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Capítulo 8. Conclusões e Limitações do Estudo

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Capítulo 8. Conclusões e Limitações do Estudo

O presente estudo permitiu-nos delinear o perfil psicossocial das famílias com menores em risco psicossocial, e aprofundar os conhecimentos acerca da realidade destas famílias, nas quais se desenrola o desenvolvimento das crianças e dos jovens que vivem em contextos familiares de elevada vulnerabilidade. As famílias em situação de risco psicossocial não constituem um coletivo homogéneo e são caracterizadas pela diversidade (Hidalgo, Lorence et al., 2009; Menéndez et al., 2010). Todavia, apesar desta diversidade podemos identificar algumas características sociodemográficas, que são comuns às famílias em situação de risco psicossocial (Menéndez et al., 2010). Neste sentido, apresentamos as principais conclusões da nossa investigação.

As famílias em situação de risco psicossocial caracterizam-se por elevada precaridade económica, profissional e baixo nível educativo, tratando-se de um grupo especialmente vulnerável. A maioria dos participantes integra famílias do tipo biparental e monoparental e apresentam estabilidade familiar. Estes resultados são corroborados por outros estudos desenvolvidos com famílias de risco (Garrido & Grimaldi; Hidalgo, Lorence et al., 2009; Menéndez et al., 2012; Nunes et al., 2011).

Para além das características sociodemográficas mencionadas, os nossos dados mostraram que as trajetórias de vida e as circunstâncias atuais dos pais e das suas famílias são marcadas pela presença e acumulação de acontecimentos de vida negativos associados a elevado impacto emocional e um aumento de vulnerabilidade. Na verdade, a presença de acontecimentos de vida stressantes e de risco dificulta a adequada realização da tarefa dos pais (Rodrigo, 2009), e a acumulação de fatores de risco tem um efeito negativo no desenvolvimento e adaptação psicossocial das crianças e dos jovens (Rodríguez et al., 2006), o que confirma a necessidade de realizar intervenções psicossociais, junto das famílias e dos menores em risco psicossocial.

Parece-nos relevante salientar que a análise dos acontecimentos de vida negativos e de conflitos dos nossos participantes (problemas conjugais, problemas com os filhos, família extensa) estão relacionados com circunstâncias stressantes próprias da dinâmica familiar, assinalando a sua precaridade, cuja complexidade das trajetórias de vida parece ter repercussões de especial relevância no âmbito da dinâmica familiar, o que evidencia a necessidade de incluir as relações familiares nas intervenções dirigidas às populações em risco.

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Por outro lado, os resultados obtidos na investigação refletem uma significativa tendência para que o impacto emocional, com que se vive e lida com cada circunstância stressante, seja progressivamente maior quanto mais problemas ocorrerem na vida dos sujeitos, o que evidencia que a acumulação de circunstâncias stressantes tende a aumentar a vulnerabilidade pessoal e social das famílias em situação de risco psicossocial.

Quanto aos níveis de coesão e adaptação familiar, os entrevistados apresentaram níveis mais elevados de coesão do que adaptação familiar. Os nossos resultados vão ao encontro daqueles observados por outros estudos com famílias de risco (Hidalgo, Lorence et al., 2009; Peréz et al., 2012; Ribeiro et al., 2004), que deverão ser tidos em consideração no âmbito do planeamento e implementação de intervenções em contextos familiares de risco.

Apesar de dispormos de menos evidências sobre o apoio social percebido em famílias de risco, os nossos resultados não demonstraram o isolamento dos participantes, que apresentaram redes de apoio social normativas constituídas principalmente por familiares e amigos, como tem sido observado noutros estudos empíricos (López, 2006; López et al., 2007; Menéndez et al., 2010; Nunes et al., 2011; Rodrigo et al., 2008). Porém, os participantes reportaram uma reduzida presença de apoio social proveniente por parte de profissionais e uma diminuição na rede social de apoio face aos acontecimentos de vida stressantes e de risco. Estes resultados foram idênticos àqueles observados por Nunes e colaboradores (2011). No nosso estudo verificámos também que os participantes apresentaram níveis mais elevados de necessidade emocional do que informativa ou material, que deve ser tido em conta em futuras intervenções com famílias em situação de risco psicossocial. Assim, o apoio social efetivo em famílias de risco, cuja trajetória de vida é marcada pela complexa interação de inúmeros acontecimentos de vida stressantes, repercutindo-se no aumento da sua vulnerabilidade, revela- se fundamental sem o qual dificilmente as famílias serão bem-sucedidas (Nunes et al., 2011).

De uma intervenção marcada por um caráter assistencial, baseada numa perspetiva deficitária e individualista (Rodrigo et al., 2008), na descrição de problemas, modos de disfuncionamento familiar (Sousa & Ribeiro, 2005), características sociodemográficas (Hidalgo, Menéndez et al., 2009), negligenciando-se os recursos e as competências das famílias (Sousa, 2005), assistimos que nas últimas décadas, a intervenção com as famílias em situação de risco, tem vindo a alterar-se, evoluindo para formas de atuação muito mais positivas, preventivas e direcionadas para a preservação e fortalecimento familiar (Hidalgo et. al., 2009), inerente a um trabalho capacitador, reeducativo e preventivo (Rodrigo et al., 2008). O passado influi na criação da organização e funcionamento atual das famílias, por isso manifesta-se no presente e poderá modificar-se através de intervenções que o possam alterar (Minuchin, 2005). As intervenções

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psicossociais têm sido evidenciadas como um bom recurso para trabalhar com estas famílias (Menéndez et al., 2010). Assim, a compreensão, investigação e utilização das competências das famílias com menores em risco psicossocial, constitui um importante instrumento de trabalho ao nível da intervenção e preparação de programas de apoio destinados a estas famílias (Ribeiro et al., 2004).

Deste modo, concluímos que para além dos fatores de risco, as famílias apresentam também fatores de proteção, em diferentes níveis de apreciação que se relacionam entre si, cuja análise precisa revela-se crucial no planeamento das intervenções a desenvolver com as famílias, bem como na avaliação da eficácia das mesmas (Hidalgo, Lorence et al., 2009). Assim, as dificuldades e as oportunidades de adaptação e de interação recíproca que existe entre o sistema familiar e o meio envolvente, onde desenvolve as suas atividades, permitem conceptualizar intervenções mais eficazes e concertadas, sobre as quais deverá assentar a prática profissional com as famílias em situação de risco psicossocial (Rodrigo et al., 2008).

Em relação às limitações do nosso estudo, salientamos a reduzida dimensão da amostra, que não nos permite generalizar os resultados obtidos à restante população em risco psicossocial. Consideramos que um futuro estudo possa ser alargado o número de participantes, e incluir uma maior participação dos sujeitos do sexo masculino. Por outro lado, a inexistência de estudos de aferição dos instrumentos utilizados (ISER e ASSIS) dificultou a comparação dos resultados obtidos, pelo que consideramos fundamental prosseguir com o seu trabalho de validação para a população portuguesa.

Face à complexidade das famílias, das suas funções e práticas, em contextos familiares de risco e fatores que afetam o seu quotidiano, exige-se cada vez mais o desenvolvimento de intervenções psicossociais sistematizadas, rigorosas e cientificamente sustentadas que promovam a eficácia desejada, com vista à promoção e proteção efetiva da infância.

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