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Medidas adicionais visando a redução de despesa do Estado na comparticipação dos medicamentos e a acessibilidade dos cidadãos aos

medicamentos

Em 2005, a delicada situação financeira de Portugal exigia que o Governo adoptasse medidas de excepção que visassem reduzir o défice das contas públicas, de forma a contê-lo dentro dos limites admitidos pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) 43. No leque de medidas de redução da despesa e de crescimento da receita já

adoptadas, destacavam-se as intervenções ao nível do combate à fraude e à evasão fiscal bem como a consideração da equidade e da sustentabilidade da Segurança Social e do SNS

(147).

De acordo com o definido na Resolução do Conselho de Ministros de 2 de Junho de 2005 (148), tornava-se necessário, também, intervir ao nível das despesas do Estado com

propostas alternativas para fornecimento de medicamentos segundo processos mais racionais, dizia-se, com a diminuição dos gastos nesta área (147, 149).

O regime de comparticipação do Estado no preço dos medicamentos prescritos aos utentes do SNS e aos beneficiários da ADSE, tinha sido já alvo de revisões e alterações (88, 98).

Agora, era necessário fazer novos ajustamentos.

Procedeu-se, então, à redução em 5 % no escalão máximo de comparticipação do Estado no PVP dos medicamentos, quer no regime geral quer nos regimes especiais de comparticipação escalonado por patologias e grupos especiais de utentes (147).

Salvaguardava-se a protecção dos cidadãos mais desfavorecidos, ou seja, dos pensionistas cujo rendimento total anual não fosse superior a catorze vezes o salário mínimo nacional (147). Em relação a estes, o Estado continuaria a suportar o preço daqueles

43Acordo assinado pelos países da União Europeia em 2 de Agosto de 1997, com o objectivo de evitar que

políticas fiscais irresponsáveis tivessem efeitos nocivos sobre o crescimento e a estabilidade macroeconómica dos países da União Europeia, em particular daqueles que tivessem adoptado o Euro como sua moeda; todos esses países deviam apresentar, regularmente, programas de estabilidade ou programas de convergência, e respeitar os objectivos macroeconómicos contidos nesses programas, devendo evitar défices públicos superiores a 3 % do PIB, bem como valores da dívida pública superiores a 60 % do PIB. Défices superiores àquele valor podiam levar a sanções, incluindo pagamento de multas.

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medicamentos na sua totalidade, de forma a tornar o sistema de comparticipação dos medicamentos mais racional e equitativo (147, 150).

Os cidadãos abrangidos por esse sistema de apoio excepcional seriam obrigados, perante os centros de saúde da sua inscrição, a fazer prova dos requisitos legalmente exigidos para o efeito (147, 150). No entanto, a difícil e morosa emissão dos respectivos

documentos pelos serviços oficiais, acarretando a possibilidade de um desfasamento temporal que poderia ser decisivo para a correcta e adequada assistência aos beneficiários abrangidos, exigia uma simplificação dos procedimentos burocráticos inerentes a essa obtenção. Optou-se por uma solução assente no princípio da boa-fé e, posteriormente, se necessário, após inequívoco consentimento do respectivo titular, nos termos da Lei Geral Tributária, de fácil confirmação pelos serviços competentes, pelo acto de declaração directa, efectuada pelos próprios utentes que pretendessem beneficiar desse regime especial de comparticipação. Esta solução foi, mais tarde, regulamentada legalmente (150, 151).

Não foi estabelecido, porém, qualquer procedimento legal específico para os pensionistas beneficiários da ADSE, o que obrigou à adaptação da regulamentação prevista

(150) às especificidades da ADSE no sentido de viabilizar a emissão do cartão modelo

existente para comprovação do direito a esse mesmo regime (152), salvaguardando a

adequada conferência da facturação das farmácias no âmbito da comparticipação de medicamentos por parte da ADSE (153). Em consequência, os pensionistas beneficiários da

ADSE que pretendessem usufruir do regime especial de comparticipação passaram, desde Julho de 2006, a poder apresentar o respectivo documento comprovativo junto do competente serviço da ADSE (153).

Decorrido cerca de um ano e meio sobre a adopção da medida que permitia a venda de MNSRM fora das farmácias (133), o Governo julgou oportuno proceder à avaliação dos

respectivos resultados.

Essa medida legislativa tinha revelado a criação de cerca de quatro centenas de locais de venda de MNSRM distribuídos por todo o País, numa relação de grande proximidade com as populações e de acessibilidade, gerando, também, mais postos de

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trabalho (154). Permitiu, ainda, reduzir os preços desses medicamentos, sobretudo nas

situações em que o poder aquisitivo dos empresários permitia melhorar a negociação junto dos laboratórios farmacêuticos e distribuidores grossistas, para além de assegurar a ausência de notificações de problemas de segurança desses medicamentos para o consumidor 44 (154). Tais resultados permitiram ao Governo concluir que a decisão da

permissão desses medicamentos fora das farmácias podia ser imposta em termos técnicos e políticos, vencendo resistências corporativas e explícitos interesses instalados, nomeadamente por parte das entidades intermediárias da cadeia de medicamentos (154, 155).

Importava, então, consolidar e ampliar esses resultados de forma a continuar a garantir os benefícios proporcionados aos consumidores, em termos de maior oferta.

Foi solicitada ao INFARMED a identificação de todas as substâncias incluídas no conceito de MNSRM, permitindo, por sua vez, aumentar, em número, a oferta de medicamentos com a classificação de MNSRM, prática seguida por outros países europeus, como o Reino Unido, a Finlândia, a Holanda e a Alemanha, onde essa medida já era executada com sucesso há tempo suficiente para avaliação do seu interesse, nas condições de segurança vigentes em Portugal (154, 155). Foram, também, criadas condições

para a concretização do alargamento da lista de MNSRM, de forma a abranger medicamentos que, por serem similares de outros com o mesmo estatuto, deviam como tal ser reclassificados (154). Foi também autorizada a venda de MNSRM comparticipados fora

das farmácias naqueles mesmos locais de venda, embora sem a comparticipação do SNS no seu preço, não ocorrendo conflito com a filosofia subjacente à política de liberalização de comercialização de medicamentos em vigor, pois esses medicamentos poderiam vir a ser vendidos por um preço mais baixo, no quadro de um novo regime de formação de preços (154, 155). Com efeito, o cingir a comparticipação dos MNSRM às farmácias decorria

da complexidade do sistema administrativo da comparticipação de medicamentos que impossibilitava o seu alargamento (154).

44 Conclusão contrária ao reportado no relatório do Observatório do Medicamento e Produtos de Saúde do

Infarmed, em 2011, o qual revela um crescimento na taxa da despesa do mercado total (englobando o mercado do SNS, o mercado de MNSRM e restante mercado, incluindo sub-sistemas e seguros privados) entre 2003 e 2010, com um crescimento de 18,5 %, sendo que em 2004 atingiu o valor máximo de 9%, e desde esse ano a a registar taxas de crescimento inferiores.

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- Modernização da Administração Pública e reformulação da Lei

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