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Dinâmicas demográficas do envelhecimento: análise retrospectiva e questões actuais *

2. Evolução da nupcialidade e divorcialidade em Portugal

2.1. Evolução do número de casamentos celebrados, taxas de nupcialidade e de divorcialidade e de interrupção por morte

Analisando a evolução do número de casamentos celebrados em Portugal (Gráfico 3.22), numa perspectiva de século, encontramos actualmente um número inferior a 40 000, similar ao registado no início do século xx, quando Portugal registava uma população de cerca de 6 milhões de habitantes. Desde 1940, foi sempre visível uma tendência de crescimento até meados da década de 1970. Os anos em que, sem dúvida, atingimos o maior volume de casamentos foram os de 1975 e 1976. A partir dessa década, a tendência inverte-se e passa a ser, globalmente, de declínio.

Gráfi co 3.22 Evolução do número de casamentos celebrados em Portugal, entre 1900 e 2011

Casamentos celebrados Casamentos celebrados 20 000 40 000 60 000 80 000 100 000 120 000 1900 1905 1910 1915 1920 1925 1930 1935 1940 1945 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010

A evolução da taxa de nupcialidade (Gráfico 3.23) em Portugal para o período onde concentramos a nossa análise (entre 1950 e 2011), evidencia um comportamento semelhante: desde o início do período e até 1975, o seu progresso apresentava uma tendência de crescimento. Após 1975 e até à actua- lidade, a nupcialidade tem vindo a diminuir, apresentando dois períodos de maior decréscimo: (1) após 1975 e até 1980, diminuindo de 11 casamentos para 8 por cad a 1000 habitantes; (2) desde 1999 e até final do período em 2011, reduzindo de 6,6 para 3,4.

Num projecto em que o objectivo central se centra no envelhecimento demográfico, pareceu-nos de particular interesse apreciar igualmente o impacto da mortalidade na continuidade do casal e as implicações para o contingente de viúvos e, em particular, de viúvas dada a sua peculiar taxa de sobrevivên- cia face aos seus companheiros homens. Assim, relativamente à interrupção de casamentos por viuvez, ocorrida no mesmo período, verificamos alguma estabilidade. A partir do final da década de 1960, observa-se um valor quase constante no respeitante à taxa de interrupção do casamento por morte que apresentou, ao longo de todo o período em análise, valores entre os 3,7 e os 4,7 casamentos interrompidos pela mortalidade, por 1000 habitantes.

Paralelamente à diminuição da nupcialidade, verifica-se um aumento do número de divórcios. A análise da evolução da taxa de divorcialidade permite- -nos identificar entre 1950 e 1975 valores muito próximos de zero, sendo somente após este período que se verifica um verdadeiro crescimento, ou seja, um aumento de aproximadamente 0 para 2,54 divórcios no final do período. Nos anos de 2000, 2001 e 2002, a taxa de divorcialidade aumentou ligeiramente. Actualmente, o número de casamentos dissolvidos por divórcio é cerca de 60 % dos interrompidos por morte e representa 37 % do total. Desde o ano 2000 que o número de casamentos dissolvidos anualmente ultrapassa o número de casamentos celebrados nesse mesmo ano. A partir de 2008, os casamentos interrompidos por morte, em cada ano, têm sido sempre superiores aos casa- mentos celebrados.

Gráfi co 3.23 Evolução da taxa de nupcialidade, taxa de divorcialidade e taxa de interrupção do casamento por morte, em Portugal, entre 1950 e 2011

0 2 4 6 8 10 12 Tx. Divorcialidade

Tx. Int. Cas. Morte Tx. Nupcialidade Tx. Divorcialidade

Tx. Int. Cas. Morte Tx. Nupcialidade

1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 Fonte: INE. Elaboração própria.

Em Portugal, é evidente a perda de importância do casamento, em par- ticular desde o início dos anos 80; entre 1985 e 1989, observou-se uma ligeira retoma, decrescendo, em seguida, a partir de 1990; entre 1996 e 1999, aumentou muito ligeiramente, para voltar a diminuir com maior intensidade até 2010.

Para um estudo mais pormenorizado da nupcialidade portuguesa, procu- rámos perceber quais as principais mudanças ocorridas ao longo das sucessivas décadas, em função da idade e do sexo dos cônjuges.

Decompusemos os casamentos celebrados entre totais e primeiros casa- mentos de celibatários, identificando padrões de comportamento entre homens e mulheres.

Com esse objectivo, relacionámos o número de casamentos num deter- minado ano com a população em risco de contrair casamento, calculámos indicadores transversais de nupcialidade, como o índice sintético de nup- cialidade e construímos tábuas de nupcialidade, para encontrar as taxas e os quocientes de nupcialidade entre idades exactas.

Numa situação em que a um aumento da população residente se associa um decréscimo significativo do número de casamentos, é incontornável medir as variações na intensidade do fenómeno, o seu calendário e, adicionalmente, a proporção dos que tendencialmente sobreviverão ao casamento. Com esse propósito, avaliámos o celibato definitivo e a proporção final de não celi- batários e calculámos a idade média ao casamento e ao 1.º casamento, para homens e mulheres.

Por fim, dada a importância do adiamento na transição para a vida adulta e considerando o casamento um marco decisivo dessa etapa, comparámos as proporções de solteiras e solteiros nos grupos de idades entre os 20-24 nas diferentes épocas. Numa perspectiva de comportamento entre gerações, confrontámos ainda as proporções de celibatários encontradas nas idades compreendidas entre os 45-49 anos completos.

2.2. Evolução dos quocientes de nupcialidade e idade média ao casamento

Centrámos primeiramente a nossa análise no comportamento dos primeiros casamentos.

Gráfi co 3.24 Evolução dos quocientes de nupcialidade, em Portugal, sexo feminino, entre 1950 e 2011 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 <15 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011

Fonte: INE. Elaboração própria.

Os quocientes de nupcialidade por grupos de idades têm por base a pro- porção de celibatárias que se casam num dado ano, com determinadas idades. A evolução, em Portugal, mostra uma diferença substancial no comporta- mento de nupcialidade dos celibatários desde os 15 aos 50 anos (Gráfico 3.24). Naturalmente, de um valor igual a zero a probabilidade de nupcialidade aumenta até uma determinada idade, vindo a baixar em seguida até ao grupo de idades 45-49, último que analisámos.

A análise das diferentes curvas permite concluir que a probabilidade de contrair o 1.º casamento é, em 2011, muito menor do que em qualquer outro momento do período em análise, em todos os grupos de idades. O grupo de idades 25-29 é o que revela a maior probabilidade de as celibatárias casarem (26 %). Desde 1991 que este é o grupo etário que concentra a maior probabi- lidade de casar pela primeira vez. Em 1950, 1960 e 1981, aquela probabilidade observava-se no grupo de idades 20-24 anos. Em 1970, ambos os grupos 20-24 e 25-29 anos revelavam valores semelhantes e próximos de 67 %.

A partir de 1981, assistiu-se a um adiamento do 1.º casamento compen- sado, de algum modo, pelo acréscimo da probabilidade verificada nas idades mais avançadas, 30-34 anos e seguintes. Excepção já referida para 2011, em que não se observa nenhuma recuperação nas idades mais avançadas.