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Adeus ao Ford Bigode

No documento revista serrote (páginas 77-81)

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 No momento em que a indústria de au- tomóvel dos ��� entra em acentuado declínio,serrote republica

dois ensaios clássicos, escritos na década de ����, sobre Henry

Ford e suas invenções: o fordismo e o carro que era a própria

“cena americana”

Para Henry Ford

Um reluzente Ford Bigode modelo Tudor, em frente ao prédio onde atualmente se encontra o Museu Nacional de História Natural, em Washington, ��, provavelmente em ����  ©Library of Congress, LC-DIG-npcc-��/��

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engenheiros aceitavam a palavra “planetária” em seu sentido epicicloidal, mas sempre tive consciência de que ela também significava “perambulante”, “errática”. Graças à natureza peculiar desse elemento planetário, havia sempre no Ford Bigode uma troca de amenidades entre o motor e as rodas, e mesmo quando se encontrava no estado conhecido como neutro o carro vibrava com profunda autoridade e tendia a avançar lentamente. Não havia um único momento em que as correias não estivessem atiçando vagamente o motor. Nisso ele parecia um cavalo, segurando o cabresto com os dentes, e o pessoal do campo aplicou nele as mesmas técni- cas que usava nos animais de carga.

Sua qualidade mais admirável era a taxa de aceleração. Nos dias de auge, o Ford Bigode arrancava na estrada mais velozmente do que qualquer outro. A razão era simples. Para avançar, bastava colocar o terceiro dedo da mão direita ao redor da alavanca na coluna de direção, puxar com força e afundar o pé esquerdo na embreagem�. Eram movimen-

tos simples, positivos; o carro respondia arremessando-se para a frente com um estrondo. Depois de alguns segundos dessa balbúrdia, você puxava de leve o pé da embreagem, soltava um pouco o acelerador, e o carro, dotado apenas de duas marchas, era catapultado, numa série de trancos, dire- tamente para a marcha alta, partindo assim em sua gloriosa missão. Nenhum automóvel da época era capaz de igualar essa saída brusca. A perna humana era (e ainda é) incapaz de soltar a embreagem de uma maneira que remotamente se assemelhe ao si ncero descaso que colocava o Ford Bigode em movimento. Soltar a embreagem é um movimento negativo, hesitante, que depende de um controle nervoso delicado. Pisar na embreagem do Bigode era um movi- mento simples, rústico – tão natural quanto chutar uma porta emperrada.

O motorista do velho Ford Bigode era um homem no trono. Com a capota levantada, o carro tinha mais de dois metros. O piloto ia sentado sobre o tanque de gasolina, como se estivesse chocando o combustível. Quando preci- sava abastecer, tinha que apear, junto com tudo que esti- vesse sobre o banco da frente; o banco era então retirado, a tampa de metal, desatarraxada, e uma vareta era inse- rida para medir o nível do tanque. Sempre havia uma ou outra dessas varetas aninhadas nas regiões subterrâneas

do bólido. Na época, encher o tanque era uma verdadeira atividade social, pois o motorista era obrigado a esticar as pernas, quisesse ele ou não. Bem à frente do motorista ficava o para-brisa – alto, intransigentemente ereto. Ninguém falava de resistência do ar, e os quatro cilindros lançavam o carro pela atmosfera com a mais pura falta de consideração pelas leis da física.

Havia um detalhe a respeito do Ford Bigode: o comprador nunca o consi- derava uma aquisição completa, um produto final. Ao adquirir um Ford Bigode, imaginava que tinha diante de si um começo – um esqueleto vibrante e impetuoso sobre o qual era possível aparafusar uma variedade quase infinita de equipamentos decorativos e funcionais. Ao sair dirigindo da concessionária, com a coluna da direção presa entre as pernas, você já estava tomado de ímpeto criativo. O Bigode nascia pelado feito um bebê, e toda uma próspera indústria surgiu para corrigir suas deficiências raras e combater suas doenças fascinantes. Era o grande tempo das pinturas ima- culadas. Estive folheando alguns catálogos antigos da Sears Roebuck, e eles trazem de volta lembranças muito vívidas.

Primeiro você comprava um refletor de segurança Ruby, para que a traseira se iluminasse com o brilho de outro carro. Então você investia �� centavos em umas asas Moto para o radiador, adorno popular que dava à máquina um toque de Pégaso e conferia certa divindade ao proprietário. Por nove centavos, levava uma guia para a correia do ventilador, que impe- dia que ela se soltasse da roldana.

Era preciso comprar um anticorrosivo que evitasse vazamentos no radiador. Aos olhos dos proprietários, isso era tão imprescindível quanto uma aspirina para o armário de remédios. Você comprava um óleo espe- cial que prevenia chiados, uma lâmpada acoplável para o painel, apetre- chos para remendar o pneu, uma caixa de ferramentas que era aparafu- sada ao estribo, um quebra-sol, uma braçadeira para manter a coluna de direção rígida e um conjunto de recipientes de emergência para gaso- lina, óleo e água – três latas fininhas que repousavam numa caixa sobre o estribo durante viagens longas e importantes –, sendo o vermelho para gasolina, o cinza para água, o verde para óleo. Quando o carro completava mais ou menos um ano, tomavam-se medidas para controlar sua alar- mante desintegração. (O Ford Bigode era cheio de tumores, mas eles eram benignos.) Okit  de antirruídos (�� centavos) era uma panaceia popular.

Ele se acoplava às alavancas da ignição e do acelerador, à alavanca de freio e às juntas da alavanca de direção. Silenciadores feitos de borracha preta eram aplicados ao capô sacolejante. Amortecedores de toda sorte ofereciam “relaxamento completo”. Algumas pessoas compravam peda- leiras de borracha, que eram montadas sobre os pedais originais de metal. �. O carro tinha apenas dois pedais e

uma alavanca de cada lado da coluna de direção (o desenho delas, uma contra a outra, lembrava um bigode, daí o apelido brasileiro); a da direita servia para aceleração. [�. do �.]

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(Lembro-me de que não gostava delas.) Pessoas de mentalidade descon- fiada ou belicosa compravam um espelho retrovisor; mas a maioria dos proprietários não se preocupava com quem vinha atrás, pois logo iam vê-lo à frente. Eles dirigiam num estado de alegre catalepsia. Grande fac- ção rebelde migrou para o acelerador de pedal (era possível comprar um e aparafusá-lo ao estribo), mas havia algo de louco nessas pessoas, pois o Ford Bigode dispunha de uma seleção de três pedais para serem pisados, e havia inúmeras ocasiões em que os dois pés estavam ocupados no cum- primento do dever, o que tornava o acelerador do painel a única maneira de aumentar a velocidade do motor.

Acessório gerava acessório. Os proprietários não só compravam apetre- chos prontos, como também os inventavam a fim de atender suas neces- sidades especiais. Eu mesmo fui direto da concessionária para a ferraria e pedi que acoplassem dois suportes de metal gigantes no estribo do lado esquerdo para colocar minha maleta do exército.

Os donos dos modelos com capota seguiam uma linha diferente de cons- trução: compravam maçanetas de alças arredondadas, supressores de ruído para as janelas e magníficos vasinhos de flores lapidados. Gente de sensi- bilidade mais delicada incrementava o carro com um dispositivo chamado Disseminador para Automóveis Donna Lee – vaso poroso que, segundo a Sears, preenchia o carro com um “leve e puro odor de lavanda”.

O abismo entre os conversíveis e os modelos fechados não era tão grande quanto hoje: por ��� ��,��, a Sears convertia seu carro de passeio em um sedã, e você saía renovado. Uma qu alidade encantadora dos velhos Bigodes é que eles não tinham para-choque, e as proteções amaciavam e perdiam a força com os anos, permitindo que o motorista se espremesse para entrar e sair de vagas apertadas.

Os pneus tinham �� x �½ polegadas, custavam cerca de �� dólares e fura- vam de bom grado. Todo mundo tinha o seu conjunto de remendar Jiffy, com um ralador de noz-moscada para deixar o tubo mais áspero antes de espalhar o grude. Qualquer pessoa era capaz de remendar um pneu, espera- va-se isso delas, elas eram obrigadas a isso.

Durante minha parceria com o Ford Bigode, a ignição automática não era um acessório disseminado. Ela era cara e vista com desconfiança. O carro vinha equipado com uma prestativa manivela, e a primeira coisa que você aprendia era Como Obter Resultados. Havia um macete especial, e, até que você o aprendesse (normalmente de outro proprietário, mas às vezes após um período de terrível experimentação), podia muito bem esperar sentado. O truque era deixar a ignição desligada, dirigir-se à cabeça do animal, puxar o afogador (um pequeno cabo que se projetava através do radiador) e, com ar de descaso, dar dois ou três puxões na manivela. Então, assobiando como se estivesse pensando em outra coisa, você retornava vagarosamente à cabine

do motorista, ligava a ignição, voltava à manivela e, desta vez, aplicando nela um movimento para baixo, a fazia girar com uma boa dose Daquilo. Se o procedimento fosse seguido, o motor quase sempre respondia – primeiro com umas poucas explosões esporádicas, depois num violento estouro de artilharia, que você controlava correndo de volta ao assento do motorista e diminuindo o acelerador. Muitas vezes, se o freio de mão não estivesse totalmente puxado, o carro avançava sobre você no primeiro instante da explosão, e era preciso segurá-lo jogando seu peso contra ele. Ainda posso sentir meu velho Bigode me espremendo contra o meio-fio, como se esti- vesse procurando uma maçã no meu bolso.

Em temperaturas abaixo de zero, a partida comum se tornava uma impossibilidade, exceto se você fosse um gigante. O óleo engrossava e era preciso levantar as rodas traseiras, o que, por alguma razão planetária, faci- litava o acionamento.

A erudição popular e os mitos que governavam o Ford Bigode não conheciam limites. Os proprietários tinham teorias a respeito de tudo; eles discutiam os problemas comuns da mesma maneira bem informada e infinitamente engenhosa com que as velhinhas discutem reumatismo. Informações precisas eram escassas, e muitas vezes se provavam menos eficazes do que a superstição. Soltar uma bola de cânfora no tanque de gasolina era um expediente popular, que parecia provocar um efeito tônico tanto no homem como na máquina. Não havia muito no que basear as informações. O condutor do Bigode voava às cegas. Ele não sabia a tem- peratura do motor, a velocidade do carro, a quantidade de combustível ou a pressão do óleo (o velho Bigode lubrificava a si mesmo, no que era carinhosamente conhecido como “sistema de espirro”). O velocímetro custava dinheiro e era um acessório tão opcional quanto o limpador de para-brisa. O painel dos primeiros modelos era vazio, salvo pela chave de ignição; modelos posteriores, mais decadentes, ostentavam um amperí- metro, que palpitava de maneira alarmante com a tremedeira do carro. Debaixo do painel havia uma caixa de bobinas com vibradores ajustáveis, ou que você imaginava ajustar.

O proprietário obtinha informações sobre o motor não por meio de ins- trumentos, mas de acontecimentos inesperados. Lembro-me de que o tem- porizador era um dos órgãos vitais, em torno do qual se criou vasta dou- trina. Quando todo o resto fora conferido, você tinha de “dar uma olhada” no temporizador. Era um dispositivo notadamente esquisito, de construção simples e funcionamento misterioso. No interior havia um cilindro, preso por uma mola, e quatro pontos de contato dentro da caixa sobre a qual, segundo muitos acreditavam, o cilindro girava. Já desmontei o tempori- zador de um Bigode doente muitas vezes, mas nunca soube direito o que estava fazendo – só queria me exibir aos olhos de Deus.

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Havia quase tantas escolas de pensamento quantos temporizadores. Algumas pessoas, diante de um problema no aparelho, cerravam os dentes e davam-lhe uma boa bordoada com uma chave-inglesa. Outros abriam a caixa e sopravam dentro. Uma das escolas defendia que o temporizador precisava de muito óleo; eles o regulavam com batismos frequentes. Outra estava certa de que ele precisava permanecer seco; esses viviam de removê-lo e enxugá-lo. Lembro-me de uma vez ter cuspido dentro do temporizador; não de raiva, mas à guisa de investigação. Note que o motorista do Ford Bigode movia-se no âmbito da metafísica. Ele acreditava que seu carro podia estar amaldiçoado.

Uma das razões pelas quais a anatomia do Ford Bigode nunca foi redu- zida a uma ciência exata é que, mesmo depois de tê-lo “consertado”, o pro- prietário não podia alegar honestamente que o tratamento trouxera, enfim, a cura. Havia muitos casos comprovados de Bigodes se consertando sozi- nhos – com a saúde naturalmente recuperada depois de um breve repouso. Coisa que os fazendeiros logo descobriram e que se ajustava perfeitamente à filosofia que eles aplicavam aos animais de carga: “Deixa descansar que logo estará de pé outra vez”.

O Rolamento Número Um era uma preocupação constante dos moto- ristas do Ford Bigode. Por ficar na parte da frente do motor, esse rolamento sempre queimava, pois o óleo não o atingia quando o carro estava numa subida. (Pelo menos é o que sempre me diziam.) O óleo recuava, deixando o Número Um seco feito um osso; você precisava ficar de olho naquele rolamento como um falcão. Era o equivalente a um coração fraco – dava para ouvir quando ele começava a bater, e essa era a hora de parar o carro e deixá-lo esfriar. Por mais que você tentasse deixar o óleo no nível correto, no fim o Número Um sempre morria. “O Rolamento Número Um quei- mou e eu tive de trocá-lo”, você falava, sabiamente; e seus amigos sempre tinham muito a dizer sobre como proteger e paparicar o Número Um para mantê-lo vivo.

Espalhados não muito generosamente entre os milhões de curandeiros amadores que conduziam seus Bigodes, e que neles aplicavam curas abomi- náveis, estavam os mecânicos, emissários dos céus que de fato conseguiam se comunicar com o carro. Esses profissionais apareciam em locais inima- gináveis. Certa vez, às margens do rio Columbia, em Washington, ouvi a traseira do carro soltar enquanto eu lutava para fazê-lo escalar a rampa inclinada da balsa. Houve um estalo; o carro escorregou de ré e caiu na lama. Pareceu-me que era o fim da linha. Mas o capitão da balsa, observando aquele restolho debilitado, levantou a voz.

“O que houve?”, perguntou.

“Acho que é a traseira”, eu disse, com indiferença. O capitão se apoiou na grade e lançou-lhe um olhar. Foi quando percebi que havia uma ânsia em seus olhos que o distinguia dos outros homens.

“Quer saber de uma coisa?”, ele disse, com descaso, tentando disfarçar o entusiasmo. “Vamos colocar esse filho da mãe no barco, e eu ajudo a conser- tar enquanto subimos e descemos o rio.”

Foi o que fizemos. Durante um dia inteiro, fomos e voltamos de Pasco a Ken- newick, enquanto o capitão (que havia trabalhado numa mecânica da Ford) comandava o incrível trabalho de restauração do esqueleto do meu carro.

Nos tempos de ouro do Ford Bigode, a primavera era uma estação delirante. Ser dono de um carro ainda era um prazer e tanto, as estradas ainda eram maravilhosas e ruins. O Ford Bigode com certeza havia sido concebido num surto de loucura: qualquer automóvel capaz de saltar da marcha mais veloz para a ré sem um sinal perceptível de hiato mecânico estava fadado a se tor- nar um enorme desafio à imaginação humana. Os rapazes costumavam des- viá-lo da estrada e jogá-lo num pasto, onde corriam enlouquecidos como se estivessem se exibindo para uma garota.

Geralmente, as pessoas usavam a ré quase tanto quanto o pedal de freio – o que dividia o desgaste entre as correias, que assim se desfaziam de maneira uni- forme. Esse era o truque, desgastar todas as correias uniformemente, para que a chiadeira final fosse completa e o carro como um todo gritasse por socorro.

Os dias eram dourados, as noites sombrias e estranhas. Ainda tenho medo de lembrar aquelas barulhentas crises noturnas, quando você che- gava perto de uma placa na estrada e forçava o motor para que a luz ficasse forte o suficiente e você pudesse ler a informação. Desde então, nunca mais fui planetário. Acho que é hora de me despedir. Adeus, meu amor!

Um dos mestres do estilo de escrever ensaios nos ���, �.�.����� publicou originalmente este texto na New Yorker , em ����, sob o pseudônimo de Lee Strout White e o título “Farewell, my lovely!” [Adeus, meu amor!]. Ele comprou seu primeiro Ford Bigode em ���� e deu-lhe o apelido de Hotspur. Com ele, viajou pela América. Sobre esta viagem, escreveu From Sea o Shining Sea [Do mar para o mar brilhante; o sentido é “da Costa Leste para a Costa Oeste], em ����. White foi um dos mais importantes colaboradores da New Yorker . Escreveu consagrados livros infantis ( A eia de Charlote, lançado no Brasil pela Martins Fontes, em ����) e é coautor de um clássico manual de redação ( The Elemens of Syle) , com o seu antigo professor William Strunk Jr. Em ����, a José Olympio editou o ensaio  Aqui esá Nova York, com tradução de Ruy Castro. �������� �� ����� �����

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No melancólico descampado amarelo de Michigan com suas nódoas cin- zenas de água congelada, os velhos carros esperam como cavalos no cur- ral. Desde a penúlima primavera, Henry Ford os vem comprando por �� dólares cada, e odos os dias há gene que os raz aé ali. Conversíveis velhos, gasos e enlameados, sedãs, limusines, carrões de viagem e caminhone- es – em filas de dois ou rês, eles são recolhidos ao galpão de desmanche, seguindo ola e horrivelmene como cadáveres sacudidos para volar à vida, com os capôs raquíicos e as rodas viradas para rás. Uma vez denro, são sisemáica e vigorosamene desmonados: os pneus murchos casigados pelas esradas são arrancados; a chama de um maçarico aaca as colunas dos volanes; os moores são exirpados como as vísceras de um boi e mandados ao alo-forno para virar ferro reuilizável; os vidros são arrancados e usados para subsiuir janelas de fábrica quebradas; o couro das capoas e assenos é revendido; aé mesmo o cobre e o meal branco são raspados das bielas e derreidos para revesir novas bielas. Enão a carcaça limpa e eviscerada do velho carro é jogada numa derradeira câmara mor uária – esmagada por uma prensa de cinco oneladas, que a faz esalar como um besouro pisado.

O lar dos alos-fornos é um vaso e ruidoso domicílio de giganes: grunhi- dos, um reinir conínuo, a queda de fardos remoos. Os auomóveis velhos razidos para denro sobre pequenos carreos são como cavalos esripados na arena de ouradas, que desabaram sobre as paas encolhidas. Um demô- nio de óculos azuis senado num alo rono de uma enorme carruagem ou carro alegórico azul faz com que ese se mova horizonalmene para frene e para rás diane das bocas brancas incandescenes dos fornos, alimenan- do-os de carros esmagados como se eses fossem caranguejos meálicos de casco mole – arremessando cada um deles com um golpe súbio, deixan- do-o cair rapidamene com uma orção. Não há ainda muias bocas grandes o basane para acomodar um carro ineiro numa única bocada, e, enquano não ficam pronos dez fornos de ��� oneladas especialmene projeados para a degluição de carros velhos – �� mil deles foram derreidos desde o

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