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De acordo com o cenário que você acabou de narrar que papel você acha que a escola desempenha na vida do aluno?

4.1: A hora do recreio: para onde ir?

5) De acordo com o cenário que você acabou de narrar que papel você acha que a escola desempenha na vida do aluno?

"A escola tem um papel muito importante, o de educar. Mas sozinha é muito difícil. Aqui na escola o adolescente fica por quatro horas. Na maioria do tempo eles ficam com os responsáveis. Por conta dessa falta de disciplina os

profissionais estão cada vez mais desmotivados. Tem que haver uma parceria entre a família e a escola. Tá cada dia mais difícil. Tem muitos profissionais que estão encostados, doentes. Eu mesma fiquei com depressão e pressão alta quando comecei a trabalhar aqui devido o embate diário com os alunos. No início eu era muito rígida, cobrava mais.

Hoje em dia eu estou levando de forma mais tranquila".

4.3.6: Comentários sobre as entrevistas e relatos

Nesses quatro meses de pesquisa na escola "A" foram entrevistados alunos, professores, funcionários e a direção da escola. É cabível esclarecer que as entrevistas com os responsáveis foram inviabilizadas em decorrência do grupo pesquisado ter mais de 12 anos de idade e, portanto, os responsáveis pouco compareciam à escola para levarem ou buscarem seus filhos.

Portanto, nesse período buscou-se dar voz aos diferentes sujeitos daquele espaço escolar, em busca da compreensão sobre as diversas vivencias que envolviam o discurso da indisciplina.

Procurou-se não apenas observar o ambiente escolar, mas tentou-se entender de que formas os sujeitos daquele ambiente o enxergavam e

relacionavam-se entre si, a partir das suas falas, gestos e perspectivas sobre aquele lugar.

Assim, o discurso sobre a indisciplina poderia surgir através dos atos não falados, nas entrelinhas dos dizeres ou na hierarquia das relações.

Suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade. (FOUCAULT, 2014, p. 8-9)

Esses aspectos ocultos, presentes nas entrelinhas do discurso, eram bastante incisivos. De todo modo, a questão da indisciplina era tão grave que aparecia explícita, em forma de agressão e violência na fala da maioria dos entrevistados.

Nas entrevistas realizadas com os alunos sobre o papel da escola em suas vidas percebeu-se que eram dadas respostas prontas como se estivessem a vida inteira sendo preparados para responder àquela indagação. Assim, sem titubear, os alunos respondiam na maioria das vezes: "A escola serve para estudar."

A resposta padrão, possivelmente, era o eco daquilo que os professores ou pais repetiam como uma espécie de "mantra" na tentativa de convencê-los de que a escola era apenas um local onde se aprendiam coisas e nada mais. Assim, sem pensar nas outras possibilidades que a escola poderia oferecer, como o convívio social, os alunos respondia à pergunta: "Para o que serve a escola?"

O objetivo da pesquisa era tratar da indisciplina como indício da crise escolar, no entanto, ao longo da investigação, percebeu-se que grande parte dos entrevistados jamais tinha sido questionada quanto ao papel da escola na sociedade e em suas vidas. Talvez por isso tal questionamento esteve presente como um espectro assombrando a todos aqueles que a duras penas se dispuseram a colaborar com a pesquisa.

A pouca atratividade da escola também aparecia nas falas dos alunos que desejavam mudanças naquele cenário cinzento e árido que chamavam de recreio. As poucas ofertas de atividades extracurriculares e esportivas eram pontos reincidentes nas entrevistas.

Na pequena jornada de quatro meses na escola "A", após inúmeras tentativas e debaixo de muitas suspeitas, foi possível realizar entrevistas com alguns membros da gestão da escola. O que se deteve, para além das falas, foi um certo sentimento de posse sobre aquele lugar. Era como se a escola pertencesse à gestão e não aos alunos. A forma majoritariamente agressiva como os alunos eram tratados retratava e reafirmava cada vez mais tal hipótese. A maneira como os alunos eram tratados na coordenação espelhava o tom agressivo que existia nas relações entre os alunos e a gestão. Não bastava dar os avisos e advertir os alunos pelo microfone. Tinha que gritar. A demonstração de poder era urgente, necessária para aqueles que achavam que o detinham. Assim a fala da vice-diretora, ciente de que o aluno estava trancado em uma sala e mesmo assim deveria permanecer, apenas era mais uma demonstração da agressividade em que estavam mergulhadas as relações.

As ações disciplinadoras da gestão eram proporcionais às ações indisciplinadas dos alunos. Quanto mais se tentava moldar os comportamentos e coibir os atos de indisciplina, parecia que mais os reforçavam. Os alunos caminhavam pelos corredores gritando palavrões e chutando as portas. A presença dos monitores de corredor não os constrangia. A escola parecia refém daquela nuvem de aversão entre alunos e gestores.

Já os professores possuíam uma fala em que culpabilizava-se, além da cultura da agressão, a falta de parceria dos pais no que tange à educação dos alunos. A desesperança nas ações educacionais saltava das bocas dos entrevistados sem que esses a dissessem pontualmente. Portanto, a indisciplina dos alunos, para os professores, era resultado de uma cultura que prestigiava a agressão como forma de defesa e de comunicação. Defesa pelo fato dos alunos serem oriundos de comunidades em que o crime organizado existia, e por isso a agressão seria uma forma de sobreviver a esse mundo hostil em que viviam; a agressão era considerada uma forma de comunicação pelo fato dos alunos, na concepção dos professores, não saberem se relacionar de outra forma que não fosse da maneira agressiva e desrespeitosa por serem tratados assim pela sociedade.

Assim, as dificuldades encontradas nas salas de aula eram veementemente discorridas pelos professores em razão da indisciplina dos

alunos e pela falta de interesse pelo conhecimento oferecido pela escola. Na concepção de alguns a internet, com seu conhecimento instantâneo, seria a grande concorrente da escola. De fato, na fala de um aluno, foi dito que "a escola não era atraente" e, portanto, não despertava o interesse dos alunos. Sendo assim, cabem aqui as seguintes indagações: será a indisciplina uma espécie de resistência à forma disciplinar em que a escola se apresenta? Será a indisciplina de fato um indício da falibilidade da escola contemporânea que não mais consegue dar conta desses novos sujeitos? O que mais está por trás da indisciplina? Qual a "verdadeira" função política da escola pública brasileira, em geral?

As poucas reuniões que puderam ser observadas, em que os pais estavam presentes, eram rigorosamente para tratarem do mau comportamento dos alunos. Não havia complementações sobre o rendimento escolar dos seus filhos ou sobre outros interesses que os envolvessem.

4.4: Grupo focal com alunos do 9º ano da escola "A": reflexões sobre indisciplina e normas escolares

No dia 29 de junho de 2016 foi realizado um grupo focal com doze alunos do 9º ano, entre 15 e 18 anos de ambos sexos, e uma professora de matemática da própria escola. Na ocasião, o grupo reuniu-se na sala de aula e foram realizadas seis perguntas, com a preocupação de observar as reações e intervenções ocorridas durante as possíveis respostas e os silenciamentos do grupo em questão. O objetivo do grupo focal era conhecer na ótica daqueles jovens, qual era a percepção que eles tinham em relação às manifestações de indisciplina e às normas escolares da escola "A". Assim, às 10:17 da manhã a professora de matemática cedeu seu tempo de aula para a realização da pesquisa. As perguntas foram feitas na sequência apresentada respeitando o tempo que os alunos precisavam para respondê-las e as intervenções que pudessem ocorrer, tendo essa pesquisadora apenas mediado as conversas sem fazer intervenções que pudessem influenciar nas respostas. As perguntas realizadas foram as seguintes: