3.2 CONSENTIMENTO
3.2.2 Adjetivos
Definir os adjetivos que acompanham o consentimento é relevante, para explicitar a importância que a manifestação de vontade tem dentro da temática de proteção de dados, senão vejamos.
101 SIQUEIRA, Antonio Henrique Albani. Disposições preliminares. In: FEIGELSON, Bruno;
SIQUEIRA, Antonio Henrique Albani (Coord.). Comentários à Lei Geral de Proteção de Dados: Lei 13.709/2018. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 23.
102 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 32. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. E-book.
Acesso restrito via Minha Biblioteca. p. 48.
103 SCHERMER, Bart Willem; CUSTERS, Bart; HOF. Simone van der. The Crisis of Consent: How
Stronger Legal Protection May Lead to Weaker Consent in Data Protection. Ethics and Information
Technology. Leiden, 2014. DOI: 10.1007/s10676-014-9343-8, Disponível em:
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2412418. Acesso em: 03 out. 2020.
104 BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento. Rio
Segundo Bioni, o adjetivo informado é a “porta de entrada (pressuposto) para que o cidadão ingresse (tenha participação) dentro da dinâmica dos dados pessoais viabilizando-se [...] um processo de tomada de decisão a seu respeito” 105. Os usuários
poderão exercer controle de seus dados pessoais e decidir sobre sua utilização se forem informados adequadamente, de forma clara e visível, possuindo à sua disposição, as informações necessárias para tal decisão106.
Bart Custers107 destaca que o consentimento informado carrega a concepção
de autodeterminação informativa, de forma a respeitar os usuários como centros individuais de controle sobre suas próprias vidas. A pessoa a quem é requerido o consentimento deve ser devidamente informada das consequências e riscos da sua anuência, assim como sobre os detalhes acerca de quais dados pessoais estão sendo coletados, de quais as finalidades do tratamento e das obrigações e direitos decorrentes do seu aceite.
Assim, não é suficiente apenas informar. Deve haver a disponibilização de maneira clara, específica, acessível e detalhada dos trâmites aos quais o titular dos dados se submete mediante o consentimento, conforme o princípio da finalidade, na forma do artigo 6º, inciso I e artigo 9º, caput da LGPD108. Além disso, “o intuito é que
o cidadão possa tomar sua decisão de forma consciente, mitigando a violação do princípio da autonomia.”109
A respeito do adjetivo livre, significa “isento de restrições, controle ou limitações”110. Para fins da proteção de dados, “o titular pode escolher entre aceitar
ou recursar a utilização de seu bem, sem intervenções ou situações que viciem o seu
105 BIONI, Bruno Ricardo. Xeque-mate: O tripé de proteção de dados pessoais no jogo de xadrez das
iniciativas legislativas no Brasil. São Paulo, 2015. Disponível em: http://gomaoficina.com/wp- content/uploads/2016/07/XEQUE_MATE_INTERATIVO.pdf. Acesso em: 04 out. 2020.
106 KOHNSTAMM, Jacob. Article 29 Data Protection Working Party: Opinion 02/2013 on apps on
smart devices. Brussels, 2013. Disponível em: https://www.pdpjournals.com/docs/88097.pdf. Acesso em: 04 out. 2020.
107 CUSTERS, Bart. Click Here to Consent Forever: Expiry Dates for Informed Consent. Big Data & Society. Leiden University, v. 3, n. 1, p. 1-6, 2016. DOI: 10.1177/2053951715624935. Disponível em:
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3047128. Acesso em: 04 out. 2020.
108 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD). Brasília, DF: Presidência da República, 2018. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 04 out. 2020.
109 CARNEIRO, Isabelle da Nóbrega Rito; SILVA, Luiza Caldeira Leite; TABACH, Danielle.
Tratamento de dados pessoais. In: FEIGELSON, Bruno; SIQUEIRA, Antonio Henrique Albani (Coord.). Comentários à Lei Geral de Proteção de Dados: Lei 13.709/2018. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 83.
110 HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss de sinônimos e antônimos da língua portuguesa. Rio
consentimento111”. Para Bioni112, “deve-se verificar qual é o poder de barganha do
cidadão com relação ao tratamento de seus dados pessoais, o que implica considerar quais são as opções do titular com relação ao tipo de dado coletado até os seus possíveis usos”.
Nesse sentido, o consentimento deve ser fornecido mediante escolha autônoma e consciente. Em situações em que o indivíduo não tem possibilidade de recusar a sua anuência, essa ação pressupõe impactos negativos, de modo que a escolha não se configura como real, estando por isso viciado o consentimento113.
Além disso, o artigo 9º e §1º da LGPD disciplinam que o consentimento requerido será considerado nulo, nas hipóteses em que as informações fornecidas ao titular tenham conteúdo enganoso ou não tenham sido apresentadas previamente de forma clara, adequada e ostensiva114. Destacam-se como exemplo de violação ao
consentimento livre, “as caixas de textos já pré-selecionadas ou em casos em que a própria navegação na plataforma já pressupõe o aceite de todas as condições”115.
Já referente ao adjetivo finalidade determinada, Bioni116 explana que “não
pode o cidadão consentir que seus dados pessoais sejam tratados com base em propósitos totalmente genéricos, emitindo-se uma espécie de verdadeiro cheque em branco”. Desta maneira, Doneda117 ensina que não seria possível o consentimento
genérico, sem especificações, para o tratamento dos dados pessoais, bem como interpretação extensiva para hipóteses além das previstas.
111 TEFFÉ, Chiara Spadaccini de; VIOLA, Mario. Tratamento de dados pessoais na LGPD: estudo
sobre as bases legais. Civilistica.com. Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 1-38, 2020. Disponível em: https://civilistica.emnuvens.com.br/redc/article/view/510/384. Acesso em: 04 out. 2020.
112 BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento. Rio
de Janeiro: Forense, 2018. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
113 SCHERMER, Bart Willem; CUSTERS, Bart; HOF. Simone van der. The Crisis of Consent: How
Stronger Legal Protection May Lead to Weaker Consent in Data Protection. Ethics and Information
Technology. Leiden, 2014. DOI: 10.1007/s10676-014-9343-8, Disponível em:
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2412418. Acesso em: 03 out. 2020.
114 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD). Brasília, DF: Presidência da República, 2018. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 04 out. 2020.
115 NUNES, Natália Martins. O novo conceito de consentimento para tratamento de dados pessoais da LGPD. [S.l.], 2019. Disponível em: https://ndmadvogados.com.br/artigos/o-novo- conceito-de-consentimento-para-tratamento-de-dados-pessoais-da-lgpd. Acesso em: 04 out. 2020.
116 BIONI, Bruno Ricardo. Xeque-mate: O tripé de proteção de dados pessoais no jogo de xadrez das
iniciativas legislativas no Brasil. São Paulo, 2015. Disponível em: http://gomaoficina.com/wp- content/uploads/2016/07/XEQUE_MATE_INTERATIVO.pdf. Acesso em: 04 out. 2020.
117 DONEDA, Danilo. Da privacidade à proteção de dados pessoais. Rio de Janeiro: Renovar,
Ademais, o consentimento inequívoco constitui-se em hipótese de consentimento tácito, “perfazendo-se um leque de autorizações subentendido pelo contexto da relação no qual fluem os dados pessoais118”. Assim, o consentimento
definido no artigo 5º, inciso XII da LGPD será válido quando respeitados os requisitos referenciados. Como demonstra Lugati e Almeida119, o adjetivo inequívoco “relaciona-
se com a necessidade de que o titular tenha uma ação que indique a anuência do titular, não sendo considerado aquele consentimento feito de forma passiva”.
A seguir, passa-se a abordar a respeito da natureza do consentimento diante do tratamento de dados pessoais.