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6.3 Serviços de águas

6.3.4 Adaptação aos impactos das alterações climáticas

Como anteriormente referido, o quadro de incerteza e conformidade associado às alterações climáticas, em termos de magnitude e impacto nos diversos setores, incluindo naturalmente os

86 Estratégia Setorial de Adaptação aos Impactos das Alterações Climáticas relacionados com os Recursos Hídricos serviços de águas, resulta na necessidade e conveniência de se disporem de estratégias de adaptação flexíveis, multidisciplinares, consistentes e correntes, que incluam medidas estruturais e não estruturais e procedimentos de gestão adaptativa (Oliveira et al., 2013).

No âmbito deste trabalho, e relativamente ao setor dos serviços de águas, são considerados seis programas ou eixos estruturantes: a) promoção do uso eficiente da água; b) reforço e diversificação das origens de água; c) controlo da qualidade da água para o abastecimento à população; d) manutenção das condições de operação dos sistemas de drenagem e tratamento de águas residuais; e) controlo do risco de cheias urbanas e f) aprofundamento e divulgação do conhecimento. A cada medida associa-se, por sua vez, a proposta de entidade responsável, os instrumentos de implementação, a tipologia de ação (de planeamento, gestão ou monitorização) a magnitude relativa de custo de implementação, impacto, prioridade e âmbito (local, regional ou nacional).

As medidas de adaptação referidas não esgotam, naturalmente, o universo de medidas disponíveis, mais ou menos específicas e de aplicação mais ou menos generalizada e que podem contribuir para a adaptação dos serviços de águas às alterações climáticas.

6.3.5 Programas de medidas de adaptação

Programa 1 – Promoção do uso eficiente da água

Medida SA 1.1 - Controlo de perdas reais e aparentes. Esta medida corresponde às medidas 05, 06 e

09 do PNUE que visam a redução de perdas nos sistemas públicos de abastecimento de água para o setor urbano, assim como nos sistemas prediais e instalações coletivas.

Medida SA 1.2 – Controlo do consumo de água. Esta medida corresponde à implementação de várias

medidas previstas no PNUE para o setor urbano, nomeadamente a substituição de equipamento por dispositivos mais eficientes ou adequados, a redução de pressão no sistema público de abastecimento de água e a promoção de hábitos de utilização de água mais convenientes, nomeadamente através da alteração do sistema tarifário.

Programa 2 – Reforço e diversificação das origens de água

Medida SA 2.1 - Diversificação das origens de água e interligação de sistemas de abastecimento para

assegurar a diversificação das origens de água dos sistemas de captação e de abastecimento e a sua interligação de sistemas em “malha” que, ao permitirem uma maior versatilidade da operação e transferências de água entre regiões ou bacias, podem contribuir para uma maior fiabilidade do abastecimento. Trata-se da concretização da medida RH3.3 para o setor urbano.

Medida SA 2.2 - Reutilização de águas residuais para usos compatíveis e implementação de sistemas

Esta medida traduz os objetivos da medida RH3.1 para o setor dos serviços da água e deverá ser implementada no quadro do PNUE que prevê várias medidas de reutilização de água em sistemas públicos de abastecimento de água (medida 04), em sistemas prediais (medida 08), na lavagem de pavimentos (medida 28), na lavagem de veículos (medida 32), na rega de jardins (medida 39) e em campos desportivos (medidas 48 e 49).

Medida SA 2.3 –Avaliação da viabilidade e eventual promoção da dessalinização da água do mar com recurso a fontes renováveis de eletricidade. Esta medida concretiza para o setor dos serviços da água a medida RH 3.2.

Programa 3 – Controlo da qualidade da água para abastecimento à população

Medida SA 3.1 – Desenvolvimento e implementação de Planos de Segurança da Água (proteção

“multi-barreira”), visando uma gestão preventiva da qualidade da água para consumo humano. O

desenvolvimento destes planos é recomendado por várias instituições, incluindo a ERSAR. No quadro da ESAAC-RH, propõe-se abranger nestes planos uma antecipação dos impactos concretos das alterações climáticas em cada sistema de abastecimento de água e também de saneamento de águas residuais e o planeamento das respostas mais adequadas.

Medida SA 3.2 – Afinação dos esquemas de tratamento de água, instalação de tratamentos complementares e eventual reforço da capacidade instalada para assegurar a capacidade para lidar

com flutuações significativas da quantidade e qualidade dos volumes de água na origem, nomeadamente através da implementação de sistemas de monitorização associados a processos de decisão em tempo real que assegurem uma gestão dinâmica dos processos de tratamento em função das condições de operação dos sistemas, da instalação de tratamentos complementares mais adequados às novas condições de captação da água bruta ou ainda do reforço da capacidade de tratamento instalada.

Programa 4 – Manutenção das condições de operação dos sistemas de drenagem e tratamento de águas residuais

Medida SA 4.1 - Controlo de afluências indevidas aos sistemas de drenagem por ligações ilegais, infiltração e escoamento direto, já previsto nos planos de atividade de várias entidades gestoras, cuja

relevância é aqui reforçada.

Medida SA 4.2 – Controlo das afluências de origem pluvial aos sistemas de tratamento de águas residuais, designadamente através de soluções de controlo das águas pluviais na origem e da

separação tendencial de redes de drenagem separativas de águas residuais e de águas pluviais. A opção por mecanismos de taxação dos volumes pluviais descarregados na rede de drenagem pluvial pode contribuir para a concretização desta medida.

88 Estratégia Setorial de Adaptação aos Impactos das Alterações Climáticas relacionados com os Recursos Hídricos

Medida SA 4.3 - Reforço de condições de auto-limpeza de coletores e do controlo de septicidade (controlo de odores e de corrosão), criando e desenvolvendo soluções para manter ou reforçar as

condições de auto-limpeza dos coletores, face ao regime de precipitações decorrentes das alterações climáticas.

Medida SA 4.4 –Afinação dos esquemas de tratamento de efluentes, implementação de tratamentos complementares e reforço da capacidade dos sistemas de drenagem e das instalações de tratamento,

nomeadamente para ter em conta flutuações significativas da quantidade e qualidade dos volumes afluentes. Implementação de sistemas de monitorização associados a processos de decisão em tempo real que assegurem uma gestão dinâmica dos processos de tratamento em função das condições de operação dos sistemas.

Programa 5 – Controlo do risco de cheias

Medida SA 5.1- Proteção ou deslocação das infraestruturas situadas em zonas de inundação, nomeadamente captações, estações de bombagem, estações de tratamento de água (ETAs) e estações de tratamento de águas residuais (ETARs).

Medida SA 5.2- Promoção de soluções de controlo na origem de águas pluviais.

Medida SA 5.3 - Instalação de válvulas de maré (de retenção) em zonas susceptíveis de inundação com origem no mar.

Medida SA 5.4 - Intervenções de reforço ou de gestão do sistema para aumento da capacidade dos sistemas de drenagem.

Programa 6 – Aprofundamento e divulgação do conhecimento

Medida SA 6.1- Reforço dos instrumentos de regulação do sector e regulamentação e normalização,

integrando a obrigatoriedade de inclusão e consideração dos impactos das alterações climáticas.

Medida SA 6.2- Inovação tecnológica. Esta medida visa o desenvolvimento e a utilização de soluções

inovadoras de instrumentação, monitorização e controlo, e ainda a promoção de tecnologias menos consumidoras de recursos energéticos.

Síntese

O Quadro 11 apresenta uma síntese do programa e medidas de adaptação aos impactos relacionados com os serviços da água.

Quadro 11– Programas e medidas de adaptação para os Serviços de Águas

Programa Medida Entidades

responsáveis Instrumentos de implementação Tipologia de ação Custo Eficácia ou impacto Prioridade Âmbito Pl an e am e n to Ge stão M o n ito ri zaç ão Promoção do uso eficiente da água

SA 1.1 - Controlo de perdas reais e aparentes Entidade gestora

Plano Nacional para o Uso Eficiente da Água

Planos operacionais de gestão das entidades gestoras

  local ou

regional

SA 1.2 – Controlo do consumo de água Entidade gestora Plano Nacional para o Uso

Eficiente da Água   nacional

Reforço e diversificação das origens de água

SA 2.1 - Diversificação das origens de água e interligação de

sistemas de abastecimento Entidade gestora

Planos operacionais de gestão das entidades gestoras Planos de Segurança da Água

€€€   local ou

regional

SA 2.2 - Reutilização de águas residuais para usos compatíveis e implementação de sistemas diferenciados de

abastecimento

Entidade gestora

Planos operacionais de gestão das entidades gestoras Planos de Segurança da Água

€€   local ou

regional

SA 2.3 – Avaliação da viabilidade e eventual promoção da dessalinização da água do mar com recurso a fontes renováveis de eletricidade

Entidade gestora

Planos operacionais de gestão das entidades gestoras Planos de Segurança da Água

€€€   local ou

regional

Controlo da qualidade da água para abastecimento à população

SA 3.1 – Desenvolvimento e implementação de planos de

segurança da água (proteção “multi-barreira”) Entidade gestora Planos de Segurança da Água   local ou regional SA 3.2 – Afinação dos esquemas de tratamento de água,

instalação de tratamentos complementares e eventual reforço da capacidade instalada

Entidade gestora Planos de Segurança da Água €€   local Manutenção das

condições de operação dos sistemas de drenagem e tratamento

SA 4.1 - Controlo de afluências indevidas aos sistemas de

drenagem Entidade gestora

Planos operacionais de gestão

das entidades gestoras €€   local ou regional SA 4.2 – Controlo das afluências de origem pluvial aos

sistemas de tratamento de águas residuais Entidade gestora

Planos operacionais de gestão

Estratégia Setorial de Adaptação aos Impactos das Alterações Climáticas relacionados com os Recursos Hídricos 90

Programa Medida Entidades

responsáveis Instrumentos de implementação Tipologia de ação Custo Eficácia ou impacto Prioridade Âmbito de águas residuais SA 4.3 - Reforço de condições de auto-limpeza de coletores e

de controlo de septicidade Entidade gestora

Planos operacionais de gestão

das entidades gestoras €€   local

SA 4.4 – Afinação dos esquemas de tratamento de efluentes, implementação de tratamentos complementares e reforço da capacidade dos sistemas de drenagem e das instalações de tratamento

Entidade gestora Planos operacionais de gestão

das entidades gestoras €€€   local

Controlo do risco de cheias urbanas

SA 5.1 - Proteção ou deslocação das infraestruturas situadas

em zonas de inundação Entidade gestora Planos de Segurança da Água €€€   local ou regional SA 5.2 - Promoção de soluções de controlo na origem de

águas pluviais Entidade gestora

Planos operacionais de gestão

das entidades gestoras €€€   local ou regional SA 5.3 - Instalação de válvulas de maré (anti-retorno) em

zonas suscetíveis de inundação com origem no mar Entidade gestora

Planos operacionais de gestão

das entidades gestoras €€   local

SA 5.4 - Intervenções de reforço ou de operação do sistema

para aumento da capacidade dos sistemas de drenagem Entidade gestora

Planos operacionais de gestão

das entidades gestoras €€   local

Aprofundamento e divulgação do conhecimento

SA 6.1 - Reforço dos instrumentos de regulação do setor e

regulamentação e normalização Entidade gestora

Planos operacionais de gestão

das entidades gestoras   Nacional

SA 6.2- Inovação tecnológica Entidade gestora Planos operacionais de gestão

das entidades gestoras €€   Nacional

Legenda: Custo: € pouco elevado, €€€ muito elevado; Grau de eficácia ou impacto: positivo e significativo positivo e muito significativo; Prioridade  0-5 anos  5-10 anos  10-20 anos

6.3.6 Considerações finais

O sucesso do programa de adaptação dos serviços da água está intimamente ligado aos processos de elaboração e revisão contínua dos planos operacionais de gestão das entidades gestoras dos serviços de abastecimento de água e de drenagem e tratamento de águas residuais, incluindo os planos de segurança de água. Se estes planos assumirem uma visão abrangente e de longo prazo, a realização periódica de exercícios de avaliação das vulnerabilidades de cada sistema, à medida que são disponibilizados novos dados, permite desencadear as medidas de adaptação mais adequadas em cada momento.

É importante também realçar o papel da administração pública local na defesa e valorização de um ordenamento do território adequado e na manutenção e gestão das redes municipais de drenagem de águas residuais e pluviais. Uma ação consistente e adequada neste domínio diminui a pressão sobre os sistemas de drenagem e tratamento de forma muito significativa.

O setor beneficia também dos resultados do Plano Nacional para o Uso Eficiente da Água no controlo da procura de água e das medidas de proteção das massas de água e de reforço e diversificação das massas de água propostas no domínio do planeamento e gestão dos recursos hídricos.