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Resumo comparativo entre os regimes legais da adjudicação em Portugal e no Brasil

ADJUDICAÇÃO TERMO INICIAL.

1. Conta-se da data da assinatura do auto de adjudicação ou

1.3 Resumo comparativo entre os regimes legais da adjudicação em Portugal e no Brasil

Analisados os comandos normativos que cuidam da adjudicação na execução civil em Portugal e no Brasil, importa destacar, em breve síntese, os principais pontos de contato ou de afastamento observados entre os regimes legais dos países em referência.

Verifica-se, de início, que o CPCP/13 considera a adjudicação como uma das formas de efetuar-se o pagamento na execução civil, incluindo-a ao lado da entrega de dinheiro, da consignação de rendimentos e do produto da venda (art. 795º), o que igualmente se observa no CPCB/73, o qual estabelece que o pagamento ao credor far-se-á ou pela entrega do dinheiro ou pela adjudicação ou pelo usufruto de bem imóvel ou de empresa (CPCB/73,art. 708 e incisos). O NCPCB, em seu art. 904, incisos I e II, modificando a terminologia antes utilizada no referido CPCB/73, dispõe que a satisfação do crédito exequendo ocorrerá ou pela entrega do dinheiro ou pela adjudicação. Preferiu o legislador não utilizar mais a expressão “pagamento”, mas, diversamente, “satisfação do crédito exequendo”. De qualquer forma, tanto no

adjudicação constitui modo de satisfação do crédito alternativamente a outras formas.

O legislador português, todavia, não a classifica, de forma expressa,

como modalidade de ato de expropriação, como o faz o legislador brasileiro,

ao lado das alienações (por iniciativa particular e em hasta pública) e do usufruto de bem móvel ou imóvel (nos termos do art. 647 e incisos do CPCB/73 alterado) e da alienação (por iniciativa particular e em leilão judicial eletrônico ou presencial) e apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens (consoante o art. 825 e incisos do NCPCB).

Destarte, tanto na sistemática do CPCB/73, com as alterações da Lei nº 11.382/2006, quanto no recente Diploma Processual Civil brasileiro de 2015, a partir dos novos contornos que lhe foram dados, a adjudicação transformou-se na modalidade expropriatória preferencial, em virtude de sua menor onerosidade e maior celeridade.

Em Portugal, diversamente, apesar de haver sido “favorecida”, utilizando-se da expressão encontrada no preâmbulo do Decreto-Lei nº 38/2003181, passando a dispensar, em alguns casos, a pesada tramitação que se verificava após o seu requerimento, não ocupa posição de primazia, quanto às modalidades de venda executiva, previstas no art. 811º, do CPCP/13, não havendo sido incluída dentre elas, como se infere do exame do art. 811º182, embora alguns doutrinadores assim a considerem.

Portanto, ao contrário do que ocorre no Direito Processual Civil brasileiro, no Direito Processual Civil português a adjudicação não se encontra legitimada como meio preferencial de expropriação.

Constata-se, ainda, que o elenco dos legitimados à adjudicação é muito mais extenso no Direito brasileiro que no português.

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Portugal. Decreto-Lei nº 38/2003, de 08.03. Disponível a partir de: <http://www.dgpj.mj.pt/DGPJ/sections/leis-da-justica/pdf/dl-38-

2003/downloadFile/file/DL_38_2003.pdf?nocache=1180530948.73> . Acesso em: 08 mar. 2015.

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As modalidades de venda executiva são: I) venda mediante propostas em carta fechada; II) venda em mercados regulamentados; III) venda directa; IV) venda por negociação particular; V) venda em estabelecimento de leilões; VI) venda em depósito público ou equiparado; VII) venda em leilão electrónico.

Conforme o art. 685-A, caput e §§ 2º e 4º do CPCB/73 alterado, além do exequente, o direito à adjudicação poderá ser exercido também pelo credor com garantia real, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelos descendentes ou ascendentes do executado e pelos sócios, no caso de penhora de quota realizada por exequente alheio à sociedade.

O NCPCB, por sua vez, em seu art. 876, caput e §5º, alarga, ainda mais e de forma substancial, a relação dos legitimados à adjudicação, estendendo-a, além do exequente, aos: credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, assim como, ao cônjuge (e também companheiro, o que configura novidade), descendentes e ascendentes do executado, bem como, aos indicados no art. 889, incisos II a VIII (credores com algum tipo de direito real de garantia ou preferência).

De acordo com o disposto no art. 799º, nº 1 e 2, do CPCP/13, os legitimados para a adjudicação, além do exequente, são apenas os credores reclamantes, em relação aos bens sobre os quais tenham invocado garantia.

Oportuno registrar, demais disto, que a lei processual portuguesa assegura ao cônjuge que não esteja separado judicialmente de pessoas e bens e aos descendentes ou ascendentes do executado o direito de remir todos os bens adjudicados ou vendidos, ou parte deles, pelo preço por que tiver sido feita a adjudicação ou a venda (CPCP/13, art. 842º).

Diverge, portanto, da atual sistemática processual brasileira, onde, a partir das alterações promovidas pela Lei nº 11.382/06 ao CPCB/73, os integrantes do núcleo familiar do executado acima referidos (incluído o companheiro/a pelo NCPCB) passaram a ter legitimidade para adjudicar o bem penhorado, abolindo- se o instituto da remição dos citados bens (salvo alguma exceção relativamente à remição de bem hipotecado), consoante foi destacado no item próprio.

Quanto ao prazo, no qual possa ser requerida à adjudicação, não é previsto, de forma expressa, quer no Diploma Processual português, quer no brasileiro.

Parece que no Direito português o legitimado à adjudicação pode requerê-la ao agente de execução assim que encerrado o prazo de quinze dias, para a reclamação de crédito.

Considera-se o aguardo do decurso do referido prazo, fez que a única exceção feita pelo legislador reformista, no tocante à possibilidade do pagamento ser requerido logo após a penhora, foi relativamente à consignação em pagamento, nenhuma referência fazendo à adjudicação.

No Direito brasileiro, o CPCB/73 não deixa, igualmente, explícito em que momento pode ocorrer a adjudicação, prevalecendo o entendimento de que pode ser requerida logo após a avaliação do bem. O NCPC também não fixa prazo para ser requerida a adjudicação, escolhendo-se como a melhor interpretação a de que, sendo forma preferencial de expropriação, poderá ser pretendida a qualquer momento a partir da conclusão da penhora e avaliação do bem.

O NCPCB possibilita, ainda, em seu art. 878, que seja exercido o direito de adjudicação em segunda oportunidade, senão veja-se: “Frustradas as tentativas de alienação do bem, será reaberta oportunidade para requerimento de adjudicação, caso em que também se poderá pleitear a realização de nova avaliação”, dispositivo que não encontra paralelo no CPCP/13.

Relativamente ao termo final do prazo para adjudicar, ausente a indicação expressa, tanto no CPCP/13, quanto no CPCB/73 e NCPCB, o entendimento mais razoável é no sentido de que a adjudicação pode ser requerida até serem alienados os bens a que se refere.

Assinale-se que, no Direito português, se a mesma for requerida depois de anunciada a venda por propostas em carta fechada, esta não se sustará e só se atenderá a pretensão se não houver pretendentes que ofereçam preço superior.

Já no Direito brasileiro, na hipótese do legitimado pretender adjudicar o bem penhorado, antes da arrematação, todavia, quando já finalizados seus atos preparatórios, como a publicação de editais, pensa-se que poderá fazê-lo, desde que as despesas processuais advindas dos citados atos preparatórios não sejam suportadas pelo executado, que não dever arcar com ônus decorrente da atuação tardia do interessado na adjudicação.

Do ponto de vista procedimental, muitas são as diferenças entre o regime da adjudicação na execução civil brasileira e portuguesa, destacando-se as seguintes:

Na primeira, o requerimento de adjudicação é apresentado ao juiz e não ao agente de execução, como ocorre em Portugal, devendo ser oferecido pelo bem

penhorado preço não inferior ao da avaliação (no sistema português, a oferta não pode ser inferior ao valor de 85% do valor base do bem) (CPCB/73, art. 685-A, NCPCB, art. 876 e CPCP/13, art. 799º).

Em Portugal, cabe ao agente de execução fazer a adjudicação e emitir o título de transmissão ao adjudicatário (CPCP, art. 799º, 4 e 802º c/c 827º, 1); no Brasil, compete ao juiz ordenar a lavratura do auto de adjudicação (CPCB/73, art.

685-A, §5ºe NCPCB, art. 877), bem como, a expedição da carta de adjudicação (no caso de imóveis) ou mandado de entrega do bem móvel (CPCB/73, art. 685-B e NCPCB, art. 877, §1º, I e II).

Deve, ainda, o agente de execução dar publicidade ao requerimento de adjudicação, com antecipação de 10 (dez) dias (CPCP, art. 802º c/c 817º), não constando tal exigência da lei brasileira, prevendo, todavia, o NCPCB, de forma expressa, a intimação do executado (art. 876, §1º), o que não estava previsto no CPCB/73.

Quanto ao regime legal da adjudicação, note-se, por relevante, que, por determinação expressa contida no art. 802º, do CPCP/13, ele é complementado pela aplicação de diversos dispositivos pertinentes ao regime da venda executiva.

Desta forma, além dos artigos inseridos em Subsecção própria (artigos 799º a 802º), aplica-se à adjudicação, com as necessárias adaptações, o disposto nos artigos 815º (“dispensa de depósito aos credores”); 824º, nº 2 (“depósito do preço em falta pelo proponente ou preferente”); 825º, nº 1 e 2 (“consequências da ausência de depósito”); art. 827º (“adjudicação e registo”); 828º (entrega dos bens); 838º(“Anulação da venda e indemnização do comprador”), 839º (“Casos em que a venda fica sem efeito”), 840º (“Cautelas a observar no caso de protesto pela reivindicação”) e 841º (“Cautelas no caso da reivindicação sem protesto”), tudo nos termos do art. 802º citado.

No caso do regime legal da adjudicação no Brasil, crê-se que o legislador reformista perdeu a oportunidade de inserir – quer no CPCB/73 (alterado pela Lei nº 11.382/06), quer no NCPCB – de forma expressa, os dispositivos que regulam o seu regime de depósito (quando, eventualmente, necessário); os casos de invalidade, ineficácia ou resolução da adjudicação, ainda que o fizesse mediante referência às

regras pertinentes ao regime da arrematação, aplicáveis, no nosso sentir, com as necessárias adaptações.

Conforme foi visto, a adjudicação considera-se perfeita e acabada com a assinatura do auto de adjudicação (CPCB/73, art. 685-B e NCPCB, art. 877, §1º).

Todavia, cremos que, a exemplo do que ocorre com a arrematação, com as devidas adaptações, poderá ser tornada sem efeito (CPCB/73, art. 694, §1º e incisos) ou invalidada/considerada ineficaz/resolvida (para utilizar as expressões registradas no NCPCB, art. 903, §1º, incisos I a III), nas hipóteses ali previstas.

2 A CONTROVERSA QUESTÃO SOBRE A NATUREZA JURÍDICA DA