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Capítulo 3. Família e Apoio Social

3.3. Apoio Social e Contextos Familiares de Risco

O apoio social desempenha um papel fundamental no funcionamento familiar, que poderá constituir um fator de proteção pela sua presença de forma adequada ou um fator de risco na sua ausência (López et al., 2006). Assim, o apoio social é considerado um dos fatores de proteção que pode contribuir para mitigar o efeito dos fatores de risco (Rodrigo et al., 2008).

É certo, que qualquer estrutura familiar pode beneficiar de uma rede de apoio social ampla e efetiva (Hidalgo, Lorence et al., 2009), porém o efeito protetor do apoio social revela-se particularmente decisivo em famílias multiproblemáticas, cuja trajetória de vida é marcada pela complexidade e interação de inúmeros acontecimentos de vida stressantes que aumentam a sua vulnerabilidade (Nunes et al., 2010).

Rodrigo e colaboradores (2008) referem que as famílias em situação de risco psicossocial apresentam um desequilíbrio entre fatores de risco e apoios sociais, o que implica uma maior vulnerabilidade por parte destas famílias em lidar com mais desafios e menos recursos. Diversos autores têm identificado alguns fatores de risco associados ao stresse (e.g., pobreza e a pressão económica os acontecimentos de vida negativos, o conflito conjugal, o divórcio, entre outros), que em contextos familiares de risco, muitas vezes, interagem entre si observando-se a confluência dos mesmos, complexificando ainda mais as situações destas famílias. O stresse social a que estão submetidos os membros familiares que integram estes agregados, nos quais se encontram as crianças e os jovens, dificulta a sua capacidade em lidar adequadamente com as diversas situações de stresse, surgindo novos problemas que identificam e acusam a sua situação de risco.

A rede social de apoio tem vindo a ser associada a numerosos fatores de proteção de crucial importância (Gómez et al., 2007; Rodrigo et al., 2008), sendo que a sua precariedade e escassa disponibilidade influi na gravidade e multiplicidade dos sintomas identificados nas famílias em situação de risco psicossocial (Gómez et al., 2007). Gómez e colaboradores (2007) afirmam que quando estas famílias não recebem a ajuda e intervenção adequadas, a poli-

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sintomatologia caraterística destas famílias, tende a tornar-se crónica e a reforçar o ciclo de condições de vida adversas. Neste sentido, deparamo-nos com a emergência de famílias que não dispõem dos recursos necessários, pertencendo a sua maioria a setores de exclusão social (Fernandez, 2007; Rodríguez et al., 2006).

O isolamento social ou “falta de apoio social” em famílias de risco constitui um fator crítico que pode contribuir para a etiologia dos maus tratos infantis (Gómez et al., 2007; Moreno, 2002; Rodrigo et al., 2008). Gracia e colaboradores (1994) consideram que os maus tratos infantis constituem uma expressão grave de carência ao nível dos recursos e capacidades dos pais para lidar e superar situações que conduzem a elevados níveis de stresse, e verificaram que os pais que perpetravam maus tratos sobre os seus filhos vivenciavam níveis mais elevados de stresse, apresentavam índices mais altos de sintomatologia psicopatológica e encontravam- se socialmente mais isolados. Os autores coincidem em afirmar que o apoio social assume qualidades protetoras, na medida em que diminui o impacto dos acontecimentos de vida stressantes e pode melhorar as relações entre fatores stressantes e adaptação psicológica, e concluíram que o fortalecimento do apoio social se converte numa importante estratégia de intervenção para promover a mudança e desenvolvimento de comportamentos adaptativos.

Gracia & Musitu (2003) observaram que o isolamento social estava associado a um elevado risco de maus tratos físicos e negligência parental. A ausência de contactos sociais, a escassa ou nula participação em grupos e organizações formais e informais, assim como sentimentos negativos perante o bairro e a comunidade têm sido variáveis associadas a maus tratos infantis (Gómez et al., 2007).

Os acontecimentos de vida stressantes exercem uma influência significativa no bem- estar físico e psicológico e constituem um fator de risco no desenvolvimento de sintomas psicopatológicos (Gracia et al., 1994; Lin & Ensel, 1989). Diversos autores têm vindo a reconhecer a influência do apoio social no bem-estar físico e psicológico dos membros da família, reduzindo o impacto negativo dos acontecimentos de vida stressantes (Gracia et al., 1994; López & Sánchez, 2001; Rodrigo et al., 2008), promovendo um sentimento de identidade, autoestima e bem-estar dos indivíduos (Rodrigo et al., 2008). As relações sociais atenuam o isolamento social, aumentam a satisfação com a vida, fomentando deste modo a autoestima dos indivíduos (Serra, 1999).

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Os indivíduos que a nível familiar e social dispõem de uma rede emocional mais ampla, uma rede social de apoio efetiva e de boa qualidade, com relações mais positivas sofrem menos de stresse ambiental (Rodrigo et al., 2008). Por sua vez, Rodrigo, Camacho, Máiquez, Byrne e Benito (2009) enfatizam a importância do apoio social para as famílias em situação de risco psicossocial, já que o apoio social melhora o bem-estar psicológico dos pais, melhora as práticas educativas e proporciona oportunidades para a aprendizagem social dos filhos.

As investigações têm vindo a realçar a importância do apoio social e a sua relação com uma parentalidade adequada. Deste modo, o apoio social pode exercer uma função protetora na relação entre pais e filhos. Rodrigo e colaboradores (2007) demonstraram um efeito positivo da satisfação com o apoio do cônjuge no comportamento parental em famílias de risco, e verificaram que a insatisfação com o apoio do cônjuge estava relacionada com práticas parentais negativas. A qualidade das relações conjugais e a satisfação com o apoio do cônjuge influencia o desempenho de relações parentais de boa qualidade e favorece uma relação positiva com os filhos (Braz et al., 2005).

Diversos estudos empíricos têm-se centrado na interação dos indivíduos no contexto da sua rede social e o seu impacto nos processos de adaptação ao seu meio social (Ornelas, 1994). Ribeiro (1994) avaliou diferentes dimensões do apoio social fornecido por vários agentes e concluiu que para os adolescentes, a família constituiu a fonte mais importante de apoio social. O apoio social, mais especificamente, o apoio familiar está associado a adequada adaptação psicossocial dos adolescentes (Musitu & Cava, 2003), e com a satisfação na vida das pessoas,

principalmente, nos adolescentes (Baptista, 2005). Cumsille e Epstein (1994) observaram que

um baixo nível de apoio social da família percebido pelos adolescentes estava associado a sintomas depressivos mais acentuados. Para além, de um elevado nível de apoio familiar estar associado a uma baixa prevalência de perturbações da ansiedade e do humor nos indivíduos (Baptista, 2005).

Arenas e colaboradores (2009) analisaram a coesão social percebida em famílias de risco, e concluíram que as famílias que beneficiam de um contexto imediato com uma adequada rede de recursos públicos e comunitários obtêm benefícios a nível psicológico e social. Os resultados deste estudo sugerem que as características dos contextos onde habitam as famílias vão determinar as barreiras e as oportunidades para o acesso e mobilização do apoio social.

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López e Sánchez (2001) observaram que as posições de desvantagem socioeconómica geram situações de alienação que têm um impacto negativo sobre a saúde mental dos indivíduos, e verificaram uma associação positiva entre posição social e integração comunitária com repercussões benéficas na saúde mental, na medida em que as pessoas que estão mais integradas na sua comunidade percebem maior apoio ao nível psicológico. Estes resultados sugeriram a importância de fontes de apoio ao nível da integração comunitária das famílias em risco associadas a um maior bem-estar psicológico dos indivíduos.

Alguns estudos têm demonstrado uma relação entre a presença de redes formais entre os sistemas de apoio com níveis mais elevados de risco familiar (Matos & Sousa, 2004; Rodrigo et al., 2008; Rodrigo & Byrne, 2011). Rodrigo e colaboradores (2008) estudaram o nível de risco psicossocial de mães acompanhadas pelos serviços sociais da comunidade espanhola e integradas num programa de formação e educação para pais. Os resultados do estudo indicaram um padrão de apoio diferenciado em função do nível de risco familiar, e demonstraram que a presença do apoio formal no sistema familiar aumentava progressivamente de acordo com o seu nível de risco, adquirindo a presença de redes formais entre os sistemas de apoio familiar um especial protagonismo.

Se por um lado, as famílias que maltratam os seus filhos têm redes socias mais pequenas, mantêm menos contacto com a família extensa e não usufruem do apoio social proveniente das instituições, na medida em que se caracterizam por menos participativas nas atividades comunitárias e mostram uma menor implicação e ligação a grupos, associações e

organizações (Gracia & Musitu, 2003). Por outro lado, sabemos que estas famílias são

referenciadas nos serviços competentes por práticas educativas muito inadequadas, incluindo os maus tratos infantis, e são famílias multiassistidas que contactam com diversos profissionais e instituições (Matos & Sousa, 2004).

Na verdade, como afirmam Nunes e colaboradores (2011), o nosso conhecimento nesta área é limitado, daí a importância em estudar os recursos de que dispõem, em particular, as famílias com menores em risco psicossocial, para lidar com uma panóplia de adversidades, dificuldades, necessidades, entre as quais o apoio social assume um papel essencial.

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