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O que você pensa sobre uma gestão com a participação dos alunos?

5.1: A escola ocupada: de quem é esse espaço?

4) O que você pensa sobre uma gestão com a participação dos alunos?

Entrevistada: "Eu penso que muitos professores têm medo. Pensam que os alunos vão dominá-los. Os professores ainda têm uma visão muito forte sobre a dominação sobre o aluno. Nessa gestão horizontalizada, todas as ações passam pelo crivo de todos. Tudo será resolvido com base no diálogo."

5.1.4: Comentários sobre as entrevistas e as observações:

Uma educação menor é um ato de revolta e de resistência. Revolta contra os fluxos instituídos, resistências às políticas impostas... (GALLO, 2013, p. 64)

Durante a experiência vivenciada na escola "B" foi possível observar as diversas manifestações de alguns alunos e professores contra a gestão da escola, que segundo os relatos, apoiava-se em princípios de hierarquia e controle.

De acordo com as entrevistas e as observações realizadas pôde-se ter uma amostra do espírito de coletividade que impregnava a atmosfera daquela instituição forjada para disciplinar corpos e instruir mentes. Disciplinar corpos estudantis que se sujeitassem a toda ação hierarquizada, segundo o modelo das instituições disciplinares. No entanto, o que se viu ali foram alguns alunos se apoiando mutuamente quando o assunto envolvia questões sobre a escola como sua manutenção, por exemplo.

A sensação que se tinha no ar era a de uma escola recém-inaugurada. Os olhos curiosos percorriam os laboratórios e quadras que até aquele momento estavam ocultos dentro daquele grande quarteirão em que se localizava a escola.

As falas e os gestos dos alunos e professores encontrados naquele espaço durante a pesquisa estavam carregados de esperança e inquietudes ao mesmo tempo.

A palavra de ordem era resistir à gestão que não permitia a participação dos alunos nas decisões e processos que atingiam frontalmente o curso das vidas estudantis. Falava-se sobre o movimento de ocupação com orgulho e

brilho nos olhos. Todavia era inevitável os embates entre professores "contra" e "pró" ocupação em razão da paralisação docente. Já entre os alunos, o andar vagaroso pelo pátio da escola parecia uma conquista inestimável.

Nas entrevistas concedidas, verificou-se que o pertencimento àquele lugar era muito importante e que a possibilidade de participar das ações e decisões da escola era uma aspiração finalmente possível.

Os alunos, organizados em comissões, zelavam pelas atividades da escola como a oferta de refeições, atividades culturais e a manutenção do espaço.

Nas assembleias que aconteciam diariamente eram discutidas pautas sobre os novos caminhos da escola. Falava-se sobre a implantação de uma nova gestão que desse autonomia para os alunos. Autonomia que já dava sinais, uma vez que possibilitou a tomada do espaço escolar como forma de resistir ao exercício e às relações de poder que os afastavam da escola.

De acordo com Machado:

Rigorosamente falando, o poder não existe; existem práticas ou relações de poder. O que significa dizer que o poder é algo que se exerce, que de efetua, que funciona. E funciona como uma maquinaria, como uma máquina social que não está situada num lugar privilegiado ou exclusivo, mas se dissemina por toda a estrutura social. Não é um objeto, uma coisa, mas uma relação. E esse caráter relacional do poder implica que as próprias lutas contra seu exercício não possam ser travadas de fora, de outro lugar, do exterior, pois nada está isento de poder. Qualquer luta é sempre resistência dentro da própria rede do poder (...) onde há poder, há resistência. (2013, p. 18)

As práticas de poder exercidas no interior da escola, segundo os relatos, impossibilitavam ou até mesmo desencorajavam ações participativas dos alunos que não possuíam sentimento de pertencimento por aquele lugar. Torna-se até mesmo contraditório dizer que o aluno que passava de seis a oito horas naquele lugar não tinha aquele espaço como seu, agindo muitas vezes de maneira indiferente aos sujeitos e àquele local.

Portanto, é cabível compreender a ação dos alunos ocupantes como resistência diante das lutas contra o funcionamento da gestão que, de acordo com os entrevistados, cassavam a voz dos alunos, à medida que estes não

eram ouvidos em suas reivindicações. Assim, o espaço escolar não era apropriado pelos discentes e, consequentemente, era pouco valorizado.

Na medida em que foram "indisciplinados", se rebelaram, se uniram aos professores críticos e ocuparam a escola, novos sentidos foram dados ao espaço e às relações de poder ali existentes. Um novo processo de subjetivação ali se instaurava. Ao invés de subjetividades dóceis, constituíam- se subjetividades pautadas nos interesses coletivos, na busca de liberdade e autonomia, bem como na apropriação de um sentido político para suas existências.

5.2: Grupo Focal na escola "B": refletindo sobre as normas da escola

O grupo focal da escola "B" foi composto, voluntariamente, por 13 alunos do ensino médio normal entre 16 e 19 anos de idade, durando 03horas e 21 minutos. Todas as falas foram gravadas sendo garantido o anonimato. O principal objetivo do grupo focal era analisar os principais pontos de convergência e divergência entre os alunos no que diz respeito às normas disciplinares no interior da escola. Assim, com enfoque interacionista (GATTI, 2005) foram feitas as seguintes perguntas:

1) O que é ser disciplinado para vocês? Aluno A: "Ser disciplinado seria ser ensinado?" Aluno B: "Pra mim ser disciplinado é ser educado."

2) Porque as regras por vezes são descumpridas na escola? Aluno C: "Porque a pessoa não concorda!"

3) A escola possui muitas regras? Diversos alunos: "Muitas."

4) Quais são as regras da escola?