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Capítulo 3. Família e Apoio Social

3.1. Definição de Apoio Social

O conceito de apoio social tem vindo a ganhar crescente importância nos meios científicos e ocupa um lugar privilegiado pelo papel e função que representa enquanto constructo multidimensional. Na literatura, este conceito tem sido amplamente discutido, sendo abordado por múltiplas conceções, que na sua análise envolve diversos componentes, aspetos e procedimentos de avaliação (Ribeiro, 1999).

Diversos estudos empíricos têm demonstrado a influência do apoio social na saúde e bem-estar psicológico e social e consequente interesse das várias ciências e trabalhos de investigação, sobre os quais os diversos profissionais estão de acordo acerca da sua importância na promoção do bem-estar físico e adaptação psicológica dos indivíduos (López & Sánchez, 2001; López et al. 2007; Sarason, 1999; Musitu & Cava, 2003).

O apoio social refere-se ao conjunto de sistemas e de pessoas significativas que compõem a rede de relacionamentos de uma pessoa (Brito & Koller, 1999), e pode ser definido como o processo através do qual os recursos sociais proporcionados pelas redes formais e informais de apoio, permitem satisfazer as necessidades instrumentais e expressivas dos indivíduos nas suas atividades diárias e em situações de crise (Lin & Ensel, 1989). Nesta perspetiva, o apoio assume-se como um processo promotor de assistência e de ajuda através do qual facilita e assegura a sobrevivência dos seres humanos.

Por sua vez, Serra (1999) define o apoio social como a quantidade e coesão das relações sociais que envolvem de modo dinâmico o indivíduo. Para López e colaboradores (2007), o apoio social constitui uma dimensão interpessoal com um valor amplamente reconhecido como fonte de saúde, felicidade e adaptação para os indivíduos, bem como um fator de diminuição de ansiedade e stresse. Neste sentido, o apoio social é visto como um processo dinâmico e transacional, cuja complexidade envolve uma influência mútua entre os indivíduos e as suas redes de apoio, no sentido de promover o bem-estar físico e psicológico.

Com base na revisão teórica da literatura, podemos constatar a existência de um consenso geral acerca do domínio multidimensional do apoio social, sendo a sua terminologia associada a uma grande diversidade de conceitos e tipologias, cujo interesse decorre não só do facto do desenvolvimento deste constructo, como também do conhecimento dos seus efeitos sobre a saúde e bem-estar psicossocial dos indivíduos, cuja operacionalização determina os resultados obtidos nas diversas investigações. De facto, o apoio social é um constructo de

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grande complexidade concetual, quer pelo seu caráter multidimensional, quer pela necessidade de análise de distintos aspetos.

A este propósito, Barrón (1990) e Lin, Dean e Ensel (1986) sugerem que devem ser distinguidos três aspetos: a) os diferentes níveis de análise (constituição das redes sociais e redes íntimas), as distintas perspetivas de estudo (estrutural, funcional e contextual), assim como c) a diferenciação entre aspetos objetivos e subjetivos (López, 2006). Neste sentido, o apoio social é um conceito multidimensional, com diferentes aspetos estruturais e funcionais (Nunes et al., 2011), sendo que a sua influência sobre o bem-estar psicológico tem sido claramente reconhecido, quer seja ao nível dos aspetos estruturais (composição das redes sociais), quer ao nível dos aspetos funcionais (funções cumpridas pela rede social), (López & Sánchez, 2001).

Barrera (1986) afirma que os aspetos fulcrais do apoio social dizem respeito ao grau de integração social, apoio social fornecido e avaliação subjetiva ou perceção de apoio. Atualmente, as medidas de apoio social mais utilizadas podem ser divididas em três categorias, que se referem à dimensão das redes que se situa na interligação social dos indivíduos e as interligações destes no grupo; à dimensão do suporte recebido que se centra no suporte que o indivíduo na realidade recebe ou considera ter recebido e, por último, à dimensão do suporte percebido que o indivíduo acredita ter disponível em caso de necessidade (Ornelas, 1994).

Neste estudo, vamos debruçar-nos sobre a análise do apoio social percebido das famílias em situação de risco psicossocial, em virtude de apresentar um maior impacto na saúde e no bem-estar (Cohen & Wills, 1985, citado por Nunes et al., 2011; Haber, Cohen, Lucas, & Baltes, 2007; López et al., 2007). A dimensão do apoio social percebido refere-se à confiança depositada pelo indivíduo no apoio que percebe como disponível se precisar dele, remetendo também para a adequação e satisfação com a dimensão social na sua vida (Barrera, 1986). Assim, o apoio social percebido relaciona-se com as perspetivas subjetivas de apoio que consistem nas avaliações das relações individuais de apoio e dos comportamentos que ocorrem no seu seio. Este nível subjetivo constitui um indicador de como as funções de apoio estão a ser cumpridas, podendo também assumir diferentes formas como a satisfação, sentimentos de pertença e envolvimento, entre outros (Ornelas, 1994). Assim, as funções cumpridas pelo apoio social consistem em considerar este conceito multidimensional, com distintas dimensões e categorias.

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Nunes e colaboradores (2011) defendem a importância de considerar três dimensões fundamentais atribuídas ao apoio social: a) emocional que se refere a aspetos como a intimidade, afeto, conforto, cuidado e preocupação); b) material respeitante à provisão de assistência a nível material; e ainda, c) informativo que envolve aspetos como o conselho, orientação ou informação relevante para determinada situação.

O conceito de apoio social tem sido, consensualmente, definido em termos do seu conteúdo funcional das relações, abrangendo o grau de envolvimento afetivo-emocional ou instrumental, a ajuda ou a informação. Com efeito, as dimensões dos comportamentos de apoio podem assumir diversas formas e desempenhar várias funções, sendo possível identificar seis formas em que os comportamentos de apoio podem refletir a existência de algum consenso entre os indivíduos, nomeadamente apoio emocional, conselho, assistência física, material, feedback e participação social (Ornelas, 1994).

A dimensão de apoio emocional define-se pela expressão de sentimentos pessoais e participação social, o apoio material considera a ajuda material e física, e por último, o apoio informativo inclui as categorias de conselho e reforço positivo, que constituem categorias de apoio que têm vindo a ser consideradas na literatura especializada nesta área, que serão analisadas no nosso estudo, e têm sido objeto de investigação em diversos estudos empíricos com famílias em situação de risco psicossocial (Hidalgo, Lorence et al., 2009; López et al., 2007; Menéndez et al., 2010; Nunes et al., 2011).

O apoio social constitui uma variável fundamental para o estudo da dinâmica familiar, assim como para a manutenção do bem-estar e equilíbrio psicológico dos seus membros (López, 2006), que torna as pessoas mais fortes e capazes para enfrentar determinadas dificuldades e constrangimentos que vão surgindo ao longo da vida, constituindo um importante recurso, quer na presença ou ausência de fontes de stresse (Ribeiro, 1999), cujo estudo assume particular relevância, em contextos familiares de risco, quer pela elevada vulnerabilidade em que estas famílias se encontram, quer pelas funções que o apoio social pode desempenhar ao nível do exercício de uma parentalidade mais adequada, satisfação e bem-estar físico e psicológico dos seus membros, sobretudo dos menores que neles convivem.

Por isso, o apoio social para além de constituir uma construção teórica deve ser perspetivado à luz de um processo dinâmico e complexo, que remete para interações recíprocas entre os indivíduos e as suas redes sociais, no sentido de satisfazer necessidades sociais, promovendo e desenvolvendo os recursos pessoais que possuem, para enfrentar novas exigências, desafios e atingirem novos objetivos.

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