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A problemática da indisciplina:

Os casos de indisciplina escolar vêm se tornando eventos cada vez mais frequentes no interior das escolas de diversas localidades e culturas. O atual cenário escolar, permeado de alunos considerados indisciplinados, de fato, não é um assunto inédito, tampouco exceção. Está presente em todos os âmbitos educacionais (REGO, 1994). De acordo com Boarini (2013), a indisciplina escolar é um fenômeno sem nacionalidade, endereço e classe social. O tema encontra quase sempre espaço nas pautas de reuniões escolares, aparecendo como um dos principais elementos complicadores da prática pedagógica da sala de aula e como um grande obstáculo na relação professor - aluno. (AQUINO, 2003)

O desafio da sala de aula com sua pluralidade de personalidades torna- se ainda maior quando as práticas pedagógicas encontram como concorrentes, ações que promovem o desarranjo das normas estabelecidas, ou que simplesmente, denotem o desconhecimento delas (LA TAILLE, 1994). No entanto, cabe aqui ressaltar que as ações consideradas infringentes às regras

de condutas escolares são variáveis, de acordo com as normatizações estabelecidas por cada professor. Sendo assim, por exemplo, o ato de não abrir o caderno na hora exigida ou de responder de forma inadequada ao professor faz da indisciplina uma discussão complexa, em virtude das inflexões e singularidades a que está sujeita em cada microcontexto (AQUINO, 1994).

Desta forma:

Entende-se por indisciplina os comportamentos disruptivos graves que supõem uma disfunção da escola. Os comportamentos indisciplinados simplesmente obedecem a uma tentativa de impor a própria vontade sobre a do restante da comunidade. Se for aluno, dizemos que é difícil, indisciplinado, diferente(...) Se for um professor, dizemos simplesmente que é autoritário. Também se entende por indisciplina as atitudes ou comportamentos que vão contra as regras estabelecidas, as normas do jogo, o código de conduta adotado pela escola para cumprir sua principal missão: educar e instruir. Então, muitas vezes, o problema consiste em que não existem tais normas, a escola funciona de acordo com um código não-escrito, conhecido somente por poucos, o qual não é divulgado entre professores ou entre os alunos e as famílias que fazem parte dela (CASAMAYOR, 2002, p. 22 apud AQUINO, 2003, p. 15.)

O código de conduta adotado por qualquer instituição, principalmente educacional, deveria ser compartilhado com todos os profissionais, a fim de minimizar conflitos gerados em razão de seu desconhecimento. No entanto, é cabível afirmar que o compartilhamento do código de conduta não seja garantia de que algum ato indisciplinado ou até mesmo violento, quando se fala de uma instituição escolar, não irá ocorrer. Assim é concernente a seguinte questão: Será o ato de transgredir próprio do ser humano, independente da existência de regras estabelecidas?

Observa-se que de um modo geral há violência, "bullying"22, evasão no ambiente escolar e comportamentos muitas vezes relacionados à ideia de indisciplina. Um simples ato de indisciplina entre alunos pode desencadear um ato de violência. Assim como, um ato violento pode originar-se a partir da prática do bullying, por exemplo.

22

"Palavra de origem inglesa, adotada em muitos países para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão; termo que conceitua os comportamentos agressivos e antissociais, utilizado pela literatura psicológica anglo-saxônica nos estudos sobre o problema da violência escolar" (CLEO, 2005, p.27).

De acordo com Aquino (2003):

No plano conceitual, sabe-se que é bem demarcada a linha divisória entre incivilidade, indisciplina e violência, mas não se pode dizer o mesmo em relação ao dia-a-dia escolar. Neste, nunca se sabe ao certo o que separa os atos de incivilidade dos atos de indisciplina nem onde estes terminam para começarem os atos violentos.(p. 10)

Abaixo observa-se o caso do ex-aluno de uma escola municipal do Rio de Janeiro, Wellington de Oliveira Menezes, que em decorrência de ter sido vítima de "bullying", nos anos em que esteve matriculado na escola, retornou ao local e atirou em alunos que tinham entre 12 e 14 anos de idade.

TRAGÉDIA EM REALENGO. G1, Rio de Janeiro, 07/04/11

Disponível em http://g1.globo.com/Tragedia-em-Realengo/noticia/2011/04/ Acessado em 12/12/2016

Casos de indisciplina e violência, semelhantemente, afetam professores que são os agentes na linha de frente de verdadeiras batalhas travadas dentro de sala de aula. Marcados pelo espectro da indisciplina e violência no âmbito da escola, professores são até mesmo alvos de doenças que os impedem de exercerem a docência.

Vejamos a notícia abaixo:

Disponível em: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/07/professores-relatam-casos-de-violencia-de- alunos-em-escolas-do-rio.html/ Acesso em 12/12/2006

Na notícia apresentada a escola é comparada a um presídio em decorrência do mau comportamento de alunos e das grades de ferro, que provavelmente, são utilizadas nos corredores e em outros acessos à escola. Tal analogia remete à reflexão sobre a crise da máquina disciplinar diante de atos de violência e agressões no interior da escola.

Dados publicados pela pesquisa Internacional sobre ensino e aprendizagem (TALIS23) realizada pela OCDE24,em 33 países, revelam que o Brasil lidera a listagem dos países pesquisados quando se trata de perda de tempo para manter a ordem na sala de aula. No país professores perdem 20% do tempo de aula para manter a ordem antes de iniciarem o trabalho pedagógico com os alunos. Aliado a esse percentual o Brasil gasta 12% do tempo de aula com tarefas administrativas e apenas 67% do tempo de aula é propriamente utilizado para o ensino e aprendizagem reais. Tais dados foram extraídos dos relatos de professores e referem-se a uma classe de alunos escolhida aleatoriamente.

23

Teaching and Learning International Survey

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Vejamos como exemplo o quadro com os sete países com os piores resultados no TALIS em relação a utilização do tempo em sala de aula:

Quadro 1:

TALIS, 2013. disponível em: http://statlinks.oecdcode.org/ Acessado em 12/12/16

Na mesma pesquisa realizada pela OCDE, em 2013, foram investigadas as razões que influenciavam no clima escolar, no que se refere a fatores relacionados ao comportamento dos alunos. Tais percentuais foram levantados a partir da coleta de informações de professores do ensino secundário cujo diretor considerava que os seguintes comportamentos ocorriam pelo menos uma vez por semana.

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