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ADI 70057471997 – Lei nº 5.744/13 – Cargos em Comissão Funções

2.3 Análise de espécies normativas municipais declaradas inconstitucionais pelo

2.3.3 ADI 70057471997 – Lei nº 5.744/13 – Cargos em Comissão Funções

Aborda-se, a seguir, a Ação Direta de Inconstitucionalidade promovida pelo Procurador Geral de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul após Ação Civil Pública ensejada pelo Ministério Público. Seu intuito é obter junto ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça, a inconstitucionalidade dos cargos em comissão criados no âmbito da administração direta do Poder Executivo do Município de Ijuí, por meio da Lei Municipal nº 5.744/13.

A proposição da ADI 70057471997 tem por objeto a retirada do ordenamento jurídico da referida Lei Municipal no que se refere aos cargos em comissão, especificamente aos cargos a seguir expostos:

Coordenador de Recursos Humanos, Dirigente do Núcleo de Formação Continuada, Coordenador de Patrimônio e Administração de Materiais, Coordenador de Desenvolvimento Social, Dirigente do Núcleo Assistencial, Coordenador do CRAS, Coordenador do CREAS, Dirigente do Núcleo de Geração de Emprego e Renda, Coordenador de Desenvolvimento da Educação, Dirigente de Educação Infantil, Dirigente de Ensino Fundamental, Dirigente de Ensino Médio e Profissionalizante, Administrador da Área de Pecuária do IMEAB, Coordenador de Desenvolvimento Agropecuário, Dirigente do Núcleo de Produção Animal, Dirigente do Núcleo de Produção Vegetal, Dirigente do Núcleo de Agroindústria, Coordenador de Infraestrutura Rural, Dirigente do Núcleo de Mecanização, Dirigente do Núcleo de Gerenciamento de Mobilidade e Serviços Urbanos, Dirigente do Núcleo de Gerenciamento de Obras Urbanas, Dirigente do Núcleo de Regulação, Coordenador de Infraestrutura e Logística, Coordenador de Vigilância em Saúde, Coordenador de Licenciamento e Fiscalização, Coordenador de Proteção Animal, Dirigente Cultural, Dirigente de Gestão Desportiva, Dirigente de Gestão Turística e Dirigente de Gestão Fundiária. (MUNICÍPIO DE IJUÍ, 2014, p. 3).

Alega o Procurador Geral de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul que a criação de cargos em comissão fere o art. 37, II e V da Constituição Federal de 1988, estando em descompasso com a Constituição Estadual, desrespeitando o percentual mínimo exigido pelos ordenamentos jurídicos citados.

Aduz o referido Procurador Geral, que a Lei Municipal viola também a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, estando em choque com a regra constitucional de que as Leis Orgânicas devem observar obrigatoriamente requisitos exigidos para o preenchimento dos cargos em comissão.

Tais alegações têm o intuito de preservar a ordem jurídica, bem como impedir que atos normativos permaneçam no sistema jurídico com vício formal ou material, o que significa não cumprir as normas legais e as formalidades exigidas para elaboração legislativa.

Desta forma, requer a procedência da ação, declarando inconstitucionais os cargos comissionados correspondentes ao “modelo legal de assessoria e chefia previsto na Carta da República”, ou seja, exige o pronunciamento em relação à inconstitucionalidade da classificação desses cargos, haja vista que tal decisão já foi proferida na ADI 70044058980 pelo Des. Armínio Abreu José da Rosa, conforme se observa no Pedido de Vista, a seguir:

Com isso, estou em julgar procedente, em parte, o pedido, para declarar a inconstitucionalidade de parte do art. 1º e anexos da Lei nº 5.281/10, do Município de Ijuí, ressalvando, em relação aos cargos constantes do pedido (o que é bom destacar, uma vez não alcançar a ADI a todos os cargos constantes da citada lei), aqueles de Diretor de Recursos Humanos; Coordenador de Desenvolvimento Econômico; Coordenador de Indústria, Comércio e Turismo; Coordenador Serviços Organização de Eventos; Coordenador Serviços de Apoio; Coordenador de Desenvolvimento Rural; Coordenador de Desenvolvimento Urbano; Administrador do Centro de Referência Regional de Saúde do Trabalhador; Coordenador Desenvolvimento Socioambiental; Coordenador Especial de Habitação; e Coordenador Especial de Cultura. (MUNICÍPIO DE IJUÍ, 2011, p. 8).

Ora, sabe-se que cabe à Administração Pública organizar os seus serviços de acordo com os requisitos constitucionais e legais previstos no art. 37 da CF/88, quando determina que os cargos públicos devem ser preenchidos por meio de concurso público, embora possibilite a contratação excepcional e cargos de livre nomeação. Não se pode deixar de esclarecer, contudo, que neste caso a Lei Municipal nº 5.744/2013 não demonstra efetivamente que os cargos criados se harmonizam com o princípio da livre nomeação e exoneração, sendo, portanto, necessário que haja o controle pelo Poder Judiciário.

Com base nos relatos do Ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, no ARE 680288, julgado em 26/06/2012, este sustenta que:

[...] A faculdade de que dispõe a administração pública de criar cargos de livre nomeação e exoneração deve observar, além do princípio da legalidade, a disposição constitucional que determina a realização de concurso público de provas ou de provas e títulos para a investidura em cargos públicos. Reserva-se a possibilidade de contratação pela via comissionada somente a determinadas exceções constitucionais, a fim de garantir o amplo acesso da comunidade aos cargos públicos, corolário que é do princípio da impessoalidade. Afronta aos artigos 8º, 19, caput e inciso I, caput, 20, caput e parágrafo 4º, e 32, caput, todos da Constituição Estadual, combinados com o artigo 37, incisos II e V, da Constituição Federal. (STF, 2012).

Evidencia-se que a Administração Pública do Município de Ijuí não justificou o provimento dos cargos em comissão criados pela Lei Municipal 5.744/2013, desautorizando, desta forma a sua criação.

De outra banda, o representante do Município de Ijuí, em defesa da constitucionalidade da lei, alega que não há impedimento da nomeação de cargos comissionados, pois nenhum dos Cargos em Comissão (CCs) ostenta atribuições de chefia, direção ou assessoramento. A referida alegação, contudo, não prosperou, haja vista que a ADI 70057471997 foi julgada parcialmente procedente, exigindo a retirada do ordenamento jurídico à parte da Lei Municipal de Ijuí nº 5.744/2013 quanto aos cargos supramencionados.

Sintetizando a questão supratrabalhada pode-se afirmar que os atos normativos praticados pelo agente público não observaram as formas de produção legislativa quanto ao conteúdo, ferindo preceitos constitucionais. “Havendo contradição entre o conteúdo da norma e o conteúdo da Constituição, manifestar-se-á a inconstitucionalidade material”, afirma Giustina (2006, p. 154).

Um problema que se repete na seara do controle de constitucionalidade das leis municipais diz respeito ao conteúdo das normas editadas pela Câmara de Vereadores. Na maioria das vezes essas se encontram em desarmonia com o texto constitucional e há usurpação das competências do Executivo, sendo necessário que se proceda no controle de constitucionalidade das leis ou projetos de leis municipais.

CONCLUSÃO

O presente estudo foi realizado com a finalidade de ampliar conhecimentos sobre o controle de constitucionalidade exercido sobre a legislação brasileira, bem como salientar o quão relevante é a observação da supremacia constitucional.

Cumpre ressaltar que a Carta Magna é a Lei Maior do país, devendo o legislador sempre honrá-la ao emanar um ato normativo. Destarte, um órgão superior sobrepõe-se aos fundamentos e requisitos, fiscalizando tais leis infraconstitucionais, seja no âmbito federal, estadual ou municipal.

Na mesma linha compreendeu-se que a Constituição Federal de 1988 é rígida, serve de base e aduz parâmetros para a elaboração de todos os atos normativos, sendo de suma importância seguir as linhas por ela traçadas. É na Lei Maior que se encontra a estrutura e as diretrizes que devem ser fielmente seguidas, bem como a organização de seus órgãos. Ademais, é nela, também, que se tem a base dos direitos e garantias dos cidadãos.

Faz-se necessário, também, aludir que a Constituição Federal é o ápice do ordenamento jurídico brasileiro, não podendo em hipótese alguma desconhecer que as demais leis infraconstitucionais devem estar em harmonia com ela, sob pena de ser alegada a sua inconstitucionalidade.

Atendendo aos objetivos do presente estudo verificaram-se, no primeiro capítulo, alguns aspectos referentes à Supremacia Constitucional que traz a lembrança de rigidez normativa, sendo que possui um procedimento mais formal, rigoroso e solene para proceder as modificações por meio de emendas à Constituição. Assim, neste capítulo também foram abordados fundamentos, pressupostos, conceitos e o modelo brasileiro do controle de constitucionalidade.

Salienta-se a existência de dois tipos de controle, isto é, o controle preventivo, que nada mais é do que aquele que ocorre no momento da apresentação do projeto de lei, podendo ser realizado tanto pelo Legislativo, Executivo e pelo Judiciário; e o controle repressivo, realizado pelo Poder Judiciário.

Resultou claro que todas as espécies normativas necessariamente devem estar em consonância com a Carta Magna, presumindo-se que todas “as leis e atos normativos editados pelo Poder Público são protegidos pela presunção de constitucionalidade das leis.” Em decorrência disso observa-se a existência de um órgão superior encarregado de verificar a compatibilidade das normas com a Constituição Federal, que é considerada superior (PAULO; ALEXANDRINO, 2014, p. 774).

No segundo capítulo foram abordadas as Leis Municipais nº 4.450/05, 4.766/07 e 5.744/13 a fim de verificar o controle de constitucionalidade realizado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Demonstrou-se, assim, que todas as espécies normativas quando eivadas de vícios materiais ou formais devem ser submetidas ao controle da lei suprema, sob pena de se ter um ordenamento jurídico que viola as normas constitucionais.

Na realidade, a existência do controle de constitucionalidade proporciona aos cidadãos segurança jurídica, haja vista que nem sempre o Poder Legislativo Municipal demonstra estar preparado para elaborar uma lei ou ato normativo sem a ocorrência de algum vício. Neste passo, o presente estudo averiguou e analisou casos concretos do Município de Ijuí que geraram ofensa ao princípio da harmonia e independência dos Poderes.

Não há como desconsiderar que a Supremacia Constitucional exige que todas as situações jurídicas e a legislação infraconstitucional estejam em consonância com o texto constitucional vigente. Tanto que a Constituição Federal de 1988 reconhece dois institutos que sustentam a tese da importância da constitucionalidade dos atos praticados no âmbito do legislativo federal estadual e municipal, quais sejam, a inconstitucionalidade por ação e por omissão prevista nos arts. 102 (inc. I, alínea a e inc. III, a,b e c), e 103 (parágrafos 1º a 3º).

Pode-se afirmar, assim, que o estudo teve o intuito de verificar se o controle de constitucionalidade instrumentaliza e garante a supremacia da Constituição Federal. É necessário, contudo, entender a distinção entre lei federal, estadual e municipal, haja vista que a superioridade da Constituição induz ao entendimento de que as leis infraconstitucionais buscam seu fundamento de validade nessa supremacia.

Abordou-se, por derradeiro, aspectos do controle no âmbito municipal, bem como realizou-se uma análise das espécie normativas municipais declaradas inconstitucionais pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

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