• Nenhum resultado encontrado

AEI Capital Social

1.6 ADERÊNCIA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Este estudo considera a dinâmica da sociedade do conhecimento, já apontada por Peter Drucker no início da década de 1980, cujo desafio para as ciências sociais está em compreender uma mudança vertiginosa de paradigma, com o foco inquestionável de transformação em direção ao futuro, o próprio conhecimento.

Nesse sentido, o conhecimento tácito advindo da sociedade, introduzido na literatura por Michael Polanyi na década de 1950, destaca a percepção de que o que sabemos é mais do que conseguimos dizer ou descrever. Para Polanyi (1998 apud MAGNANI, 2004), o termo transferência não é exatamente apropriado, porque o conhecimento não pode ser manipulado como um objeto. O receptor constrói sua versão do conhecimento recebido do fornecedor, e muito do conhecimento de um especialista é tácito, e não pode ser articulado em contextos abstratos, como numa entrevista. Assim, conforme Magnani (2004, p. 54), a expressão transferência de conhecimento vem sendo substituída pela expressão "compartilhamento de conhecimento", termo escolhido para esta pesquisa e que será apresentado no capítulo 3.

Sabe-se, portanto, que o processo de geração e disseminação do conhecimento é também importante e representa aquilo que os indivíduos sabem, percebem ou discernem a respeito de si próprios e de seus ambientes de convívio. Isto é, o conhecimento sofre forte influência do ambiente do qual o indivíduo faz parte, da sua estrutura psicológica, social, política, ambiental e das suas necessidades e experiências anteriores (FIALHO et al., 2007).

Por outro lado, Portes (2000) afirma que, na sociedade do conhecimento, o capital econômico se encontra nas contas bancárias; e o capital humano, dentro das cabeças das pessoas; enquanto o capital social reside na estrutura dessas relações. Essa perspectiva aponta para a necessidade de estudos de uma nova era, a Era da Sociedade do Conhecimento, em que diferentes saberes constroem e desconstroem paradigmas, formando uma visão de mundo mais pautada na sustentabilidade. Um dos desafios dessa sociedade é apoiar-se na ciência, para configurar a problemática de compartilhar conhecimento em prol de interesses comuns, de forma a indicar direções e obter respostas em prol da sociedade e do Estado.

Portanto, este trabalho possui aderência ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento (PPGEGC) sob quatro principais eixos:

a) a sociedade do conhecimento e seus aspectos de desenvolvimento regional;

b) seu caráter interdisciplinar;

c) seus condicionantes e contingentes sobre o compartilhamento do conhecimento; e

d) as riquezas de capital social por ela formadas.

[...] para o EGC, a vivência coerente da interdisciplinaridade exige uma abordagem metodológica interdisciplinar e, dessa forma, o Programa tem motivado sua comunidade docente à aproximação com métodos, procedimentos e instrumentos diferentes de suas disciplinas de origem.

A base conceitual desta tese apresenta uma abordagem interdisciplinar sobre os AEIs e o tema central – capital social, seus condicionantes e contingentes, no sentido do compartilhamento das riquezas intangíveis geradas por este. O cenário envolve três principais eixos de pesquisa, que dizem respeito à Gestão do Conhecimento: empreendedorismo, inovação, sociedade do connhecimento e seus derivativos.

Um ponto a ressaltar são os trabalhos desenvolvidos no PPGEGC, que seguem na direção da linha de pesquisa escolhida para esta tese e que possuem características motivadoras para o tema. Fiates (p. 38, 2014) destaca a linha de pesquisa do programa: gestão do conhecimento, empreendedorismo e inovação tecnológica, reconhecendo que este trabalho se enquadra no contexto dos objetivos desta pesquisa, já que o conhecimento é o fator chave de produção, ponto de convergência com este trabalho. Contudo, relacionar AEIs com capital social por meio dos instrumentos propostos por este trabalho é reconhecer também o propósito principal de transformar conhecimento em riqueza, dinheiro, a partir da geração do capital social.

Outro trabalho sobre o tema, e motivador desta tese, foi desenvolvido por Silvestre Labiakel e defendido neste programa de pós- graduação em 2012. Para o autor, algumas regiões do mundo perceberam que sistemas regionais de inovação contribuem para a proximidade interorganizacional, seja de modo fisico ou institucional, e podem agregar valor através do aumento do compartilhamento de conhecimento e, consequentemente, induzir processos inovadores, criando competitividade e cooperação regional (LABIAKEL, 2011).

Em suma, a Gestão do Conhecimento deve ter por finalidade utilizar o conhecimento para que, por meio do desenvolvimento de suas competências, possa promover e incentivar, nas pessoas e empresas, a criação de uma cultura voltada para o desenvolvimento sustentável.

Nesta tese, considera-se a cultura direcionadora para a criação, compartilhamento e disseminação do conhecimento, com a preocupação

de satisfazer as necessidades das gerações atuais e futuras (FIALHO et al., 2008, p. 84). Com base nessas abordagens, parte-se de pressupostos do construtivismo social, em que a experiência do conhecimento não é separada da ação, e a construção do conhecimento é uma elaboração conjunta de todos os membros. Corroborando este pensamento, pode-se citar Wilson e Myers (1999 apud DIAS, 2001), ao se referirem ao saber, à aprendizagem e à cognição como construções sociais, expressas em ações de pessoas que interagem no seio de comunidades.

Sob este aspecto, este estudo propõe a visão do capital social e do compartilhamento do conhecimento sob a perspectiva dos autores Nonaka e Takeuchi (1997), North, Probst e Romhardt (1998), Davenport e Prusak (2003) e Järvenpää e Immonen (2002). Apesar de esse ponto de vista estar na direção organizacional, chama a atenção o estudo de técnicas, métodos e instrumentos referenciados pelos diversos autores, no sentido de que uma parcela substancial do conhecimento também é tácita e social, pois envolve crenças compartilhadas sobre uma situação justificada, mas não explícita. De acordo com Davenport e Prusak (2003, p. 86):

[...] o conhecimento tácito é complexo, desenvolvido e interiorizado pelo conhecedor no decorrer de um longo período de tempo, é quase impossível de reproduzir num documento ou banco de dados. Tal conhecimento incorpora tanto aprendizado acumulado e enraizado, que pode ser impossível separar as regras desse conhecimento do modo de agir do indivíduo.

1.6.1 Interdisciplinaridade

O caráter interdisciplinar desta pesquisa buscou conciliar diferentes conceitos, pertencentes às ciências sociais e ciências sociais aplicadas, porém vinculados aos propósitos do PPGEGC. Nesse sentido, um dos desafios desta tese foi o de desenvolver procedimentos metodológicos que obtivessem respostas concretas, com rigor científico claro, a fim de promover avanços e gerar evidências possíveis de serem analisadas.

Essa preocupação norteou o estudo e se caracterizou no capítulo 3. Configurou-se um desafio metodológico, em que proposições teóricas destacaram pressupostos que integram uma reflexão subjetiva,

porém consistente, com fundamentos interdisciplinares, decorrentes da causalidade do capital social em detrimento de AEIs. Para isso, houve a preocupação constante da autora em conservar o rigor científico necessário para evidenciar perguntas e respostas sobre o tema.

Nesse sentido, a metodologia do trabalho interdisciplinar supôs atitude e método, envolvendo integração de conteúdos (POMBO, 2008). Pode-se dizer que a pesquisa compõe percepções fragmentadas sobre os saberes de relevância no tema, e gera uma concepção unitária do conhecimento necessário para o desenvolvimento do trabalho. Há uma dicotomia constante entre as diferentes áreas do conhecimento, em que a autora pondera o estudo e a pesquisa, a partir do apoio epistemológico constituinte desta tese (POMBO, 2008) e apresentado nos fundamentos teóricos, apresentados no capítulo 2.

Além dos aspectos temáticos já mencionados, a pesquisa propõe indicadores que requerem estudos de áreas correlatas: inovação e empreendedorismo. No entanto, o cruzamento dos dados diante dos componentes de capital social envolveu análises de caráter interdisciplinar pautados nas características preconizadas pela Gestão do Conhecimento. Esse ponto foi fundamental para a obtenção dos resultados da pesquisa.

A preocupação de detalhar os pressupostos teóricos que definiram sua construção, em cada uma das etapas deste trabalho, sobretudo requereu, além da visão interdisciplinar conceitual, o rigor científico necessário para estabelecer evidências e aplicar o método por meio de um protocolo de fases e atividades, apresentadas nos capítulos 3 e 4.

As diferentes áreas dos saberes envolveram diversos autores: sociólogos, psicólogos sociais, cientistas políticos e economistas, interessados na caracterização da extensão e dos efeitos de uma determinada população na geração do capital social, apresentados no quadro 3. Pode-se dizer que, além da visão interdisciplinar conceitual, o estudo gerou avanços na direção de instrumentos de análise de geração de capital social em populações focadas no empreendedorismo, nos países em desenvolvimento.

Nesse sentido, o capital social é um conceito que está atraindo interesse político e institucional. Diga-se de passagem que os debates sobre o capital social conduzem a diferentes abordagens metodológicas, porém, convergem para seus benefícios potenciais, no que diz respeito à importância dos laços sociais para o desenvolvimento de determinada população.