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A LGPD, no artigo 5º, inciso V define o titular como “pessoa natural a quem se referem os dados pessoais que são objeto de tratamento”84. Nestes termos, o titular é

que detém o direito de livremente dispor dos dados pessoais. No entanto, a liberdade de disposição dos dados encontra limitação nos direitos da personalidade positivados no artigo 5º, inciso X da Constituição da República Federativa do Brasil, o qual estabelece que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das

82 ROMERO, Luiz. Não li e concordo. Revista Superinteressante. [S.l.], 2017. Disponível em:

https://super.abril.com.br/tecnologia/nao-li-e-concordo/. Acesso em: 29 set. 2020.

83 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais

(LGPD). Brasília, DF: Presidência da República, 2018. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 29 set. 2020.

84 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais

(LGPD). Brasília, DF: Presidência da República, 2018. Disponível em:

pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação85.

De acordo com Maria Helena Diniz86, os direitos da personalidade são

absolutos, pois possuem efeito erga omnes e implicam um dever geral de abstenção; intransmissíveis, visto que são inseparáveis de seu titular; indisponíveis, porquanto são inalienáveis; ilimitados, imprescritíveis e inexpropriáveis, portanto, adquiridos no instante da concepção e protegidos mesmo após o falecimento.

Para fins da proteção de dados, na definição doutrinária surgem duas correntes que apresentam conceitos distintos dos titulares dos dados pessoais: a expansionista e a reducionista.

Para Bioni87, em relação à corrente expansionista, o titular é uma pessoa

identificável, indeterminada e o vínculo desse indivíduo com o seu dado é mediato, indireto, impreciso ou inexato, de modo que surge um elastecimento da qualificação dos dados como pessoal. Já para a corrente reducionista, o titular é uma pessoa identificada, específica e determinada, sendo o seu vínculo com o dado perfectibilizado como imediato, direto, preciso ou exato, conquanto a retração da qualificação do dado como pessoal.

Destaca-se que a LGPD trouxe ao titular maior autonomia em relação ao tratamento dos seus dados pessoais, de modo a conferir a liberdade de escolher como os agentes de tratamento poderão utilizar os seus dados. Os direitos do titular estão elencados no Capítulo III, artigo 18 da LGPD e seus incisos.

Vale ressaltar, ainda, que a LGPD trouxe duas figuras denominadas como agentes de tratamento de dados pessoais, a saber: o controlador e o operador. Os conceitos são definidos através do artigo 5º, incisos VI e VII da LGPD88, sendo o

controlador “pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, a quem competem as decisões referentes ao tratamento de dados pessoais” e o operador

85 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Presidência da República, 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 04 out. 2020.

86 DINIZ. Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 29ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p.135. 87 BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento. Rio

de Janeiro: Forense, 2018. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

88 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais

(LGPD). Brasília, DF: Presidência da República, 2018. Disponível em:

“pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, que realiza o tratamento de dados pessoais em nome do controlador”.

O controlador é o responsável pela coleta dos dados pessoais e por tomar decisões em relação à forma e à finalidade do tratamento dos dados, ainda que não realize diretamente o tratamento em questão. Pode ser pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado89. Para Lima90, no mesmo sentido, o controlador trata-se

daquele que contextualizará de que forma será tratado o dado pessoal coletado em observância aos dispositivos da LGPD e aos direitos do titular.

Acerca do assunto, o artigo 38, caput e §1º da LGPD expõem que a autoridade nacional poderá determinar ao controlador que elabore relatório de impacto à proteção de dados pessoais, inclusive de dados sensíveis, referente a suas operações de tratamento de dados. Esses relatórios deverão conter, no mínimo, a descrição dos tipos de dados coletados, a metodologia utilizada para a coleta e para a garantia da segurança das informações e a análise do controlador com relação a medidas, salvaguardas e mecanismos de mitigação de risco adotados91.

O operador, por sua vez, é quem efetivamente realiza o tratamento e processamento dos dados, sob ordens do controlador, “tendo como obrigação o seguimento, à risca, das instruções fornecidas por este e a observância dos termos da Lei. O operador, atuará como um parceiro técnico do controlador.”92 Conforme

Kauer93, o operador está cumprindo ordens e, caso o controlador deseje que um

terceiro realize o tratamento dos dados, será preciso contratar um operador.

Quanto à responsabilidade, Luã Maia de Mello94 explica que o artigo 42, § 1º

da LGPD majora a possibilidade do titular de dados que sofrer danos, quando o dano

89 SIQUEIRA, Antonio Henrique Albani. Disposições preliminares. In: FEIGELSON, Bruno; SIQUEIRA,

Antonio Henrique Albani (Coord.). Comentários à Lei Geral de Proteção de Dados: Lei 13.709/2018. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 21.

90 LIMA, Mariana. Titular, Operador e Controlador – o que isso quer dizer? [S.l.], 2020. Disponível

em: https://triplait.com/titular-operador-e-controlador/. Acesso em: 01 out. 2020.

91 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais

(LGPD). Brasília, DF: Presidência da República, 2018. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 30 set. 2020.

92 LIMA, Mariana. Titular, Operador e Controlador – o que isso quer dizer? [S.l.], 2020. Disponível

em: https://triplait.com/titular-operador-e-controlador/. Acesso em: 01 out. 2020.

93 KAUER, Gisele. Controlador, operador e encarregado: Quem é quem na LGPD. [S.l.], 2020.

Disponível em: https://infranewstelecom.com.br/controlador-operador-encarregado-quem-e-quem-na- lgpd/. Acesso em: 03 out. 2020.

94 MELLO, Luã Maia de. Agentes de Tratamento de Dados Pessoais. In: FEIGELSON, Bruno;

SIQUEIRA, Antonio Henrique Albani (Coord.). Comentários à Lei Geral de Proteção de Dados: Lei 13.709/2018. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 169.

decorrer da “atividade de tratamento de dados realizada pelo operador, exercer seu direito de ação de indenização por danos, na medida em que garante a solidariedade da responsabilidade entre controlador e operador”.

Ainda, merece destaque a figura do encarregado, indicado pelo controlador, pode ser tanto pessoa jurídica ou física, conforme previsto no inciso VIII do artigo 5º da LGPD, o qual conceitua “encarregado: pessoa indicada pelo controlador para atuar como canal de comunicação entre o controlador, os titulares dos dados e a ANPD”95.

Luã Maia de Mello menciona que a atuação do encarregado não é exatamente na operação de tratamento, “ele não realiza operações de tratamento tampouco decide sobre o tratamento de dados. Seu propósito é fomentar a proteção de dados pessoais, atuando como canal de comunicação entre o controlador e as demais figuras instituídas pela LGPD, além de adotar providências, se necessárias.”96 Para garantir

o acesso ao encarregado, a Lei define que seus dados de comunicação devem constar preferencialmente de modo público no site do controlador.

O autor destaca ainda que o encarregado tem o ofício de orientar os colaboradores do controlador acerca das melhores práticas e ética no que tange ao tratamento de dados, tendo como fundamento os princípios do artigo 6º, devendo ser uma de suas incumbências, o qual realiza uma função preventiva97.

Desse modo, entende-se que o controlador e o operador são as figuras definidas como agentes de tratamento. O primeiro determina as decisões referentes ao tratamento de dados pessoais. O segundo, por sua vez, realiza operações do tratamento de dados em nome do controlador, seguindo as instruções deste. E o encarregado é a pessoa que atua como responsável em favor do controlador e do operador, será o canal para comunicação entre este, os titulares dos dados e a ANPD.

95 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais

(LGPD). Brasília, DF: Presidência da República, 2018. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 30 set. 2020.

96 MELLO, Luã Maia de. Agentes de Tratamento de Dados Pessoais. In: FEIGELSON, Bruno;

SIQUEIRA, Antonio Henrique Albani (Coord.). Comentários à Lei Geral de Proteção de Dados: Lei 13.709/2018. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 164.

97 MELLO, Luã Maia de. Agentes de Tratamento de Dados Pessoais. In: FEIGELSON, Bruno;

SIQUEIRA, Antonio Henrique Albani (Coord.). Comentários à Lei Geral de Proteção de Dados: Lei 13.709/2018. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 164.

A título de exemplificação, Ivan Ventura98 menciona a empresa de call center

como sendo a figura do operador, contratada por um banco, figura do controlador, o qual poderá coletar informações dos correntistas com a finalidade de negócio da instituição bancária como, por exemplo, dados sobre nome, endereço, entre outras informações sobre as movimentações financeiras. Nessa hipótese, não faria sentido, por exemplo, coletar dados sobre a geolocalização das pessoas.

Descritos os titulares e agentes de tratamentos dos dados pessoais, o tópico a seguir trata do consentimento.