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Actividade antibacteriana

Actividade biológica dos compostos isolados

I.3.2. Actividade para moléculas alvo pertencentes à rede de sinalização

I.3.2.7 Actividade antibacteriana

Como foi referido anteriormente, foi avaliada a actividade antibacteriana in vitro da (+)- cicloeucalenona (24), da (+)-24-oxo-31-norcicloartanona (107) e da cernumidina (109) em estirpes de bactérias patogénicas do homem Gram- (Escherichia coli, Salmonella enterica, Pseudomonas aeruginosa, Helicobacter pylori) e em estirpes de bactérias Gram+ (Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermis, Bacillus cereus e Enterococcus faecalis).

Apesar dos extractos EBD e EBE terem exibido actividade para algumas bactérias Gram+, nenhum dos três compostos isolados testados apresentou actividade para as bactérias testadas o que sugere que a actividade observada no extracto pode ser atribuída a outros compostos presentes no extracto. A presença de flavonóides glicosilados no extracto etanólico quercitrina (1), afzelina (2) e hiperina (113), cuja actividade antimicrobiana é conhecida,145 pode explicar a actividade antibacteriana observada no extracto. A actividade antibacteriana dos flavonóides pode também contribuir para a actividade anti-ulcerosa apresentada pelo extracto etanólico nos ensaios realizados por Araújo et al.13

I.3.3Conclusões

Nestes capítulos são apresentados os resultados do estudo fitoquímico e da avaliação da actividade biológica da planta Solanum cernuum Vell. utilizada na medicina tradicional para tratar uma grande variedade de doenças maioritariamente de origem inflamatória, infecciosa e tumoral.

Procedeu-se à extracção da planta com diclorometano e etanol e à avaliação das actividades anti-inflamatória, anti-ulcerosa e antibacteriana dos extractos.

Tanto o extracto de diclorometano (EBD) como o extracto etanólico (EBE) apresentaram um efeito inibidor significativo, dependente da dose, da actividade anti-inflamatória no modelo de contorção induzida por ácido acético. Por outro lado, no ensaio de edema de orelha foi observada apenas uma actividade moderada do extracto etanólico. Os resultados dos ensaios para avaliar a actividade anti-ulcerosa do extracto diclorometano não revelaram uma actividade significativa contrariamente à actividade anti-ulcerosa potente descrita por Araújo et al.13 Os testes da actividade antibacteriana apresentaram resultados positivos para algumas estirpes de bactérias Gram+ dos extractos EBD e do EBE.

Foram isolados a partir do extracto de diclorometano (EBD) três triterpenos com esqueleto de 31-norcicloartanona, a (+)-cicloeucalenona (24) (7,0% w/w), a (+)-24-oxo-31-norcicloartenona (107) (1,47% w/w) e (+)-24-(1,3-dioxetano)-31-norcicloartanona (108) (0,05%, w/w), que nunca tinham sido descritos no género Solanum. Os três compostos possuem o mesmo núcleo tetracíclico de 31- norcicloartenona com uma unidade de ciclopropano C-9,19 e um grupo metilo em C-4, diferindo na substituição que apresentam na cadeia lateral.

Com o objectivo de saber qual(is) o(s) composto(s) responsável(is) pela actividade anti- inflamatória do extracto de diclorometano foi avaliada a actividade anti-inflamatória dos compostos maioritários (+)-cicloeucalenona (24) e da (+)-24-oxo-31-norcicloartanona (107) utilizando o modelo de contorção induzida por ácido acético. Ambos apresentaram uma redução significativa do número de contorções dependente da dose administrada para as doses de 50 e 100 mg/Kg. Para confirmar este efeito anti-inflamatório foi realizado o ensaio de edema de pata induzido por carragenina. Ambos os compostos inibiram a segunda fase do processo de inflamação neste modelo mas a (+)-24-oxo-31- norcicloartenona (107) mostrou ser particularmente activa 4,5 h após a indução da inflamação, altura em que ocorre a expressão da enzima ciclo-oxigenase 2 COX-2 e a secreção de prostaglandinas.

O efeito dos compostos 24 e 107 na expressão da COX-2 foi então examinado. Observou-se que ambos reduziam a expressão da COX-2 mas a inibição provocada pelo composto 107 era mais acentuada o que pode constituir uma estratégia útil para tratar o componente inflamatório.

Foi também estudado o efeito na actividade da enzima sirtuína 1 a qual possui uma função importante no controle da expressão de alguns mediadores da inflamação. Verificou-se que, apesar dos triterpenos (+)-cicloeucalenona (24) e (+)-24-oxo-31-norcicloartenona (107) apresentarem actividade anti-inflamatória, ela não se encontra relacionada com a activação da sirtuína 1.

O efeito inflamatório dos dois compostos nos níveis de produção da citoquina TNF- foi também avaliado. Não ocorreu a inibição de TNF- após a adição de nenhum dos dois compostos.

Foram realizados ensaios para avaliar a actividade antiproliferativa dos compostos 24, 107 e 108. A (+)-cicloeucalenona (24) não apresentou actividade significativa enquanto a (+)-24-oxo-31- norcicloartanona (107) mostrou ser mais activa e selectiva para a linha celular de pulmão NCI-H460, a qual expressa elevados níveis de COX-2, sugerindo uma função importante no processo inflamatório e fortalecendo a ligação entre inflamação crónica e o cancro.

O terceiro composto, a (+)24-(1,3-dioxetano)-31-norcicloartanona (108) apesar de minoritário, também é activa para a linha celular de pulmão NCI-H460 e para as células de leucemia (K 562).

Embora o extracto EBD exiba actividade para algumas bactérias Gram-, nem a (+)- cicloeucalenona (24) nem a (+)-24-oxo-31-norcicloartanona (107) inibiram o crescimento de nenhuma das bactérias estudadas. Nenhum dos compostos apresentou toxicidade aguda.

O extracto de etanol (EBE) foi também fraccionado e analizado. Foram isolados quatro novos alcalóides: a cernumidina (109 (1,92% w/w), a isocernumidina (110) (0,25% w/w), a cernumidina B (111) (0,53% w/w) e a isocernumidina B (112) (0,23% w/w) com uma estrutura em que uma unidade (2-aminopirrolidin-1-il)carboxamidina se encontra acilada com o ácido isoferúlico (3-hidroxi-4- metoxicinâmico) com configurações E e Z, respectivamente. As estruturas foram elucidadas com base em dados espectroscópicos uni- e bidimensionais e a estrutura da cernumidina (109) confirmada por análise de raios X. Ambos os compostos apresentam um grupo funcional amina raro, o qual é susceptivel de racemização.

A cernumidina (119) apresentou uma inibição da produção da interleuquina-8 (IL-8) pelas células do carcinoma do cólon HT-29 superior a 50% a uma concentração de 50 M o que pode constituir uma intervenção terapêutica significativa tendo como alvo a vizinhança do tumor.

Em células do macrófago THP-1 a cernumidina não inibiu a produção de TNF-. Foi também avaliado o potencial da carcinogénese através da avaliação da regulação da actividade enzimática da sirtuína 1 não tendo sido observadas alterações significativas da actividade desta enzima. À semelhança dos outros compostos, a actividade antiproliferativa do compostos 109 foi avaliada para dez linhas celulares tumorais mas não apresentou actividade significativa.

Foi testada a actividade antimicrobiana do composto 109 para bactérias Gram+ e Gram+ mas não foram observados valores apreciáveis.

Foram também isolados três flavonóides glicosilados: a quercitrina (1) (0,42% w/w), a afzelina (2) (0,13% w/w) e a hiperina (113) (0,03% w/w) e o ácido ferúlico (114) (0,07% w/w).

Foi também isolada a N-acetildopamina (115) (0,52% w/w), um derivado da dopamina acetilado, o qual nunca tinha sido encontrado em espécies vegetais. Está ainda a ser avaliada a actividade farmacológica do composto 115: a actividade anti-inflamatória, a actividade antiproliferativa e a atividade para doenças neurodegenerativas.

Este trabalho resultou num avanço de conhecimento sobre a planta Solanum cernuum Vell. e sobre as razões que conduzem à sua utilização na medicina tradicional brasileira para tratar uma grande variedade de doenças maioritariamente de origem inflamatória, infecciosa e tumoral.

Os estudos efectuados revelaram a presença de um conjunto de metabolitos com estruturas diferentes. Alguns deles apresentaram atividades anti-inflamatórias significativas, capazes de atuar em moléculas alvo das redes de sinalização que medeiam a inflamação e o cancro. Por isso podem constituir estratégias de intervenção terapêutica para prevenir a carcinogénese.

Os resultados da avaliação da actividade antitumoral de alguns destes compostos foram também muito animadores o que gera a esperança de poderem vir a ser utilizados como modelos na busca de novos fármacos para o tratamento de alguns tipos de cancro.

Capítulo I.4

Estudo fitoquímico de Solanum cernuum Vell