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Conforme Sá Junior170 a LGPD, ao longo dos seus 65 artigos, estabelece uma

série de restrições para instituições privadas e públicas que armazenem dados de usuários, consumidores, partes em um contrato, usuários de serviços públicos ou quando direcionado a políticas públicas. Assim, é oportuno promover a necessária proteção aos direitos fundamentais da liberdade e privacidade dos indivíduos.

Desta maneira, Teffé e Viola171 apontam a importância dos princípios da

transparência, adequação e finalidade, os quais restringem a generalidade tanto na utilização, quanto no tratamento dos dados. Para diminuir a assimetria técnica e a

169 DONEDA, Danilo. Da privacidade à proteção de dados pessoais. Rio de Janeiro: Renovar,

2006. p. 371.

170 SÁ JÚNIOR, Sérgio Ricardo Correia de. A regulação jurídica da proteção de dados pessoais no Brasil, do Programa de Pós-Graduação da PUC – Campus Rio de Janeiro. 2018. Monografia

(Pós-graduação em Direito da Propriedade Intelectual) – PUC, Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/37295/37295.PDF. Acesso em: 08 nov. 2020.

171 TEFFÉ, Chiara Spadaccini de; VIOLA, Mario. Tratamento de dados pessoais na LGPD: estudo

sobre as bases legais. Civilistica.com. Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 1-38, 2020. Disponível em: https://civilistica.emnuvens.com.br/redc/article/view/510/384. Acesso em: 21 out. 2020.

informacional existente entre as partes, exige-se que ao cidadão sejam fornecidas informações transparentes, adequadas, claras e em quantidade satisfatória acerca dos riscos e implicações do tratamento de seus dados.

É importante destacar também que é através do princípio da finalidade, que os dados devem ser tratados com o objetivo de conhecimento do seu titular, sendo vedada a sua utilização para fim diferente daquele informado preliminarmente ao usuário, conforme já explanado no tópico de conceitos deste trabalho. De acordo com Doneda172, este princípio possui relevância prática, pois com base nele “fundamenta-

se a restrição da transferência de dados pessoais a terceiros, além do que é possível a estipulação de um critério para valorar a razoabilidade da utilização de determinados dados para uma certa finalidade.”

Além disso, os titulares possuem o direito de restringir o tratamento de dados pessoais, por meio da recusa em fornecer o consentimento173. Trata-se da regra da

autonomia da vontade, sendo a manifestação livre e inequívoca pela qual o titular concorda com o tratamento de seus dados pessoais, para uma finalidade determinada174.

O titular dos dados também tem liberdade para autorizar, negar ou revogar, ou seja, reconsiderar a autorização anteriormente concedida para tratamento de seus dados pessoais175. Nesse sentido, ressalta-se o artigo 7º, inciso II da LGPD, que

dispõe que “o tratamento de dados pessoais somente poderá ser realizado nas seguintes hipóteses: para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador”. Desse modo, Carneiro, Silva e Tabach176 esclarecem que o presente

dispositivo engloba situações em que o tratamento é necessário para atender ao

172 DONEDA, Danilo. Da privacidade à proteção de dados pessoais. Rio de Janeiro: Renovar,

2006. p. 216.

173 VENTURA, Ivan. Os 9 direitos dos donos dos dados, segundo a LGPD. [S.l.], 2019. Disponível

em: https://www.consumidormoderno.com.br/2019/01/29/os-direitos-dos-donos-dos-dados-segundo- lgpd/. Acesso em: 25 out. 2020.

174 GOVERNO FEDERAL. Guia de Boas práticas: lei geral de produção de dados. Governo Digital,

2020. Disponível em: https://www.gov.br/governodigital/pt-br/governanca-de-dados/guia-de-boas- praticas-lei-geral-de-protecao-de-dados-lgpd. Acesso em: 08 nov. 2020.

175 GOVERNO FEDERAL. Guia de Boas práticas: lei geral de produção de dados. Governo Digital,

2020. Disponível em: https://www.gov.br/governodigital/pt-br/governanca-de-dados/guia-de-boas- praticas-lei-geral-de-protecao-de-dados-lgpd. Acesso em: 08 nov. 2020.

176 CARNEIRO, Isabelle da Nóbrega Rito; SILVA, Luiza Caldeira Leite; TABACH, Danielle.

Tratamento de dados pessoais. In: FEIGELSON, Bruno; SIQUEIRA, Antonio Henrique Albani (Coord.). Comentários à Lei Geral de Proteção de Dados: Lei 13.709/2018. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 73.

interesse público, justificado pela obrigação legal ou regulatória, sendo que esta hipótese não depende do consentimento do titular, mas não deixa de se submeter à observância dos princípios que regem os dados pessoais.

Ana Frazão177 menciona que o consentimento precisa ser a manifestação de

vontade: (I) livre e inequívoca; (II) formada mediante o conhecimento das informações necessárias, o que inclui a finalidade do tratamento de dados e eventual compartilhamento; e (III) restrita às finalidades específicas e determinadas que foram informadas ao titular dos dados.

A LGPD ainda teve o cuidado de atribuir ao controlador o ônus da prova do consentimento, sendo proibido o tratamento de dados pessoais mediante vício de consentimento, conforme o artigo 8º, §2º e §3º178. O consentimento também pode ser

tácito, quando o titular dos dados torna-o manifestamente público previamente. Essa situação está prevista no §4° do artigo 7° da LGPD, de modo que estabelece que “é dispensada a exigência do consentimento previsto no caput deste artigo para os dados tornados manifestamente públicos pelo titular, resguardados os direitos do titular e os princípios previstos nesta Lei.”179

O controlador que obtiver o consentimento e necessitar comunicar ou compartilhar dados pessoais com outros controladores, deverá obter consentimento específico do titular para esse fim, ressalvadas as hipóteses de dispensa do consentimento previstas em Lei180.

Observa-se ainda que o consentimento é temporário, podendo ser revogado a qualquer momento por procedimento gratuito e facilitado, conforme dispõe o § 5º do artigo 8º da LGPD. Qualquer alteração nas circunstâncias que justificaram o consentimento do titular, ensejará a necessidade de novo consentimento. Por essa

177 FRAZÃO, Ana. Nova LGPD: a importância do consentimento para o tratamento dos dados

pessoais. [S.l.], 2018. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/constituicao- empresa-e-mercado/nova-lgpd-a-importancia-do-consentimento-para-o-tratamento-dos-dados- pessoais-12092018. Acesso em: 25 out. 2020.

178 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais

(LGPD). Brasília, DF: Presidência da República, 2018. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 25 out. 2020.

179 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais

(LGPD). Brasília, DF: Presidência da República, 2018. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 25 out. 2020.

180 GOVERNO FEDERAL. Guia de Boas práticas: lei geral de produção de dados. Governo Digital,

2020. Disponível em: https://www.gov.br/governodigital/pt-br/governanca-de-dados/guia-de-boas- praticas-lei-geral-de-protecao-de-dados-lgpd. Acesso em: 25 out. 2020.

razão, o § 6º do art. 8º da LGPD assegura essa prerrogativa de informação, o qual “[...] o controlador deverá informar ao titular, com destaque de forma específica do teor das alterações, podendo o titular, nos casos em que o seu consentimento é exigido, revogá-lo caso discorde da alteração.”181 Ressalta-se que essas alterações dizem

respeito à finalidade específica do tratamento; à forma e à duração do tratamento, à identificação do controlador e informações acerca do uso compartilhado de dados pelo controlador e à finalidade, conforme dispõe o artigo 9º e seus incisos da LGPD182.

Exposta as restrições normativas do consentimento, percebe-se a importância para o controle do titular no contexto de proteção de dados pessoais, além de ser uma forma de autodeterminação informacional. Bioni183 destaca que o consentimento do

titular dos dados é o pilar normativo da grande maioria das leis no decorrer do mundo, senão de todas elas, ocupando um papel central. A seguir verificar-se-ão o tratamento de dados pessoais e a vulneração do direito à intimidade.

4.2 TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS E A VULNERAÇÃO DO DIREITO À