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Programas de medidas de adaptação aos impactos das alterações climáticas

6.6 Turismo

6.6.5 Programas de medidas de adaptação aos impactos das alterações climáticas

O principal objetivo estratégico da adaptação do setor do turismo em Portugal é manter ou aumentar a capacidade de atração turística do país, diversificar e adaptar a oferta de produtos e conquistar novos mercados emissores, de modo a permitir a viabilidade do setor face às variações dos fluxos turísticos provocadas pela mudança do clima. Importa salientar que a adaptação é um processo integrado cujo sucesso depende da eficácia e coerência das adaptações sectoriais. No caso do turismo, a adaptação pressupõe a eficácia das medidas de adaptação em outros setores vulneráveis fortemente relacionados com o turismo, tais como, os recursos hídricos, a saúde, as zonas costeiras, a floresta e a biodiversidade.

Dada a incerteza associada aos cenários climáticos futuros e aos impactos setoriais, é essencial privilegiar as medidas de adaptação de tipo no regret, isto é, que trazem vantagens competitivas para o setor independentemente de o comportamento futuro do clima coincidir ou não inteiramente com as projeções obtidas com os modelos.

As medidas de adaptação, para serem eficazes, devem necessariamente envolver a administração central, as autarquias, as instituições e organizações públicas e privadas e as empresas ligadas ao setor do turismo. É essencial iniciar o processo de adaptação por meio da sensibilização efetiva das

136 Estratégia Setorial de Adaptação aos Impactos das Alterações Climáticas relacionados com os Recursos Hídricos partes interessadas do setor através da divulgação dos cenários climáticos futuros, das principais vulnerabilidades e impactos no nosso país e das incertezas associadas às projeções. A identificação e seleção das medidas de adaptação deverão constituir um processo participado e coordenado pelas entidades responsáveis pelo setor. Propõem-se os seguintes três programas de adaptação, que agrupam nove medidas.

Programa 1: Promoção do uso eficiente da água no setor do turismo

Medida T 1.1 - Avaliação do uso da água no sector do turismo para identificação das origens de água

no setor do turismo em Portugal, quantificação do consumo e determinação da atual capitação média de água por produto turístico;

Medida T1.2 – Identificação e avaliação de medidas específicas para redução dos consumos de água por produto turístico estratégico, nomeadamente através do aumento progressivo do uso de água

reutilizada para a rega dos campos de golfe, especialmente nas regiões do país com menores disponibilidades de água;

Medida T1.3 - Intensificação das atividades de monitorização e fiscalização do uso de água pelas infraestruturas turísticas.

Programa 2: Aprofundamento e divulgação do conhecimento

T2.1 - Estudo de cenários sócio-económicos e climáticos a nível regional para identificação de

vulnerabilidades e de impactos a curto, médio e longo prazos no setor do turismo em Portugal.

T2.2 - Sensibilização e divulgação da problemática das vulnerabilidades e dos impactos das alterações climáticas no turismo, junto das instituições nacionais e setoriais, públicas e privadas. Esta medida

tem como objetivo suscitar a adequação da oferta de produtos turísticos em Portugal às variações nos fluxos turísticos e nos mercados emissores provocadas pelas alterações climáticas.

Sintese

O Quadro 20 apresenta uma síntese do programa e medidas de adaptação aos impactos relacionados com o setor do turismo.

Quadro 20 - Programas e medidas de adaptação. Turismo

Programa Medida Entidades

responsáveis Instrumentos de implementação Tipologia de ação Custo Eficácia ou

impacto Prioridade Âmbito

Pl an e am e n to Ge stão M o n ito ri zaç ão Promoção do uso eficiente da água

T 1.1 Avaliação e quantificação do uso da água no setor do turismo em Portugal

Turismo de Portugal, APA, Autarquias, Empresas de Turismo

Estudo específico   Nacional T 1.2 – Identificação e avaliação de medidas

específicas para redução dos consumos de água no setor do turismo

Turismo de Portugal, APA, Empresas de Turismo

Estudo específico   Nacional

T1.3 – Intensificação da monitorização e fiscalização do uso de água pelas infraestruturas turísticas.

APA Estudo específico   Local/

Regional

Aprofundamento e divulgação do conhecimento

T2.1 - Estudo de cenários sócio-económicos e climáticos a nível regional

Turismo de Portugal, APA, Empresas de Turismo, Autarquias

Estudo específico  Local/

Regional T2.2 – Sensibilização e divulgação da

problemática das vulnerabilidades e dos impactos das alterações climáticas no turismo

Turismo de Portugal, APA Empresas de Turismo, Autarquias

Estudo específico €€   Local/ Regional Legenda: Custo: € pouco elevado, €€€ muito elevado; Grau de eficácia ou impacto:  positivo e significativo  positivo e muito significativo; Prioridade  0-5 anos  5-10 anos  10-20 anos

6.6.6 Considerações finais

O sucesso da implementação de uma estratégia de adaptação às alterações climáticas depende essencialmente da integração setorial das medidas de adaptação e do envolvimento coerente das partes interessadas setoriais públicas e privadas no processo. Sem uma visão integrada e coerente e sem a capacidade de envolver, para além da administração central e local, as organizações profissionais e as empresas, corre-se o risco de diminuir consideravelmente a eficácia do processo de adaptação. Os recursos hídricos e o turismo são dois setores particularmente vulneráveis e de grande valor económico para o país. O turismo é uma atividade de natureza profundamente transversal que é influenciada por uma grande diversidade de fatores específicos de diversos sectores socioecónomicos e sistemas biofísicos vulneráveis às alterações climáticas. Refira-se, a título de exemplo, o impacto que poderá ter sobre o turismo uma potencial intensificação de doenças infeciosas transmitidas por vetores e provocadas pelas alterações climáticas. Outro exemplo é o impacto sobre o turismo de uma potencial degradação ambiental e descaracterização da paisagem provocada pela mudança climática. Será, pois, desejável fazer uma avaliação integrada dos impactos das alterações climáticas no setor do turismo. Outro aspeto determinante para o sucesso do processo de adaptação é a colaboração efetiva e empenhada das várias instituições públicas a nível da administração central e local. O diálogo e a colaboração entre estas instituições são cruciais num domínio profundamente intersectorial e interdisciplinar como o das alterações climáticas. Finalmente, há que considerar que as alterações climáticas são um processo relativamente lento mas difícil de travar. De acordo com o princípio da precaução, isso implica ser necessário planear a médio e longo prazos e assumir as incertezas inerentes às projeções climáticas. O processo de adaptação é pois muito exigente no que respeita ao planeamento e à organização e coerência das medidas setoriais e intersectoriais.