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CAPÍTULO 4. A REPERCUSSÃO DAS AÇÕES SOBRE VINCULAÇÃO DE

4.2. Ações sobre vinculação de receitas

4.2.4. ADIn nº 1.848-3/RO

O último precedente trazido à baila é a ADIn 1.848-3/RO158, julgada em 2002, na qual o Governador de Rondônia questiona a constitucionalidade do §1º do artigo 241, da Constituição estadual, inserido pela Emenda Constitucional nº 07, de 30.12.97, segundo o qual o Estado deveria aplicar nunca menos de 10% (dez por cento) da receita proveniente de impostos, compreendida a proveniente de transferências, no Sistema Estadual de Saúde. O Chefe do Poder Executivo sustentou que a regra dissentia do artigo 167, da Lei Maior, que veda a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa.

A lide foi dissipada pela aplicação da norma do artigo 167, da Constituição Federal. Para a unanimidade dos Ministros, o preceito estadual feriu aquele ao se reportar a despesa específica para a aplicação da receita de impostos, quando a regra é que esta vinculação é vedada. Pela pertinência, veja-se de logo a ementa:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 7/97, DE RONDÔNIA, QUE INSERIU NOVO §1ºNO ART. 241 DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. VINCULAÇÃO DE RECEITAS DE IMPOSTOS. ALEGADA CONTRARIEDADE AO ART. 167 DA CARTA DA REPÚBLICA.

Não se enquadrando entre as exceções previstas no texto constitucional, a vinculação de receitas operada pela norma rondoniense impugnada viola o inciso IV do mencionado artigo da Constituição Federal.

Ação julgada procedente.

O Relator, Ministro Ilmar Galvão, inclusive, referiu-se a outros precedentes da Corte, consoante se pode notar da transcrição de seu voto, a seguir:

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O SENHOR MINISTRO ILMAR GALVÃO – (Relator): Como afirmei quando do exame da medida cautelar, a disposição da Constituição do Estado de Rondônia, ao prever que se aplique nunca menos de dez por cento da receita de impostos, compreendida a proveniente de transferências, no sistema de saúde, vincula a receita tributária em hipótese não enquadrada nas ressalvas do inc. IV do art 167 da Constituição Federal.

Tal vinculação das receitas de impostos, extrapolando os termos do mencionado dispositivo constitucional, já foi analisada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADIMC 103, Rel. Min. Sydney Sanches; da ADIMCs 659 e 1.374, ambas de relatoria do Min. Carlos Velloso, cujos acórdãos restaram assim ementados, respectivamente:

“Ação direta de inconstitucionalidade. Art. 134 da

Constituição do Estado de Rondônia.

Vinculação de receita de impostos (inc. IV do art. 167 da Constituição Federal).

Estabelece o art. 134 da Constituição do Estado de Rondônia: “As diretrizes orçamentárias do Estado obedecerão ao

disposto no ar. 165 da Constituição Federal, contendo ainda

dispositivos que garantam aplicações e investimentos através de convênios com os Municípios de, no mínimo, vinte por cento dos recursos nestes arrecadados e que caibam ao Estado, excluindo- se o destinado à educação e à saúde”.

As expressões grifadas (em negrito) incidem em inconstitucionalidade formal, porque permitem a destinação de verba orçamentária, sem iniciativa do Chefe do Poder Executivo estadual e que, ademais, é privativa (art. 61, §1º, inciso II, b, c/c arts. 25 e 11, todos da Constituição Federal).

Incidem, igualmente, em inconstitucionalidade material, pois vinculam receita tributária, em hipótese não enquadrada nas ressalvas contidas no inciso IV do art. 167 da Constituição Federal, ofendendo, assim, a norma proibitiva que nele se contém.

Ação direta julgada procedente, em parte, declarando o STF a inconstitucionalidade das referidas expressões.”

“CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA. DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA; LIMITE. CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS, ALÍNEA “A”, DO INICISO I, DO PARÁG. 5.º, DO ART. 110, COM A REDAÇÃO DA EMENDA CONSITUCIONAL N.º 2, DE 20.11.91. SUSPENSÃO CAUTELAR DEFERIDA.

I – Suspensão cautelar de dispositivo inscrito na alínea “a”, inc. I, parág. 5.º, art. 110, da Constituição de Goiás, com a redação da E.C. estadual nº 2, de 20.11.91, que estabelece que ao Poder Legislativo é assegurada dotação orçamentária “não menos que cinco por cento de sua receita (do Estado) tributária líquida.”

II – Precedente do S.T.F.: ADIN n.º 468 – PR (medida cautelar)

III – Cautelar deferida”.

“CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA CONSTITUCIONAL N.º 13, DO ESTADO DO MARANHÃO, QUE DEU NOVA REDAÇÃO AO ARTIGO 198 DA CONSTITUIÇÃO DAQUELE ESTADO. VINCULAÇÃO DE IMPOSTOS A DESPESAS: INCONSTITUCIONALIDADE. CF, ART. 167, IV. COMPETÊNCIA MUNICIPAL. CF, ART. 30, III.

I – Suspensão cautelar da EC n.º 13/95, do Estado do Maranhão, que deu nova redação ao art. 198 da Constituição

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daquele Estado, com ofensa à competência municipal inscrita no art. 30, III, da Constituição Federal, e ao art. 167, IV, desta.

II – Cautelar deferida.”

Nesse sentido, igualmente, outros precedentes desta Corte em controle difuso, tais como o RE 183.906, Rel. Min. Marco Aurélio; e o RE 172.153, Rel. Min. Maurício Corrêa.

Evidente, portanto, a desconformidade do texto constitucional de Rondônia com a Constituição Federal, como bem destacado no ilustrado parecer da Procuradoria-Geral da República, in verbis:

“De fato, resta claro que a Emenda Constitucional n.º

7/97, do Estado de Rondônia, que acrescentou o § 1.º ao seu art. 241, prevendo a aplicação nunca inferior a dez por cento da receita de impostos no sistema de saúde, compreendida a proveniente de transferências, vincula a receita tributária estadual em hipótese não existente nas ressalvas do inciso IV do art. 167 da Carta Magna, o qual deve obrigatoriamente ser observado.

Assim, cabe ressaltar que a inobservância de norma constitucional proibitiva, como a contida no inciso IV do art. 167 da Constituição da República, tem como conseqüência a inconstitucionalidade material da lei produzida, pois a Carta Federal prevê regras básicas a serem observadas como garantia de respeito ao princípio da legalidade. Esta Corte já decidiu nesse mesmo sentido: ADIMS n.º 1.374, Rel. Min CARLOS VELLOSO, publicado no DJ de 1.º/3/96; ADI n.º 103, Rel. Min. SYDNEY SANCHES, publicado no DJ de 8/9/95; ADIMC n.º 659-2, Rel. Min. Celso de Mello, publicado no DJ de 11/9/92.

Destarte, forçoso concluir que não há, num exame mais acurado e de cognição exauriente, razão para se modificar o entendimento esposado por esse Excelso Pretório quando do julgamento da medida cautelar.”

Ante o exposto, meu voto julga procedente a ação, para declarar a inconstitucionalidade da Emenda Constitucional n.º 07, publicada no Diário Oficial do Estado de Rondônia, de 30.12.97, que inseriu o §1.º ao art. 241 da Constituição do referido Estado.

De forma clara, ressaltou-se a inconstitucionalidade material presente na norma. Decidiu-se que a Constituição do Estado de Rondônia atentava contra os termos do artigo 167, IV, da CF, por destinar genericamente receitas de impostos ao Sistema de Saúde, em descompasso com aquele preceito. O precedente, assim, reforça a posição do Supremo de não permitir que normas estaduais prevejam vinculação de receitas diversa daquilo que consta na norma ápice.

No caso em desate, o Relator cita julgados anteriores do Pretório Excelso pertinentes à vinculação de impostos, tanto em controle concentrado (ADIn’s nºs 103, Rel. Min. Sydney Sanches, 659 e 1.374, ambas da Relatoria do Ministro Carlos Velloso), quanto em controle difuso (RE 183.906, Rel. Min. Marco Aurélio e RE 172.153, Rel. Min. Maurício Corrêa), aqui não colacionados por serem mais antigos. Contudo, realce-se que tais arestos, cujas ementas estão reproduzidas no voto supra transcrito, mantêm o entendimento da Corte de interpretação estrita do artigo 167, da

Constituição, não permitindo que normas estaduais prevejam destinações vinculadas fora do alcance daquele preceito.

4.3. O controle judicial da efetividade da aplicação de receita vinculada a direitos