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Evolução da população portuguesa*

3. Evolução das subpopulações*

3.2. Actividade e emprego

Num modelo de ciclo de vida ternário, no seguimento da formação vem a actividade e esta, por sua vez, pressupõe o seu fim numa idade em que se ganha o direito ao repouso (Guillemard, 1995).

Ora, com a segmentação nas idades de acesso à reforma (ou porque se antecipa ou porque se adia), vai-se diluindo a estreita associação que existia entre a idade da reforma e a entrada numa terceira fase da vida marcada pela condição de não trabalho ou de indisponibilidade para a vida activa. É neste sentido que, na actualidade, o conceito de envelhecer em actividade já se tor- nou um lugar-comum no âmbito de uma matriz da gestão pública da velhice dominada por fortes contradições. Porquanto, a necessidade de prolongar a actividade para equilibrar e sustentar o sistema de segurança social coexiste com um final da carreira activa marcado cada vez mais pela precariedade. Aliás, uma precariedade que é transversal a todo o percurso de vida activa, na medida em que este, ao nível individual, já é marcado pela presença constante dos períodos de não trabalho (Cardoso et al., 2012).

De facto, de 2001 para 2011, a taxa global de emprego declinou e, comple- mentarmente, a taxa global de desemprego sofreu um acentuado acréscimo. Os valores destes dois indicadores não traduzem apenas uma conjuntura de crise económica e uma consequente deterioração do mercado de trabalho, mas também uma vantagem clara dos homens em relação às mulheres. Isto porque se mantém uma taxa global de emprego maior nos homens e uma taxa global de desemprego maior nas mulheres (Quadro 1.1).

Quadro 1.1 Medidas globais de emprego (‰), total e por sexo, Portugal, 2001 e 2011

Medidas globais

2001 2011

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Taxa global de emprego 930,90 946,87 911,53 866,37 871,93 860,44 Taxa global de desemprego 69,10 53,13 88,47 133,63 128,07 139,56

Fonte: Cálculos próprios sobre os dados dos Recenseamentos Gerais da População (2001-2011), INE.

Paralelamente, as mulheres também experienciam uma vida activa mais curta do que a dos homens. Não obstante, de 2001 para 2011, a esperança de vida activa baixa no masculino, enquanto no feminino aumenta (Quadro 1.2).

Quadro 1.2 Esperança de vida activa (em anos), total e por sexo, Portugal, 2001 e 2011

2001 2011 Total 39,32 38,38 Homens 41,95 40,18 Mulheres 36,07 36,71

Fonte: Bandeira (2006) e cálculos próprios sobre os dados dos Recenseamentos Gerais da População (2001-2011), INE.

Este comportamento da esperança de vida activa diferenciado segundo os sexos remete para a existência de uma diferenciação sexual ao nível da gestão da carreira activa, centrada, sobretudo, em torno dos momentos de entrada e de saída. Da observação das tábuas resumidas de actividade por sexos11 percebemos, em ambos os momentos de observação, que os homens são mais precoces em disponibilizar-se para iniciar a vida activa e mais tardios para a finalizar (Quadro 1.3 e Quadro 1.4).

De qualquer modo, de 2001 para 2011 observa-se um adiamento na entrada da vida activa tanto no masculino como no feminino. O que está de acordo com o prolongamento do percurso escolar em ambos os sexos e com as dificuldades, cada vez maiores, de inserção dos jovens no mercado de trabalho.

Deste modo, também não será de estranhar que seja no intervalo etário dos 30-34 anos que se encontram mais activos, tanto em 2001 como em 2011, com uma intensidade em crescimento de 888 ‰ para 909 ‰ (Quadro 1.3 e Quadro 1.4). Nos homens é efectivamente no grupo etário dos 30-34 anos que há mais activos, em ambos os momentos de observação, contudo, a intensi- dade decresce de 942 ‰ para 929 ‰. As mulheres, que em 2001 eram mais precoces no momento em que protagonizavam a maior disponibilidade para a vida activa (intervalo etário dos 25-29 anos), em 2011 adiam esse momento 11. Para melhor percepcionar

as transições entre actividade e inactividade da população ao longo do curso de vida, calcularam-se as tábuas resumidas, por sexo, para o ano de 2011 de acordo com a metodologia descrita em Bandeira (2006). Relativamente ao ano de 2001, utilizam-se os valores publicados pelo mesmo autor.

para o mesmo intervalo etário em que tal ocorre nos homens (30-34 anos). De notar que esta alteração no feminino é acompanhada por um aumento na intensidade da actividade (de 850 ‰ para 889 ‰).

Aliás, da observação das tábuas resumidas de actividade para ambos os sexos (Quadro 1.3 e Quadro 1.4) percebem-se algumas alterações no que se refere à actividade nas mulheres. Isto na medida em que elas apresentam um crescimento nos valores referidos aos intervalos etários compreendidos entre os 25 e os 64 anos. Ao que tudo indica, as mulheres estão mais disponíveis para a vida activa em 2011 do que em 2001. Facto que remete para os novos ajustes de que está a ser alvo o percurso de vida no feminino na articulação entre uma carreira escolar mais longa, uma carreira activa mais intensa e uma carreira familiar e reprodutiva mais tardia e menos fecunda (Bandeira, 2006).

Quadro 1.3 Tábuas resumidas de actividade, população activa total e por sexo, Portugal, 2001

Total Homens Mulheres

Idade

completa Inactivos (Ix) Activos (Ax) completaIdade Inactivos (Ix) Activos (Ax) completaIdade Inactivos (Ix) Activos (Ax)

14 1000 0 14 1000 0 14 1000 0 15-19 728 272 15-19 691 309 15-19 767 233 20-24 313 687 20-24 269 731 20-24 359 641 25-29 115 885 25-29 81 919 25-29 150 850 30-34 112 888 30-34 58 942 30-34 166 834 35-39 132 868 35-39 61 939 35-39 201 799 40-44 159 841 40-44 70 930 40-44 246 754 45-49 203 797 45-49 88 912 45-49 311 689 50-54 292 708 50-54 145 855 50-54 426 574 55-59 464 536 55-59 319 681 55-59 593 407 60-64 666 334 60-64 555 445 60-64 763 237 65-69 893 107 65-69 854 146 65-69 926 74 70-74 955 45 70-74 933 67 70-74 973 27 75+ 982 18 75+ 972 28 75+ 989 11 Fonte: Bandeira (2006).

Quadro 1.4 Tábuas resumidas de actividade, população activa total e por sexo, Portugal, 2011

Total Homens Mulheres

Idade

completa Inactivos (Ix) Activos (Ax) completaIdade Inactivos (Ix) Activos (Ax) completaIdade Inactivos (Ix) Activos (Ax)

14 1000 0 14 1000 0 14 1000 0 15-19 870 130 15-19 856 144 15-19 884 116 20-24 385 615 20-24 364 636 20-24 407 593 25-29 121 879 25-29 114 886 25-29 128 872 30-34 91 909 30-34 71 929 30-34 111 889 35-39 102 898 35-39 72 928 35-39 130 870 40-44 126 874 40-44 83 917 40-44 166 834 45-49 159 841 45-49 101 899 45-49 213 787 50-54 223 777 50-54 146 854 50-54 294 706 55-59 396 604 55-59 298 702 55-59 486 514 60-64 673 327 60-64 608 392 60-64 730 270 65-69 918 82 65-69 887 113 65-69 944 56 70-74 969 31 70-74 951 49 70-74 984 16 75+ 990 10 75+ 981 19 75+ 995 5

Fonte: Cálculos próprios sobre os dados dos Recenseamentos Gerais da População (2001-2011), INE.

Nos homens é nos intervalos etários dos 50-54 anos e dos 55-59 anos que ocorre um crescimento nos valores de actividade na passagem para 2011. Um crescimento que traduz um aumento de activos masculinos em idades em que na actualidade já se equaciona de forma problemática a gestão do final de vida activa (Cardoso et al., 2012).

Nesta continuidade e relativamente ao comportamento da actividade nas idades seniores, verifica-se que, de 2001 para 2011, a maior quebra da actividade nos homens é no intervalo etário dos 60-64 anos e nas mulheres é no dos 65-69 anos (Quadro 1.3 e Quadro 1.4). O que remete para a hipótese de os homens terem aderido, na última década, mais do que as mulheres aos regimes de reforma antecipada.

De qualquer modo, apesar de, em Portugal, tanto os homens como as mulheres se manterem disponíveis para a vida activa para lá dos 75 e mais anos, de 2001 para 2011, os valores da actividade decrescem em todas as classes etárias, depois dos 60 anos, no masculino, e, dos 65 anos, no feminino.

Em síntese, na década em observação, a intensidade da actividade decaiu, o que se deve mais ao comportamento da actividade masculina do que da feminina, na medida em que esta última cresce em todos os grupos etários dos 25 aos 64 anos. Ambos os sexos são coincidentes no forte declínio que os

valores da actividade conhecem nas idades de início e de final de vida activa. Relativamente ao final, assume especial destaque o que ocorre no grupo etário dos 65-69 anos, um comportamento ao qual não será estranho o facto de este grupo integrar a idade de direito à reforma.

Ser activo não implica que se esteja empregado (Bandeira, 2006), contudo, de 2001 para 2011, as maiores quebras na actividade são nas idades do início da vida activa, o que é coincidente com o facto de as maiores quebras no emprego também ocorrerem nessas mesmas idades (Quadro 1.5). O que remete para a hipótese de o adiamento na entrada da vida activa estar não só associado ao prolongamento da carreira escolar, mas também aos poucos incentivos que o mercado de emprego apresenta para que os jovens se disponibilizem mais cedo para ingressarem a população dos activos.

Da observação do Quadro 1.5, confirma-se, na década em análise, a ten- dência identificada ao nível das medidas globais no sentido do declínio do emprego e, consequentemente, do aumento do desemprego. Uma tendência que é transversal a todos os grupos etários, com excepção dos grupos relativos às idades dos 65 e mais anos.

Quadro 1.5 Distribuição de 1000 activos empregados e desempregados (‰), sexos reunidos, por grupo etário, Portugal, 2001 e 2011

2001 2011

Idade

completa Empregados Desempregados completaIdade Empregados Desempregados

15-19 818 182 15-19 547 453 20-24 895 105 20-24 756 244 25-29 935 65 25-29 860 140 30-34 943 57 30-34 889 111 35-39 945 55 35-39 894 106 40-44 950 50 40-44 890 110 45-49 949 51 45-49 885 115 50-54 938 62 50-54 875 125 55-59 917 83 55-59 860 140 60-64 930 70 60-64 865 135 65-69 994 6 65-69 994 6 70-74 990 10 70-74 1000 0 75+ 987 13 75+ 1000 0

Fonte: Bandeira (2006) e cálculos próprios sobre os dados dos Recenseamentos Gerais da População (2011), INE.

De notar que, na passagem para 2011, a seguir às quebras que ocorrem na frequência do emprego nas idades mais jovens, é nos intervalos etários

dos 50-54 anos e dos 60-64 anos que ocorrem as quebras mais expressivas de emprego. Estes resultados remetem para um agravamento considerável na precariedade que marca o final da carreira activa por via de um desemprego que atinge sobretudo os trabalhadores das idades mais tardias e acaba por se transformar num desemprego de longa duração que só termina com a entrada na reforma.

Estamos pois na presença dos denominados jovens idosos, categoria que inclui todos aqueles que são definidos simultaneamente como demasiado idosos para trabalhar e demasiado jovens para se reformar (Bandeira, 2006).

Relativamente ao comportamento do emprego por sexos, em 2001, con- firma-se a clara desvantagem das mulheres em todos os grupos etários, com excepção do relativo aos 60-64 anos (Quadro 1.6). De facto, neste intervalo etário temos 933 ‰ nas mulheres e 929 ‰ nos homens.

Quadro 1.6 Distribuição de 1000 activos empregados e desempregados (‰), por sexo e grupo etário, Portugal, 2001

Homens 2001 Mulheres 2001 Idade

completa Empregados Desempregados completaIdade Empregados Desempregados

15-19 853 147 15-19 770 230 20-24 916 84 20-24 871 129 25-29 952 48 25-29 915 85 30-34 961 39 30-34 923 77 35-39 964 36 35-39 922 78 40-44 966 34 40-44 931 69 45-49 964 36 45-49 929 71 50-54 951 49 50-54 920 80 55-59 921 79 55-59 912 88 60-64 929 71 60-64 933 67 65-69 996 4 65-69 991 9 70-74 995 5 70-74 982 18 75+ 991 9 75+ 981 19

Fonte: Cálculos próprios sobre os dados dos Recenseamentos Gerais da População (2001), INE.

As mais fortes disparidades encontram-se nas idades do início da carreira nas quais se percebe que as mulheres ainda têm menos incentivos do que os homens, por parte do mercado de emprego, para se disponibilizarem, nas idades mais jovens, para a vida activa.

Também é de salientar a diferença que se regista no intervalo etário dos 35-39 anos, o que poderá remeter para a penalização que tem por alvo as

mulheres por motivos que se prendem com o seu maior envolvimento com a vida familiar e reprodutiva (Vicente, 2002).

É dos 40-44 anos que em ambos os sexos se registam os valores mais elevados no emprego (Quadro 1.6). Quanto ao grupo etário dos 45-49 anos, confirma-se como aquele em que se inicia a quebra no emprego, tanto nos homens como nas mulheres, e em que começa a tomar forma o desemprego de longa duração.

Em relação ao comportamento do emprego nas idades a partir do intervalo etário dos 65-69 anos, verifica-se que é nas mulheres que surgem os valores mais elevados de desemprego, o que remete para a hipótese da existência de maiores dificuldades por parte destas em se integrarem num qualquer regime de reforma. Dificuldades que poderão dever-se à associação mais duradoura, no feminino, ao trabalho precário ou mais mal pago ao longo da vida activa (Vicente, 2002). Aliás, é no intervalo etário dos 65-69 anos que a disparidade entre os sexos se agrava mais na passagem de 2001 para 2011 (Quadro 1.7).

Quadro 1.7 Distribuição de 1000 activos empregados e desempregados (‰), por sexo e grupo etário, Portugal, 2011

Homens Mulheres

Idade

completa Empregados Desempregados completaIdade Empregados Desempregados

15-19 572 428 15-19 516 484 20-24 768 232 20-24 743 257 25-29 864 136 25-29 855 145 30-34 898 102 30-34 880 120 35-39 904 96 35-39 884 116 40-44 898 102 40-44 882 118 45-49 890 110 45-49 880 120 50-54 879 121 50-54 870 130 55-59 860 140 55-59 861 139 60-64 860 140 60-64 872 128 65-69 996 4 65-69 989 11 70-74 1000 0 70-74 1000 0 75+ 1000 0 75+ 1000 0

Fonte: Cálculos próprios sobre os dados dos Recenseamentos Gerais da População (2011), INE.

Com efeito, o comportamento do emprego por sexos, em 2011, dá-nos conta de uma redução clara na desvantagem das mulheres relativamente aos homens. Isto em todos os intervalos etários, com excepção do referido às idades dos 65 aos 69 anos.

Paralelamente, o emprego decai fortemente em ambos os sexos e em todos os grupos etários, com excepção do mesmo grupo dos 65-69 anos. Ora, de 2001 para 2011, este grupo etário que envolve a idade da reforma, mantém o valor do emprego para os homens e reduz ligeiramente o valor do emprego para as mulheres (Quadro 1.6 e Quadro 1.7).

As maiores quebras no emprego, tanto para os homens como para as mulhe- res, ocorrem nas idades mais jovens e nas idades dos 40 aos 64 anos. Quanto às menores quebras, elas referem-se aos grupos etários dos 30-34 e dos 35-39 anos. Deste modo, damo-nos conta de um agravamento da precariedade que afecta a gestão do final de vida activa em Portugal, quer para homens quer para mulheres. Contudo, e apesar de, em 2011, as desigualdades entre os sexos no âmbito do emprego assumirem uma tendência clara para se atenuar, as mulheres apresentam-se geralmente numa situação mais desfavorecida. No entanto, elas conseguem manter-se mais empregadas do que os homens, quer no intervalo etário dos 60-64 anos, em 2001, quer nos intervalos dos 55-59 anos e dos 60-64 anos, em 2011 (Quadro 1.6 e Quadro 1. 7). Situação que traduz, nessas idades, uma maior resistência por parte do emprego no feminino à conjuntura de crise que domina a contemporaneidade da sociedade portuguesa e europeia.

No jogo entre os empregadores e o Estado definem-se as regras que estruturam o modelo de transição da vida activa para a reforma. Regras que têm implicado o gradual afastamento do mercado de trabalho de um número crescente de homens e mulheres em idades activas. Homens e mulheres cujo final de vida activa é marcado por uma forte precariedade que se transfere ine- vitavelmente para o rendimento a que têm direito por reforma. Uma reforma que a redefinição de novas regras tem por objectivo adiar, quer através da institucionalização de uma nova idade da reforma mais tardia quer através da penalização de quem a antecipa (Cardoso et al., 2012).

Deste modo, num mercado de trabalho afectado por uma forte crise económica, social e política, e em estreita competição com os mais jovens, os activos das idades mais tardias são vistos como um problema que remete para o problema mais geral do envelhecimento demográfico.