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ELEMENTOS ESTRUTURAIS: TRANSFORMAÇÕES E RESULTADOS SOCIAIS Territorialidade dos AEIs

2.3 A PERSPECTIVA TEÓRICA DO CAPITAL SOCIAL

2.3.1 Elementos conceituais do capital social

Nahapiet e Goshal (1998) descrevem três dimensões para o capital social, as quais influenciam a absorção de conhecimento nos processos de troca e combinação desenrolados nas interações entre os membros das redes. Nahapiet e Gosbhal (1998) classificam o capital social em três dimensões: estrutural, relacional e cognitiva. A figura 10 representa esquematicamente esse estudo.

Figura 10 – Dimensões do capital social

Fonte: Nahapiet e Ghoshal (1998).

A dimensão estrutural está associada ao desenho do sistema social e à rede de relações entre os agentes participantes, em termos de densidade, conectividade e hierarquia. A dimensão estrutural pode ser bem entendida como a estrutura física da rede estratégica, formada pelos contratos, regras e padrões formais, que hierarquizam, dividem papéis e documentam a interação entre os participantes, bem como pelos sistemas de transferência de informação ou bens físicos, o desenho logístico da rede e tudo o que diz respeito ao seu funcionamento no plano operacional. Essa dimensão influencia a formação de

Dimensão Estrutural Conexões em rede Configuração em Rede Comunicação Dimensão Cognitiva Compartilhamento da linguagem Compartilhamento das necessidades e interpretações do contexto Dimensão Relacional Relacionamentos Confiança e Soliedariedade Normas e Obrigações CAPITAL SOCIAL EM PROCESSOS DE NEGÓCIOS

conhecimento, por meio das ligações entre os membros e dos canais de comunicação formados entre eles, da configuração da rede e da consequente oportunidade de interagir com mais parceiros, à medida que a rede tenha maior número de conexões. A própria organização pactuada entre os membros, como padrões técnicos e rotinas organizacionais, contribui, de alguma forma, para a formação de conhecimento, incorporando novas práticas e processos a cada participante individualmente.

A dimensão relacional descreve o tipo de relação desenvolvida entre os agentes ao longo da história de interações e que provê certo status, em termos de aceitação, reputação e prestígio perante os demais. Diferentemente da dimensão estrutural, a dimensão relacional não pode ser descrita em termos de elementos concretos ou padrões operacionais, mas das percepções sobre os comportamentos que os participantes constroem entre si, no decorrer das relações formais e informais que ocorrem na rede. A dimensão relacional impulsiona a construção de conhecimento de maneira indireta, trazendo os elementos que propiciam uma relação pautada em colaboração e comprometimento, como normas de conduta, obrigações e expectativas entre os membros, confiança e identificação entre eles.

A dimensão cognitiva se refere aos recursos que proporcionam compartilhamento de interpretações e sistemas de significados comuns às partes, como códigos e linguagem. A dimensão cognitiva pode ser descrita tanto por elementos concretos quanto por elementos abstratos, os quais definem o potencial de aprendizado disponível na estrutura e nas relações da rede. Exemplos de elementos concretos seriam os sistemas de registro e transferência de conhecimentos, como manuais, procedimentos técnicos, estudos e, principalmente, a própria linguagem estabelecida como o protocolo de interação. Dentre os elementos abstratos, pode-se citar, como exemplos, os símbolos e linguagens desenvolvidos informalmente nas interações e também os aspectos culturais próprios, que se desenvolvem no ambiente particular de cada rede. Esta dimensão tem, segundo Nahapiet e Goshal (1998), particular importância no contexto da construção do conhecimento das empresas. Os mecanismos pelos quais o conhecimento é formado originam-se nos códigos e seus significados e na linguagem, à medida que ocorrem os processos de comunicação entre os membros, bem como pelas narrativas formais ou informais que registram os eventos de interação e suas consequências.

Nahapiet e Ghoshal (1998) referem-se às relações de confiança presentes nas relações sociais de um grupo ou comunidade, para

alcançar objetivos comuns para construir o capital social. Nesse sentido, os autores entendem o capital social como o conjunto dos atuais e potenciais recursos pertencentes a uma pessoa ou a uma unidade social, embutidos, derivados e disponibilizados numa rede de relações sociais, e que se constitui de três dimensões: estrutural, cognitivo e relacional.

Assim, com base nos estudos de Nahapiet e Ghoshal (1998), configura-se o quadro 4, com um amplo cenário de avaliação sobre os principais pontos destacados pela literatura relacionada ao capital social.

Quadro 4 – Elementos das dimensões do capital social

Dimensões Categoria Descrição Variáveis

Relacional

Redes Esta é a categoria mais comumente associada ao capital social. As questões nesta seção consideram a natureza e a extensão da participação de um membro, de um domicílio, em vários tipos de organizações sociais e redes informais, assim como as várias contribuições dadas e recebidas nessas relações. Também consideram a diversidade das associações de um determinado grupo, como suas lideranças são selecionadas, e como mudou o envolvimento da pessoa com o grupo ao longo do tempo.

Existência de uma visão compartilhada sobre os objetivos. Ação coletiva e cooperação.

Esta categoria investiga se e como os membros do domicílio têm trabalhado com outras pessoas em sua comunidade, em projetos conjuntos e/ou como resposta a uma crise. Também considera as consequências do não cumprimento das expectativas em relação à participação. Número de beneficiados. Coesão e inclusão social.

As “comunidades” não são entidades coesas, mas, antes, se caracterizam por várias formas de divisão e diferenças, que podem levar ao conflito. Questões, nesta categoria, buscam identificar a natureza e o tamanho dessas diferenças, os mecanismos por meio dos quais elas são gerenciadas, e quais os grupos que são excluídos dos serviços públicos essenciais. Questões relativas às formas cotidianas de interação social também são consideradas.

Interesses e projetos compartilha- dos.

Estrutural Autoridade (ou capacitação) (empower- ment) e ação política.

Os indivíduos têm “autoridade” ou são “capacitados” (are empowered) na medida em que detêm certo controle sobre instituições e processos que afetam diretamente seu bem-estar (BANCO MUNDIAL, 2002). As questões, nesta seção, buscam averiguar o sentimento de felicidade, eficácia pessoal e capacidade dos membros do agregado doméstico, para influenciar tanto eventos locais como respostas políticas mais amplas.

Lideranças e governança compartilha- da. Informação e comunica- ção

O acesso à informação tem sido reconhecido cada vez mais como fundamental para ajudar as comunidades empobrecidas a terem voz mais ativa em assuntos relativos ao seu bem-estar (BANCO MUNDIAL, 2002). Esta categoria de questões explora os meios pelos quais os domicílios pobres recebem informações relativas às condições de mercado e serviços públicos, e até onde têm acesso às infraestruturas de comunicação.

Confiabilida- des e troca das informações.

Cognitiva

Confiança e solidarie- dade.

Além das perguntas tradicionais sobre confiança, presentes em um número notável de surveys nacionais, esta categoria busca levantar dados sobre a confiança em relação a vizinhos, provedores de serviços essenciais e estranhos, e como essas percepções mudaram com o tempo.

Grau de atuação e conectividade da rede. Interesses comuns

Quantidade de pessoas envolvidas – público interno, externo, atores da rede – que conhecem claramente os objetivos.

Grau de parti- cipação dos públicos inter- no e externo. Fonte: Nahapiet e Ghoshal (1998), adaptado pela autora.

Assim, a matriz conceitual elaborada para esta tese foi definida com base nos fundamentos teóricos apresentados neste capítulo.

A matriz conceitual é detalhada na seção 4.2.1, na qual são apresentados os autores escolhidos para o estudo, já referenciados na seção 2.3, com base nas três dimensões de análise do capital social classificadas por Nahapiet e Goshal (1998) e apresentadas no parágrafo acima. Cabe ressaltar que, para a construção da matriz conceitual, fez-se

uma análise entre os autores de referência elencados neste capítulo e as dimensões de análise propostas pelas autoras Nahapiet e Goshal (1998), num cruzamento teórico entre os quadros 3 e 4, resultando na matriz conceitual de análise que deu base ao desenvolvimento dos indicadores. Portanto, ressalta-se a ênfase do estudo nos seguintes autores:

a) Dimensão estrutural: Pierre Bourdieu (1980) e James Coleman (1994);

b) Dimensão cognitiva: Francis Fukuyama (2004) e Alejandro Portes (1998);

c) Dimensão relacional: Pierre Bourdieu (1980), Robert Putnam (1997) e Mark Granovetter (2005 apud NAHAPIET; GHOSHAL, 1998).

Diante disso, nesta pesquisa pode-se constatar a fundamentação teórica abordada em dimensões de análise, as quais, para facilitar o estudo, foram organizadas em categorias, também com base em estudos já apresentados. A figura 11 representa as categorias analisadas de acordo com suas manifestações e efeitos.

Figura 11 – Geração do capital social e seus efeitos, segundo autores de referência

Fonte: Melin (2007). Elaboração a partir de Bourdieu (1980), Coleman (1988), Putnam (1996), Fukuyma (2000), Cardoso, Franco e Oliveira (2000), Jacobi et al. (2004), Stweart-Weeks (2005) e Banco Mundial (2007). Adaptado pela autora.

Assim, nesta proposta, as categorias serão enquadradas conforme as normas e padrões de convivência, as relações adequadas entre as pessoas e o ambiente cultural de compartilhamento de valores. Igualmente, a coleta e análise dos dados deram-se sobre as manifestações e resultados, uma vez que estes contribuem para maior objetividade na obtenção dos dados, consistência na análise e identificação das respostas à problemática de pesquisa.

Cita-se, também, o estudo de Dakhli e De Clercq (2008) sobre o efeito do capital social na inovação de 59 países, com base nos dados dos dois documentos do Banco Mundial: World Development Report e World Values Survey8, divulgados em 2008. Para encontrar uma relação altamente positiva entre capital humano e inovação, e apoio parcial da confiança e das atividades associativas com a inovação, organismos internacionais discutem determinadas variáveis compondo indicadores de diferentes estruturas conceituais favoráveis ao capital social, pois, conforme Jannuzzi (2001, p. 2), "pressupõe-se que é [...] muito raro dispor de indicadores [...] que gozem plenamente de todas estas propriedades".

Diante disso, foram encontradas conceitualmente propriedades comuns entre os diferentes autores do tema, formando um conjunto de definições, objetivos e métodos, relacionados também com as principais organizações internacionais que realizam pesquisas na área do desenvolvimento, por meio de ações sociopoliticoinstitucionais, que auxiliaram o desenvolvimento da matriz conceitual apresentada na seção 4.2.1.