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O Estatuto da Ordem dos Farmacêuticos, aprovado pela Ordem dos Farmacêuticos aquando da oficialização legal dessa instituição profissional (134), foi posteriormente

alterado, em 1979, para adequação à nova filosofia da Constituição da República Portuguesa (135), tendo sido, por isso, afectado pelas condições políticas em constante

ajustamento após a Revolução do 25 de Abril de 1974. Reconhece a profissão

farmacêutica, como uma profissão de interesse geral relevante e, na sua prestação, uma profissão com autonomia técnica, participante, entre outras áreas, no prosseguimento de uma correcta política nacional de saúde e respectiva execução adequada (135). A exigência

da formulação de preceitos deontológicos específicos e de uma estrutura disciplinar autónoma, assim como a exigência, para o seu exercício, da preparação universitária, revelam a importância social dos interesses servidos pela respectiva profissão e as implicações que, normativamente, resultam para a autonomia técnica da realização dessa actividade (134, 135). Considera, também, a autonomia jurídica para a prestação da actividade

profissional, reconhecida de interesse público, como uma actividade sanitária exclusiva dos farmacêuticos, totalmente capacitados para preparar, conservar e distribuir medicamentos ao público (134, 135). No exercício da sua profissão, os farmacêuticos, incritos na Ordem,

ficam obrigados, entre outros aspectos, a zelar pelos interesses da saúde pública enquanto esta estiver, por alguma forma, dependente do acto farmacêutico, estando subordinados à satisfação dos interesses da saúde pública no que se refere a organização técnica e económica da actividade profissional. É-lhes também requerido espírito de total discrição no tratamento de assuntos profissionais, para além do exigido sigilo profissional (134, 135).

Considera-se como dever a contribuição para o progresso da Farmácia, mediante o culto da ciência e da técnica farmacêutica, pela aquisição de informações e experiências através de conferências, congressos e outros meios apropriados, abstenção de reclamos sensacionais e cumprimento das prescrições legais sobre o exercício da profissão (134, 135).

Em 2001, através de novo ajustamento do Estatuto da Ordem dos Farmacêuticos, ficaram estipuladas as actividades afectas ao acto farmacêutico (136). Entre outras, passaram

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farmacêutica dos medicamentos, o registo, fabrico e controlo dos medicamentos de uso humano e veterinário e dos dispositivos médicos, o controlo de qualidade dos medicamentos e dos dispositivos médicos (em laboratório de controlo de qualidade de medicamentos e dispositivos médicos), o armazenamento, a conservação e a distribuição por grosso dos medicamentos de uso humano e veterinário e dos dispositivos médicos (136).

Passaram também a fazer parte as actividades que envolvem a preparação, o controlo, a selecção, a aquisição, o armazenamento e a dispensa de medicamentos de uso humano e veterinário e de dispositivos médicos em farmácias abertas ao público, serviços

farmacêuticos hospitalares e serviços farmacêuticos privativos de quaisquer outras

entidades públicas e privadas (136). Será também das funções do farmacêutico e da sua

responsabilidade a preparação de soluções anti-sépticas, de desinfectantes e de misturas intravenosas, a interpretação e a avaliação das prescrições médicas, a informação e a consulta sobre medicamentos de uso humano e veterinário e sobre dispositivos médicos, tanto os sujeitos como os não sujeitos a prescrição médica, junto de profissionais de saúde e de doentes, de modo a promover a sua correcta utilização, assim como o acompanhamento, a vigilância e o controlo da distribuição, dispensa e utilização de medicamentos de uso humano e veterinário e de dispositivos médicos (136). A

monitorização de fármacos, incluindo a determinação de parâmetros fármaco-cinéticos e o estabelecimento de esquemas posológicos individualizados, a colheita de produtos biológicos, a execução e a interpretação de análises clínicas e a determinação de níveis séricos, a execução e a interpretação de análises toxicológicas, hidrológicas e bromatológicas e todos os actos ou funções directamente ligados às actividades descritas nas competências anteriores são funções da responsabilidade do próprio acto farmacêutico

(136).

Contudo, em 2005, o Governo foi autorizado pela Assembleia da República a legislar no sentido de alterar o Estatuto da Ordem dos Farmacêuticos em vigor 36 (136), com

36 Alínea e), artigo 77º, referente à reparação, controlo, selecção, aquisição, armazenamento e dispensa de

medicamentos de uso humano e veterinário e de dispositivos médicos em farmácias abertas ao público, serviços farmacêuticos hospitalares e serviços farmacêuticos privativos de quaisquer outras entidades públicas e privadas.

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o objectivo de permitir a distribuição de MNSRM fora das farmácias, por farmacêuticos ou por técnicos de farmácia (133).

Ao considerar que alguns medicamentos para uso humano, designadamente os que não necessitavam de receita médica (MNSRM), podem ser comercializados fora das farmácias, o Governo procurava proporcionar benefícios aos consumidores, disponibilizando um leque mais alargado de pontos de venda, facilitando a acessibilidade a MNSRM (137). Paralelamente, possibilitava a prática de preços mais reduzidos,

liberalizando a fixação das margens de comercialização, promovendo uma concorrência efectiva entre os vários canais de distribuição e comercialização (137). Promovia, também, o

alargamento do mercado de emprego para os jovens farmacêuticos e técnicos de farmácia, criando novas oportunidades de trabalho, uma vez que a venda de tais medicamentos devia continuar a ser efectuada por pessoal qualificado ou sob a sua supervisão (137). Além disso,

permitia que Portugal se aproximasse da tendência internacional de alargar os pontos de venda deste tipo de medicamentos, processo na altura já adoptado em diversos países europeus (137).

Para aplicação destas novas medidas políticas, tornava-se necessário alterar os preceitos legais do regime da actividade farmacêutica e do estatuto profissional dos farmacêuticos, diplomas que reservavam justamente para os farmacêuticos o fornecimento de medicamentos ao público, admitindo apenas o exercício dessa actividade profissional nas farmácias (136, 137). Contudo, mantinham-se as regras e os procedimentos em vigor

como suportes do sistema de regulação dos medicamentos, de forma a garantir a qualidade e a segurança da sua utilização. Admitia-se também a legislação referente aos medicamentos passíveis de comercialização fora das farmácias. Os novos locais de venda seriam objecto de registo prévio junto do INFARMED, ficando sujeitos à respectiva fiscalização (137).

A medida de alteração do local de venda dos MNSRM foi aprovada após audição da Ordem dos Médicos, da Ordem dos Farmacêuticos, da Ordem dos Médicos Dentistas, da Ordem dos Enfermeiros, da Associação Nacional das Farmácias, da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica, da Associação de Farmácias de Portugal, da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, das associações de grossistas,

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importadores e armazenistas de produtos químicos e farmacêuticos, da Federação de Cooperativas de Distribuição, da Associação de Consumidores de Portugal, do Instituto do Consumidor, da Autoridade da Concorrência e dos sindicatos do sector (137).

A definição das condições em que se processava a venda do MNSRM, o registo dos locais de venda e os requisitos de instalação e funcionamento desses mesmos locais, assim como a preservação do ciclo de conservação e vigilância dos medicamentos, incluindo os mecanismos inerentes ao sistema de fármaco-vigilância e a operacionalização do sistema de alertas de segurança e de qualidade e recolha de medicamentos, foram regulamentados por portaria conjunta dos Ministros da Saúde e da Economia e Inovação (138). Para além da

obrigatoriedade de as instalações de venda serem adequadas ao exercício da dispensa de MNSRM, reunindo as condições indispensáveis para uma correcta preservação da qualidade do produto, elas deveriam ter um responsável técnico e pessoal com formação adequada às funções (138). Deviam, também, exibir referência, em local bem visível, à

aprovação oficial para estabelecimento de venda de MNSRM, com indicação do respectivo registo no INFARMED, da indicação do nome do responsável técnico e respectiva habilitação profissional, só podendo vender ao público MNSRM adquiridos a entidades devidamente licenciadas e autorizadas para fabricar, importar ou distribuir por grosso os medicamentos, cabendo ao responsável técnico assegurar o cumprimento desta exigência

(138).

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