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Capítulo 1. Famílias com Menores em Risco

1.5. Acontecimentos de Vida Stressantes e de Risco

Ao longo da vida familiar vão surgindo diversos acontecimentos de vida que originam situações de desequilíbrios e implicam mudanças necessárias, que permitam aos indivíduos e à família a sua adaptação às novas exigências. Porém, a existência de acontecimentos de vida stressantes, ou a escassa flexibilidade dos elementos que compõem a família, podem originar situações de risco que dificultam o adequado desenvolvimento dos seus membros, em particular, o dos menores (Triana & Rodrigo, 1998), que se vê alterado em função dos mecanismos ou processos que relacionam entre si fatores de risco e de proteção (Rutter, 2006).

Os acontecimentos de vida stressantes podem ser definidos como experiências que perturbam ou ameaçam a atividade diária de um indivíduo, causando a necessidade de adaptação (Lorence, 2008). Rodrigo e colaboradores (2008) afirmam que os acontecimentos de vida stressantes constituem o nível máximo de stresse que se pode vivenciar, com importantes repercussões ao nível do funcionamento adaptativo, que exigem um maior grau de reestruturação e de mudança na vida da pessoa ou da família.

As famílias em situação de risco psicossocial caracterizam-se por uma elevada acumulação de acontecimentos de vida stressantes (Menéndez et al., 2010; Rodrigo et al., 2008; Trigo 1998), e tendem a acumular ao longo da vida, crises inesperadas, não raras as vezes, provenientes da sua elevada vulnerabilidade a pressões do meio (Sousa, 2005), que distorcem os seus recursos (internos e externos) e dificultam a sua capacidade em lidar com as circunstâncias adversas.

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Com base na revisão teórica da literatura, salientamos duas perspetivas teóricas na abordagem dos acontecimentos de vida stressantes, com enfoques quantitativo e qualitativo, que têm sido utilizadas por diversos autores na tentativa de explicar a incidência e repercussão dos fatores de risco e de proteção no desenvolvimento individual e familiar em contextos familiares de risco.

1.5.1. Perspetiva Quantitativa dos Acontecimentos de Vida Stressantes e de Risco A perspetiva quantitativa visa a compreensão dos acontecimentos de vida stressantes, atendendo à sua frequência, e considera que a acumulação de situações stressantes na vida das pessoas constitui uma ameaça maior na adaptação psicossocial dos indivíduos do que um único elemento isolado, independentemente da natureza das circunstâncias do risco (Lorence, 2008; Lorence et al., 2009). Esta perspetiva propõe um modelo explicativo baseado na acumulação do risco, a partir da qual o nível de risco individual e familiar é determinado em função do número de fatores de risco presentes nos diferentes níveis ecológicos (Deković,1999; López, 2006; Lorence et al., 2009; Menéndez et al., 2010;).

Marcelli (2005) salienta que os acontecimentos de vida podem constituir fatores de risco, na criança ou no seu ambiente, que se associam a um risco de morbilidade mental superior, ao que se observa na população em geral, que não são independentes e que frequentemente se reforçam com efeitos cumulativos. As famílias em situação de risco psicossocial diferem das famílias normativas, na medida em que se caracterizam pela vivência de um maior número de acontecimentos de vida negativos (Rodrigo et al., 2008), como consequência dos processos de risco e de vulnerabilidade, nas quais se veem implicadas (Lorence et al., 2009).

Diversos autores têm realçado que a acumulação de fatores de risco conduz a um aumento das dificuldades vivenciadas pelos indivíduos que são acompanhadas pelo elevado impacto negativo provocado por essas circunstâncias (Jiménez, Menéndez, & Hidalgo, 2008; Oliva, Jiménez, Parra, & Sánchez-Queija, 2008; Rodríguez et al., 2006), que não advêm do seu impacto isolado, mas da sua cronicidade e influência sobre os outros, já que a sua presença aumenta as probabilidades de que se verifiquem novas circunstâncias de risco (Rutter, 1987), constituindo múltiplos ambientes de risco que interferem no funcionamento adaptativo das famílias e dos menores.

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1.5.2. Perspetiva Qualitativa dos Acontecimentos de Vida Stressantes e de Risco

A perspetiva qualitativa dos acontecimentos de vida stressantes e de risco considera o estudo da incidência, em particular, de cada acontecimento de vida stressante, atendendo à sua natureza e à forma como é vivenciado, e não apenas à sua presença ou ao seu número (Lorence et al., 2009). Diversos estudos de investigação com famílias em situação de risco psicossocial têm optado por uma abordagem qualitativa dos processos familiares (Cecconello, 2003; Cecconello & Koller, 2003; Lorence et al., 2009, Menéndez et al., 2010), cuja proposta permite a sua compreensão em relação à presença de variáveis associadas direta ou indiretamente, possibilitando desta forma uma visão mais contextualizada (Cecconello & Koller, 2003), e uma perspetiva global que analisa os processos e a família na sua totalidade (Lorence, 2008).

De acordo com esta perspetiva, também têm sido desenvolvidos alguns estudos com o objetivo de avaliar o impacto emocional dos acontecimentos de vida stressantes em adolescentes (Jiménez et al., 2008; Lorence, 2008; Lorence et al., 2009; Oliva et al., 2008), que crescem em contextos familiares de risco.

Da revisão da literatura efetuada, existe um certo consenso em considerar que a relevância dos acontecimentos de vida stressantes e de risco, não reside apenas na sua frequência, considerando-se fundamental avaliar também a relação da perceção subjetiva do impacto emocional dessas circunstâncias com o bem-estar psicológico (Lorence et al., 2009; Menéndez et al., 2010; Palomar, 2008).

As famílias em situação de risco psicossocial têm sido caracterizadas pela exposição a um elevado número de acontecimentos de vida negativos (Arenas, Hidalgo, & Menéndez, 2009; Menéndez et al., 2010; Nunes et al., 2011; Rodrigo et al., 2008), cuja disfuncionalidade se distingue pela presença de um ou mais sintomas sérios, com elevada intensidade e gravidade de longa duração (Weizman, 1985).

A este propósito, o nível de risco que caracteriza estas famílias como contextos de desenvolvimento dos menores, associa-se tanto ao número como à intensidade dos diferentes

fatores de risco associados (Rodríguez et al., 2006), cujacombinação relaciona-se não só com

um aumento do nível de risco, como também à persistência e cronicidade destas situações (Menéndez et al., 2010).

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1.6. Considerações sobre as Implicações no Desenvolvimento dos Menores de Famílias