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Remição de bem e remição à execução

menos 10 (dez) dias de antecedência, o senhorio direto, o credor com

1. A ausência de intimação do credor hipotecário para a hasta pública não contamina a validade da expropriação judicial, mas acarreta a

1.1.8 Remição de bem e remição à execução

Dentre as alterações introduzidas pela Lei nº 11.382/06 ao CPCB/73 destaca- se a revogação dos dispositivos 787 a 790, que tratavam da remição do bem

81 CPCB/73, art. 711: “Concorrendo vários credores, o dinheiro ser-lhes-á distribuído e entregue

consoante a ordem das respectivas prelações; não havendo título legal à preferência, receberá em primeiro lugar o credor que promoveu a execução, cabendo aos demais concorrentes direito sobre a importância restante, observada a anterioridade de cada penhora”.

82 CPCB/73, art. 612: “Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso

universal (art. 751, III), realiza-se a execução no interesse do credor, que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados”.

83 NCPCB, art. 908: “Havendo pluralidade de credores ou exeqüentes, o dinheiro lhes será distribuído

e entregue consoante a ordem das respectivas preferências. §1º No caso de adjudicação ou

alienação, os créditos que recaem sobre o bem, inclusive os de natureza propter rem, sub-rogam-se sobre o respectivo preço, observada a ordem de preferência. §2º Não havendo título legal à

preferência, o dinheiro será distribuído entre os concorrentes, observando-se a anterioridade de cada penhora”.

penhorado pelos familiares do executado (cônjuge, descendentes e ascendentes),

mediante o depósito do preço pelo qual foram alienados ou adjudicados84.

O objetivo do instituto da remição do bem penhorado era preservá-lo no patrimônio familiar, evitando a sua transferência para um estranho (exequente ou terceiro).

Após a prévia adjudicação ou arrematação, resgatava-se, através da remição, o bem, transferindo-o para um membro da família.

Todavia, o Código Civil Brasileiro (CCB)85 - anterior as alterações legislativas que culminaram com a supressão do instituto da remição do bem penhorado, na sistemática do atual processo de execução, disciplinado pelo CPCB/73 alterado pela Lei nº 11.382/06 - prevê, em seu art. 1482, a possibilidade de sua realização, no caso de imóvel hipotecado, pelo executado e seus familiares:

Realizada a praça, o executado poderá, até a assinatura do auto de arrematação ou até que seja publicada a sentença de adjudicação, remir o

imóvel hipotecado, oferecendo preço igual ao da avaliação, se não tiver

havido licitantes, ou ao do maior lance oferecido. Igual direito caberá ao

cônjuge, aos descendentes ou ascendentes do executado (Destaque

nosso).

No caso de bens penhorados (que não forem objeto de hipoteca) nenhuma dúvida persiste quanto à impossibilidade de sua remição pelo cônjuge/companheiro, descendente ou ascendente do executado. O que a

sistemática tanto do CPCB/73, alterado pela Lei nº 11.382/06, quanto do NCPCB lhes assegura é a legitimação para adjudicá-los, antes que sejam transferidos ao exequente ou a um terceiro.

Entretanto, e se houver a transferência de um bem hipotecado ao exequente ou a um terceiro, poderá o bem ser remido por um dos membros da família do executado?

No seio da doutrina, as opiniões divergem.

84 Art. 787, CPCB/73: “É licito ao cônjuge, ao descendente, ou ao ascendente do devedor remir todos

ou quaisquer bens penhorados, ou arrecadados no processo de insolvência, depositando o preço por que foram alienados ou adjudicados”.

85

Referindo-se ao art. 1482, do Código Civil Brasileiro, assevera Scarpinella Bueno86 que a remição do bem hipotecado poderá ser efetuada não apenas

pelos membros da família do executado, como pelo próprio executado:

O dispositivo, por ser lei especial, não foi revogado pela lei geral e,

portanto, ainda garante “ao cônjuge, aos descendentes ou ascendentes do executado”, e inclusive ao próprio executado, o direito de remir o imóvel hipotecado, oferecendo preço igual ao da avaliação, se

não tiver havido licitantes, ou ao do maior lance oferecido. Nestes casos, há, para aquelas pessoas, direitos que coexistem, e que não criam nenhum prejuízo para o exequente ou, mais amplamente, a qualquer credor do executado, inclusive o hipotecário, porque, seja qual for a situação, o valor do bem será pago em igualdade de condições, independentemente da modalidade de alienação do bem (Destaque nosso).

Há, todavia, entendimento em sentido contrário87, no sentido de que,

relativamente aos membros da família do executado, não há que se falar em remição do bem hipotecado:

(...) o não-exercício do direito de adjudicar é conduta que implica perda do direito de remir, até como forma de proteger a boa-fé do terceiro adquirente, que tem a expectativa de não ser surpreendido com o resgate do bem que acabara de adquirir. É uma espécie de supressio (Verwirkung, para os alemães): perda de um direito por não ter sido exercido pelo titular em certo lapso de tempo, o que gerou a legítima expectativa (por força da boa-fé objetiva) em outrem de que não seria mais exercido. Trata-se de interpretação que visa tutelar a confiança e, portanto, a boa-fé objetiva. O

direito do membro da família, doravante, deverá ser exercido nos moldes do art. 685-A. (Destaque nosso)

Todavia, no tocante ao próprio executado, defendem os autores acima a possibilidade de remição do bem hipotecado, senão veja-se:

Parece-nos que o caso é de permitir ao executado a remição do bem hipotecado que foi alienado ao exequente ou ao terceiro, com o pagamento

do preço da avaliação, pois se trata de direito potestativo que lhe foi conferido por norma de direito material, que, por não haver qualquer outra regra em sentido contrário, bem como não causar prejuízo para o exeqüente, deve ser garantido e efetivado pelo direito processual. Ainda há

o direito de o devedor hipotecário resgatar o bem hipotecado88.

86

BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de Direito Processual Civil, p. 280.

87

DIDIER JR., Fredie et al. Curso de Direito Processual Civil, p. 646-647.

88

Assim, em face do CPCB/73 alterado pela Lei nº 11.382/06, duas correntes doutrinárias divergem, quanto à possibilidade da remição do bem hipotecado pelo executado e/ou por seus familiares (cônjuge, descendente e ascendente): a primeira defende, que, à luz do art. 1482, do CCB, o resgate do bem hipotecado poderá ser efetuado não apenas pelos membros da família do executado, como pelo próprio executado. A segunda, diversamente, apenas admite a possibilidade de remição do bem em exame pelo executado, com base igualmente no dispositivo do CCB aludido, o que não se deve permitir aos seus familiares, que estariam legitimados, ao invés, à adjudicação do bem e não à sua remição.

A novidade é que o art. 877, §3º, do NCPCB, para dirimir quaisquer dúvidas surgidas em face do silêncio do legislador que alterou o CPCB/73 – que nada dispôs sobre a possibilidade ou não de remição do bem hipotecado (mesmo em face do disposto no art. 1482, do CCB), trata da questão da seguinte forma:

“No caso de penhora de bem hipotecado, o executado poderá remi-lo

até a assinatura do auto de adjudicação, oferecendo preço igual ao da

avaliação, se não tiver havido licitantes, ou ao do maior lance oferecido” (Destaque nosso).

A norma processual mencionada, que trata de forma específica da matéria, sendo posterior ao CCB, encontra-se, como se vê, em perfeita sintonia com o que dispôs o legislador civil, na primeira parte do dispositivo em exame (art. 1482), admitindo, pois, a possibilidade de remição do bem hipotecado pelo executado; entretanto, não se coaduna com a sua segunda parte, por não prever a possibilidade de remição do bem hipotecado pelos familiares do executado.

Em que pese o texto da lei civil em divergência, parece que, segundo o NCPCB, apenas o executado pode remir o bem hipotecado, reservando-se aos integrantes de sua família (cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente) o direito à adjudicação do bem.

Entretanto, até que ocorra a sua entrada em vigor, cremos que o direito à remição do bem hipotecado deve ser regulado pelo Código Civil (art. 1482), já que não houve a sua revogação expressa pela Lei nº 11.382/06, ao alterar o CPCB/73, devendo ser assegurado tanto ao executado, quanto ao seu cônjuge, companheiro, descendente ou ascendente.

Acolhemos a boa doutrina de Giannico89:

Nossa impressão é a de que, quando positivada a Lei n. 11.382/2006, o legislador pátrio simplesmente esqueceu-se de revogar o art. 1.482 do Código Civil. Mas ainda que possivelmente sua intenção tenha sido extinguir do ordenamento jurídico como um todo o instituto da remição de bens na seara da execução forçada, como essa vontade não foi efetivamente manifestada, bem observa Humberto Theodoro Júnior que “o simples silêncio da lei processual não pode, obviamente, acarretar a eliminação de um direito subjetivo previsto e garantido na lei substancial para ser exercido justamente depois da alienação judicial”.

Assim, tal hipótese de remição, ainda que restrita exclusivamente às execuções hipotecárias, continua vigente em nosso sistema jurídico (Destaque nosso).

Embora praticamente excluída do sistema processual brasileiro, salvo a hipótese excepcional tratada no NCPCB90, a remição dos bens penhorados não deve ser confundida com a remição da execução - prevista no art. 651, do CPCB/73 (com a redação dada pela Lei nº 11.382/06) e também no art. 826, do NCPCB - a qual não sofreu qualquer alteração, assegurando ao executado, antes de adjudicados ou alienados os bens, a todo tempo, pagar ou consignar a importância atualizada da dívida, mais juros, custas e honorários advocatícios.

Há duas distinções importantes entre o direito de remir o bem penhorado e o de remir a execução: a) o direito de remir a execução é exercido antes da adjudicação ou alienação dos bens, antecedendo, portanto, o ato de transferência de propriedade do bem ao exequente ou ao terceiro, diversamente do direito de remir o bem penhorado, que pressupunha o “resgate” do bem cuja propriedade seria transferida a outrem, sendo posterior a adjudicação ou arrematação; b) o preço a ser pago na remição da execução é o valor atualizado da dívida, mais juros, custas e honorários advocatícios, diferentemente do que ocorria na remição do bem penhorado, onde o preço era ou o da arrematação (que poderia ser inferior ao da avaliação) ou o da adjudicação (que era o da avaliação). No caso da remição de bem hipotecado, de que trata o art. 877, §3º, do NCPCB, o preço oferecido deverá ser igual ao da avaliação, em não havendo licitantes, ou ao do maior lance oferecido.

89

GIANNICO, Maurício. Expropriação executiva, p. 178.

90

Podendo, no entanto, ser requerida pelo executado, no caso de bem hipotecado, a teor do art. 877, §3º, do NCPCB.