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Capítulo 3. Família e Apoio Social

3.2. Família e Redes de Apoio Social Informal e Formal

A família constitui um sistema de apoio essencial para os seus membros (López, 2006), e regra geral, recorre a uma grande diversidade de fontes de ajuda que a apoia no seu funcionamento e atividades diárias (Rodrigo & Byrne, 2011).

A noção de rede social implica um processo de construção permanente, individual e coletiva, na medida em que se caracteriza por um sistema aberto de intercâmbio que estabelece múltiplas relações entre membros de um grupo (e.g., familiar, comunidade, organizações não governamentais) com outros grupos, que enriquecem e potenciam recursos pessoais e sociais. Deste modo, podemos distinguir dois grupos principais de redes de apoio social: informais e formais.

As redes de apoio social informal incluem a rede natural dos indivíduos (e.g., familiares, vizinhos, amigos, entre outros), e grupos sociais (e.g., organizações voluntárias, igreja, clubes, etc.), passíveis de fornecer apoio nas atividades diárias em resposta a acontecimentos de vida normativos e não-normativos. As redes informais de apoio integram o sistema ecológico de intercâmbios mútuos, mais privados, plurais e continuados, através dos quais as pessoas desempenham papéis de ajuda complementares e interdependentes inseridos num vasto contexto de direitos e obrigações (Rodrigo et al., 2008).

Por sua vez, as redes de apoio social formal contemplam as organizações sociais formais (e.g., sistemas de segurança social, hospitais, serviços de saúde, programas governamentais), e profissionais (e.g., psicólogos, médicos, assistentes sociais, entre outros) que estão organizados de forma a disponibilizar ajuda ou assistência às pessoas que dela necessitam (Ribeiro, 1999). As redes sociais permitem gerar relações de colaboração, pôr em comum recursos, desenvolver atividades em benefício dos intervenientes, ampliar e estreitar vínculos, criar sentimentos de pertença, socializar conhecimentos, experiências e saberes, reconstruir a confiança social e estabelecer relações de intercâmbio e reciprocidade.

Normalmente, as pessoas tendem a recorrer em primeiro lugar a fontes informais de apoio mais próximas (Arenas et al., 2009; López et al., 2007; Rodrigo & Byrne, 2011; Sarason, 1999; Sousa & Rodrigues, 2009), por se constituírem apoios mais naturais, recíprocos e satisfatórios, bem como pelo seu caráter mais privado e ajustado às necessidades concretas das pessoas, cujo recurso tem repercussões no aumento de sentimentos de competência e controlo sobre as suas próprias vidas (Rodrigo, 2009), potenciando o compromisso, a reciprocidade e a responsabilidade pelo cuidado para com os outros (Rodrigo, 2009; Rodrigo et al., 2008).

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De facto, uma das mais importantes dimensões do desenvolvimento humano e do bem- estar psicológico é o apoio social e afetivo provido por pessoas significativas (Brito & Koller, 1999), e os sistemas humanos autentificam-se pela estabilidade e pela previsão existente no conjunto das relações significativas (Alarcão, 2000).

Para Rodrigo e Palacios (1998), as redes de apoio social têm como principal função constituir um apoio fundamental e uma ajuda valiosa para os pais, de modo a lidar com as inúmeras tarefas relacionadas com o cuidado e socialização dos filhos. As redes de apoio social constituem um recurso fundamental ao nível da parentalidade, na medida em que podem funcionar como um fator protetor dos efeitos adversos do stresse, desempenhando uma função facilitadora na confrontação e adaptação em situações de crise (Bárron, 1996, citado por Hidalgo, Lorence et al., 2009). Dispor de pessoas de confiança com as quais se possam expressar emoções, problemas ou dificuldades, escutar a sua opinião ou simplesmente ter a sensação de ser escutado e aceite como pessoas, tem demonstrado ter um forte impacto na autoestima, bem como na capacidade da pessoa lidar adequadamente com situações especialmente difíceis e stressantes (Lin & Ensel, 1989).

Neste sentido, as famílias em situação de risco recorrem a diversas formas de apoio informal e formal para a resolução dos seus problemas (Nunes et al., 2011). As diversas investigações têm realçado que as redes informais destas famílias evidenciam-se muito concentradas no próprio sistema familiar (López et al., 2007; Nunes et al., 2010; Sousa, 2005), que para além de precárias, são constituídas por familiares e conhecidos que não providenciam o tipo de ajuda que os pais necessitam na sua parentalidade (Gómez et al., 2007), compreendendo, por norma, membros com características muito semelhantes, incluindo pessoas com histórias e percursos de vida idênticos, demonstrando limitações em trazer novos recursos às famílias (Sousa, 2005).

As relações dos membros familiares caracterizam-se por ser distantes ao nível das funções que desempenham e do seu envolvimento na resolução de problemas, e apesar das relações se mostrarem frequentes, revelam-se pouco proveitosas (Sousa, 2005). Em oposição, a uma dinâmica resiliente, os membros que compõem estas redes normalmente partilham e reforçam normas de conduta de parentalidade negligente (Gómez et al., 2007; Sousa, 2005;), sendo que os sistemas de apoio de amigos, vizinhos e conhecidos constituem, muitas vezes, mecanismos protetores e reparadores de algumas funções das famílias (Alarcão, 2000), constituindo pilares básicos e fontes de apoio fundamentais para estas famílias.

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As famílias normativas tendem a centrar a sua ajuda nos pilares básicos do microssistema (familiares e amigos), assim como na possível relação entre ambos (messosistema) (Arenas, et al., 2009; Rodrigo et al., 2007). Por sua vez, as famílias em situação de risco psicossocial tendem a ampliar a sua rede social de apoio alcançando o exosistema, sendo fundamental para estas disporem de um ambiente social rico em recursos que as apoie a lidar com êxito perante as situações de crise que vivenciam (López, 2006; López et al., 2007; Rodrigo et al., 2007; Rodrigo & Byrne, 2011).

A confluência da diversidade de características das famílias em situação de risco psicossocial converte-se, muitas vezes, como cenário propício para a intervenção de distintas entidades, que pela sua vulnerabilidade e fracos recursos pessoais e sociais entram em contacto com diversas instituições (Matos & Sousa, 2004; Rodrigo & Byrne, 2011; Rodríguez et al., 2006). Normalmente são os filhos, que em maior ou menor número, constituem o motivo dos pedidos de intervenção, frequentemente, feitos por terceiros (não é por iniciativa própria que as famílias chegam aos serviços que delas se ocupam) (Alarcão, 2000). Também, a desarmonia parental e conjugal constituem fatores promotores e facilitadores da intervenção externa (Sousa & Ribeiro, 2005). Neste sentido, são famílias onde a adversidade se tornou crónica e transgeracional, pelo que o seu envolvimento com os sistemas formais é quase inevitável (Colapinto, 1995, citado por Gómez & Kotliarenco, 2010).

Em Portugal, o apoio social disponibilizado às famílias em contexto de risco psicossocial é providenciado por entidades públicas ou privadas, que na sua maioria apresentam uma abordagem centrada no problema. Para além do facto, dos serviços sociais e de saúde se encontrarem separados e pouco articulados (Nunes et al., 2011).

A este propósito, Alarcão (2000) defende que ao nível da intervenção institucional não existe, na maior parte das vezes, uma reflexão conjunta sobre as problemáticas a resolver, nem sobre as dificuldades a equacionar. A autora salienta a importância da realização de encontros interinstitucionais, de forma a potenciar a eficácia da intervenção das instituições intervenientes e técnicos, propondo para o efeito o desenvolvimento da intervenção em rede. Recentemente têm sido encetados alguns esforços no sentido de promover a articulação e cooperação interinstitucional. (Sousa, Ribeiro, & Rodrigues, 2007).

O apoio social tem vindo a ocupar um lugar privilegiado e um recurso fundamental na intervenção social e comunitária com as famílias em situação de risco psicossocial (López et al., 2007), e os programas de apoio e educação parental assumem particular relevância, cujo enfoque deverá incidir na promoção de redes de apoio social, bem como efeitos pedagógicos com referência a competências parentais. Os resultados destes programas têm demonstrado um

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aumento nas interações positivas entre pais e filhos, ampliação de recursos ao nível do apoio social, maior capacidade dos progenitores para a resolução de problemas, melhoria da autoestima dos pais, diminuição do seu stresse e da sua sensação de isolamento, diminuição do desemprego e consequente melhoria das condições socioeconómicas, diminuição do risco e das situações que possam configurar situações de maus tratos a crianças e jovens. (Magalhães, 2005).