomitantemente à MSE, bem como o nome dos adolescentes que as agentes sociais se recordavam de já terem acompanhado no CDS por motivo de medida protetiva e agora os acompanhavam no NUMA. Dessa forma, a equipe do NUMA passou uma relação com os nomes de trinta e cinco adolescentes que estavam cumprindo a MSE de LA e tinham registro de Medida Protetiva (art. 101, II e/ou IV) aplicada. Levei essa relação para o CREAS para verificar se havia prontuário nesta unidade. Identifiquei sete adolescentes que se encaixavam nos critérios estabelecidos para este estudo.

Foi necessário estabelecemos alguns critérios para escolha dos prontuários que seriam analisados, a fim de dar alguma uniformidade às informações que seriam coletadas. Dentre os critérios, listamos: 1. A medida protetiva tinha que ter sido aplicada anteriormente à socioeducativa e não concomitantemente. Esse foi um requisito importante de ser estabelecido porque quando o adolescente tem a medida protetiva aplicada concomitantemente à socioeducativa, praticamente não há registro do

acompanhamento da medida protetiva, ou seja, não teríamos dados para análise. Apesar de entendermos, este por si só, um dado de extrema relevância; 2. O adolescente que recebeu a medida socioeducativa tinha também que ter recebido a protetiva. Sabemos que a medida de proteção é aplicada para a família, contudo era relevante que o adolescente sujeito deste estudo fosse o agente provocador da aplicação desta medida; e 3. Era necessário que os adolescentes tivessem prontuário tanto no CREAS quanto no NUMA, e que estivessem sendo acompanhados por uma das duas unidades nessa época. Dessa forma, no final do primeiro semestre de 2009, foi feito o estudo do prontuário (tanto do CREAS quanto do NUMA) dos sete adolescentes, com os quais tentaríamos contato após o estudo dos documentos. Nessa fase, foi importante contar com o apoio da estudante de Pós-Graduação Luana Alves de Souza para estudo dos prontuários.

Depois de finalizada a leitura dos prontuários, verifiquei junto às técnicas do NUMA, em julho de 2009, a situação dos adolescentes para que pudéssemos entrar em contato com eles e suas famílias para agendar as entrevistas. Nessa época, dos sete adolescentes: um estava na semiliberdade, um desligado, um aguardando revogação, um com paradeiro ignorado, um em descumprimento e dois cumprindo a medida efetivamente.

Convém mencionar que um fato que me aproximou ainda mais do campo foi o de passar a compor o quadro de servidores da SEDEST desde fevereiro de 2009, Secretaria que o CREAS onde está sendo realizado este estudo faz parte. É importante destacar, mais uma vez, que este CREAS divide espaço físico com o NUMA da SEJUS, que acompanha os adolescentes em cumprimento dessa medida socioeducativa.

Além disso, esse fato redundou em minha participação no projeto ―ESCOLA: TÔ DENTRO!!!‖ provocado pelo Ministério Público, contando com participação da SEDEST, a SEJUS, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) e Conselho Tutelar para sua elaboração. O objetivo deste projeto é promover o acesso, a permanência e o desempenho satisfatório dos adolescentes em LA na rede de ensino. A participação no mesmo me aproximou ainda mais do campo de pesquisa.