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Adjudicação, registro e entrega dos bens (CPCP/13, artigos 827º e 828º)

ADJUDICAÇÃO TERMO INICIAL.

1. Conta-se da data da assinatura do auto de adjudicação ou

1.2 A adjudicação em Portugal na sistemática do Código de Processo Civil de 2013 (CPCP/13)

1.2.11 Adjudicação, registro e entrega dos bens (CPCP/13, artigos 827º e 828º)

No caso da venda executiva, após o pagamento do preço e satisfeitas às obrigações fiscais inerentes à transmissão, o agente de execução promove a adjudicação e a entrega dos bens, sem a necessidade de despacho judicial.

Da mesma forma, ocorre no tocante à adjudicação, com a ressalva de que o pagamento do preço, por óbvio, equivalerá a excepcional necessidade de realização de depósito pelo adquirente do bem, conforme examinado em item precedente162.

Emite-se, então, o título de transmissão a favor do adjudicatário, no qual se identificam os bens, se certifica o pagamento do preço (realização do depósito) ou a dispensa e se declara o cumprimento ou a isenção das obrigações fiscais, bem como a data em que os bens foram adjudicados.

A seguir, o agente de execução comunica a adjudicação ao serviço de registro competente, juntando o respectivo título, para fins de registro do fato e, oficiosamente, ao cancelamento das inscrições163 referentes aos direitos que tenham caducado, nos termos do art. 824º, nº 2, do Código Civil Português, que dispõe:

Artigo 824ª – Venda em execução 1. (...)

2. Os bens são transmitidos livres dos direitos de garantia que os onerarem, bem como dos demais direitos reais que não tenham registro anterior ao de qualquer arresto, penhora ou garantia, com excepção dos que, constituídos em data anterior, produzam efeitos em relação a terceiros independentemente de registro.

Neste sentido, decidiu o Supremo Tribunal de Justiça164:

I – A transmissão de bem imóvel no âmbito da execução judicial opera a extinção ipso jure dos direitos de garantia que oneram o bem penhorado, nomeadamente as penhoras efectuadas tanto na execução judicial com na execução fiscal.

II – Cabe ao agente de execução comunicar ao conservador do registo predial competente a realização da venda, para que este proceda ao respectivo registo e ao cancelamento das inscrições relativas aos direitos que tenham caducado com a venda, incluindo o cancelamento do registo das penhoras.

III – A extinção dos direitos prevista no art. 824º, n.º 2, do CC opera ipso

jure.

162

Cf. item 1.2.10.

163 Em nota, esclarece Rui Pinto que “(...) o agente não tem que especificar quais os concretos

registros a serem cancelados (...)”(PINTO, Rui Carlos Gonçalves Pinto. Manual da execução e

despejo, p. 932).

164

Supremo Tribunal de Justiça, 1ª Seção, Revista proc. nº 3959/05.8TBSXL.L1.S1, rel. Mário Mendes. Decisão unânime. Lisboa, 30.09.2014. Cadernos de Direito Privado, nº 48 (out./dez. 2014) - anotação - p. 41-57. Disponível a partir de: <

http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/327f82a3538a2ce480257d630046c0e 3?OpenDocument&Highlight=0,adjudica%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 08 set. 2015.

IV – (...) V – (...)

Os bens, então, são entregues ao adquirente, que pode - com base no título de transmissão acima referido - requerer contra o detentor (o depositário, seja ele o executado, o agente de execução ou o terceiro – art. 756º, nº 1, CPCP/13), na própria execução, a entrega dos bens (CPCP/13, art. 828º), na forma estabelecida no art. 861º, devidamente adaptado165.

Caso o detentor dos bens não os entregue, voluntariamente, ao adjudicatário, aplica-se, de forma subsidiária e com as necessárias adaptações, as disposições referentes à realização da penhora, procedendo-se às buscas e outras diligências necessárias (art. 757º, cumulado com o art. 861º, nº 1, do CPCP/13).

Demais disto, de forma exemplificativa, no caso de imóveis, o agente de execução investe o adquirente na posse, entregando-lhe os documentos e as chaves (se os houver) e notifica o executado, arrendatários e quaisquer detentores para que respeitem e reconheçam o direito do adquirente.

Em se tratando de coisas móveis, determináveis por conta, peso ou medida, o agente de execução, na presença do adquirente, ordena a realização das operações indispensáveis, para que se proceda à entrega na quantidade devida.

Na hipótese da casa de habitação principal do executado, é aplicável o disposto no art. 863º, nº 3 a 5. Assim, em havendo sérias dificuldades no seu realojamento, compete ao agente de execução comunicar antecipadamente o fato à câmara municipal e às entidades assistenciais competentes.

Se a diligência puser em risco a vida da pessoa que se encontra no local, por razões de doença aguda, comprovado por atestado médico que indique, fundamentadamente, o prazo durante o qual se deve suspender a execução, o agente de execução deve suspender as diligências executórias, durante o citado prazo.

165 O detentor dos bens (seja ele o agente de execução, o terceiro ou o próprio executado) “(...) não

tem, em nenhuma circunstância, justa causa para não entregar os bens (...)” (Cf. PINTO, Rui Carlos Gonçalves Pinto. Manual da execução e despejo, p. 930); todavia, em casos excepcionais previstos em lei, dita entrega poderá ser temporariamente suspensa, como na hipótese da entrega da casa de habitação principal do executado (CPCP/13, art. 861º, nº 6), e verificadas as circunstâncias de que trata o art. 863º, nº 3 a 5.

Em seguida, cabe-lhe lavrar certidão das ocorrências, com a juntada dos documentos exibidos e advertir o detentor ou a pessoa que se encontra no local que a execução prossegue, salvo se, no prazo de dez dias, solicitar ao juiz a confirmação da suspensão, dando imediato conhecimento do fato ao exequente ou ao seu representante,

O juiz, então, no prazo de cinco dias, ouvido o exequente, decide se mantém ou não a suspensão.

Questão interessante é saber-se se o disposto no art. 733º, nº5, do CPCP/13 aplica-se à adjudicação.

Nos termos do artigo referido, se o bem penhorado for a casa de habitação efetiva do embargante, o juiz pode, a requerimento daquele, determinar que a venda aguarde a decisão proferida em 1ª instância sobre os embargos, quando tal venda seja suscetível de causar prejuízo grave e de difícil reparação.

Como o art. 802º, do CPCP/13 estabelece quais dispositivos, pertinentes ao regime da venda executiva, são aplicáveis à adjudicação, não incluindo o aludido art. 733º, nº5, parece não ser possível a sua aplicação à adjudicação.

Por idêntica razão, a regra do art. 864º, do CPCP/13 – que trata do diferimento da desocupação do imóvel arrendado para habitação – não integra o regime legal da adjudicação, tampouco o art. 862º, que regula a execução para a entrega de coisa imóvel arrendada.