• Nenhum resultado encontrado

Raimundo está com 19 anos e considera-se uma pessoa calma, tranqüila, não gosta de muita bagunça e gosta de tudo um pouco. O que tiver para ele está bom, não reclama de nada. Diz que não dá trabalho para ninguém. Também nunca foi de falar muito. Na época que foi realizada a entrevista individual (outubro de 2009) estava morando com uma moça, que havia ganhado neném há poucos dias. É o segundo filho de Raimundo. Na época em que foi realizada a entrevista familiar (março de 2010), Raimundo estava separado dessa companheira e, residia ―de favor‖ na casa do pedreiro para quem estava trabalhando.

Como filho, diz que deu um pouco de trabalho, mas sua mãe não reclamava muito dele. Ele considera que tinha que melhorar um pouco, mas agora já está

corrigindo os erros que cometeu, pois quando morava com a mãe saía muito de casa e voltava depois de dois ou três dias. Agora não faz mais isso, nem sai de casa, só se for pra ir a um mercado, padaria e volta logo. Também não fica mais na rua, fica mais em casa. É um menino introspectivo que gosta de falar pouco de si. Relata que não tem amigo nenhum atualmente porque não consegue confiar em ninguém, prefere andar sozinho. Os poucos amigos que teve o decepcionaram. Diz que sua diversão é em casa mesmo, não gosta de sair para rua.

Em outubro de 2009, estava trabalhando em um Lava Jato no Plano Piloto. Em março de 2010, estava atuando como servente de pedreiro. Estudou até a 5ª série do Ensino Fundamental. Não está estudando atualmente. Acha ―ruim demais‖ estudar, se não entende a matéria, não pergunta, fica ―flutuando‖, mas procurou vaga na escola ano passado e não encontrou. Sua vida social se resume a ir para a igreja duas vezes por semana.

Quando solicitado que contasse de forma resumida sua história de vida falou: ―Ih, não tem como não. É muita história. As que têm, eu não lembro‖. Depois de alguma insistência relatou que nasceu no Ceará e veio para Brasília com os pais quando tinha 11 ou 12 anos. Fala que foi difícil, mas está vencendo, está gostando.

5.2.1. Contexto Familiar

O pai é ajudante de pedreiro e o vê esporadicamente, pois ele tem um lote perto da casa do irmão de Raimundo. Então quando vai visitar o irmão, encontra-se com o pai. Tem uma irmã, mais velha (28 anos), que ficou responsável pelos irmãos menores depois que a mãe faleceu, há mais ou menos 7 meses. Diz que ela morreu de uma hora para outra, quando ele foi ao hospital visitá-la, ela havia falecido havia 15 minutos.

Disseram para ele que foi pneumonia, mas não procurou saber. Segunda sua irmã, a mãe morreu de desgosto da vida, pois até fome dentro do hospital ela passou. Quando veio a óbito estava com menos de 28 quilos. Essa irmã relata que depois que sua mãe morreu sua família, à exceção de seu pai, ficou mais unida, pois agora só tem uns aos outros. Relata ainda que passaram muita fome na infância e que sua mãe pediu muita esmola para poder alimentar os filhos. Além disso, a genitora sofreu muita violência doméstica do marido.

Raimundo diz que tem uma relação tranqüila com a família, tendo como referência familiar a irmã mais velha. Relata que ela vai visitá-lo e ele a visita e conversam. Tem irmãos de 7 e 11 anos que estão sob a responsabilidade dessa irmã. Na entrevista individual, diz que seu pai a ajuda, pois ela leva os irmãos para vê-lo. No entanto, na entrevista familiar sua irmã diz que seu pai não assume nada em relação aos filhos dele que estão com ela. Fica tudo sob sua responsabilidade. Diz que pode contar com a pessoa que mora com ela, uma mulher com quem, aparentemente, tem uma relação conjugal. Seu pai sequer tem documento de identidade e CPF, o que impossibilita que ela arrume um emprego para ele. Além disso, ele mora em um barraco sem água e luz. E segundo a irmã de Raimundo, não faz nada para sair dessa situação.

O adolescente mora em uma quadra muito distante do centro de Ceilândia, onde não tem escolas, postos de saúde ou outros equipamentos de proteção importantes. A irmã de Raimundo diz que ele é um menino bom, mas se influenciou pelas amizades, por isso está respondendo processo na Justiça. Mas ela tem certeza que hoje em dia ele não se envolveria mais com ―essas coisas‖, pois depois que ele teve filho melhorou muito.

5.2.2. Genograma Raimundo

Figura 2 - Genograma Raimundo

5.2.3. Percepção da medida de proteção

Quanto à medida protetiva, inicialmente Raimundo não recorda de tê-la recebido, contudo depois de questionado se não havia recebido nenhum atendimento ou recurso, se lembrou que por duas vezes sua mãe recebeu dinheiro do governo, quando ela estava passando por dificuldades. Relata que nunca recebeu nenhum atendimento. Mas fala que a ajuda financeira que a mãe recebeu ajudou muito a família. Também se lembra que o CDS ajudava a mãe com a doação de cestas básicas. A irmã também relata que sua mãe vivia no CDS, onde pedia auxílio quando não sabia mais o que fazer. Diz que todo o CDS sabia de sua vida e suas dificuldades. Mesmo dizendo que não entende do que se trata uma MP, a relaciona ao roubo do cavalo que era utilizado para o sustento da família. O cavalo puxava a carroça que utilizavam para catar material reciclável.

Depois que o cavalo foi roubado, ficaram sem meios de prover o sustento familiar, foi quando sua mãe começou a freqüentar o CDS.

5.2.4. Percepção da medida socioeducativa

Quanto à medida socioeducativa de LA, diz que estava vindo com freqüência, mas arrumou um serviço, no qual tinha que viajar para Goiânia, então passou uns dois meses sem vir, mas agora está vindo regularmente. Diz que recebeu a medida porque se juntou com uns amigos e ―foi mexer nas coisas dos outros‖ e a polícia acabou o pegando e ele foi parar no juiz. Acha que cumpre a medida desde 2007. Relata que esta não é sua única passagem pela justiça, está aguardando ser chamado para cumprir outra medida em relação à outra situação em que se envolveu há uns 8 meses, mas não diz qual é essa situação. Verificamos no processo que se trata de receptação. Quanto aos atendimentos recebidos diz que é tranqüilo e super bem tratado. Mas gosta ―mais ou menos‖ das conversas que tem com as técnicas. Contudo, relata que pára para pensar no que conversou quando chega em casa e ―vai criando mais juízo‖.

A irmã de Raimundo acredita que o que o levou a se envolver com ato infracional foi seu histórico de pobreza e privação; além disso, relata que seus pais não conversavam ou orientavam os filhos. Considera que são ―filhos do mundo‖. Acha que a medida foi boa para ele, pois tem que se responsabilizar pelos seus atos. Quando questionado sobre o tempo que vem sendo atendido, Raimundo considera que tudo que eles (executores da LA) precisavam saber, eles já sabem, acha que não precisava mais vir, pois o juiz falou que seriam 6 meses e ele cumpre essa medida desde 2007. No entanto, relata que acha que o tempo passou rápido, desde que se envolveu com a justiça.